Estava pronta. Sarah era uma mulher de gosto simples, mesmo dona de uma personalidade forte. Tal como seu corpo.

Passou um batom vermelho, escolhendo algo mais vivo para quebrar a escuridão de seu vestido. Acima do joelho e de mangas três quartos, o vestido tinha pregas na cintura, e bolsos.

Vestiu um sobretudo e pegou sua bolsa. Já podia ir.

Ainda estava cedo, as ruas ainda alaranjadas pelo crepúsculo. Annia havia dito para ela ir mais cedo, pois Loki gostava. Então o fez, também aproveitando para apreciar uma de suas partes favoritas do dia... o pôr do sol. Sarah amava crepúsculos e alvoradas.

Passava calmamente pelas pessoas, levava uma vida tão comum. Diferente de muitas pessoas, Sarah era totalmente satisfeita com sua atual situação. Lembranças infelizes as vezes lhe atormentavam, mas ignorava com sucesso. Tinha uma irmã amorosa e duas sobrinhas lindas, o que lhe alegrava, mesmo com saudade dos pais.

Era feliz com o emprego como professora de crianças. Amava mestrar. E mesmo recebendo críticas sobre o tamanho de seu manequim, sentia-se bem ao ver seu reflexo no espelho. Não era sua largura que a feria...

E agora, Sarah havia descoberto um novo motivo para sorrir.

Ela sabia, e tinha motivos suficientes para não se apegar ao homem que cuidava de Annia. Na verdade até poderia o odiar. Mas não. Ele a prendia com aquele olhar intenso que tinha. Seu sorriso, que variava entre a malícia de um homem sedutor e um adulto divertido, lhe vinha à mente sempre, trazendo um sorriso consigo.

E naquela noitinha, sentia-se entusiasmada. Gostava de conversar, ainda mais com pessoas tão bem quistas.

E foi em pensamentos assim que nem viu o tempo passar. Logo estava na porta da família Ross. Antes. Agora era a casa de Loki e Annia. Uma família? A professora sabia que tal pergunta era desnecessária. Bateu duas vezes na porta, ouvindo passos à caminho.

A porta se abriu, e o sorriso de Loki se abriu sem que ele pudesse impedir. O sorriso daquela mulher era como um feitiço. Não controlava suas reações perto dela...

– Está... Imperfeitamente perfeita. - ele prendeu o olhar no dela por longos segundos antes de mandar que entrasse.

– Você também... - e entrou.

Após trancar a porta, ele se pôs atrás dela, tocando seus dois braços. Desceu uma das mãos até a mão dela, onde pegou a bolsa e a deixou na mesinha ao lado da porta. Agora as duas se entrelaçaram aos dedos da mulher ali, que sorriu ao sentir os dedos compridos de Loki com os seus.

Ele a soltou, subindo as mãos até a base do sobretudo, tirando-o e deixando no cabide. Seus braços logo voltaram ao corpo da mulher, a envolvendo.

– Senti falta de seu cheiro, professora Havengreen.

– E eu do seu toque. - ela se virou, sorrindo para ele.

Loki passou os dedos no rosto dela, fazendo com que fechasse os olhos algumas vezes. Jogou os fios castanho claro para trás, sem deixar de olhá-la. Quando prenderam seu olhar, ele pôde dizer.

– Estou planejando uma guerra contra uma, das maiores feiticeiras que já vi. Mas não tenho tanto medo dela quando de você. - Sarah sorriu, e ele prendeu o olhar agora em seu sorriso. Loki delineou seus lábios com o dedo, sorrindo como se Sarah fosse um pecado. - Porque não existe lugar ou poder, feitiço ou arma, que me deixe fraco e forte em tão pouco tempo, quanto seu sorriso.

A mulher abriu um sorriso largo, involuntariamente. Loki fechou os olhos ao vê-la daquela forma. Sabia que não deveria se abrir assim, até porque também não se entendia. Mas as palavras vinham e lhe rasgavam o peito. Ele sorriu de olhos fechados, e em seguida deu um beijo demorado na mulher.

Annia deveria estar no banho, ele sabia. Mas ela olhava, com um largo sorriso, as pessoas que ela mais amava. Juntas, felizes. E com seu sorriso de menina, puro como uma flor, deixou os dois ali e foi se arrumar.

                               [...]

E os três gargalharam alto ao ouvir a história de Sarah sobre sua primeira aula para o jardim de infância. O jantar já havia acabado, e aproveitam a companhia um do outro. Já passava das 22h00, e eles ainda estavam conversando. Loki em uma poltrona com Annia no braço, e Sarah no sofá. A menina bocejou longamente, e antes que Sarah se levantasse, o asgardiano mandou que ficasse ali.

– O que acha de dormir agora?

– Ainda aguento, Loki... Deixa? - ele fez que sim, puxando para que ela se deitasse em seu colo.

– Sarah, você falou sobre a música que cantou para as crianças rebeldes, qual era?

A professora entendeu o recado, cantando uma música qualquer, suave. O tempo passou e, enquanto ela cantava a música e Loki a observava, Annia fechou os olhos, aconchegando-se no guardião. Ela murmurou uma injúria, baixa suficiente para apenas Loki rir. Sarah terminou a música, vendo o homem levantar com a menina no colo.

Loki levou Annia até o quarto, onde a deitou e a cobriu. Parecia mesmo um anjo. Ele ainda a olhou por algum tempo, e ao levantar da cama, viu a mulher na porta. Apagou a luz e fechou a fechou.

– Acho que está na hora de ir, Loki. Está tarde e...

Ele a olhava intensamente, e aos poucos ficavam mais próximo. Sarah começou a se atrapalhar.

– E... Ah... Vou chamar um táxi e...

– Nem pense que te deixarei fugir do mim novamente, Sarah.

Ele disse, puxando a mulher pela mão, colando seus corpos. Ele tocou seu rosto, puxando-o contra si. Sarah retribuiu o beijo de Loki com a intensidade que o momento pedia. Foram andando até o sofá, onde ela se sentou. Quando isso se deu, ele abaixou, quase sentando no chão.

– Gosto da sua companhia, professora.

– Sabe que não preciso nem dizer, senhor Loki. - ela sorriu, pondo a mão em seu rosto. Ele sorriu com isso. - Mas sabe, temo que não tenha sido apenas vontade de ter a mim como companhia que fe-lo chamar a mim para o jantar. - ela disse, fazendo Loki concordar e levantar dali, sentando ao seu lado em seguida.

– Bem, você e Annia não estão tão seguras quanto eu gostaria.

– Você falou sobre uma guerra...

– Que infelizmente se aproxima sem que eu consiga ou queira conter. A questão não é só a guerra, é o que pode estar envolvido. Kira, a mulher que quer me matar e pegar minha máscara não tem piedade de ninguém. E ela também não vai medir esforços para me atingir de todas as formas. Tentará com tudo que tem e que tenho, me derrotar... de dentro pra fora.

– Por que está dizendo isso, Loki? - perguntou ela, também séria.

– Porque não posso suportar que algo de ruim aconteça com você ou Annia. Apenas a possibilidade faz meu corpo doer... - de alguma forma, o que ele disse a fez sorrir.

Sarah sabia bem que Loki não era uma pessoa sentimental, mas apreciava seu interesse em protegê-las. Não eram tão próximos assim, sabia disso também, mas há dias pensava nele de uma forma peculiar. Com ele não era diferente, lembrava-se sempre das conversas, breves ou não, que tinha com ela no ballet, na escola, fora dela...

A professora sorriu gentilmente, e aquele gesto fez bem a ele, pois sabia o que ela pensava. E isso se confirmou com suas palavras, depois de um beijo demorado.

– Você não permitirá que nada de ruim nos aconteça, sei disso. E a pequena Annia também sabe.

– Agradeço sua confiança, mas enquanto eu estiver resolvendo problemas com isso, você e Annia estarão sendo guardadas na SHIELD, tudo bem?

– Por que tanta preocupação?

– Porque Kira já descobriu como me atingir. O plano inicial é que ela vá atrás de vocês após constatar minha distância. Ela pegará o colar de Annia, mas após isso, não saberei como estarão. Então ficarão sob custódia. Espero que entenda... - ele encostou a cabeça no sofá, preguiçosamente esticado. - Não é uma opção.

Ele gostava de mandar, não era preciso ter muito tempo de convivência para isso. Mas se era para o bem de Annia e seu também, obedeceria. Sarah encostou nele, cruzando seu braço com o de Loki e entrelaçando os dedos. Para ele, um toque estranho, principalmente por lhe criar um desejo enorme de sorrir.

– Está muito grudenta, não acha, professora? - provocou, numa tentativa de ignorar o sorriso.

– Tem razão.

Sarah se levantou rapidamente, e Loki se arrependeu de ter dito aquilo, pois sentiu falta de seu calor em seguida. Mas a surpresa que teve ao tentar se levantar para impedir que ela se fosse, foi um beijo intenso.

Ela sentia falta dele, da sensação de sua pele fria esquentando aos poucos com seu corpo. Sentia falta de seu beijo ou de suas carícias. Sarah não queria parecer tão necessitada naquele momento, mas cada célula de seu corpo gritava pelo de Loki. Ele sentia-se exatamente assim, o que lhe fez prender o corpo da professora ao seu.

Ele começou a andar, empurrando-a para trás, onde queria que ela estivesse, no quarto. Depois de alguns segundos, Loki se afastou, levando-a para frente de um espelho que havia ali.

– Veja, Sarah. Aqui, não foi apenas Annia ou a literatura desse mundo que me cativou... está vendo essa bela mulher à sua frente? Ela também me cativou, de uma forma que eu nem sabia ser possível.

E ela sorriu, olhando para ele através do espelho. Se virou, iniciando um beijo casto. Então era isso... Sarah estava feliz, sim, muito feliz. Gostou muito de  saber daquilo. Mas uma coisa que não era, sem dúvida era estúpida. E depois do jantar e da conversa, sabendo que Annia só tinha mais uma semana de aula antes das férias de verão, constatou o que tanto temia...

Aquela noite, por mais incrível que fosse, era uma