Porque Eu Não Vou Ficar Com Sasuke Uchiha escrita por Miss FleurDeLouis


Capítulo 6
Motivo Seis: Ela está entre nós


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora. Comentários serão respondidos em breve.



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Uma manhã fria. Meu quarto estava um tanto escuro, provavelmente, pela névoa densa de mais uma manhã de Outono. Eu realmente não queria sair da cama, então considerei que era domingo e decidi ficar mais tempo enroscada nas cobertas.

Apenas por curiosidade, olhei para baixo e avistei Sasuke adormecido no colchão inflável que colocamos no chão para ele dormir, já que o mesmo tinha implicância com o quarto de hóspedes. Pumpkin também estava lá, como uma bolinha aos pés do meu querido melhor amigo e amor secreto. Eu fico indignada com a falta de consideração dessa gata; quer dizer, eu a crio, passo mais tempo com ela do que qualquer um e a danada claramente prefere o Sasuke.

Falando nele, eu já disse o quanto o garoto é lindo dormindo com o punho cerrado perto da boca? Ele é. Sinceramente, parece que os cabelos escuros ficam mais sedosos espalhados de qualquer jeito sobre o travesseiro. As costas são tão sexys e o bumbum também (O quê? Acharam mesmo que eu não reparo nisso? Eu poderia fazer um mapa de todo o relevo das nádegas dele, acreditem.), os cílios são curvados para cima e os lábios ficam mais rosados pela manhã. Sasuke é uma afronta da Natureza à humanidade.

Confesso que fiquei aliviada ao saber que ele e Anna sequer saíram para um passeio ou coisa parecida, entretanto ainda acredito que isso venha acontecer. Na verdade, não sei qual será a minha reação. Eu estou naquela fase egoísta de monopolizá-lo e não deixar que ninguém, além de mim, tenha a sua atenção. Me repreendo porque sei que isso não é saudável, Sasuke precisa e vai conhecer gente nova e eu também.

Pensando nisso, voltei a dormir.

***

Acordei às onze da manhã, sentando na cama e me espreguiçando, bocejei enquanto ia ao banheiro, fiz o que tinha de fazer lá e voltei para o quarto. Tombei a cabeça para o lado encarando o preguiçoso do Sasuke e, sem pudor algum, cutuquei seu bumbum com o pé enquanto o chamei para tomar café da manhã, ou brunch, que seja. Ele virou-se meio sonolento e resmungou com falsa indignação:

— Molestadora.

Eu achei graça dos seus olhos apertados tão fofos e caminhei para a porta quase tropeçando na gata infame.

— Desce para o café. E eu não sou uma molestadora. Se fosse, estaria nesse colchão com você, sabe? Te traumatizando...

— Ou outra coisa — ele sorriu preguiçosamente esparramando-se mais naquela cama improvisada.

— Idiota.

Saí de lá dando uma risadinha nervosa. Até hoje não decidi se gosto ou não quando Sasuke está no modo humor canalha. É uma afronta, certamente.

***

Estávamos almoçando e assistindo um documentário sobre René Magritte, papai e mamãe também almoçavam conosco. Sasuke conversava com os dois sobre a obra de Magritte, enquanto eu apenas concentrava-me em separar o meu purê de batatas do molho de carne.

— Olha só o quanto Magritte é bem claro em sua mensagem usando o real de forma surreal e nos levando a constatações óbvias que estão bem na nossa frente e não vemos. Não acha, Sasuke?

— Sim, Sra. Haruno. Magritte brincava com o real e simples para mostrar o fantástico.

— Ou Magritte usava o fantástico para mostrar o verdadeiro real e simples — papai opinou.

Assim eles começaram uma conversa acalorada sobre o que realmente é a obra de Magritte, até que eu me cansasse dos três e levantasse.

— Querem saber? Eu vou lá para cima, assistir o programa das Kardashians. Porque eu adoro ver as Kardashians fazendo o tipo de coisa que Kardashians costumam fazer. Então me retiro dessa sala com essa família feliz na mais pura paz de Nossa Senhora, Arte.

Certo, talvez eu sentisse muito ciúmes da forma como Sasuke era bem mais íntimo de meus pais do que eu. Não que eu odiasse essa conexão, mas era difícil ver que eles não se esforçavam para firmarem um elo comigo, algo que acontecia naturalmente com o Uchiha.

Para minha própria sorte, eu sempre gostei de ver o mundo com meus próprios olhos sem precisar totalmente estar apegada aos meus pais. Talvez, porque sempre soube que teria que me virar sozinha e que meus pais são estranhos.

Sintonizei a TV no E! Channel e comecei a assistir a maratona de Keeping Up With The Kardashians mais ou menos envolvida no drama da família. A verdade é que estou levando esse final de semana no automático, pensando em quase nada para evitar pensar em tudo. Estou com medo de virar um monstro egoísta e monopolizador de Sasukes, porém quero trancá-lo no meu quarto e não deixá-lo sair nunca mais. Eu poderia alimentá-lo com Pop-tarts e leite, distraí-lo com a Pumpkin e maratonas de 007, Star Wars e Exterminador do Futuro. Certo... Vamos encerrar os planos sociopatas por aqui.

De uma certa forma, sei que libertar o Sasuke da nossa tão duradoura relação de amizade é me libertar também. Afinal, que perspectivas eu tive sobre mim mesma esse tempo todo além de ser a melhor amiga secretamente apaixonada? Nenhuma. Eu nem sei qual será minha profissão, mesmo que esse seja meu último ano antes da faculdade. Sei que será relacionada a educação ou entretenimento e sei que irei para Oxford, mas para o quê? São muitas dúvidas e uma única certeza: eu preciso deixar Sasuke ir.

Só que... Deus! Eu não acho justo ele estar com Anna, não acho justo ele estar com qualquer outra pessoa. E isso sequer aconteceu! Ainda. É só pelo simples fato de que Sasuke não parece se encaixar com a personalidade dele, ou seus gostos e modo de pensar. Anna e seu estereótipo limitado de pomba da paz não poderia acompanhar sua intensidade ou como Sasuke é vibrante em meio a sua própria alma soturna, tal coisa faz aquela desculpa de que os opostos se atraem não funcione aqui. Porque eu simplesmente sei que ambos ficarão juntos, mas não sei até quando. Imagina o quão devastador é o fim de um romance idealizado e querendo ou não, o romance entre Sasuke e Anna termina depois da última página de um livro, ou quando os créditos de um filme sobem, ou quando a série acaba. Assim como todos os romances que amamos. O quê? Você não sabia?

Talvez Sasuke devesse ficar sozinho. Viajando pelo mundo fazendo arte em forma de construção através da Arquitetura, compartilhando com todos sua visão fantástica sobre o mundo, transformando perspectivas. A verdade é que pensar nisso me assusta. Pois não sei se penso assim por amar quem ele é e querer que as pessoas o conheçam, ou por não querer vê-lo se estabilizar com outra pessoa.

Percebe a minha crise de consciência?

Ainda bem que ele chegou no quarto com um olhar ressabiado acariciando Pumpkin no seu colo.

— Está chateada comigo?

— Estou, ladrão de pais de melhores amigas solitárias.

Sasuke riu baixinho enquanto sentava-se perto da cabeceira da minha cama.

— Tão irritante... Seus pais te amam, vocês apenas não dançam no mesmo rítmo.

— E você certamente dança no rítmo deles, não? Por que ninguém pode dançar no meu rítmo apenas uma vez?

— Hum, não sei se seus pais vão gostar de fazer a coreografia de Single Ladies.

— Idiota!

Eu queria rir da piadinha, mas isso me faria dar o braço a torcer. Tentei manter a careta de raiva, só que Sasuke começou a acariciar meu braço dando um sorrisinho sapeca.

— Ei, eu dançaria Single Ladies com você. Usaria até aquele collant.

Okay. Eu não aguentei. Comecei a rir estapeando Sasuke e o abrançando em seguida. Como ele consegue me tirar do eixo com qualquer besteira é grande mistério.

— Imbecil! Você é um imbecil, Sasuke.

— Garota, a imbecilidade corresponde a dez por cento do meu charme.

— Certo, bonitão. Voltando ao assunto, não se trata de você dançando no meu rítmo, porque isso já acontece. Se trata dos meus pais, não importa quanto tempo passe, somos como estranhos.

— Sakura, tenha paciência. O momento de conexão entre vocês vai chegar, ninguém permanece tão alheio a quem se ama por muito tempo.

— Nossa, isso foi profundo.

— Eu sou profundo. E a gente devia ver um filme.

— Você escolhe.

Sasuke ficou um bom tempo procurando um filme enquanto eu brincava com seus cabelos escuros que estavam ficando bem grandinhos.

— Que tal esse filme com Nicholas Cage?

— Mais um em que ele tem que fazer mil coisas impossíveis para resgatar algum parente? Dispenso.

— Chata... — Sasuke revirou os olhos — Aposto que quer ver uma comédia romântica. Como Se Fosse a Primeira Vez você gosta?

— Eu odeio, Sasuke. E não aposte que eu quero assistir uma comédia romântica como se isso fosse óbvio, seu machista.

— Ei, desculpa, Srta. Eu não quero ver comédias românticas. Por que você odeia esse filme, afinal?

— Eu não quero ver comédias românticas hoje, Sasuke. E se quer saber, esse filme tem um enredo terrível. O cara persegue incansavelmente uma garota desmemoriada e a faz passar por passar por diversas situações desgastantes apenas pelo fato de que ele a quer e não mede esforços para que ela fique com ele.

— Nossa, achei que era romance.

— É vendido como romance, aprenda. Afinal, olha só “ele a tirou da vida de mesmice e de looping temporal eterno, porque assim ela teria tudo o que uma mulher sonha: um casamento e aquele videozinho familiar amenizaria o trauma de acordar pensando que tem vinte e poucos anos mesmo tendo cinquenta” — suspirei ajeitando meu cabelo para o lado e retomando: — Mas, Sasuke, ela ainda teria esse trauma somado ao de acordar ao lado de um estranho e ter uma filha com esse estranho através de uma relação sexual que ela sequer lembra.

— Certo, agora eu fiquei assustado.

— Quer ficar mais? A música tema do filme é uma versão tipicamente havaiana de Every Breath You Take do The Police que é...

— A música mais stalker da história da humanidade. Okay, vamos para outro filme.

— Vamos, Sasuke — sorri sarcasticamente. — Olha! Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban! Vamos nesse?

— Claro. Ei, você sabia que casais pedem pro The Police tocar essa música stalker na recepção de casamento deles?

— A prova de que casamento é uma prática falida. Envolve Deus, o Judiciário e o Sting falando coisas como “cada movimento que você fizer, cada promessa que você quebrar, cada sorriso que você fingir, cada direito que você reivindicar, eu estarei te observando”. Consegue imaginar isso na voz do Hannibal Lecter? Seria medonho.

— Ou do Jack Estripador, ele está no histórico britânico, lembra? Você pretende se casar algum dia, Sakura?

É no mínimo engraçado o jeito como Sasuke e eu costumamos falar de dois assuntos paralelamente sem parecermos prestar atenção nisso. Era algo que eu não conseguia fazer com mais ninguém.

— Você ainda se lembra disso? — perguntei rindo — E não, acho que não quero me casar. E mesmo se ficar com alguém com quem queira passar o resto da minha vida, não pretendo fazer um casamento cristão ou civil. Talvez faça uma cerimônia simbólica na Igreja de Star Wars ou na Igreja do Bacon.

— Eu adoro a Igreja do Bacon.

Okay, eu comecei a imaginar Sasuke e eu nos casando na Igreja do Bacon, embora eu prefira a de Star Wars, traíndo tudo o que eu disse anteriormente. Seria lindo, lindo! Entretanto, isso não vai acontecer.

— Quem não adora? É bacon religioso! E você, pretende se casar?

— Veganos devem odiar a Igreja do Bacon. Tenho os mesmos planos que você com um acréscimo.

— Eu me esqueci dos veganos e pensei que você fosse preferir a Igreja de Star Wars. Qual acréscimo, filhos?

— A Igreja de Star Wars é legal, mas não tem Bacon. Viagens. Talvez uma criança possa nos acompanhar. Mas só uma, o suficiente para conhecer o mundo inteiro com os pais sem o trabalho que é ter muitas crianças na hora de se locomover.

— Eu me esqueci totalmente de viagens! Eu adoraria fazê-las pelo resto da minha vida, obrigada por lembrar. Sempre quis ter um único filho ou filha também. Adoro esses tons de azul, branco e verde da paleta de O prisioneiro de Azkaban.

— Um brinde imaginário pelos sonhos que coincidem, então. Prefiro os tons de vermelho, verde e dourado do primeiro filme.

— Um brinde. Agora você foi do contra.

— Perfeitamente normal.

E mais um domingo onde Sasuke e eu gastamos nosso tempo com conversas soltas se passou. Passeamos pelo cais durante a noite, vimos Naruto se beijando com a Jocelyn e provando que o amor se manifesta das maneiras mais esquisitas, comemos batatas fritas e voltamos para casa. Sasuke brincou com a Pumpkin antes de dormir e eu fiquei olhando para minha janela embaçada por um bom tempo até ser embalada por um sono leve. 

***

Certo, foi um choque.

Mais um dia comum ao chegar no Eton com Sasuke. Tirando o fato de que Anna Sullivan estava no meio do meu grupo de amigos.

Eu tinha duas opções: agia como se isso não fosse nada e socializava com a garota, ou fazia a megera adolescente até ela ir embora.

Duas opções péssimas, diga-se de passagem.

Nos aproximamos do grupinho e Sasuke disse um oi baixo, acompanhado do meu oi mais baixo ainda.

— Gente, vocês já conhecem a Anna? — Ino falou toda animada do jeito que sempre fica quando customiza roupas de Barbie.
— Sim, eu esbarrei nela no sábado, literalmente.

— Ah... A culpa foi minha... — é claro que foi, Anna. Que graça teria se você não fosse além de boazinha, sem graça, cafona, estudiosa, triste e tímida, uma completa de desastrada? — Me desculpe.

— Não, eu que peço desculpa. Estava distraído.

Ah, olha esse diálogo... Minha cabeça está ficando apertada. E ela ainda assentiu com a cabeça corando. Eu quero morrer.

— E você, Sakura? Não vai dizer oi? — meu plano de matar a Ino e jogar o corpo no Tâmisa ainda não foi totalmente descartado e tem muito potencial considerando os atuais acontecimentos.

— Eu disse oi antes.

— Ah, foi tão baixinho que eu nem ouvi e você tem que dar as boas vindas para a Anna.

Não é a semana do espírito escolar, Ino, sua cretina!

— Olá, Srta. Sullivan.

— Olá, hum...

— Sakura! — Ino não é mais minha segunda melhor amiga e vou fazer um documento oficial reiterando este fato — O nome dela é Sakura. E não sei o porquê de tanta formalidade, testão, você não é disso.

— Eu não sou chegada a homicídios e isso não me impede de pensar neles de vez em quando. E seja bem vinda ao Eton, Srta. Sullivan.

— Obrigada, hum...

Certo, talvez eu seja um pouco vilã. Deixar implícito que não quero ser chamada por ela pelo meu primeiro nome ao mesmo tempo que não digo meu sobrenome é cruel.

Argh! Agora estou com remorso.

— Srta. Haruno, capitã do time de hóquei de campo do Eton — estendi minha mão e dei um aperto firme na dela. O que o arrependimento não faz? Espero ainda rir dessa maldade mais tarde, caso contrário será um disperdício.

— Eu acho que seria uma boa ideia a Anna fazer teste pro time já que a Vivica saiu — eu esperava que a Ino dissesse isso, não a Tenten.

— Não iremos fazer testes para novas admissões, Tenten. Tiraria a chance das reservas jogarem no time titular. E depois, ainda tenho esperanças no retorno da Vivica — uma grande mentira. Depois da conversa de sábado, eu sabia que as chances da espanhola voltar para o time eram mínimas.

— Ah, mas com certeza arranjaremos algo para fazermos todas juntas com você, Anna, não se preocupe! — Ino de novo, Jesus! — Talvez sair para as compras ou ir ao cinema, de qualquer forma, meninos e meninas, temos alguém novo no nosso grupo! Bem vinda, Anna!

Eu olhei para o Sasuke curiosa e ele estava lá no modo colegial apático. A garota sorriu cada vez mais sem jeito, enquanto Ino a abraçava com uma alegria desnecessária para um início de manhã. Ela olhou para todos e deu um sorriso tímido para Sasuke que acenou com a cabeça, depois olhou para mim um pouco temerosa, suponho que acreditando que eu seria a bruxa má do seu conto de fadas. Entretanto, eu me recuso a passar por isso, então dei um sorriso fraco para a garota espantar esse tipo de impressão.

— Eu vou para a sala.

Saí de lá entediada, ponderando muito sobre esse começo de manhã.

Percebo que não posso evitar nada. Porque ela está estre nós mais rápido do que eu poderia prever.

Anna Sullivan, a escolhida.

Espalhando-se no meu grupo de amizades (e futuramente no coração de Sasuke) como uma simbiose.


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Notas finais do capítulo

Eita...