Não, ela não parou.

Loki a olhava com extrema atenção. Podia ouvir sua respiração calma, vendo ali um extremo da mulher que fora durante a noite. Admirava isso em Sarah, ela sabia como agir em cada situação.

Era uma mulher cuidadosa e que valorizava o trabalho. Carinhosa, divertida e docemente tímida, quando queria, atentou ele. Mas não era só isso. Sarah era determinada, sabia o que queria, pondo em voz alta seus desejos, respeitando a voz do seu corpo. Lembrou mais uma vez da noite. Sem dúvida ela sabia como seduzir um homem.

Loki ficou de lado completamente, observando melhor seu corpo sob os lençóis e o colchão macio. Estava com a perna dobrada, de barriga pra baixo. O lençol já não lhe cobria maior parte do corpo dela, o que ele agradeceu mentalmente. Era bela... muito bela.

Não entendia porque Sarah estava sozinha. Mas sabia como eram as pessoas, e não apenas de Midgard. Ele mesmo nunca esteve na cama com uma mulher um pouco mais corpulenta. Pensando bem, se arrependeu, constatando que perdera muito, se todas fossem como ela. Sua pele era bem clara, um pouco bronzeada, mas alva. Sua pele era macia...

Observou suas curvas. Ah como as admirava. Sarah tinha um corpo bem mais bonito do que mostrava com suas roupas escuras e as vezes folgadas. Mas certamente aquilo não tirava seu charme. Ela ganharia o mundo apenas com um sorriso, era um dos sorrisos mais lindos que já vira.

Achando desnecessário seu pensamento, Loki começou a levantar. Estava na hora de ir para casa, logo Annia estaria ali também. Quando o fez, a mulher abriu os olhos um tanto assustada.

– Onde vai? - puxou o lençol para cima, sentando-se um pouco.

– Volte a dormir, Sarah. Preciso levar Annia para casa. Não quero que ela levante antes que eu.

– Faço um café da manhã, senhor Loki. - ela ia se levantar, mas parou sobre seu olhar de reprovação. - Desculpe, Loki. Apenas Loki.

– Pensei que depois da noite, que diga-se de passagem não foi nada formal, você deixaria disso. - se levantou sem pudor algum. Sarah sorriu e se deitou.

– Então você gostou? - o olhava se vestir com rapidez. Loki fechou o zíper da calça, e mesmo de costas ela sabia que ele ria.

– Se ela gostei? - se virou. - Eu nem preciso responder. - ela sorriu.

O moreno terminou de se vestir. Antes de sair do quarto, sentou-se ao lado da mulher e lhe deu um beijo simples.

– O que faremos agora, Loki? - aquela pergunta o pegou de surpresa. Foi apenas uma noite, certo?

– Cuidaremos para que John não se aproxime de vocês. Fique deitada. Vou acordar Annia. Bom dia, professora.

Ela sorriu e fechou os olhos.

O moreno saiu do quarto, descendo as escadas que levavam ao escritório dela. Viu que havia a um pequeno altar ali, uma pequena divindade humana. "Como chamam...?" Ele se perguntou, parando por um tempo, observando. Santos. Isso mesmo. Ali estava a imagem de um deles. Estava numa estaca. Ferido...

Continuou andando. E ao sair do escritório viu a menina no sofá. Já estava a postos, o esperando. Houve um sobressalto.

– Vamos? Saudade de casa.

– Vamos sim.

Os dois saíram, fechando a porta atrás de si.

                             [...]

Annia já estava lhe tirando do sério. O domingo mal havia começado e aquela "mini draguinha" o apressava para que fizesse logo o café. Aquela humana conseguia ser irritante. Quando ela entenderia que ele não era um cozinheiro?

Fazia panquecas. Ou tentava. A receita estava ali, havia feito tudo, mas nada funcionava. Alguém bateu na porta, e Loki mandou que Annia fosse. Sob protesto, ela o obedeceu. E quando a menina se virou, não resistiu, usou magia para que a receita funcionasse. Realmente, não seria nada sem sua magia.

– Loki! - Annia gritou por puro escândalo. - Tem um estranho na porta.

O moreno estranhou aquilo. Quando foi até lá, viu Annia olhando para cima. Ela tinha as mãos na cintura e até parecia intimidar o loiro.

– Thor? Que faz aqui?

– Vim ver você. Saber se está bem...

– Pode entrar. - a criança abriu a porta.

– Annia! - Loki repreendeu. Thor temeu algum ataque de fúria, e ambos se calaram. - Se eu já tinha que preparar um banquete porque seu estômago é um saco sem fundo, agora terei que fazer dois.

E por fim ele sorriu, e Thor pode entrar. Deixou seu martelo na mesinha de centro e foi até o irmão, na cozinha.

– É Loki, até que enfim encontrei alguém mais esquisito que você. - falou, brincando com a capa de Thor. O loiro riu e revisou.

– Você é bem engraçadinha pra uma criança de sete anos.

– Não viu nada ainda, acredite. - Loki falou, pondo um prato com as panquecas na mesa. Havia feito nescau para a criança, sabendo que não combinava com as panquecas. Abriu uma caixa de suco de laranja e serviu para si e para o loiro.

– Ei, loirinho, qual que é seu nome? - ela estava de boca cheia, e recebeu um olhar de reprovação do mentor. Abaixou o rosto e se desculpou.

– Ela é só uma criança, irmão.

– Mas ela...

– Tem de ser uma criança educada. - disseram juntos. A humana já havia decorado essa frase.

– Meu nome é Thor. - ignorou o assunto anterior.

– E eu pensei que Loki era um nome de doido. - riu sozinha. - Me diz, não quer que eu ponha mais panqueca em seu "praThor"? - dessa vez os adultos gargalharam juntos. - Ou se quiser eu... - começou a bater na mesa, rindo de seus próprios pensamentos. - Fala sério, cara, você tem um nome muito estranho.

– Como se Annia fosse o mais lindo do mundo.

– Está parecendo uma criança, caindo nas provocações dela, Thor. Annia, para com isso. Termine de se alimentar e vá estudar, ler e depois brincar. - ela bufou, revirando os olhos negros.

– Irmão, você sabe da nova?

– Diga.

– Ivan foi a Asgard devolver o Éter.

– Mas por quê? Ele jamais faria isso em sã consciência. Apenas Odin confia naquele homem.

– O pior de tudo não é isso, é que ele fez uma proposta a nosso pai. Digo... Ele não parecia mesmo normal. - Loki viu que Annia já havia terminado e os olhava. Tinha que ensinar a menina a comer devagar.

– Pegue os livros, sim? - ela concordou. - Ajudo onde não conseguir sozinha.

– Vou ler "O Pequeno Príncipe" depois, tá?

– Não acha que já leu muito esse livro?

– Vamos lá, "Lokilindinho".

– Tudo bem. Não leia muito, pode cansar demais sua mente.

– Eu pego o óculos.

– Eu já disse. Agora vá.

A menina concordou, já acostumada com as ordens dele. Pelo menos ele a deixava brincar, mas não descuidava dos estudos. Sua leitura já até melhorou. Thor ficou rindo como bobo vendo como eles se entendiam. Mas ao ver a expressão do irmão, voltou ao assunto.

– Ivan quer a máscara, Loki. Ele disse a nosso pai que se não entregasse a máscara para ele, entregaria o Éter a Thanos.

– Então foi ele quem mandou Kira, Thor. Agora entendo.

– Mas não tem fundamento, já que ele devolveu a jóia.

– Na verdade tem sim... É um golpe. Odin está com quase todos as gemas. Thanos quer todas juntas. Se todas estiverem em Asgard é mais fácil pegar.

– Irmão, apenas Malekith e seu exército conseguiram atravessar os portais, mas isso só aconteceu porque a fortaleza caiu de dentro para fora. Thanos não conseguiria entrar.

– Você é mesmo um idiota, não é? Se esqueceu do que mais eles estão atrás? Eu sei bem as dimensões do poder da máscara, e pelo visto esse idiota também sabe. Thor... Se Thanos conseguir a máscara... - ficou mais sério ainda. Aquilo era grave. - Ele poderá invadir Asgard ou qualquer outro Reino.

Pela primeira vez Loki temeu por sua casa depois de muito tempo. Só que ali ele encontrou um sentimento novo. Asgard era seu lar de espírito, logicamente se preocuparia. Mas a Terra... sim, ele temeu por Midgard.