A Maldição Silenciosa escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 3
Mistério


Notas iniciais do capítulo

DEMOROU, MAS CHEGOU!

É isso aí, pessoal. Peço mil perdões pela demora em postar esse cap. Tive diversos trabalhos a fazer e por isso fiquei sem tempo para escrever. Agradeço pela espera e paciência de todos, seus lindos! Aproveitem!



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Nova Esperança. Um bom nome para jovens que perderam as suas esperanças ganharem a oportunidade de recomeçar. O lugar que era administrado pelas freiras por mais de dez anos sobrevivia por meio de voluntariado, de alguns recursos oriundos da Igreja e da principal benfeitora, Maria Renard. Como era filha de aristocratas locais, a caçadora destinava parte de sua renda recebida em investimentos para ajudar o orfanato sem receber nada em troca.

Há três anos, Maria vinha doando não apenas seu dinheiro, mas boa parte do tempo que tinha disponível. E agora que estava noiva de Adrian, ela precisou administrar e dividir-se para dar atenção duas das coisas que mais amava; sem contar os momentos que passava com Annette ou com Richter.

De mãos dadas a June, Maria passou pelas ruas do vilarejo com passos rápidos observando qualquer detalhe que achasse incomum. Cumprimentou conhecidos, mas não parou em nenhum momento sequer, pois o orfanato era a prioridade.

— Tia Maria... – A pequena disse meio tímida enquanto caminhava “Estou com medo.”

— Tudo bem, querida, não se preocupe. Estamos chegando para ajudá-los.

— E se... algo acontecer...

—June. – Maria não parou de andar, mas falou diretamente a ela – Temos de ter fé.

A menina olhou para cima. Sabia que a caçadora também estava preocupada, mas ainda carregava esperanças, o que a motivava.

Quando as duas chegaram a certo ponto da caminhada, perto de um beco isolado, um vulto aproximou-se rapidamente delas, mais precisamente a Maria. Um breve sopro do vento tocou-as, fazendo leves objetos voarem ao seu redor. De repente, saindo daquele beco, uma figura familiar surgiu.

Um breve sorriso saiu da boca de Maria, que olhando para o lado, viu seu noivo chegando.

— Perdoem-me a demora.

— O senhor não demorou, senhor Adrian. – June disse de olhos arregalados, impressionada com o tempo de sua chegada.

Alucard olhou para a criança admirada e agachou-se para olhá-la melhor:

— Não me chame de senhor. Somente Adrian está bom, senhorita.

A garota assentiu sorridente.

— Vamos, – Maria disse – o orfanato fica logo ali.

O trio seguiu para o Nova Esperança. Ainda com passos precisos, chegaram até o local em poucos minutos.

— Johanne! – uma voz gritou ao longe, à porta do orfanato.

— Tia Clarice! – a criança gritou, correndo ao seu encontro.

— Por Deus, Johanne, por que fugiu daqui? Você poderia ter se machucado, minha filha!

— Perdão, irmã. – ela baixou a cabeça – Fui chamar tia Maria; ela é a única que pode nos ajudar.

A freira olhou ao longe, observando duas figuras se aproximarem.

— Maria... – a freira desceu as curtas escadas da entrada – O céus, Maria... você veio. – disse impressionada.

— Olá, irmã. – Maria não esperou e logo lhe abraçou.

Após o término do gesto, Irmã Clarice visou seu olhar a Adrian, que permanecia no lugar onde havia parado antes.

— Ele... – ela levou a mão ao queixo em dúvida.

— É meu noivo. Veio aqui para ajudar.

— Oh sim... Adrian.

— Madame. – ele baixou a cabeça em cumprimento.

— Irmã, o que foi tão grave para June sair correndo para me chamar? – Maria olhou para a criança e depois voltou-se para a freira.

— Ah... Maria... – a irmã balançou a cabeça negativamente – não queríamos causar-lhe nenhum problema, mas... eu não sei o que fazer, nós não sabemos. – ela caminhou até a porta – Entrem, por favor.

Todos entraram. Adrian foi o último a entrar, fechando a porta em seguida. Parou para observar o local enquanto caminhava ao lado de sua noiva. A velha construção tinha um toque acolhedor: cores em tom mogno, um saguão médio, sem muitos móveis e repleto de cortinas nas gigantes janelas; algumas portas que davam acesso a cozinha, a biblioteca e a sala de estar; uma escada de madeira simples ao canto inferior direito que seguiam o caminho dos quartos. O casarão não era amplo, mas era alto, possuindo três andares, o que possibilitava ser o abrigo de dezenas de jovens que perderam seus pais ou foram abandonados.

Os pais de June foram mortos quase em sua frente. Há alguns anos viu-os serem atacados por criaturas malignas enquanto plantavam no campo. A pequena garotinha de dois anos que era carregada por sua mãe foi levada às pressas para o vilarejo. Seu pai havia ficado para trás, morrendo no campo; e ao entregar a criança para um homem a cavalo, a mãe foi morta com um corte em suas costas. Desde que a conheceu, Maria sempre se sentiu ligada não apenas a ela, mas como boa parte dos órfãos, pois sabia como era perder os pais para aquelas criaturas.

— Como estão as crianças? – Maria perguntou preocupada. Não conseguia tirá-los de sua mente.

— Estão na enfermaria, venha comigo. – a freira disse, seguindo até as escadas.

— June. É melhor que você fique com os outros. – ela abaixou-se para vê-la e encará-la nos olhos.

— Mas... – a criança baixou os olhos.

— Por favor, June. Você é a única que pode cuidar de nossos amigos enquanto verei os que estão mal.

Naquele momento sentiu-se mais importante. Para June lhe foi dada uma missão importante, era o que pensava.

— Entendo...

— Vá para a sala de estar, Johanne, os outros estão por lá. – a freira disse, e a menina assentiu, correndo para lá.

Os três prosseguiram. Adrian permaneceu em silêncio, como de costume, apenas observava-as. Notando a expressão pensativa de seu noivo, Maria, enquanto subia os degraus, perguntou:

— Está tudo bem, querido?

Alucard, que se distraiu outrora, voltou-se a ela.

— Sim. Está tudo bem. – disse friamente.

Ela virou-se novamente para observar seu rosto. Na verdade não estava tudo bem, ela sentia isso, mas deixou de lado. Afinal, a prioridade no momento eram as crianças.

Chegaram até a enfermaria. Irmã Clarice abriu a porta e deixou que o casal entrasse. Os olhares dos jovens se voltaram a ela.

— Olhem... é a tia Maria! – um garoto de aproximadamente treze anos, deitado em sua cama, apontou o dedo até a mulher.

Maria caminhou até o meio da sala. Viu cinco jovens no leito com rosto triste e cansado. Seus olhos avermelharam-se. A cena era melancólica; os rostos prestavam atenção na caçadora sem parar, esperando por algo, um pronunciamento, alguma esperança que tudo ficaria bem.

A caçadora aproximou-se de cada uma das camas. Tocou nas mãos de todos e as apertou bem firme, levando fé e força, mesmo sem abrir a boca. Ela também verificou o estado deles; todos apresentavam febre, e as irmãs que chegavam ao quarto sempre colocavam um pano úmido sobre suas testas para aliviá-los da forte temperatura.

— Eles alegam dizer que todo o corpo dói. – Irmã Margareth disse, aproximando-se da caçadora e falando ao seu ouvido. – a febre deles não baixa e estão muito debilitados...

— Ah...! – Joshua, um garoto de doze anos, gritou, levando a mão à cabeça. Na mesma hora as irmãs, inclusive Maria foram até ele. Adrian, que permanecia à porta, entrou e observou mais de perto as crianças.

— Joshua, meu querido, o que foi? – Irmã Clarice disse, socorrendo-o.

— Minha cabeça dói muito! – ele disse, quase rangendo os dentes.

— Meu Deus, temos de fazer algo! – a freira disse, quase desesperada.

Maria foi correndo verificar o pulso do menino, que estava fraco. Ele estava demasiadamente quente, além de apresentar olhos vermelhos e tremedeira. A caçadora sentou-se ao lado dele para acalmá-lo, apertando firmemente a sua mão enquanto esperava pela ajuda das freiras. Adrian afastou-se do caminho das irmãs e ficou num canto, ainda pensativo.

— Joshua, vai ficar tudo bem, aguente firme! – disse pressionando a mão.

A mulher franziu a sobrancelha. Algo estava estranho e ela percebeu isso. Sem se mover muito notou entre a manga longa da camiseta do rapaz uma marca peculiar que estava presente em seu braço direito. Localizado no pulso, uma marca semelhante a uma forma de raiz e de cor roxa destacava-se em seu membro. Estava tão preocupada com ele, que mal havia percebido isso antes.

— Céus... – ela sussurrou. – Olhe aqui...! – ela disse à freira mais próxima.

— Meu Deus, o que... o que é isso? – Irmã Clarice disse baixo, observando aquela marca. Todos os outros se aproximaram dele, e vendo aquilo ficavam assustados, mas mesmo assim não queriam espalhar o pânico para o menino nem para as crianças no quarto.

— O que foi? – a criança disse baixo, quase não tinha forças para abrir seus olhos.

De longe, Adrian, que ainda não havia se manifestado, chamou sua noiva, chamando a atenção dos outros pela sua voz suave, mas firme ao mesmo tempo. Maria atendeu seu pedido e foi até ele, sussurrando a ele a situação atual.

— Tem alguma coisa estranha com Joshua, Adrian. – ela olhou para o menino ao longe, voltando a seu noivo em seguida – uma marca está em seu pulso, algo que nunca vi antes em minha vida. – um longo suspiro foi feito – Não sabemos se isso tem relação, mas... é peculiar demais.

— Já verificou o pulso das outras crianças? – o meio-vampiro respondeu, observando os jovens ao seu redor.

— Acha que... – Maria arregalou os olhos apreensiva.

— É melhor nos certificarmos. – completou.

A caçadora reparou novamente nos jovens deitados que se entreolhavam e olhavam para as freiras e o casal. Não saberia se fosse verdade se não fizesse o que Adrian orientou. Mas como poderia fazer isso sem causar medo ou algo ruim nos pequenos? Havia outra escolha? Maria temia que não.

Então tomou a decisão, decidiu olhar cada um por vez, pedindo ajuda das mulheres presentes.

A primeira foi Alyssa, que estava mais próxima a ela. Carinhosamente Maria sentou ao seu lado e deslizou a mão em sua testa, para deixá-la mais confortável. Perguntou se estava tudo bem e a resposta esperada foi a que se concretizou: não. Sentia dores no corpo e mal poderia erguer um membro direito. Tinha febre e olhos vermelhos, sem contar os sintomas que tanto ela como Joshua apresentaram. Com toda a cordialidade, ela pediu para ver seu pulso, e logo notou o que não queria ver: a marca roxa.

Rodolf, o irmão de Alyssa, Alexis, e Henan foram os verificados em seguida. Para preocupar ainda mais e causar mais mistério, todos eles apresentavam os mesmos sintomas, inclusive aquela marca. As principais perguntas eram: o que era a (possível) doença e como a adquiriram? Será que o lugar para onde foram antes foi o ponto de onde pegaram aquilo, ou já estavam infectados?

— Droga. – Maria disse nervosa, após ver as freiras confirmando a ela que os jovens estavam na mesma situação.

A mulher pensou por alguns segundos e depois chamou pela Irmã Clarice para conversar fora da enfermaria:

— Tem alguma ideia de onde isso pode ter começado?

— Tudo que posso dizer é que todos eles saíram para comprar algumas coisas e...

— Oh sim... – Maria lembrou-se de algumas palavras que June havia dito a ela, que vieram à tona.

— Bem, apenas isso. Não me recordo de estarem assim anteriormente.

— Hum... – a caçadora levou a mão à testa e deu alguns passos aleatórios na tentativa de se concentrar mais. – Aonde eles foram? Consegue se lembrar?

— S-sim, sim, pedi a eles para irem até uma feira ao norte do vilarejo.

— Feira ao norte? – Maria perguntou confusa – Não me lembro de haver feira por lá.

— Você acha que isso pode ter haver?

— Talvez sim... talvez não... – ela disse, suspirando – Mas de uma coisa sei: irei buscar respostas o mais rápido possível.

Sem demora, ela entrou na enfermaria e foi direto ao encontro de seu noivo. Ele sabia que Maria já pensava em um plano. Quando ela chegou, pediu que fosse junto a ela para o lugar mais afastado da sala.

— Querido, precisamos agir. Sei de um lugar por onde podemos começar e melhor irmos logo.

— Não é melhor que fique aqui com eles, Maria? – Adrian perguntou preocupado.

— Seremos mais eficientes se formos juntos.

— Estou preocupado com você... E se... algo acontecer...

— Adrian... – a caçadora disse baixo, estranhando a atitude do noivo, o que não era recente – Você... não quer minha companhia?

— Maria... isso não é verdade-

— Eu prezo muito por aquelas vidas. Eles são a minha família! – Maria apontou discretamente para os jovens ao longe – Preciso saber o que está acontecendo e não ficar aqui esperando por algo ruim acontecer!

Seus olhos se encontraram. Era mais um dos momentos que ambos conversavam sem dizer quaisquer palavras. Maria estava determinada a prosseguir, mesmo que isso não fosse de agrado ao meio-vampiro. Ela não queria magoá-lo, mas não podia ficar parada; Adrian, por sua vez não tinha coragem de continuar a discussão, a última coisa que queria no momento.

Ele deslizou as mãos sobre o rosto e respirou fundo. Discutir com sua noiva numa situação como aquela seria um erro. Teria de protegê-la de outra forma.

— Está bem. Mas, por favor, fique perto de mim, Maria. Peço-lhe apenas isso.

— Ficaremos juntos. Prometo. – a mulher assentiu.

Maria caminhou até Irmã Clarice, que havia acabado de entrar na sala. As duas conversaram por um breve momento e sem muita demora, ela retornou a Adrian.

— Estou pronta. Podemos partir agora mesmo.

Alucard assentiu, mas ainda mostrava um semblante receoso. Maria, mais do que sua noiva, era a coisa mais importante da vida dele. Após sua morte na luta contra Therian, o meio-vampiro queria garantir a total segurança dela colocando-a num lugar acima dele.

Os dois se despediram dos presentes na enfermaria. A caçadora preferiu não avisar a June que estava de partida. Seria melhor ter o foco total na missão; buscar respostas sobre o que estava acontecendo com os pobres órfãos antes que algo ruim surgisse.


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