A Maldição Silenciosa escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 11
Conversa do presente e conto do passado


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores, não tenho recados a dizer hoje haha. Aproveitem o capítulo! ♥



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E a chuva voltou a cair.

O clima refletia a situação: fria, tensa e instável. Nunca se viu uma troca de olhares tão intensa entre Maria e Adrian; Era a primeira vez que os dois se encontravam assim. A caçadora já estava descontente com a atitude de outrora do noivo, hipnotizando-a para tirar do vilarejo. Agora com a descoberta de um plano autoritário em "prender" todos num vilarejo em estado de pânico, Maria decepcionou-se ainda mais com ele.

— Meu amigo, – a caçadora disse a Christopher, com o olhar voltado a Adrian – pode nos deixar a sós?

O lorde observou as duas figuras que não paravam de se encarar, como se a qualquer momento um pudesse desferir o primeiro golpe. Percebeu que não havia espaço para ele na sala.

— Está bem. – O rapaz de cabelos castanhos assentiu.

— Obrigada.

Sem falar com Alucard, Christopher deixou o lugar. Nos primeiros segundos apenas o som da forte chuva foi ouvida dentro da biblioteca. Maria estava pronta para falar, expressar tudo que sentia e pensava no momento. Nunca esteve tão chateada com o homem que amava, mais ainda quando se irritou com Richter.

Ela apertou o punho direito, e esse simples movimento fez o meio-vampiro perceber esse minímo detalhe.

— Eu não sei o que dizer, Adrian... – Ela balançou a cabeça.

— Então não diga, Maria. – ele disse friamente.

— O quê?! – a mulher ficou surpresa, e andou alguns passos para se aproximar dele – Eu não acredito que está falando comigo desse jeito.

— Você não devia estar aqui! – O homem franziu a testa.

— Ah, claro! – ela disse sarcasticamente, erguendo os braços – por que você me desacordou e me mandou para bem longe! Aposto que não contou isso para Christopher, pois ele nunca o ajudaria.

— Fiz isso por que a amo!

— Pare com isso... pare, Adrian. – Ela fez um gesto com a mão, fechando seus olhos e respirando fundo – Isso não se faz com alguém que se ama... levar-me do jeito que fez foi muito errado. Eu não tenho mais o direito de escolha?

— Eu não podia deixar que você se arriscasse!

— Sou uma cacadora! Fui treinada para encarar perigos maiores que este! Ou não se lembra que nos encontramos no castelo do Drácula?

O meio-vampiro não falou, em vez disso, desviou seu olhar para o lado.

— Você não apenas tirou-me do vilarejo contra a minha vontade, como prendeu a todos lá! Não vai demorar muito até que se rebelem e dêem um jeito de forçar a saída. Tem sorte de isso não estar acontecendo agora!

— É por isso que preciso ser rápido. – Adrian se virou de lado para observar  o lado de fora. Parecia estar irredutível.

— Não escutou o que eu disse? Não posso acreditar que após todo esse tempo vivendo juntos você continua agindo como se fosse um cavaleiro solitário. – a voz de Maria era perceptivelmente abatida e enfezada.

Era como no começo. O meio-vampiro, filho de Drácula, seguindo sua própria cruzada; Fazendo as coisas a seu modo sem que ninguém entrasse no seu caminho. Ele já era assim séculos atrás e dificilmente mudaria tão rápido.

— Sou sua noiva, Adrian. Ainda que sua intenção era me manter a salvo, o que fez foi... desleal.

— Maria... – ele sussurrou. Nem tinha dimensão do quanto a havia machucado.

Eles não queriam admitir, mas estavam passando por problemas, a pior crise em tanto tempo vivendo juntos.

— Eu... – Ela hesitou –  esqueça. – A mulher pensou duas vezes e resolveu não mais falar. Não tinha tempo para isso, o vilarejo corria grande perigo e não era hora de continuar aquela discussão. – O motivo principal da minha vinda não foi discutir com você, Adrian.

— Imagino.

— Tive uma visão. As Criaturas Celestiais estão me alertando sobre coisas ruins que vão acontecer no vilarejo. Provavelmente por uma errada decisão tomada que acarretou naquela horrenda imagem. – Ela franziu a testa.

Alucard sabia que Maria tentou, mesmo que indiretamente, atingi-lo de alguma forma ao criticar sua escolha em bloquear a entrada do vilarejo.

— O que você viu?

Ela respirou fundo: – Pessoas sendo torturadas e mortas da pior forma.

— Maldição. – O meio-vampiro pressionou os punhos.

— Eu não planejei vir até aqui. Deixaria você cuidar do problema, apesar de estar profundamente irritada. Cheguei no intuito de saber o que estava acontecendo, e acabei descobrindo isso...

— Saiba que eu não me arrependo disto, Maria. Outra saída era inexistente; precisava agir antes que eles pudessem fugir e infectar mais pessoas fora do vilarejo.

— Então reze para que a situação não piore. – Ela lhe lançou um último olhar afiado antes de se virar para seguir até a porta.

Maria sentia-se mais decepcionada com Adrian que antes. Ele provou à mulher que não tinha um pingo de remorso dentro de si e que continuaria assim até o final.

A porta se abriu pelo lado de fora, de repente. Maria, que estava prestes a sair levou um susto.

— Eu não queria interromper, mas tenho informações que podem ajudar. – Christopher surgiu com um olhar estático e ansioso.

— Já havíamos terminado por aqui. – respondeu a mulher. Alucard ficou em silêncio.

— Bom. – O lorde entrou na sala trazendo consigo um senhor de idade. Ele vestia roupas simples, mas arrumadas. Dava a impressão de ser mais um empregado.

— Aliel conhece algo a respeito disso. – Christopher afirmou, fazendo um gesto com a mão para que o homem branco de cabelos da mesma cor falasse.

Aliel assentiu para o patrão e caminhou alguns passos para ficar mais próximo do centro da sala. Tossiu uma vez e respirou fundo.

— Muito prazer. Quando ouvi do lorde Galvan o comentário sobre essa doença maluca, me veio a lembrança de uma lenda muito antiga.

O senhor de idade coçou a bochecha direita fazendo uma pausa em sua fala. Essa demora irritou o meio-vampiro que se manifestou gemendo impacientemente. Além disso, caminhou para um pouca mais longe dos reunidos; não teria problemas em escutar, afinal sua audição era superior a de um humano.

— Séculos atrás havia na região da Valáquia uma vila de camponeses pobres – disse o velho, observando o lorde e a caçadora – Também havia uma recém viúva a quem os habitantes suspeitavam que fosse uma bruxa. As suspeitas aumentaram quando o marido morreu e as atividades de bruxaria se tornaram mais frequentes na região: animais mortos, pessoas ficando doentes sem motivo, até os recém-nascidos sofriam, aparecendo sujos de sangue quando dava lua cheia.

— Céus... – A caçadora balançou a cabeça.

— Além da desconfiança com a velha, ouvia-se dizer que algumas pessoas a atazanavam, deixando-a ainda mais irritada. Chamavam-na de bruxa, jogavam pedras em sua casa, até vigiavam-na à noite para tentar achar alguma prova.

— E o que houve? – Maria ergueu as sobrancelhas.

— Revoltados com o que estava acontecendo, os moradores tomaram uma medida drástica: numa noite queimaram a casa da viúva enquanto ela dormia. Estavam convencidos que as atividades da suposta bruxa teriam fim. Porém, passado o tempo, os problemas continuaram a infernizar a vida dessa gente cruel.

— Tolos. – o meio-vampiro falou em voz baixa.

— Em uma noite, alguns se reuniram para ir até a casa da viúva tomada pelas cinzas. Coincidentemente eles encontraram essa mulher, que em furiosa voz lançou-lhes uma maldição. Uma doença atingiria a todos que permanecessem no vilarejo, e ela somente findaria caso a viúva morresse. Assim os moradores sofreriam dor assim como ela sentia quando passava por tanto sofrimento.

— Ela era mesmo uma bruxa? – a mulher falou atônita.

— Quem sabe... – O velho ergueu os ombros – A lenda diz que ela sumiu ainda naquela noite e na manhã seguinte muitos moradores apareceram com sintomas iguais: febre, desmaios e principalmente a marca roxa que vocês dizem que surgiu na gente do vilarejo.

— Essa viúva poderia fugir daquele lugar e as pessoas ficariam doentes até a morte. – disse Christopher.

— Não... – Aliel deu uma leve risada, mesmo que estivesse falando de algo trágico – Os dias se passaram e mais gente era atingida pela maldição, até que todos da vila, sem exceção ficaram assim. Tentaram sem descanso achar essa mulher para matá-la. Procuraram em cavernas, montanhas, até vilarejo a vizinhos, mas nada. Isso apenas piorou o estado desses caçadores que morreram pelo cansaço e pela dor. Buscaram e até mataram mulheres que se pareciam com a viúva, pois achavam que aquilo era feitiçaria para se misturar na multidão. A lenda fala que ela nunca foi encontrada, e que talvez estivesse escondida justamente na própria vila.

— Combatendo o mal com o mal... – a caçadora cruzou os braços – Tudo terminou em tragédia.

— Típico das pessoas, Maria. – o lorde deu de ombros, depois olhou para o empregado e assentiu: – Obrigado, Aliel. Suas palavras foram de grande ajuda.

O velho deu um sorriso e se retirou da sala para deixar os três a sós.

— Se a lenda estiver correta, inevitavelmente os moradores que ainda estão sãos ficarão doentes em breve! – ela ergueu os braços.

— Entretanto... não são apenas eles com quem devemos nos preocupar. – Lorde Galvan caminhou dois passos para se aproximar dela – Você estava presente no vilarejo quando o surto começou...

— Está dizendo que minha noiva ficará infectada, Lorde Galvan? – o meio-vampiro, irritado, surgiu para se aproximar deles.

— Escutou o que Aliel disse? Maria e até mesmo você entraram em contato com muitos doentes, e de acordo com a lenda, todos do vilarejo foram atingidos pela maldição. Cedo ou tarde isso pode acontecer.

— Isso é uma lenda! – Adrian ergueu um pouco sua voz – Nem tudo que se é contado em lendas é real. Além disso, não somos aquela gente, e essa mulher está morta há séculos!

De olhos arregalados, Maria se afastou em silêncio dos homens, que logo se voltaram a ela. O rosto da mulher aparentava estar nada bem.

— Richter e Annette estavam no vilarejo... – Ela levou a mâo ao peto, próximo ao coração.

— Somente os moradores eram atingidos, Maria. – respondeu o lorde, na tentativa de acalmá-la.

— Havia um grupo de feirantes vindos de longe. Um deles foi atacado pela mesma moléstia... – Adrian baixou a cabeça num gesto de lamento.

— Meu Deus, eu deixei meus familiares...

— Eles vão ficar bem. O Belmont não é um qualquer, ele saberá agir da melhor forma. – Christopher continuou, lançando um sorriso até. Por um breve momento, a caçadora pôde mexer os lábios repetindo o mesmo gesto do amigo.

— O que temos de nos preocupar no momento é encontrar o suspeito, ou os suspeitos. – Sem querer dar muita importância, Alucard cruzou os braços e rapidamente mudou o assunto.

— Suspeitos? –  Maria disse surpresa.

— Pelo visto terei de lhe contar tudo o que sei sobre as últimas horas.

 


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