Silêncio. Era o que preenchia o ar de todo o santuário das Valkírias, mesmo com sons abafados do quarto que Loki estava. Alina e Thor, sentados em bancos no corredor, sentiam-se zonzos com a falta de notícia. A ruiva ali, de frente a Thor, sem que ele notasse, analisava todas as suas linhas de expressão. Gostaria de ter alguma piada de mal gosto, mas não conseguia pensar em nada além do moreno dentro do quarto das curandeiras.

Há algumas horas, logo quando chegaram, mandaram comunicar Odin do ocorrido, mesmo desconfiando que ele já sabia. Pouco tempo depois, o rei de Asgard chegou com suas melhores curandeiras. Thor e Alina não faziam ideia de onde ele poderia estar naquele momento...

Thor respirou fundo novamente, suas mãos cruzadas na frente do corpo, estava inclinado para a frente, tal como Alina. Ele a encarou, verde e azul se encontrando de uma forma intensa, ansiosa e triste. Fazia muito tempo que o loiro não a via, e aquela situação não era de um todo ruim. Loki fizera de propósito, e por mais que no começo ficasse com raiva, agora agradecia ao irmão, pois aquela ex Valkíria, mais do que qualquer pessoa, era a companhia de silêncio que desejava.

Ainda se olharam seriamente por um tempo, até Thor ceder, sorrindo para ela. Porém, ambos se distraíram, olhando para a direção do quarto principal do santuário. Um grito de horror, seguido de um choro alto. Era Loki o dono da voz. Uma mulher alta, loira e que lembrava vagamente Frigga, saiu de lá, suada e obviamente cansada.

— O que está havendo, o que aconteceu? - Thor foi o primeiro a falar, já de pé junto da... amiga.

— Ele está tendo alucinações, Thor. Estamos tentando tirar a infecção que ele pegou com os fragmentos do artefato Kree está sendo quase irredutível. Usamos várias ervas mas a febre não baixa, e ele continua a gritar, chora como se visse coisas horríveis.

— Algo que podemos fazer? - Alina indagou.

— Bem... Ele mencionou algumas pessoas, como se exigisse uma despedida. Quem é Annia? Ele não para de gritar seu nome...

— Loki é como um guardião para ela, é uma criança humana. - a mulher fez que sim. - Ele por acaso diz o nome Sarah também?

Pensando um pouco, a mulher fez que sim, enquanto fazia um apontamento.

— Mas ele só grita o nome dela. Ele tenta dizer algo, mas apenas grunhe. Thor, temo que seu irmão não resista. Ele tem um corpo forte, filho legítimo de um Jotün com uma asgardiana de sangue nobre, seu corpo aguentou até demais até aqui. As próximas horas... sugiro que se preparem e as use como despedida.

Thor fechou os olhos pesadamente, tentando segurar as lágrimas. Com um olhar da ex pupila, a anciã Helena entendeu que deveria sair, mas próximo a porta do quarto, ela se virou, concluindo seus pensamentos.

— E é melhor chamarem essas humanas, talvez elas sejam a única chance de Loki viver. Seu antídoto...

Thor deu um golpe na parede, causando uma leve rachadura onde os nós dos dedos bateram. Sua mão doeu, abrindo um pouco a carne, mas sua vontade era de continuar. Mas Alina não deixou, ela estava com tanta revolta quanto ele, mas como fora antes de Jane e até mesmo Sif, serviriam de porto um para o outro.

Nunca passou de um romance jovem carregado de malícia e amizade, mas aqueles dois tinham a bênção até de Loki, que com a ajuda de Alina, pregava peças em Thor, ou ao contrário, tendo a ruiva como vítima. Eles não abandonaram sonhos, destinos e orgulho dos pais um pelo outro. A ruiva foi enviada para o santuário das guerreiras mais fortes de Yggdrasil e Thor continuou sendo o filho favorito de Odin. Mas ela foi banida quando impediu que as outras fossem enviadas à Terra para impedir os planos de Loki.

Já não se falavam a anos, e ela sabia que para todos o moreno tinha planos hostis, mas o conhecia suficientemente bem para arriscar qualquer posto em qualquer lugar. E acertou em cheio. Foi banida do santuário, mas teve a oportunidade de burlar as regras de Odin e ter uma última conversa com o amigo. Então ele lhe disse que não lhe restaram opções quando caiu na morada de Thanos, sendo designado para a tarefa de dominar Midgard, lógico que tudo, influenciando pelo ego e sede se poder dele, resultou no que todos já sabem.

Mas eles nunca desistiram de Loki, isso ainda continuava igual. Quando o longo abraço onde os dois se consolavam teve fim, o loiro entendeu perfeitamente o olhar da mulher ali. O que parecia ser o último desejo de Loki parecia estar prestes a ser realizado.

— Vamos voltar para a Terra.

[...]

Ainda na base da S.H.I.E.L.D, Sarah e Annia tentavam se acalmar. O clima tenso piorara quando a criança começou a ter febre, essa apenas aumentando. Simmons, afirmava que aquilo era psicológico, mas tanto Sarah quanto alguns que souberam a história que Loki e ela criaram, sabiam que aquela parecia até uma forma de eles protegerem um ao outro: ele arrisca a vida para que ela permaneça, e ela arrisca a dela dividindo a dor com ele. E Thor, quando chegou, compartilhou mentalmente a mesma opinião que todos ali.

Sarah ao lado da cama da criança, de olhos inchados, apertava seu colar. Sentia-se culpada, mas nada podia ser feito.

Tudo pareceu mudar em sua mente quando viu o loiro corpulento ali. Ele não parecia ajudar muito, até o momento que olhou para ela e Annia, dizendo firmemente que Loki precisava das duas.

— O que acham de irem vê-lo agora?

Não precisava de resposta, os olhos ansiosos das duas responderam. Só esperariam alguns minutos para que Annia melhorasse a febre, e logo estariam ao lado de Loki naquela terrível situação.