A Maldição Silenciosa escrita por Dama das Estrelas
Notas iniciais do capítulo
DEMOROU, MAS CHEGOU!
É isso aí, pessoal. Peço mil perdões pela demora em postar esse cap. Tive diversos trabalhos a fazer e por isso fiquei sem tempo para escrever. Agradeço pela espera e paciência de todos, seus lindos! Aproveitem!
Nova Esperança. Um bom nome para jovens que perderam as suas esperanças ganharem a oportunidade de recomeçar. O lugar que era administrado pelas freiras por mais de dez anos sobrevivia por meio de voluntariado, de alguns recursos oriundos da Igreja e da principal benfeitora, Maria Renard. Como era filha de aristocratas locais, a caçadora destinava parte de sua renda recebida em investimentos para ajudar o orfanato sem receber nada em troca.
Há três anos, Maria vinha doando não apenas seu dinheiro, mas boa parte do tempo que tinha disponível. E agora que estava noiva de Adrian, ela precisou administrar e dividir-se para dar atenção duas das coisas que mais amava; sem contar os momentos que passava com Annette ou com Richter.
De mãos dadas a June, Maria passou pelas ruas do vilarejo com passos rápidos observando qualquer detalhe que achasse incomum. Cumprimentou conhecidos, mas não parou em nenhum momento sequer, pois o orfanato era a prioridade.
— Tia Maria... – A pequena disse meio tímida enquanto caminhava “Estou com medo.”
— Tudo bem, querida, não se preocupe. Estamos chegando para ajudá-los.
— E se... algo acontecer...
—June. – Maria não parou de andar, mas falou diretamente a ela – Temos de ter fé.
A menina olhou para cima. Sabia que a caçadora também estava preocupada, mas ainda carregava esperanças, o que a motivava.
Quando as duas chegaram a certo ponto da caminhada, perto de um beco isolado, um vulto aproximou-se rapidamente delas, mais precisamente a Maria. Um breve sopro do vento tocou-as, fazendo leves objetos voarem ao seu redor. De repente, saindo daquele beco, uma figura familiar surgiu.
Um breve sorriso saiu da boca de Maria, que olhando para o lado, viu seu noivo chegando.
— Perdoem-me a demora.
— O senhor não demorou, senhor Adrian. – June disse de olhos arregalados, impressionada com o tempo de sua chegada.
Alucard olhou para a criança admirada e agachou-se para olhá-la melhor:
— Não me chame de senhor. Somente Adrian está bom, senhorita.
A garota assentiu sorridente.
— Vamos, – Maria disse – o orfanato fica logo ali.
O trio seguiu para o Nova Esperança. Ainda com passos precisos, chegaram até o local em poucos minutos.
— Johanne! – uma voz gritou ao longe, à porta do orfanato.
— Tia Clarice! – a criança gritou, correndo ao seu encontro.
— Por Deus, Johanne, por que fugiu daqui? Você poderia ter se machucado, minha filha!
— Perdão, irmã. – ela baixou a cabeça – Fui chamar tia Maria; ela é a única que pode nos ajudar.
A freira olhou ao longe, observando duas figuras se aproximarem.
— Maria... – a freira desceu as curtas escadas da entrada – O céus, Maria... você veio. – disse impressionada.
— Olá, irmã. – Maria não esperou e logo lhe abraçou.
Após o término do gesto, Irmã Clarice visou seu olhar a Adrian, que permanecia no lugar onde havia parado antes.
— Ele... – ela levou a mão ao queixo em dúvida.
— É meu noivo. Veio aqui para ajudar.
— Oh sim... Adrian.
— Madame. – ele baixou a cabeça em cumprimento.
— Irmã, o que foi tão grave para June sair correndo para me chamar? – Maria olhou para a criança e depois voltou-se para a freira.
— Ah... Maria... – a irmã balançou a cabeça negativamente – não queríamos causar-lhe nenhum problema, mas... eu não sei o que fazer, nós não sabemos. – ela caminhou até a porta – Entrem, por favor.
Todos entraram. Adrian foi o último a entrar, fechando a porta em seguida. Parou para observar o local enquanto caminhava ao lado de sua noiva. A velha construção tinha um toque acolhedor: cores em tom mogno, um saguão médio, sem muitos móveis e repleto de cortinas nas gigantes janelas; algumas portas que davam acesso a cozinha, a biblioteca e a sala de estar; uma escada de madeira simples ao canto inferior direito que seguiam o caminho dos quartos. O casarão não era amplo, mas era alto, possuindo três andares, o que possibilitava ser o abrigo de dezenas de jovens que perderam seus pais ou foram abandonados.
Os pais de June foram mortos quase em sua frente. Há alguns anos viu-os serem atacados por criaturas malignas enquanto plantavam no campo. A pequena garotinha de dois anos que era carregada por sua mãe foi levada às pressas para o vilarejo. Seu pai havia ficado para trás, morrendo no campo; e ao entregar a criança para um homem a cavalo, a mãe foi morta com um corte em suas costas. Desde que a conheceu, Maria sempre se sentiu ligada não apenas a ela, mas como boa parte dos órfãos, pois sabia como era perder os pais para aquelas criaturas.
— Como estão as crianças? – Maria perguntou preocupada. Não conseguia tirá-los de sua mente.
— Estão na enfermaria, venha comigo. – a freira disse, seguindo até as escadas.
— June. É melhor que você fique com os outros. – ela abaixou-se para vê-la e encará-la nos olhos.
— Mas... – a criança baixou os olhos.
— Por favor, June. Você é a única que pode cuidar de nossos amigos enquanto verei os que estão mal.
Naquele momento sentiu-se mais importante. Para June lhe foi dada uma missão importante, era o que pensava.
— Entendo...
— Vá para a sala de estar, Johanne, os outros estão por lá. – a freira disse, e a menina assentiu, correndo para lá.
Os três prosseguiram. Adrian permaneceu em silêncio, como de costume, apenas observava-as. Notando a expressão pensativa de seu noivo, Maria, enquanto subia os degraus, perguntou:
— Está tudo bem, querido?
Alucard, que se distraiu outrora, voltou-se a ela.
— Sim. Está tudo bem. – disse friamente.
Ela virou-se novamente para observar seu rosto. Na verdade não estava tudo bem, ela sentia isso, mas deixou de lado. Afinal, a prioridade no momento eram as crianças.
Chegaram até a enfermaria. Irmã Clarice abriu a porta e deixou que o casal entrasse. Os olhares dos jovens se voltaram a ela.
— Olhem... é a tia Maria! – um garoto de aproximadamente treze anos, deitado em sua cama, apontou o dedo até a mulher.
Maria caminhou até o meio da sala. Viu cinco jovens no leito com rosto triste e cansado. Seus olhos avermelharam-se. A cena era melancólica; os rostos prestavam atenção na caçadora sem parar, esperando por algo, um pronunciamento, alguma esperança que tudo ficaria bem.
A caçadora aproximou-se de cada uma das camas. Tocou nas mãos de todos e as apertou bem firme, levando fé e força, mesmo sem abrir a boca. Ela também verificou o estado deles; todos apresentavam febre, e as irmãs que chegavam ao quarto sempre colocavam um pano úmido sobre suas testas para aliviá-los da forte temperatura.
— Eles alegam dizer que todo o corpo dói. – Irmã Margareth disse, aproximando-se da caçadora e falando ao seu ouvido. – a febre deles não baixa e estão muito debilitados...
— Ah...! – Joshua, um garoto de doze anos, gritou, levando a mão à cabeça. Na mesma hora as irmãs, inclusive Maria foram até ele. Adrian, que permanecia à porta, entrou e observou mais de perto as crianças.
— Joshua, meu querido, o que foi? – Irmã Clarice disse, socorrendo-o.
— Minha cabeça dói muito! – ele disse, quase rangendo os dentes.
— Meu Deus, temos de fazer algo! – a freira disse, quase desesperada.
Maria foi correndo verificar o pulso do menino, que estava fraco. Ele estava demasiadamente quente, além de apresentar olhos vermelhos e tremedeira. A caçadora sentou-se ao lado dele para acalmá-lo, apertando firmemente a sua mão enquanto esperava pela ajuda das freiras. Adrian afastou-se do caminho das irmãs e ficou num canto, ainda pensativo.
— Joshua, vai ficar tudo bem, aguente firme! – disse pressionando a mão.
A mulher franziu a sobrancelha. Algo estava estranho e ela percebeu isso. Sem se mover muito notou entre a manga longa da camiseta do rapaz uma marca peculiar que estava presente em seu braço direito. Localizado no pulso, uma marca semelhante a uma forma de raiz e de cor roxa destacava-se em seu membro. Estava tão preocupada com ele, que mal havia percebido isso antes.
— Céus... – ela sussurrou. – Olhe aqui...! – ela disse à freira mais próxima.
— Meu Deus, o que... o que é isso? – Irmã Clarice disse baixo, observando aquela marca. Todos os outros se aproximaram dele, e vendo aquilo ficavam assustados, mas mesmo assim não queriam espalhar o pânico para o menino nem para as crianças no quarto.
— O que foi? – a criança disse baixo, quase não tinha forças para abrir seus olhos.
De longe, Adrian, que ainda não havia se manifestado, chamou sua noiva, chamando a atenção dos outros pela sua voz suave, mas firme ao mesmo tempo. Maria atendeu seu pedido e foi até ele, sussurrando a ele a situação atual.
— Tem alguma coisa estranha com Joshua, Adrian. – ela olhou para o menino ao longe, voltando a seu noivo em seguida – uma marca está em seu pulso, algo que nunca vi antes em minha vida. – um longo suspiro foi feito – Não sabemos se isso tem relação, mas... é peculiar demais.
— Já verificou o pulso das outras crianças? – o meio-vampiro respondeu, observando os jovens ao seu redor.
— Acha que... – Maria arregalou os olhos apreensiva.
— É melhor nos certificarmos. – completou.
A caçadora reparou novamente nos jovens deitados que se entreolhavam e olhavam para as freiras e o casal. Não saberia se fosse verdade se não fizesse o que Adrian orientou. Mas como poderia fazer isso sem causar medo ou algo ruim nos pequenos? Havia outra escolha? Maria temia que não.
Então tomou a decisão, decidiu olhar cada um por vez, pedindo ajuda das mulheres presentes.
A primeira foi Alyssa, que estava mais próxima a ela. Carinhosamente Maria sentou ao seu lado e deslizou a mão em sua testa, para deixá-la mais confortável. Perguntou se estava tudo bem e a resposta esperada foi a que se concretizou: não. Sentia dores no corpo e mal poderia erguer um membro direito. Tinha febre e olhos vermelhos, sem contar os sintomas que tanto ela como Joshua apresentaram. Com toda a cordialidade, ela pediu para ver seu pulso, e logo notou o que não queria ver: a marca roxa.
Rodolf, o irmão de Alyssa, Alexis, e Henan foram os verificados em seguida. Para preocupar ainda mais e causar mais mistério, todos eles apresentavam os mesmos sintomas, inclusive aquela marca. As principais perguntas eram: o que era a (possível) doença e como a adquiriram? Será que o lugar para onde foram antes foi o ponto de onde pegaram aquilo, ou já estavam infectados?
— Droga. – Maria disse nervosa, após ver as freiras confirmando a ela que os jovens estavam na mesma situação.
A mulher pensou por alguns segundos e depois chamou pela Irmã Clarice para conversar fora da enfermaria:
— Tem alguma ideia de onde isso pode ter começado?
— Tudo que posso dizer é que todos eles saíram para comprar algumas coisas e...
— Oh sim... – Maria lembrou-se de algumas palavras que June havia dito a ela, que vieram à tona.
— Bem, apenas isso. Não me recordo de estarem assim anteriormente.
— Hum... – a caçadora levou a mão à testa e deu alguns passos aleatórios na tentativa de se concentrar mais. – Aonde eles foram? Consegue se lembrar?
— S-sim, sim, pedi a eles para irem até uma feira ao norte do vilarejo.
— Feira ao norte? – Maria perguntou confusa – Não me lembro de haver feira por lá.
— Você acha que isso pode ter haver?
— Talvez sim... talvez não... – ela disse, suspirando – Mas de uma coisa sei: irei buscar respostas o mais rápido possível.
Sem demora, ela entrou na enfermaria e foi direto ao encontro de seu noivo. Ele sabia que Maria já pensava em um plano. Quando ela chegou, pediu que fosse junto a ela para o lugar mais afastado da sala.
— Querido, precisamos agir. Sei de um lugar por onde podemos começar e melhor irmos logo.
— Não é melhor que fique aqui com eles, Maria? – Adrian perguntou preocupado.
— Seremos mais eficientes se formos juntos.
— Estou preocupado com você... E se... algo acontecer...
— Adrian... – a caçadora disse baixo, estranhando a atitude do noivo, o que não era recente – Você... não quer minha companhia?
— Maria... isso não é verdade-
— Eu prezo muito por aquelas vidas. Eles são a minha família! – Maria apontou discretamente para os jovens ao longe – Preciso saber o que está acontecendo e não ficar aqui esperando por algo ruim acontecer!
Seus olhos se encontraram. Era mais um dos momentos que ambos conversavam sem dizer quaisquer palavras. Maria estava determinada a prosseguir, mesmo que isso não fosse de agrado ao meio-vampiro. Ela não queria magoá-lo, mas não podia ficar parada; Adrian, por sua vez não tinha coragem de continuar a discussão, a última coisa que queria no momento.
Ele deslizou as mãos sobre o rosto e respirou fundo. Discutir com sua noiva numa situação como aquela seria um erro. Teria de protegê-la de outra forma.
— Está bem. Mas, por favor, fique perto de mim, Maria. Peço-lhe apenas isso.
— Ficaremos juntos. Prometo. – a mulher assentiu.
Maria caminhou até Irmã Clarice, que havia acabado de entrar na sala. As duas conversaram por um breve momento e sem muita demora, ela retornou a Adrian.
— Estou pronta. Podemos partir agora mesmo.
Alucard assentiu, mas ainda mostrava um semblante receoso. Maria, mais do que sua noiva, era a coisa mais importante da vida dele. Após sua morte na luta contra Therian, o meio-vampiro queria garantir a total segurança dela colocando-a num lugar acima dele.
Os dois se despediram dos presentes na enfermaria. A caçadora preferiu não avisar a June que estava de partida. Seria melhor ter o foco total na missão; buscar respostas sobre o que estava acontecendo com os pobres órfãos antes que algo ruim surgisse.
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