Wrong Number escrita por Clarice Reis


Capítulo 2
Recebendo ligações de um desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Eu fiquei muito feliz com os comentários e os favoritos, muito obrigada por estarem lendo a história ♥
Espero que gostem do capítulo.
Eu não tive tempo de betar, mas vou fazer isso amanhã então se quiserem esperar pra ler a versão betada fiquem a vontade :)



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“Número errado”

Isso estava mesmo acontecendo? Por um instante cogitei que poderia ser apenas mais uma das brincadeiras da minha irmã. Quando não recebi nenhuma mensagem após essa dizendo algo como “Tenho certeza que você acreditou” ou “É muito fácil te enganar, Alec”, comecei a sentir a vergonha me consumir.Eu contei os infortúnios da minha vida para uma pessoa que não conheço e que provavelmente deve estar me achando patético. Fiz uma nota mental para comprar um caderno de caligrafia para Isabelle, afinal, nada disso teria acontecido se a letra dela não fosse tão feia.

Voltei a minha atenção para o celular e ponderei por alguns instantes se deveria enviar um pedido de desculpas. Decidi que o melhor a fazer era simplesmente tentar esquecer essa situação embaraçosa. Larguei o celular ao meu lado na cama e tentei novamente dormir. Dessa vez obtive sucesso. Meus irmãos sempre me disseram que eu tinha um sono leve. Quando tínhamos dezesseis anos e Jace e Isabelle fugiam a noite para sair com os amigos ou ir a festas, eu sempre acordava de madrugada com o barulho da porta da frente se abrindo. Um barulho tão sutil e mesmo assim era capaz de me despertar.

Se uma porta se abrindo era capaz de me tirar o sono, imagina o que um toque de celular era capaz de fazer. No primeiro toque eu despertei um tanto assustado e quase cai da cama. Aquilo definitivamente não era comum. Quem poderia estar me ligando a essa hora? Olhei para o relógio, quase três da manhã. Milhões de teorias horríveis envolvendo minha família começaram a surgir na minha mente, o que acabou me assustando ainda mais.

Procurei o celular entre o lençol e quando o encontrei busquei algum nome no visor. Não havia um nome, apenas um número desconhecido. Um engano. Foi a primeira ideia que me ocorreu. Pensei em simplesmente desligar o telefone e voltar a dormir, mas alguma coisa na minha cabeça alertava que poderia ser algo importante. Suspirei e por fim optei por atender.

— Alo?

Eu ouvi um barulho de música alta e várias vozes falando ao mesmo tempo. Automaticamente meu corpo enrijeceu. Isabelle podia ter ido a alguma festa e estava com problemas. Esperei por uma resposta, mas como não obtive, eu insisti.

— Izzy, é você?

— Já é a segunda vez que me confunde com essa garota hoje.

Eu não fui capaz de reconhecer aquela voz. Definitivamente era uma voz masculina e tinha algo um pouco estranho nela. Estava meio... grogue? Só depois me ocorreu o que aquele homem tinha dito. Eu quis cavar um buraco para me esconder. Era a pessoa para quem eu tinha enviado a mensagem.

— Sabe, garoto, eu fiquei emocionado com a sua história – ele disse aumentando o tom de voz por causa da música que de repente parecia mais alta.

— Me desculpe pela mensagem, achei que era o número da minha irmã – falei envergonhado.

— Sabe, eu tenho um conselho para te dar – o homem parou por um instante como se tivesse esquecido o que ia dizer – Vai aproveitar a vida, pegar uns caras. Esquece o seu irmão, incesto é muito errado.

Eu estava mortificado. Por que esse tipo de coisa tinha que acontecer comigo? Como se mandar um texto falando dos meus problemas para um estranho já não fosse ruim o suficiente, esse estranho resolve me ligar  completamente bêbado no meio da madrugada.

— Ele não é meu irmão – foi a única coisa que consegui dizer.

— Vocês foram criados juntos, é no mínimo estranho – Ele começou a rir e falar com outra pessoa.

— Por que você ligou para mim? – eu já estava ficando um pouco impaciente.

— Eu fiquei com pena, sua vida aparentemente está horrível. Você podia vir para cá curtir a noite – uma gritaria começou do outro lado da linha e eu tive que afastar o telefone do ouvido.

— Olha, eu não quero ser grosso, mas você interrompeu meu sono e está completamente bêbado, então eu vou desligar.

Já estava quase apertando o botão para encerrar a ligação, quando ouvi um baque.

— Meu Deus, está tudo bem? – eu ouvi uma voz diferente que parecia estar mais ou menos próxima do telefone.

Eu permaneci em silêncio. Por que eu simplesmente não desligava? Acho que minha curiosidade é realmente um defeito. Será que alguma coisa tinha acontecido com o homem que falou comigo? Alguns segundos se passaram até que outra pessoa surgiu na linha.

— Olha, se é algum ex, não leve a sério o que ele disse. Não tem nenhuma chance de vocês voltarem – dessa vez era uma mulher e ela parecia estar bem impaciente.

— Não sou um ex.

— Bom, de qualquer forma, ele não vai poder falar agora. A situação aqui está realmente feia.

— Não é melhor tirá-lo desse lugar? – me surpreendi com as minhas próprias palavras. Eu estava realmente me preocupando com um estranho?

— É, você está certo. Vou pedir ajuda para uns amigos. Quando o Magnus estiver sóbrio, eu aviso que é para te ligar.

Tentei dizer que não era necessário, mas ela já tinha desligado. Encarei o celular tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Tinha esperança que a garota esquecesse de dar o recado e eu nunca mais tivesse que falar com o tal de Magnus. Toda aquela situação foi extremamente constrangedora e eu preferia pensar que nada daquilo tinha sido real. Me certifiquei de desligar o telefone antes de tentar voltar a dormir.

Acordei com o barulho de passos no corredor. Olhei para o relógio e percebi que já estava atrasado. Me levantei da cama e me arrumei em tempo recorde, não podia chegar atrasado de novo. Encontrei com Jace na cozinha e ele ainda parecia estar dormindo.

— Bom dia – cumprimentei.

— Bom dia – ele respondeu e logo depois bocejou.

Comecei a passar geleia em uma torrada enquanto Jace tomava um copo de suco.

— Acabei de me lembrar de uma coisa – ele disse – Você me faria um grande favor?

— Depende – respondi.

— Eu preciso devolver algumas apostilas para a Izzy, você pode levar no apartamento dela? Eu vou estar meio ocupado hoje.

— Claro – eu precisava realmente falar com Isabelle. Essa era uma oportunidade perfeita.

A manhã seguiu de forma normal e tediosa. As mesmas aulas de sempre, com os mesmos professores e mesmos colegas idiotas de classe. Apesar de gostar do curso de direito, eu tinha que admitir que alguns períodos conseguiam ser maçantes. No meio de uma aula incrivelmente chata de direito tributário, me peguei pensando na ligação de ontem. Eu estava torcendo para nunca mais receber nenhuma ligação ou mensagem daquele homem.

As horas do dia foram se arrastando até que finalmente as aulas terminaram. Peguei o meu carro e dirigi até o prédio de Izzy, torcendo para que ela já tivesse chegado. Para a minha sorte, Isabelle estava em casa e ela pareceu bastante surpresa em me ver ali.

— A que devo a honra dessa visita? – ela perguntou enquanto voltava a sala trazendo duas xícaras de café.

— Jace pediu para eu que eu trouxesse as suas apostilas.

Minha irmã sentou ao meu lado no sofá e estendeu uma das xicaras na minha direção.

— Como você está? – questionou enquanto colocava um pouco de açúcar no seu café.

— Tudo bem, Izzy, sério.

— Eu fico preocupada, Alec! Você nunca quer falar sobre o que está sentindo.

— Na verdade, eu tentei fazer isso ontem – disse revirando os olhos – O que me lembra, você devia realmente fazer umas aulas de caligrafia.

— Do que você está falando? – ela parecia confusa.

— Tentei te mandar uma mensagem ontem, mas o número estava errado. Eu achava que estava ficando bom em interpretar sua letra, mas pelo visto me enganei.

Tirei o celular do bolso e mostrei o número para o qual eu enviei a mensagem.

— O último número é três e não oito.

— Isabelle, aquilo no papel era definitivamente um oito – afirmei.

— Desculpa, vou tentar escrever de uma forma mais legível da próxima vez.

— Isso teria me poupado de uma das situações mais embaraçosas da minha vida.

— Como assim? – Inquiriu.

Mostrei o desabafo que enviei para o desconhecido, que agora eu sabia que se chamava Magnus, e vi a expressão da minha irmã se tornar triste.

— Não se odeie pelo que sente, Alec – ela falou colocando sua mão sobre a minha – Não tem nada de errado em amar alguém. Eu entendo o que você está passando com toda essa história da Clary, mas você é capaz de seguir em frente.

— Eu estou tentando seguir em frente desde os quinze anos – murmurei – Não consigo.

— Você consegue. Só precisa começar a se aceitar e se permitir conhecer outras pessoas.

— Não é tão fácil quanto parece.

— Eu sei que não, mas acho que você deveria tentar.

Eu assenti e Isabellle jogou seus braços ao meu redor em um abraço apertado.

— Eu só quero que você seja feliz, Alec – ela disse em um tom quase inaudível.

— Obrigada por tudo, Izzy – sussurrei.

Nos separamos e ela tomou o celular da minha mão.

— Vou salvar o número certo – falou enquanto digitava.

— Por favor, faça isso. Nunca mais quero enviar coisas tão pessoais para um estranho sem querer.

— Relaxa, garanto que a pessoa nem se deu ao trabalho de ler tudo.

— Na verdade leu. Foi um homem e ele ligou para mim

— Isso é sério? – ela parecia bastante surpresa – O que ele disse?

Contei sobre o ocorrido e minha irmã pareceu achar toda aquela história hilária.

— E se o tal de Magnus ligar de novo? – questionou

— Não sei se eu iria atender.

No mesmo instante o alerta de mensagem soou. Isabelle encarou o telefone e um sorriso surgiu em seu rosto.

— Ele pode não ter ligado, mas mandou uma mensagem.


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Notas finais do capítulo

Alec e Izzy são uns amores, né? ♥