Estávamos todos ao redor da mesa no centro de reuniões, Kedon estava em pé ao meu lado tentando chamar a atenção de todos os homens e mulheres presentes. O velho Brókus estava sentado em uma cadeira ao meu lado esquerdo, em uma posição que parecia a realeza em pessoa. Fazia pouco tempo que o conhecia e eu já não o suportava.

— Bom, Senhoras e Senhores, - Kedon começou a falar em um tom audível – agora que a Princesa Aika está conosco, podemos tomar decisões importantes para a nossa futura batalha.

— Eu gostaria de dizer mais uma vez, – falou Liah, uma mulher que Kedon já tinha me apresentado, seu porte era de uma verdadeira lutadora, seus longos cabelos estavam amarrado em rabo de cavalo e seus olhar era sério - que a sua chegada a nossa aldeia é mais que bem vinda, Princesa Aika. Seu fardo é muito pesado, mas nós estamos a sua disposição para ajuda-la. – as pessoas na sala concordaram com suas palavras.

— Eu agradeço, Liah. -  falei, realmente agradecida.

— Agora que você está conosco – recomeçou Kedon direcionado a mim – você possui a maior patente sobre nós, eu sou o segundo interino, enquanto Nana não chega – ele fez uma pausa, Nana era um ponto importante pra ele assim como era pra mim – assim, as suas decisões são de suma importância para todos – ele finalizou. 

— Compreendo.

— E o meu dever aqui é aconselhar – resmungou o velho Brókus – caso você não tenha notado. – não respondi o seu comentário, ele queria me atingir e eu não daria esse gostinho a ele.

— Pra começar, Glen, como estão nossas reservas de alimentos? – perguntou Kedon. Glen, também tinha sido apresentado a mim, ele era um homem magrinho, com a barba rala.

— Estamos bem até agora, se continuarmos com o mesmo número de pessoas teremos mais três meses de alimentação. – ele respondeu.

— Muito bem, mas tenho a impressão que o nosso numero aumentará futuramente.  – Kedon refletiu – Quantos soldados prontos, temos hoje? – ele perguntou direcionado a Liah.

— Temos algumas centenas, chega a ser um numero significativo – ela respondeu – Você tem alguma notícia do nosso informante?

— Infelizmente não, temos um informante no castelo – Kedon me explicou – agora que Aika está conosco, já podemos nos preparar com mais pressa para o ataque. Levando em conta todo nosso aparato, acredito que o ataque poderá correr o mais próximo possível.

— Quantos dias para o ataque? – perguntou um dos homens presentes. Kedon refletiu um pouco e disse:

— 42 dias. Se todos concordarem – todos ao redor da mesa ficaram em silêncio.

— Seria na segunda Lua cheia? – Liah perguntou. Kedon assentiu.

— Eu acho muito cedo para um levante – Brókus falou – Não sabemos o que está acontecendo no Castelo e não sabemos o que esperar da Princesa...

— Eu entendo sua opinião – Kedon falou de forma paciente – mas cada segundo que passamos com Aika aqui, corremos o risco de soldados do Oeste entrar nesse aldeia e nos levar como prisioneiros.

— Eu concordo com Kedon – falou Liah – não podemos correr mais riscos, 42 dias nos daria tempo o suficiente para nos preparar e treinar a Princesa.

— Se o Rei estivesse aqui, ele não concordaria com isso – falou Brókus convicto.

— Então, Aika? O que você acha? – Kedon me perguntou. Refleti, daria tempo o bastante para eu treinar e para todos se prepararem, queria que Nana estivesse aqui, ela saberia o que fazer; Mas se Kedon tinha certeza, eu confiaria nele.

— Eu concordo, se você acha que conseguiremos, eu confiarei em você – ele assentiu.

— Então o nosso ataque será daqui a 42 dias, na segunda lua cheia – ele reafirmou. Todos pareciam satisfeito com a data, exceto Brókus, ele ficou emburrado. Eu tinha que admitir que isso me deixava um pouco satisfeita – informem a todos sobre o levante, agora devemos acelerar tudo, mas tarde falarei com o Gordo para ver o nosso armamento, nos reuniremos daqui a 7 dias para fazermos um levantamento geral, por hoje é só. Que Khosmos nos guie.

— Que Khosmos nos guie – homens e mulheres da sala repetiram. Logo todos começaram a sair da sala.

—Liah, chame Luke para mim – Kedon falou. Ela assentiu e saiu. Fiquei do lado de fora do centro com Zandor ao meu lado. Kedon conversava com outras pessoas, dava para notar que ele era uma pessoa importante para a aldeia, parecia que todas as pessoas dependiam dele e era notável que ele tentava dá o máximo para todos.

— Você sobreviveu a primeira reunião – Kedon falou – geralmente eles não são tão comportados assim, acho que ainda estão se adaptando a você e esse lobo.

— Gostaria de ter participado de mais momentos assim – refleti.

— O que não vão faltar é oportunidades agora. Ah, Luke chegou! – Um garoto se aproximou de nós – Luke! – Kedon cumprimentou animado – Aika, este é Luke – o garoto abriu um meio sorriso e abaixou a cabeça em reverencia.

—Prazer em conhecê-la, Princesa Aika – ele era alto, mas não muito forte, sua pele era parda, seus cabelos eram negros e ficavam na altura do ombro e seus olhos eram escuros.

— Ola, Luke – as pessoas tinham que parar de me chamar de ‘Princesa’, aquilo me dava nos nervos.

— Luke, queria pedir um favor – falou Kedon – você poderia levar Aika para conhecer os lugares mais importantes da aldeia pra ela se adaptar, eu gostaria de fazer isso, mas tenho que visitar as plantações.

— A gente sabe que você é muito ocupado, Kedon – Luke falou – o que seria de nós sem você?

— Pode parar de me paparicar – Kedon o advertiu – Aika, não se preocupe, apesar das brincadeiras, Luke é boa pessoa.

— Assim você me magoa! – o garoto retorquiu.

— Me encontrem mais tarde no Gordo, ele provavelmente que ver a Aika pessoalmente. – fiz menção de perguntar quem era o Gordo, mas Kedon já tinha dado as costas e saído.

— Não se preocupe, Princesa, ele não gosta de admitir, mas é realmente ocupado – Luke disse percebendo minha frustração.

— Eu notei – respondi – e, por favor, me chame de Aika – sorri constrangida.

— A realeza é quem manda - ele falou brincando, revirei os olhos, isso só o fez rir mais – antes de começarmos nosso passeio, preciso fazer uma pergunta: esse lobo morde?

Olhei para Zandor, que mais uma vez parecia muito relaxado ao meu lado.

— Não se preocupe – falei enquanto passava a mão em uma de suas orelhas – ele é mais amigo do que lobo – Zandor olhou pra mim, entendendo meu comentário.

— Tudo bem – Luke falou – como você já conheceu o centro de reuniões, podemos começar pelo lugar mais importante: a cozinha! – gargalhei, ele era boa pessoa.

— Tudo bem – comecei a segui-lo. Por onde passávamos as pessoas ainda pareciam impressionados comigo e Zandor, a maioria delas parava o que estava fazendo para nos olhar.

— Eu imagino a loucura que deve ser pra você – comentou Luke, enquanto caminhávamos – passar por tudo isso...

— Ainda estou me adaptando com a ideia de ‘isso’ tudo – confessei.

— Entendo, eu provavelmente não teria reagido muito bem.

— Bom, se correr para floresta no meio da noite como uma louca for reagir bem – comentei com sarcasmo.

— Além de louca é corajosa – ele brincou, dei de ombros – o que fez você mudar de ideia? – lembrei-me do lobo negro, ele havia me mostrado o porquê eu deveria lutar, mas a decisão foi minha.

— Acho que convivi tempo de mais com esse sofrimento para ignora-lo – respondi.  Ele refletiu sobre isso por um longo momento, pensei que ele já tinha desistido de conversar quando completou de forma séria:

— Eu também – eu queria perguntar o motivo dele estar aqui, mas fiquei com vergonha. Luke me levou para conhecer a cozinha, que era um grande refeitório onde todos da aldeia comiam, depois me levou para todos os lugares importantes da aldeia, sala de banhos, alojamentos, plantações e assim por diante; Na maior parte do tempo conversávamos, eu sempre perguntava quando tinha alguma duvida, ele respondia com paciência. Eu tentava decorar ao máximo as indicações dos locais para não me perder.

 Até que enfim chegamos no campo de treinamento, ele ficava em um local mais afastado da aldeia, em meio as árvores. Havia inúmeras pessoas treinando, assim que eu e Luke nos aproximamos algumas pararam para nos olhar, mas logo voltavam para o treinamento. Observei as pessoas treinando, havia muitos jovens, alguns ensaiavam ataques de espadas, outros debatiam estratégias e alguns lutavam entre si. Os que lutavam entre si pareciam agressivos, um garoto alto conseguiu derrubar outros três com apenas um movimento. Fiquei aterrorizada, ia ter que treinar muito para chegar no nível dele.

Luke deve ter percebido minha cara tensa, porque perguntou:

— Ansiosa para o treinamento, Aika?

—Hum, talvez não tanto quanto devia – respondi insegura.

— Por que você está assustada? Você é a princesa Aika! Ninguém vai ousar machucar você! – ele falou animado. Eu dei de ombros, essa não era a minha preocupação, minha preocupação era não conseguir ser tudo o que eles esperavam...

— Oh Kaio! – Luke gritou, o garoto grande que estava ganhando no treino virou bruscamente para nós – a princesa está com medo de você arrancar um dedo dela – ele falou brincando. Fuminei Luke com os olhos, ele apenas me ignorou. Kaio, que ainda segurava uma espada, limpou o rosto e nos encarou, parecia que só agora ele tinha notado nossa presença. Ele abriu um meio sorriso e falou:

— Diga a Princesa, que prefiro deixar ela me vencer a perder um braço para o lobo – ele falou indicando a Zandor. Eu queria dá uma resposta, mas não sabia o que dizer, estava envergonhada de mais, apenas encarei minhas botas.

— Ver você perder é melhor do que ver um lobo arrancar seu braço, com certeza – Luke falou. Dei uma cotovelada nele – Ai, princesa! – ele falou com deboche – tudo bem, tudo bem, vamos comer alguma coisa – para meu alivio, saímos da área de treinamento. Mas antes que entrássemos na aldeia, dei uma olhadela pra trás e notei que Kaio ainda me encarava, algo se agitou dentro de mim, o que me deixou confusa.

Assim que chegamos no centro da aldeia notei uma agitação, as pessoas murmuravam nervosa por causa de alguma coisa. Foi quando Dinah veio na nossa direção agitada.

— Princesa Aika! Princesa Aika!                        

— O que aconteceu? – perguntei desconfiada.

— Eles chegaram... – ela respondeu  - mas...

— Eles chegaram?! Nana chegou? – não esperei a resposta, corri em direção ao centro da agitação. Notei Thiberius de longe, ele parecia cansado. Tentei não esbarra nas pessoas, mas foi impossível, eu estava muito ansiosa par me encontrar com a Nana.

— Onde está ela? – perguntei para Thiberius. Ele se assustou.

— Kedon ... – ele o chamou. Foi quando vi que Kedon estava ali, agachado no chão com o olhar perdido.

— Cadê a Nana? – perguntei mais uma vez assustada – ela se machucou?!

— Sinto muito, Princesa ... – Thiberius começou, meu corpo todo estremeceu – eles a levaram.

—O QUE? – gritei – ONDE ESTÁ NANA?!

— Eles a levaram, Aika – outra pessoa falou, era Kedon, ele ainda estava com um olhar perdido, seus olhos carregavam uma enorme tristeza – os soldados levaram Nana.