Wrong Number escrita por Clarice Reis


Capítulo 1
Contando problemas para um desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira história envolvendo TMI e esse casal maravilhoso. Espero que gostem ♥



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Eu nunca fui estúpido a ponto de pensar que poderíamos dar certo. Nunca me iludi com a ideia de que, um dia, ele se apaixonaria por mim, e tudo seria maravilhoso. Não, eu sempre fui realista. Jace nunca seria capaz de corresponder meus sentimentos, nunca seria capaz de me ver como nada além de um melhor amigo e irmão. Eu já tinha superado, Jace Herondale não tinha mais tanta importância. Bom, isso era o que eu pensava.

A família Lightwood sempre se reúne nos fins de semana para um almoço em família. Isso se tornou uma tradição desde que eu, Jace e Isabelle saímos de casa, era a forma que tínhamos de permanecer próximos e matar um pouco a saudade que sentíamos de Max e dos nossos pais. Isabelle alugou um apartamento com uma colega de faculdade, e raramente eu tenho a oportunidade de vê-la, sem ser nos domingos. Jace e eu alugamos um apartamento perto do campus, e estamos morando juntos desde o terceiro período da faculdade. No começo foi bem difícil, ele sempre levava garotas para lá, o que me incomodava bastante, mas, com o tempo, eu fui parando de me importar.

Jace nunca se apegou de verdade a alguma mulher. Ele parecia ter uma aversão à palavra compromisso, e isso fascinava algumas garotas que acreditavam, de maneira estúpida, que seriam capazes de mudá-lo, enquanto outras o procuravam justamente por saber que não seria nada sério. Achei que nunca teria de me preocupar em vê-lo em um relacionamento com alguém e isso me tranquilizava inconscientemente. “Se ele não as leva a sério, eu também não deveria levar”, isso era o que estava na minha mente, e foi justamente essa ideia que me fez ignorar as garotas que toda semana entravam e saíam do seu quarto. Durante meses, eu achei que estava superando. Agora, diante dele e da menina ruiva, de quem não gosto nem um pouco, percebo que não é que eu tenha parado de me importar, eu só não achei que ele pudesse de fato encontrar uma garota que o fizesse
mudar.

Clary Fray era uma estudante de artes ruiva, baixinha e um pouco nerd. Honestamente, era o tipo de garota que passava totalmente despercebida no meio de tantas outras no campus. O tipo de garota que eu nunca imaginaria que pudesse chamar a atenção de Jace. Eu lembro bem do dia em que ele chegou no apartamento indignado por ter levado um tapa de uma menina, por ter tirado sarro do amigo dela, não que provavelmente ele não merecesse, o loiro podia ser bem idiota quando queria. Fui percebendo que, aos poucos, o número de garotas, que apareciam no apartamento, diminuiu. Achei um pouco estranho, mas não tinha do que reclamar, ficou bem mais fácil dormir nas noites de sábado.

Foi em uma tarde de quarta-feira, depois de uma manhã cheia de aulas tediosas, que conheci Clary. A garota estava junto a Jace no apartamento, os dois sentados no sofá conversando, enquanto ele tinha a atenção voltada para um caderno de desenho. Eu sabia que algo estava acontecendo, sabia que alguma coisa estava diferente, mas não queria pensar nisso. Ela era apenas mais uma distração, não era? E, além do mais, eu já tinha superado Jace. Tudo estava indo bem, na medida do possível, até que ele avisou que levaria alguém para o almoço de família. Eu sabia o que estava acontecendo, sabia o que estava por vir e, mesmo assim, nada conseguiu me preparar para ouvir aquelas palavras.

— Essa é a minha namorada, Clary Fray.

Todos na mesa pareciam surpresos. Minha mãe se levantou para cumprimentá-la, sendo seguida por meu pai e Isabelle, que parecia radiante com a notícia. Eu permaneci sentado ao lado de Max, que parecia analisar Clary.

— O Alec você já conhece — Jace apontou na minha direção, e a ruiva sorriu para mim.
Eu queria desaparecer. Isabelle percebeu o que estava acontecendo, e me lançou um olhar preocupado. Ela era a única pessoa que sabia tudo sobre mim, ela me conhecia melhor do que qualquer um, e conseguia facilmente perceber o que eu estava sentindo.

O almoço transcorreu em meio a conversas e várias perguntas dirigidas a Clary. Pela expressão em seu rosto, percebi que minha mãe havia gostado dela. Isabelle também pareceu simpatizar com a garota, e elas passaram quase meia hora conversando. Eu fiquei calado na maior parte do tempo, somente respondendo quando me perguntavam algo. O tempo parecia estar se arrastando e, quando finalmente chegou a hora de ir, eu me senti aliviado.

Jace foi levar Clary para casa, e eu já estava saindo, quando Isabelle me pediu uma carona até o seu apartamento. Eu sabia o que isso significava, ela ia me encher de perguntas, e tentar me ajudar a lidar com a situação. Eu sabia que minha irmã tinha a melhor das intenções, mas eu não queria falar sobre isso. Pelo menos, não agora.

Assim que entramos no carro, Isabelle se virou para mim, e percebi que seu olhar estava cheio de preocupação.

— Você está bem?

— Por que não estaria? — coloquei a chave na ignição, e tentava a todo custo evitar o seu olhar.
— Você sabe que pode falar comigo, não sabe?

— Está tudo bem, Izzy — falei, enquanto tentava me convencer disso.

— Não está, Alec, eu vi como você ficou depois que eles chegaram.

— Eu não quero falar sobre isso — suspirei.

Ficamos em silêncio por algum tempo e, quando já nos aproximávamos do seu prédio, ela puxou um pedaço de papel e uma caneta da bolsa.

— Eu troquei o número do celular por causa de um ex maluco que estava me perseguindo — disse, enquanto escrevia os números no papel — Esse é o meu número novo. Quando quiser conversar, é só ligar.

Eu assenti e parei o carro na entrada do prédio azul, em que Isabelle estava morando. Nos despedimos rapidamente, e segui até o meu apartamento. Assim que entrei, percebi que Jace ainda não tinha voltado, e me senti aliviado, eu queria ficar um pouco sozinho. Fui até o quarto e resolvi que a melhor maneira de passar o tempo era terminar um trabalho que eu deveria entregar na próxima semana. Passei bastante tempo escrevendo sobre a revolução russa, e nem percebi que já passava das 22:00.

Olhei para o horário no celular, e me perguntei se Jace ainda voltaria essa noite. Resolvi fazer alguma coisa para comer, e depois de assistir um pouco de televisão, resolvi que era melhor ir deitar. Afinal, teria que acordar cedo amanhã. Tentei dormir, sem sucesso, por quase uma hora, até que lembrei do número que Isabelle tinha me dado. Peguei o celular e o pedaço de papel para salvar seu novo número na minha agenda. Encarei a letra feia da minha irmã, e tentei decifrar cada um dos números, alguns foram mais fáceis, outros levaram alguns minutos e, quando terminei, cogitei enviar uma mensagem.
Por mais que eu não quisesse, sabia que precisava colocar tudo que estava sentindo para fora. Eu sempre tentei ser forte, e me manter calmo diante de qualquer situação, mas, em momentos como esse, eu só queria gritar e jogar algo de vidro contra uma parede. Percebi que não ia conseguir dormir, então peguei o celular, e comecei a digitar uma mensagem para Isabelle. Sabia que ela não ia se importar. Na verdade, minha irmã até gostava quando eu puxava conversa.

“Você estava certa, eu não estou bem com isso. Realmente, achei que tinha superado, mas hoje foi horrível. Eu nunca me iludi achando que um dia ele se apaixonaria por mim, mas não estava preparado para vê-lo se apaixonar por outra pessoa. Sabe qual é a pior parte? É que eu nem deveria ter esse tipo de sentimento por ele, nós fomos criados juntos, e ele é praticamente nosso irmão, Izzy. Eu me sinto um idiota por não conseguir seguir em frente.”

Apertei o botão de enviar, já sabendo que essa mensagem me renderia, pelo menos, duas horas de terapia ao telefone com Isabelle. Talvez isso fosse até bom, minha irmã sempre foi capaz de oferecer bons conselhos nos momentos em que mais precisei.

Fiquei observando o teto enquanto esperava. Isabelle não conseguia passar mais de dez minutos sem olhar o telefone, o que me fez concluir que receberia uma resposta dentro de alguns instantes. Escutei o barulho da porta da sala sendo aberta, e fiquei atento para perceber se havia mais alguém além de Jace. Não queria ter que lidar com Clary na manhã seguinte e, principalmente, ter que ouvir gemidos vindos do quarto ao lado. Para a minha sorte, não parecia haver mais de uma pessoa.

Comecei a ficar inquieto quando percebi que vinte minutos se passaram sem resposta. Ela já pode ter ido dormir, ou simplesmente está muito ocupada para olhar o celular, pensei. Talvez fosse melhor tentar dormir. Já estava colocando o telefone na mesinha ao lado da cama, quando o alerta de mensagem soou.

“Número errado”


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