Depois que a professora tirou os dedos do teclado, Loki sorriu, se levantando.

– É uma bela música, Sarah.

– Talvez seja, mas é relativamente impossível atear fogo na chuva. - disse ela, levantando também. A mulher andou até a mesa, encostando nela.

– Para vocês humanos sim...

– Desculpe, senhor deus nórdico. - zombou ela.

Sentido-se desafiado, Loki pegou na mão da mulher, levando-a até o meio do escritório. Posicionou-se atrás dela, enquanto dizia.

– Não é por eu ser um deus, Sarah, é porque sou mago. Existe um feitiço que, se feito com sucesso, consegue sim tal feito.

– Mas como? Melhor, por que isso? - perguntou, olhando o moreno por cima do ombro.

Loki pegou as duas mãos dela, deixando-as debaixo das suas. Sem jeito, ela olhou para as próprias mãos. Viu quando duas chamas pequenas como de uma vela surgiram nas duas palmas. Não lhe queimava. Logo ele explicou.

– Chamamos de A Chama de He'll. Esse nome é porque essa chama é uma arma do mago que a consegue controlar. Onde ela toca, protege quem ele quer, e ceifa quem ele escolher.

– Você consegue controlar? - perguntou, ainda fascinada com as chamas em suas mãos.

Antes de responder, ele fez com que a mulher fechasse as mãos, e quando as abriu, Sarah viu sua sala inteira queimar, mas logo tudo não passava de um vento que balançou algumas folhas. Assustada, virou-se para Loki.

– Sim, há muito tempo eu e minha mãe fizemos isso. Sozinho nunca fiz... não realmente. - Sarah ainda fitava as mãos.

– Responde uma coisa. Por que precisa a chuva? Não se pode fazer isso sem ela?

– Bem, a chuva representa a proteção das Nornas e de Valhalla, impede a morte de quem se quer cuidar. O fogo representa He'll e seu poder de ceifar vidas. Se eu quiser apenas morte, posso concentrar energia e produzir uma chama de He'll que apenas mata. Sem chuva, sem proteção.

– Que história sinistra, Loki. - riu, afastando-se dele.

– Quem sabe um dia eu te mostre ao vivo.

– Acredito que se esse dia chegar, eu matarei uma pessoa. - encostou novamente na mesa. Loki se aproximou, deixando um braço de cada lado da mulher, as mãos apoiadas na mesa.

– E quando você matar alguém, já até imagino como você vai ficar, eu te dou um beijo de consolo. - a professora sentiu seu rosto formigar, e Loki se aproximou. Porém, antes que pudessem tocar os lábios um do outro, ouvem uma batida na porta. Em seguida, entra uma garotinha negra.

– Loki!

Annia entrou soluçando, enquanto passava as mãos nos olhos. Loki correu até ela, assustado. Annia lhe abraçou desesperada, soluçando. Ele estava preocupado com a menina, que apenas lhe apertava mais. Sarah os observava ainda de longe, sabendo que seria melhor que ele a acalmasse.

– Ei, o que houve? - se afastou, limpando as lágrimas da menina.

– Eu tive um pesadelo, Loki. Perdoe eu, Loki.

– Annia, você não me fez nada de ruim.

– Fiz. Quando você chegou eu disse que iria embora atrás do John. Mas... mas eu não vou deixar você. Eu juro por minha vida. Eu não posso ir com ele, não posso. Porque agora eu tenho você e eu... Não deixa ele me levar. Não deixa, Loki. - a menina o abraçou novamente.

– Olhe para mim, pequena Annia. - ela o fez. - Não me importo com o que você disse naquele dia, okay? E mais, esse John não é louco de tentar tirar você de mim. Eu fiz uma promessa de te proteger e cuidar de você, anjinho. Quem é que vai cuidar de mim se você for embora?

– Jura? Por favor, Loki.

– Eu juro que nunca vou deixar tirarem você de mim. E no dia que tentarem, eu faço a chuva queimar. - ele olhou para Sarah, que gargalhou baixo.

– Vem cá, gordinha. - Annia abriu os braços, chamando a outra.

Assim ela o fez. Após alguns minutos, Annia bocejou, e então o moreno a pegou nos braços, levando até o sofá. Ele ficou ali, sentado ao lado de sua cabeça na almofada, mexendo em seus cabelos volumosos. No chão, de frente a ela, Sarah sentou, cantando a música de mais cedo. 

"...Ao estar contigo, eu poderia ficar. Fecho meus olhos, sinto você aqui para sempre. Você e eu juntos, nada é melhor. Mas há um lado seu que eu nunca conheci, nunca conheci. Tudo o que você diria, nunca era verdade, nunca é verdade. E os jogos que você jogaria, você sempre ganharia, sempre. Mas eu ateei fogo à chuva, vi a chuva cair enquanto eu tocava seu rosto..."

Sarah cantava vendo a menina pegar no sono, porém sua mente dedicava essa música para a outra pessoa no cômodo. Sem se dar conta, Loki a olhava atentamente, enquanto ouvia sua melódica e até melancólica voz pronunciar aquela intensa letra. Ela o olhou então, na última parte da música.

"...Oh, não. Deixe queimar, deixe queimar."

– Venha se queimar comigo, Sarah. - ele sussurrou, fazendo-a abrir um lindo sorriso, o que ele descobriu ser o  seu favorito depois do de Annia. E sabia que sempre que pudesse tiraria esse sorriso dela.

Quando Sarah se sentou ao seu lado, no pouquinho que sobrou do sofá, ele se ajeitou, pondo seu braço atrás dela. Se olhavam nos olhos quando ela o surpreendeu, encostando a cabeça no peito dele. Mesmo desconcertado e respirando devagar no começo, ele se acostumou, até gostando.

– Que música vai cantar para mim agora, Sarah?

– Ela se chama I Miss You, da mesma cantora.

                               [...]

Sarah estava no refeitório da escola, pensando em como havia sido sua noite. Depois de cantar algumas músicas, Loki levou Annia para o quarto com as outras meninas, e ela foi para seu quarto. Logicamente ele havia dormido no sofá. Ela sabia bem que aquele humano de outro planeta, como ela julgava, não  era uma das pessoas mais louváveis. Porém ele era cativante, cuidava tão bem de Annia, ao passo que lhe tratava como uma princesa...

Seus pensamentos foram interrompidos quando viu um moreno sentar-se à mesa.

– Preciso que me ajude, Sarah. - disse ele.

– O que houve, senhor Loki? - passou o prato com alguns legumes para o lado.

– Bem, preciso que me leve à torre dos Vingadores. - quando disse isso, a mulher fez uma expressão de quem via problemas à caminho. - Não me faça essa cara, Sarah. Eu acabo de me comunicar com Asgard, e constatei algo que quase imaginava.

– Senhor Loki, eu preciso dar minha aula. O senhor não pode  esperar?

– Não quero envolver Annia nisso. Preciso ir sem ela, Sarah. Você não pode deixar alguém em seu lugar?  - ela suspirou pesadamente, enquanto balançava a cabeça.

– Me espere aqui, por favor. Vou falar com a diretora.

Foi quando ela levantou que Loki notou como estava bonita. Ele havia saído antes de ela se arrumar, iria em casa, enquanto que Annia iria direto para a escola. Sarah estava num vestido preto, parecia ser sua cor favorita. O modelo era justo, tendo um zíper prateado nas costas. Era um pouco acima das dobras dos joelhos, o que lhe permitia notar o  desenho de suas cochas. O cabelo estava numa trança que ia até a lateral da nuca, caindo as ondas castanhas de seus fios no ombro direito.

– Ah! se ela soubesse como é linda...

O moreno disse para si mesmo, vendo-a sumir após virar à direita do refeitório. Demorou alguns minutos, quando enfim a avistou. Agora usava uma bolsa azul marinho, combinando com uma sapatilha com um pequeno salto.

– Levei uma bronca, senhor Loki. Mas a sra. Paulsen pôs um professor substituto no meu lugar. Vamos?

Ele apenas concordou.

Assim que saíram, viraram na primeira esquina após a escola. Depois de andar mais um pouco, Sarah chamou um táxi. O caminho seria longo. Houve um constrangedor silêncio no carro. Não apenas porque Loki estava desconfortável em conversar com a mulher na presença de outra pessoa, mas porque o taxista a cada dois minutos olhava o retrovisor, esse lhe direcionava o olhar para Loki.

– Vamos descer aqui. - O moreno se antecipou.

– Mas faltam dois quarteirões ainda, senhor. - disse o taxista.

– Perguntei-lhe algo? - tentava a todo custo tirar o cinto de segurança. Vendo o desespero do moreno, Sarah o "libertou". Tirou alguns dólares da bolsa e pagou o homem. Em seguida fez companhia o asgardiano na calçada.

– O que deu em você?

– Sarah, quando se é alguém amado como eu, não se pode dar ao luxo do desleixo. Nem precisei ler os pensamentos dele para saber que me reconheceu.

– Sabe ler pensamentos? - espantou-se.

– Deixe de humanice, Sarah. Leve-me logo.

Andaram então, rapidamente até lá. Aquele dia estava quente, e Loki as vezes se perdia ao olhar para a mulher ao seu lado. Sua pele estava suada, brilhante, ele diria. Mas precisavam se concentrar. Logo estavam de frente o prédio.

– Vamos! - chamou, a professora.

– Está louca? Não vai entrar comigo!

– Por que não?

– Não trouxemos Annia pelo motivo de ser perigoso. Por que eu exporia você a tal perigo?

– Por que eu não sou criança? - jogou uma mão no ar, enquanto fazia uma expressão óbvia. Depois o olhou com tédio e completou. - E outra, você não pode fazer nenhuma besteira, Loki. Digo... senhor Loki.

– Sarah, lhe tenho em grande estima. Cuida bem de Annia e é até uma humana interessante. Mas se eu precisar, ninguém me impedirá de fazer muitas besteiras, acredite!

Assim que terminou a sentença, pegou no braço da mulher e, sem que ela notasse, mudou-lhe a aparência. Como Tony Stark e Steve, entraram facilmente. Quando entraram no elevador, que Sarah apertou para o último andar, numa suposição, notou que à sua frente estava um homem loiro. Espantou-se novamente, até ele voltar à forma original, porém com uma roupa de couro.

– Como...?

– Magia! Agora cale-se. Eu nem queria que estivesse aqui, mas como está, tente sair da linha de tiro.

– O quê?

Sarah perguntou, no dado momento que a porta se abriu. Loki ficou à sua frente, enquanto vários disparos foram feitos. Não eram feridos, pois o moreno sabia um feitiço temporário de defesa. Com uma rajada de energia, todos os agentes estavam no chão.

Entraram na sala dos vingadores.

– Devo dizer que você teve um excelente desempenho.

Os vingadores estranharam não só o comentário dele, como sua presença ali. Nick levantou, e junto com eles, todos prepararam suas armas. Thor estava ali também.

Deixando Sarah ali, ele cortou a sala e foi até Thor, que sorria cinicamente. Quando Loki levantou a mão para golpear o loiro, Wanda lhe jogou longe.

– Não hoje, Loki.

– "Não hoje" digo eu.

Wanda lhe atacou, indo rapidamente em sua direção. Porém, ele sabia bem como bloquear sua magia. Atravessando o campo de proteção da Maximorff, agarrou em seu pescoço, tirando-lhe do chão.

Os vingadores não se moviam, por não conseguir. O moreno então fez um movimento próximo ao ouvido da feiticeira, proferindo algumas palavras desconhecidas.

– Vocês não conseguem nem sequer proteger-se. - disse Loki, atirando rapidamente, uma adaga em "Thor". Quando esse caiu no chão, mostrou-se de outra forma.

Enquanto Loki se aproximou, os demais ouviram uma gargalhada feminina, vendo um corpo esguiu feminino. Haviam marcas, como tatuagens em seu corpo, seus olhos eram assustadoramente negros, mostravam a todos trevas.

– Sarah, querida! - e ele se distraiu ao ouvir aquela voz masculina. - Vejo que emagreceu um pouco. Dois quilos?

– Ora, ora, Loki. - Kira disse, levantando-se com magia. - Pensei que preferisse mulheres com curvas, não em forma de rolha. - ela gargalhou irritantemente com aquela voz firme. - John?

Quando disse isso, o negro apontou uma arma para Sarah. A reação de Loki foi imediata: sabia que se tratava de um truque, se protegesse Sarah, Kira fugiria ou lhe derrubaria. Optou por atacar a bruxa. Steve, conseguiu derrubar o outro a tempo.

– Continua inteligente, Loki. Porém esqueceu-se de alguém. - ela olhou para o lado, enquanto se defendia. O que Loki viu, foi apenas o clarão dos propulsores da armadura de Tony.

Num rápido movimento, ela conseguiu iludir o capitão, que viu oponente de um lado, quando na verdade não passava de ar. Golpeou o vento algumas vezes, até notar que era em vão. Antes de sair na porta com John, sussurrou algo no ouvido da professora.

Ouviram o estrondo da porta, e logo seu feitiço havia perdido o efeito. Loki viu quando Tony não sabia o que fazer, e se aproveitou disso para lhe cravar uma adaga no braço da armadura.

– Idiota. - lançou a ofensa para o homem de ferro, enquanto ia até Sarah.

– O que ela disse? - o olhar da professora estava vidrado, mas ao ouvir a voz de Loki, ela permitiu que duas lágrimas densas molhassem seu rosto.

– Nada.

– Pode explicar isso? - indagou Steve.

– Eu fui atacado por vocês ontem, não lembra?

– Tínhamos protocolos.

– Não! - Wanda se afastou de Natasha, e olhou para o deus ali. - Não eram protocolos reais. A mesma pessoa que se passou por Thor nos mandou. A mesma que controlou a mim... a você, Tony.

– Mas eu estava lá também... Nada me aconteceu.

– Você estava em sua consciência, capitão. - disse Loki. - Eu pensei apenas em vingança depois daquilo. Mas usei a mente e vi que aquilo não tinha nenhum fundamento. Thor havia ordenado que vocês não me procurassem. Só que mais que isso... - olhou para Wanda. - Ela emitia uma energia diferente. Eu pude sentir ódio neles dois. Pedi que voltasse para Asgard, e descobri que uma poderosa inimiga havia fugido. E quando pisei nesse andar consegui sentir sua magia. Ela estava no controle de quase todos.

– Quase?

– De você não, Rogers. Nem de mim ou de Sarah. Dele não. - apontou para Rhodes. Vocês estavam presos por magia, não sendo controlados.

– O que ela quer? - Natasha pergunta.

– Que vocês me matem. Mas ao que conheço dela não virá aqui agora... Mas é bom que tomem cuidado. - virou-se. - Não que esteja preocupado com vocês, mas comigo.

– Obrigado, Loki. - disse Steve. - Podemos fazer algo por você?

O moreno já estava para sair, junto com Sarah. Porém ao ouvir aquela frase, pensou que seria bom aproveitar. Afinal, estar um passo à frente da bruxa era o melhor.

– Na verdade podem.

– O quê?

– Gostaria que encontrassem uma pessoa para mim. Ele se chama Stanley Ipkiss.