A Maldição Silenciosa escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 13
Refúgio Sagrado


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal! Essa fic não morreu! kkkkk Perdão por ter deixado-a na geladeira por mais tempo que eu planejava deixar. Não se preocupem que essa fic e a "Justice and Mercy" (pra quem acompanha) serão finalizadas normalmente. Obrigada pela super paciência e aproveitem esse capítulo estendido!



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O homem corria desesperadamente. Movia-se pelas estreitas ruas a procura de um abrigo onde ele e a mulher em seus braços pudessem ficar escondidos. Ele descartou a ideia da própria casa, já que muitos conheciam onde ficava e que seria um alvo fácil, primeiro lugar onde iriam prosseguir. Para o meio-vampiro aquilo não estava nada bem. O que ele mais temia estava acontecendo, e o pior, tudo ocorreu na frente de seus olhos e este não conseguiu evitar que um mal acontecesse com alguém na qual ele se importava, novamente. A história estava se repetindo.

Ela estava consciente, apoiando a mão no local do impacto para estancar o sangue que já manchava uma boa parte de seu rosto. Por sorte ela era uma caçadora, uma pessoa que por anos treinou seu corpo e sua mente para situações piores; um qualquer desmaiaria na hora.

— Adrian, eu estou bem, pode me soltar. — ela disse como quem não estivesse gostando.

— Você está ferida, Maria. Irei levá-la a um lugar seguro. — a voz dele era séria e ao mesmo tempo, confortante.

A caçadora olhou por alguns segundos o rosto dele, que visava todos os cantos em busca de uma saída. Ele a segurava forte, como se nunca fosse soltar; um alguém que se entregaria por completo para mantê-la a salvo, um homem que daria a sua vida por sua amada.

Adrian era alguém zeloso, até demais. Um meio-vampiro que acordara recentemente dum sono que durou séculos, justamente porque ele se recusava a viver carregando o sangue amaldiçoado do pai. Seria doloroso continuar existindo sabendo que a morte não viria a seu encontro, principalmente depois de presenciar a execução cruel de sua mãe na fogueira, pois foi considerada uma bruxa. E o mesmo estava prestes a se repetir com Maria.

Mas dessa vez ele não iria deixar. Não iria permitir que alguém amado por ele fosse tirado de suas mãos.

Era incrível que, mesmo após tanto tempo, as pessoas pudessem agir daquela forma: friamente, impiedosamente, cruelmente, assim como agiram com sua mãe, com a viúva da lenda, e Maria. Seres humanos se igualavam às criaturas do castelo de Drácula, e chegavam a ser piores, pois aquelas criaturas nasceram para um único propósito, mas estes escolheram ser maus. Ainda assim sua mãe implorou ao filho que não odiasse aquela gente, por mais que Adrian se enchesse de fúria e revolta. Por causa de seu desejo, o filho do Drácula não se tornou mais um servo das trevas.

— A igreja! — exclamou ele.

— O que tem a... — Maria franziu a testa, entendendo o que ele quis dizer em seguida.

O único lugar em que eles não teriam “coragem” de destruir ou invadir, um local sagrado, a igreja do centro. Ironicamente um dos destinos planejados. O meio-vampiro não pensou duas vezes e correu mais rápido ainda, numa velocidade sobre-humana.

— Adrian, o que está fazendo? As pessoas podem ver você correndo assim e desconfiar! — ela disse assustada.

— Não me importo, preciso levar você até lá para que fique em segurança, nada mais.

Em todo o tempo em que passou a “viver com humanos”, Adrian sempre evitou sair de dia e até mesmo aparecer em público, tudo para evitar que as pessoas o vissem e assim atrair suspeitas. Pela primeira vez ele ultrapassou seus limites autoimpostos nos últimos tempos, tudo por ela; séculos atrás nunca imaginaria fazer isso por alguém além de sua mãe.

Maria ergueu seus olhos novamente para vê-lo e tentou imaginar o que se passava em sua mente. Abriu sua boca para falar-lhe, mas a voz não saiu:

— Obrigada...

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Enfim chegaram à igreja. De médio porte, antiga e de estilo gótico, era a construção mais antiga do vilarejo e a mais alta, para que todos que chegassem lá pudessem tê-la como referência. Sua pintura fora desgastada pelo tempo, restando apenas uma coloração cinza do concreto; ao menos os vitrais foram conservados. Seu interior era um formato de cruz, padrão para esse estilo; e assim como o exterior, dentro dela havia as marcas do desgaste dando a certeza que há tempos a igreja não passava por uma reforma.

O templo estava quieto e sem gente, sem vida como uma capela fantasma. Ao por sua noiva no chão, rapidamente o meio-vampiro fechou os portões de madeira fina que sempre estavam abertos aos fiéis. Graças às diversas janelas situadas em pontos estratégicos, a Igreja pode captar a luz do sol e ficar iluminada sem a necessidade de velas. Os vitrais coloridos criavam um clima inigualável, místico.

Ao retirar a mão de seu rosto, Maria voltou-se para o fundo da igreja onde ficava o altar. Ver aquilo sempre a impressionava, por mais que viesse várias e várias vezes. Era um espaço magnífico aos olhos de um fiel: Nele havia um retábulo onde possível observar ilustrações em relevo, sendo que o principal era um grande crucifixo entalhado em madeira fina, e acima dele ficava a rosácea colorida e decorada com dezenas de pequenas ilustrações. Velas circundavam o crucifixo e iluminavam um dos momentos mais sagrados para os católicos, gerando um clima indescritível. O modo como as colunas foram dispostas na igreja unidas a arcos de volta quebradas com ogivas, criava um espaço amplo e aprazível noção de altura de um modo com que a pessoa se conectasse diretamente com o céu.

Fixando seus olhos parar a frente, Maria se benzeu num gesto de fé e respeito, depois juntou as duas mãos e baixou a cabeça por breves segundos. Adrian observou-a esperando até que terminasse.

— Você não deveria ter feito aquilo, Adrian. — Ela disse em voz baixa, ainda olhando para o altar — Por mais que sua intenção tenha sido a melhor, os outros vão desconfiar de você e poderão tentar... matá-lo.

— Assim como tentaram com você, não é? — respondeu sem se mover para perto dela.

— Eles estavam nervosos, desesperados por alguma resposta...

— Eles a conheciam, Maria. — argumentou ele, interrompendo-a — E mesmo assim fizeram aquilo.

Maria baixou a cabeça. Tinha um olhar triste, não sabia o que fazer ou falar.

— Você entrega tudo de si para ajudá-los e veja como lhe trataram! — O meio-vampiro desabafou indignado.

— Nem todo mundo pensa como eles, Adrian! — Ela se virou para ele, mostrando-se indignada.

— Eu também achava isso! — Ele fez uma breve pausa — Mas vi pessoas que se consideravam meus amigos entregarem minha mãe à fogueira.

As palavras dele ecoaram no templo vazio. Maria ergueu as sobrancelhas e chegou a abrir sua boca para dizer-lhe algo, mas ficou boquiaberta apenas.

— Lisa... — A mulher sussurrou, lembrando-se de toda aquela história. Uma mulher doce, quase santa. Uma vida nobre dedicada a ajudar o próximo. Um amor proibido, um filho amado. Uma morte cruel.

Ao ouvir o nome Adrian fechou sues olhos e franziu as sobrancelhas, tudo voltava à sua mente e o perfurava como uma lança. Era um passado que sua mente relutava em esquecer e, ao mesmo tempo, lembrar-se para sempre.

Dez segundos depois o meio-vampiro caminhou alguns passos para frente.

— Temos de encontrar o padre. — disse ele, deixando-a para trás.

Acima do local de culto haviam outras salas, tais como o quarto principal do padre, a sala de reuniões e uma outra capela para que sacerdote e outros membros do clero pudessem rezar, já que a Igreja ficavas sempre aberta para os fiéis. Havia também outros quartos, pequenos, feitos para abrigarem visitantes ou outros clérigos. O acesso para o segundo andar ficava no lado direito. Passava-se pela nave (parte central do templo, onde os fiéis se sentavam para o culto) e chegava-se ao cruzeiro (local de intersecção entre as áreas). Numa escada circular feita de pedra, os dois subiram e chegaram ao local acima. Não havia sequer uma pessoa no corredor, o que aumentou a ansiedade na mente dos dois.

— O quarto do padre é bem ali. — Maria apontou para os fundos do corredor, o que em termos seria a parte da frente da igreja.

Antes que os dois pudessem alcançar a porta, de repente, ela se abriu e a pessoa que saíra não era bem exatamente quem eles procuravam; era uma freira, a qual levou um susto ao ver as duas figuras.

— O que estão fazendo a... Maria?! — Uma mulher já de meia-idade, alta e de porte médio aproximou-se do casal em passos rápidos — Por Deus, o que houve com você?! — sem hesitação ela tocou no rosto da mulher ferida.

— É complicado explicar, Irmã Annabeth. Precisamos falar com o Padre Filip.

— Venha comigo antes. — Ela a puxou cuidadosamente pelo braço — temos de limpar seu rosto de todo esse sangue.

Maria não havia percebido o quanto era evidente a mancha presente nela. Imaginou apenas chegar ao padre e contar, desabafar, pedir ajuda. Mal pensou que aquilo pudesse causar uma má impressão.

— Isso é urgente, Irmã!

— Cuidar dessa ferida também é urgente!

Adrian virou seu rosto para ela como se concordasse com a atitude da freira.

— Ela está certa, Maria.

— Venha.

Não tendo escolha, Maria aceitou a ajuda. A freira levou-a consigo para um dos quartos situados no mesmo andar onde estavam. Adrian ficou parado, observando as duas se moverem; ele estava um pouco sem jeito. Há muito tempo não pisava num local sagrado, exceto pela vez na qual lutou contra Magnus, sendo que era apenas uma velha capela abandonada e em ruínas. Quando era criança sempre ia à igreja junto de sua mãe. Amava a atmosfera do lugar, a unidade nos momentos de reza, os cantos entoados, o brilho e calor das velas... Entretanto toda a “magia”, de repente não fazia mais sentido após a morte da sua mãe, que foi entregue por pessoas que se diziam cristãs. Só retornou por causa de Maria. O meio-vampiro olhou para a porta do quarto do padre. Pensou em seguir para lá, e conversar com o padre. Mas de alguma forma ficou imóvel, sem ânimo, sem coragem. Não estava pronto, preferindo ficar ali à espera dela.

O pequeno quarto não era muito decorado. Apresentava uma cama, um pequeno baú em formato de caixa e uma pequena mesa com duas cadeiras. Tinha uma janela pequena para circular ar e captar a luz do sol.  A freira, sem demora, caminhou até o baú, pegou um jarro feito de barro em cima dele e ensopou com água um tecido branco limpo que estava ao lado.

— Sente-se, Maria. — Ela apontou para a cama.

Annabeth enxugou o tecido numa bacia próxima, foi até a caçadora e limpou o sangue quase seco de seu rosto.

— Pode contar-me o que aconteceu? — perguntou preocupada a freira.

A mulher estava hesitante. Tentava arranjar palavras que não a deixasse espantada.

— Eu...

Mas não havia outro jeito.

— Fui atacada por um dos moradores.

Os olhos da senhora se arregalaram. Ficou boquiaberta, parando o que estava fazendo, até.

— Por Deus, o que houve? Por que lhe fizeram isso?

A caçadora relutou em responder.

— Sou uma caçadora, a senhora sabe disso, certo?

— Claro. — Assentiu.

— Por causa das “habilidades” que possuo... eles pensaram que eu fosse uma... bruxa. E tentaram apedrejar-me por isso.

— Santa Virgem! — A freira levou a mão direita ao peito, horrorizada.

— Por isso vim aqui pedir ajuda ao Padre. Ele é o único que pode interceder por mim.

—Céus! Como podem lhe pesar toda a culpa de um castigo divino?

— Castigo? — Maria franziu a sobrancelha.

A irmã dobrou a manga longa de suas vestes e mostrou a marca roxa em seu pulso.

— Sim, minha querida. Pecamos contra o Nosso Senhor e contra a Virgem, e estamos pagando por isso. O Padre Filip não tem parado de rezar, mesmo estando em seu leito.

— Ele também está doente? — perguntou preocupada.

— Está...

Ao terminar de limpar seu rosto, a caçadora encarou-a com olhos assustados. “todos da vila, sem exceção, ficariam assim.” Disse Aliel para ela e os outros na biblioteca. Nem mesmo o padre escapou da sina.

— Onde estão as outras irmãs? — questionou ao lembrar-se do vazio e do silêncio que a Igreja se encontrava. — E por que a igreja está vazia?

— Encontram-se na enfermaria, cuidando dos doentes. — A irmã levou a mão aos olhos para enxugá-los — São muitos, tanto que o padre precisou fazer a missa lá mesmo. — Ela terminou soltando um risinho, que logo desapareceu. — Porém ele começou a se sentir fraco e precisou ser levado de volta para cá. Saí recentemente de seu quarto para deixá-lo dormir.

A mulher loira levantou. Estava visivelmente decepcionada. O Padre já não estava disponível para ajudá-la e a caçadora não podia esperar mais. Tinha de fazer algo para resolver o problema antes que fosse tarde.

— Sinto muito que não posso ajudá-la, minha jovem.

— Não se preocupe irmã Annabeth. — Ela caminhou ao seu encontro e segurou as duas mãos da freira. Olhou com ternura e lançou-lhe um pequeno sorriso — Obrigada por isso.

Maria deu dois passos para trás e se virou direção à porta. Intrigada, a freira se manifestou:

— Já está indo? Mas para onde, querida? Não disse que está sendo perseguida?

— O tempo está acabando, Irmã. Em breve todos do vilarejo estarão doentes e até agora não sei o que causou isto! — Ela fez um gesto com as mãos, erguendo-as. — Eu não posso ficar aqui sem fazer algo.

— O que temos de fazer é continuar a rezar, Maria! — Ela retrucou, preocupada com a atitude da jovem.

— Sei que é preciso fazê-lo, Irmã Annabeth. Perdoe-me, pois não acho que essa doença veio de um castigo divino.

A senhora ergueu as sobrancelhas.

— Por que achas isso?!

Foi uma pergunta curta, mas que pegou a caçadora de surpresa. Porque... Por quê? Seria uma doença, uma maldição ou seria mesmo um castigo divino? Não foi a primeira vez que o povo sofreu consequências por pecar constantemente e não se arrepender. Mas havia algo diferente, algo que a incomodava. Ela teve uma visão de gente sendo cruelmente torturada e tinha plena certeza que havia uma relação com o caso. Tinha certeza também que era uma mensagem vinda das Quatro Criaturas Celestiais.

Claro. Era a única explicação possível. Mas como dizer isso àquela freira?

— Eu... senti... — Ela baixou a cabeça, tentando arranjar uma explicação melhor. — Foi algo real, acredite em mim.

 A senhora de idade continuou a encará-la de uma forma peculiar.

— Perdoe-me, Irmã Annabeth, mas preciso ir. Agradeço de coração a sua ajuda. — Maria assentiu em forma de agradecimento e, em seguida, saiu do quarto com pressa.

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Adrian persistia em encarar a porta do quarto do padre. Uma força quase sobrenatural o queria empurrar para dentro para encarar o sacerdote. Ainda que não o conhecesse, sua vontade era de ficar frente a frente com o homem e falar tudo. Mal sabia direito o que era, apenas sentia que precisava falar, desesperadamente.

Seguiu até a porta de madeira e parou, encarando o crucifixo acima de sua cabeça. Estava prestes a libertar um peso que carregava em seu peito por séculos. Padre Filip não era Deus, mas um elo que o ligaria até Ele. Finalmente tomou coragem de acertar contas com sua alma e a fé adormecida.

Pronto a tocar na maçaneta e abrir a porta, o único obstáculo que o separava era ele mesmo.

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A caçadora saiu do quarto e olhou para o corredor na tentativa de encontrar o meio-vampiro. Estava desanimada, sem saber direito para onde ir. Mesmo estando chateada com Adrian, precisava de sua ajuda, melhor que ninguém.

Ela virou a cabeça para a direita, em direção aos fundos. Ficou, instantaneamente, sem reação. Seus olhos arregalaram e ela abriu a boca, mas dela não saiu som. Maria correu o mais rápido que pôde para alcançá-lo. Era Adrian, frente à porta do Padre, ajoelhado, de cabeça baixa e apoiando o braço direito no chão para se sustentar. Ainda era possível ouvir alguns gemidos de dor que percorriam o corredor de pedra como a voz de alguém que estivesse no leito de morte.


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Notas finais do capítulo

O que será que vai acontecer com ele, hein?! Não percam o próximo capítulo, obrigada por ler... e fui!



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