Porque Eu Não Vou Ficar Com Sasuke Uchiha escrita por Miss FleurDeLouis


Capítulo 11
Motivo Onze (ou seria dez?): Futuro


Notas iniciais do capítulo

Tô atrasada pra caramba e nem vou tentar me justificar, mas quero agradecer os reviews e o carinho que recebo, valeu mesmo, gente! Capítulo importante.



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Mamãe costuma dizer que planejamentos são a pior coisa que uma pessoa pode fazer. Ela não diz isso sobre planejar sair com seus amigos, ou tomar sorvete, ou passar um dia sem fazer nada apenas porque quer fazer isso, mas sim sobre planos com metas e expectativas para o futuro.

Meus pais nunca planejaram nada na vida, desde o namoro deles, o casamento, meu nascimento e a mudança para Brighton, tudo o que lhes aconteceu foram coisas que ambos jamais poderiam prever.

Eu fui criada completamente sem expectativa alguma de futuro da parte de ambos, seguindo religiosamente minha vinda a esse mundo nada planejada. Meus gostos, desgostos, ambições e questionamentos basearam apenas na minha vivência unicamente porque meus pais acreditam que lançar projetos e expectativas em uma criança é uma pressão injusta sobre uma vida que não pertence a ninguém a não ser a mesma.

E ainda assim, eu sei que não sou nada do que eles gostariam que eu fosse.

Meu interesse em artes é pouco mais que mediano e embora eu adore ler, não tenho tanta paciência para análises literárias, entre outras coisas. Eu planejo meus passos e gosto de metas e previsões, a ideia de não ter controle sobre o que pode acontecer comigo futuramente me apavora e sou precavida ao máximo. Bem diferente do Sr. e Sra. Haruno.

Eles levam a vida como se estivessem navegando em uma jangada à mercê do vento enquanto eu pareço estar em um barco que depende de um motor potente, bastante combustível, bússola, âncora e uma boa nau. Ah, e eu sempre checo as condições do tempo para evitar possíveis tempestades.

E é por isso que eu sei que a discussão que tive com Ino no vestiário feminino do Eton transformou a palavra Futuro em bicho de sete cabeças que veio para me aterrorizar.

***

Vamos por partes. Segunda-feira, dia de olhar para os estudantes do Eton depois da sessão de fotos barra Sasuke e eu estamos meio que juntos agora. Óbvio que fizemos a famosa caminhada da vergonha onde todos os alunos nos encaram, apontam para nós e cochicham sobre o que quer que Sasuke e eu temos agora. A questão é que não damos a mínima pra essa atenção toda porque eu só me importo com Sasuke e vice-versa; além do mais, somos muito bonitos andando por aí que seria absurdo ninguém olhar e desejar ser um de nós.

Mais um dia normal na rotina SasuSaku. É sério, eu gosto desse nome.

Retomando, infelizmente nosso momento OMG-casal-adolescente-mais-lindo-da-face-da-terra!-como-eles-conseguem?-como-eles-ousam?-o-cabelo-da-Sakura-é-tão-lindo-e-eu-aposto-que-o-Sasuke-fica-cheirando-o-tempo-todo(verdade)-e-os-bíceps-dele-parecem-maiores-O-Uchiha-nem-é-tudo-isso-pffff-não-vejo-necessidade-de-idolatrar-essa-Haruno-pretenciosa-você-só-tá-com-inveja-os-dois-são-perfeitos-juntos foi eclipsado pelo climão dos piores amigos do mundo inteiro. Eu preciso de amigos novos urgentemente.

Bem, ainda é tudo por causa do show da banda do Utakata naquele famigerado sábado, aparentemente ninguém superou aquilo. Naruto está odiando Hinata por beijar Utakata — ridículo, eu quero fazê-lo engolir minhas meias por ser um babaca cheio de si —, Jocelyn está com raiva do Naruto por odiar a Hinata já que no fundo esse ódio se chama ciúmes e ela sabe disso, eu estou com raiva da Hinata por beijar o Utakata e claramente não entender que meus conselhos sobre superar Naruto não envolviam beijar o primeiro que aparecesse pra se distrair da dor e eu sei que ela está conversando com ele pelo celular ininterruptamente para fugir do contato visual com o loiro, Naruto está com raiva de mim e eu dele porque somos inimigos não declarados agora e até a respiração dele me irrita e é recíproco. Ah, ainda tem Ino olhando pra mim com faíscas no olhar enquanto eu não dou a mínima e Anna agindo feito um cãozinho basset de orelhas e olhar murcho sugando a alegria de quem estiver por perto como um dementador e tudo o que eu faço é plantar um beijo no pescoço do Sasuke mesmo sabendo que elas estão nos olhando porque ei, eu nunca quis me vender como uma boa pessoa.

Eu sinto o poder de querer ficar com esse garoto chamado Sasuke Uchiha correr por todo o meu corpo e acho que poderia afrontar a Mulher Maravilha se ela olhasse pra mim de cara feia. Eu sou uma femme fatale agora com chama nos olhos, boca corada e perfume afrodisíaco. E só tenho dezessete anos.

O restante do grupo está apenas casualmente no meio desse tiroteio hipotético correndo o risco de receber uma bala perdida no meio da testa.

— Então... — Temari iniciou hesitante — como foi o final de semana de vocês?

Beng! Péssima pergunta.

— O meu foi ótimo — respondi depois de dez segundos de silêncio.

— Aposto que foi — Ino chiou sardônica. Eu a ignorei.

— O meu foi um pouco assustador, Sakura me levou para o meio de uma plantação de abóboras, sabe Deus com que intenção — o idiota do Sasuke olhou pra mim bancando o garotinho traumatizado.

— Só as melhores, fofinho — banquei a namorada idiota enquanto ouvia tosses esganadas em algum lugar.

— As abelhas vão voar em vocês dois com tanto mel — Naruto provocou sarcástico.

— Alguns casais estão banhados em mel e outros em agrotóxico, as abelhas sabem o que é melhor pra elas — sibilei com um sorrisinho debochado.

— Sakura... — Sasuke sussurrou balançando a cabeça negativamente enquanto eu dava de ombros.

— Eu cansei de vocês nesse clima esquisito, vou entrar na sala — Gaara wannabe de delinquente do canivete que eu sei que existe decretou e saiu da nossa companhia. Bom pra ele.

— Ah, meu final de semana com o Narutinho — oi? — foi perfeito. No domingo participamos de um brunch oferecido pela minha família a alguns membros da nobreza conhecidos de papai — Jocelyn começou a ladainha de sempre e eu respirei fundo brincando com um botão prateado do meu casaco. — Naruto causou uma boa impressão e bem... — ela deu uma risadinha como se estivesse prestes a contar algum segredo que ninguém perguntou — meus pais disseram que fazem muito gosto dessa união — voltamos ao século XIX, não é possível. — Eles não falaram nada, mas deixaram no ar a palavra casamento! — a frase foi pontuada por um grito estridente e palminhas enquanto todos queriam morrer.

— Vocês ainda nem entraram em uma faculdade e querem se casar? — Ino fez o favor de indagar o óbvio porque todos queriam saber sobre isso e ninguém se predispôs a perguntar.

— Ah, não é nada tão às vésperas, Naruto e eu planejamos ficar juntos por muito tempo até um passo grandioso como esse — a expressão do idiota dizia o contrário. — Além do mais, nem sei se quero ir a uma faculdade, não há profissão que me atraia — Jocelyn praticamente rodopiava enquanto falava sobre seu futuro que não iria acontecer nem com muita vontade.

— Nossa... Isso é... Eu vou me abster de formar uma opinião — eu não tenho vontade nem de fazer um comentário maldoso sobre isso.

— E o que você pensa sobre isso, Naruto? — Shikamaru perdeu uma chance valiosa de deixar o assunto morrer ao voltar-se para o cabeça-oca número um. E o cara tem fama de gênio. Pffffff...

— Eu deveria pensar algo? — o loiro estava mais arisco que o normal, por isso cerrei os olhos quando o vi sorrir maliciosamente — Meu futuro com a Jocelyn me parece brilhante, você sabe... A garota perfeita para o cara perfeito.

— Por que está falando sobre Sasuke e eu? — eu não poderia perder a oportunidade de irritar Naruto, Ino e fazer Anna encolher-se no seu canto da dor e resignação.

— Eu disse garota perfeita, Sakura. E a única que eu vejo aqui, desculpem-me todas as outras, é a minha Jocelyn — a única pessoa que não percebia a falsidade naqueles dizeres era a própria Jocelyn. Naruto parecia um ator canastrão de uma peça mal-montada em um teatro de quinta.

— Oh, eu não posso negar tal coisa. Acho que os 0,003% de sangue azul da Jocelyn a colocam em outro patamar — eu ouvi uma risada baixa de Hinata, ainda voltada para o celular, enquanto Jocelyn parecia achar que eu havia feito um elogio a ela. Dizer que a pobre Gilbert é uma completa avoada é eufemismo.

— Minha namorada se preserva, esse é o diferencial, Sakura.

Espera um pouco... Ele não quer dizer o que eu acho que quer dizer.

— O que você quer dizer com isso.

— Ah, você sabe, eu nunca vi Jocelyn beijar qualquer um por aí, isso faz muita diferença.

Ele fez. Ele disse. E eu iria matá-lo.

Hinata o fitou pela primeira vez no dia, abandonando a conversa pelo celular. Ela sabia que a frase era para ela, todos sabiam.

Entretanto, eu tomaria a dianteira pelo prazer de esfolar Naruto vivo. Dei um passo a frente enquanto Sasuke afastava-se sabendo que eu iria atacar seu melhor amigo.

— Jocelyn não beija caras por aí porque não quer, certo?

— É óbvio.

— Isso significa que é a vontade e o desejo dela até onde eu sei. Logo, uma garota que beija qualquer cara por aí também faz isso porque quer, entende minha lógica?

— Bem, sim. Há garotas que aparentam inocência, mas adoram esse tipo de coisa — ele dardejava Hinata que sustentava o olhar sem recuar.

— É engraçado você desaprovar isso, Naruto — eu mordi o lábio inferior antes de prosseguir —, considerando que concordou comigo quando eu disse que ambos os casos são por escolha de uma garota. Então, parece que a escolha de uma garota só importa pra você se corresponde às suas expectativas. Do contrário, você sente repulsa. Ah, esqueci de mencionar o fato de que você não tem nada a ver com a vida da garota que gosta de beijar sem compromisso.

— Não é essa a questão, você está distorcendo o que eu disse. Eu quis dizer que prefiro garotas que não saem beijando uns e outros por aí. É a minha preferência.

— Ah, meu Deus! Você tem uma preferência! — a minha risada fez todo mundo se encolher, afinal, eu queria sangue — Não mesmo, garoto, você começou afirmando que Jocelyn era perfeita, colocando qualquer garota abaixo dela como se estivesse estabelecendo uma classificação e depois justificou sua escolha dizendo que era, segundo suas próprias palavras, porque “ela se preserva”. Agora eu pergunto, o que é se preservar para você?

Naruto parecia bem acuado e incomodado do jeito que eu queria.

— Você sabe que os caras preferem as garotas com pouco experiência, Sakura. E que elas são as mais valorizadas.

— Outra vez você se refere a garotas como mercadoria a ser classificada. E quando decidiram isso? Não há em nenhum livro de história qualquer menção a um conselho sobre como a mulher ideal deve ser, apenas vocês, homens, nos dizendo o que fazer ao longo das eras. E isso é a coisa mais babaca que existe. Então você diz que garotas ideais devem ter pouca experiência, para quê? Para que os garotos nos conduzam sempre com a desculpa de que sabem o que é melhor pra gente e nós devemos agradecer a benção sublime que é ter orientadores tão incríveis para nos ensinar o que não temos direito de aprender sozinhas. Patético!

— Você tá levando muito a sério um simples comentário, que chata!

— Quando o comentário é imbecil e ofende uma garota sim, eu levo a sério e me transformo em uma chata. E não dou a mínima se você ou qualquer cara não goste disso. Esse julgamento, piadinhas, ou qualquer frase que carregue um estereótipo feminino é só a largada para coisas mais graves e o ciclo se fecha no feminicídio. É como o cigarro aceso que todo mundo joga pela janela do carro porque acha que são é inofensivo, mas nunca se sabe o incêndio florestal que pode causar.

— Droga, Sakura! Você quer fazer eu parecer um merda na frente de todo mundo por falar o que eu penso.

— O que você pensa me fere e eu tenho o direito de reagir. O que você pensa magoa a Hinata, que foi o alvo do seu comentário estúpido mesmo que você negue até a morte. O que você pensa fere todas as garotas daqui e todas as outras garotas do mundo. Você se fez de idiota sozinho, eu apenas não deixei passar em branco. Eu queria que fosse a Hinata a te dizer todas essas verdades, porém, infelizmente ela ainda precisa entender que você não é mais o cara legal que cresceu com a gente. E sou muito sincera ao dizer que não entendo o que mudou, já que você não foi criado dessa maneira nem pelo seu pai, que é um dos caras mais legais que conheço, nem pela sua fantástica mãe, que já nos contou histórias sobre os namoradinhos da adolescência, algo que você aparentemente esqueceu ao falar o que pensa.

Eu terminei exausta. Não só de falar, mas de perceber que minha amizade com Naruto acabava naquele momento. Eu nem queria sair vitoriosa daquela discussão porque me doía perder um amigo daquela maneira. Hinata encarava o chão tristemente enquanto as outras pessoas, incluindo Ino e Anna pareciam atentas e chocadas.

— Que se dane você e seu discurso feminista idiota. Você não sabe nada sobre mim ou a minha mãe pra mencioná-la aqui cheia de si, não ouse compará-la com você e as suas amigas. Garota pretensiosa e mimada.

— É uma pena que pense dessa forma. Acho que não tem mais clima amigável entre nós, eu não te reconheço, Naruto.

— Finalmente você disse algo que eu posso considerar — ele riu ácido e voltou-se para o moreno atrás de mim. — Sasuke, essa garota é a pior coisa que te aconteceu, depois que ela tiver tudo de você, vai te largar sem pensar duas vezes em busca de novas experiências, ela parece gostar disso. Fez uma péssima escolha.

Eu quase abri a boca pra retrucar até ver Sasuke reagir primeiro.

— Considerando como você está vivendo ultimamente, o seu critério sobre a Sakura não significa nada pra mim, só me aborrece. E mesmo que esse não fosse o caso, eu sei quem ela é as razões pelas quais eu gosto dela. Na verdade, eu tenho orgulho da minha garota.

MINHA GAROTA.

Mundo, você ouviu isso?

Eu fiz meu melhor biquinho triunfante enquanto ouvia o burburinho dos outros.

— Ah, faça o que você quiser, quando você vier desabafar comigo sobre como a doce e inteligente Sakura Haruno te deu um pé na bunda depois de saciar o próprio ego, eu vou ser um bom amigo e te consolar depois de gritar na sua cara: eu te avisei, imbecil!

— Naruto, o que tá acontecendo com você? Eu sou seu melhor amigo e quero entender porque de repente você passou a agir como um cretino.

Naruto cerrou os olhos com um tom de tristeza antes de mascarar o semblante com profunda arrogância.

— Eu apenas percebi que nenhum de vocês presta para ser meu amigo, temos perspectivas diferentes agora. Vivam suas vidas comuns e cheias de falso moralismo, eu não ligo — ele voltou-se para a Hyuuga por um instante: — Hinata, eu espero que você seja muito feliz com as escolhas que está fazendo, que não haja consequências graves.

Eu ri sarcasticamente enquanto Hinata permanecia em silêncio por alguns instantes.

— Eu te aconselho o mesmo, Naruto. Eu realmente te aconselho o mesmo.

Hinata olhava para Naruto de uma forma diferente, como se houvesse entendido algo novo e parecia que a bruma do outono havia entrado no prédio do Eton deixando tudo mais denso enquanto eles se encaravam.

— Vamos, Jocelyn.

E Naruto caminhou para longe, acompanhado da Gilbert, levando consigo nossa amizade, entre outras coisas.

— Gente... Eu não sei o que falar... — Temari parecia chocada enquanto todos concordavam sem haver o que concordar — Sakura, isso é definitivo? Quer dizer, sua amizade com o Naruto, é o fim mesmo?

Eu suspirei pesarosa.

— Enquanto eu não entender o que se passa na cabeça dele, temo que sim.

— Não é como se a nossa grande estrela se importasse em perder uma amizade — Ino apontou.

Eu a encarei estreitando o olhar enquanto tentava entender porque Ino Yamanaka era tão infantil.

— Se essa amizade terminar de forma idiota e a pessoa que estiver agindo de forma imatura não for eu, sim, não vejo o valor do esforço.

Nos encaramos intensamente enquanto Shikamaru sibilava algo sobre “outra briga vai acontecer e o primeiro período já deveria ter começado” e eu percebi que não queria ter um embate com Ino com tanta gente presente, então dei de ombros e puxei Sasuke comigo até a sala de aula. O vi sentar silenciosamente e virei-me para ele.

— Você tá legal? Sei que Naruto é seu melhor amigo, não precisa brigar com ele por minha causa, chame-o pra conversar depois e tenta ajeitar as coisas.

— Eu preciso brigar sim. As coisas que ele disse foram patéticas e não quero ninguém atacando você ou qualquer outra garota daquela maneira. E depois, meu convívio com ele estava ficando uma droga, eu não sei mais o que fazer, Sakura.

— E nem eu. Vem cá... — olhei para ele maternalmente oferecendo meu colo. Ele aconchegou-se em mim escondendo o rosto no meu pescoço como eu fiz no dia em que vi Anna pela primeira vez só que ele não chorava, mas eu sabia que estava chateado.

—Você não vai me deixar como ele disse, não é?

— Não, Sasuke. E espero que você não esteja fazendo carinha triste agora.

— E se eu olhar pra você com carinha de cachorro sem dono e te pedir pra prometer?

— Eu vou te bater. Não preciso te prometer nada, você sabe.

— Irritante.

— Você que é, seu chantagista — eu ri baixinho beijando o cabelo dele até encontrar Lee chorando ao me olhar, desviei meu foco para o outro lado da sala até ver Anna nos encarando me lá coloca mente e eu até poderia sorrir debochada para ela, mas Sasuke não é um troféu a ser usado para se vangloriar. Ele é o garoto que eu amo. Deste modo, eu apenas escondi meu rosto no cabelo dele até o professor entrar.

***

— Então você e o Sasuke estão mesmo juntos? Você realmente gosta dele, não é só pra implicar com Anna.

Larguei o uniforme do colégio dentro do meu armário enquanto voltava minha atenção em Ino.

— Bingo, bonitona! O que falta agora? Descobrir que laranjas são ricas em Vitamina C?

Ela pigarreou revirando os olhos.

— Que loucura, mas eu deveria ter percebido os sinais ao longo do tempo. Acho que eu apenas fui confiante em achar que se minha melhor amiga se apaixonasse, ela me contaria.

Respirei fundo decidindo que a hora da minha conversa com Ino havia chegado.

— Eu tive medo — admiti francamente.

— Medo que eu espalhasse para alguém? Você acha que eu seria...

— Não, eu confiava em você. Era só uma insegurança de modo geral, eu tenho tanta coisa confusa acumulada na minha cabeça e no meu coração que ninguém pode entender, nem eu me entendo. Não era nada contra você, Ino.

— Confiava em mim? O que mudou para sua confiança ir embora tão facilmente?

— Você. Você percebeu que eu me sentia desconfortável perto da Anna e continuou trazendo-a para o nosso convívio e principalmente pra vida do Sasuke.

— Ela é solitária, Sakura, precisava de amigos, tenha compaixão.

— E eu era sua melhor amiga, Ino! Eu entenderia se você quisesse incluir Anna no nosso grupo, mas você não teve a consideração de perguntar como eu me sentia mesmo sabendo que eu não estava feliz. Ficou tão empolgada com o seu Extreme Makeover na garota que deixou suas amigas de lado, você sequer ligou pro sofrimento da Hinata com toda essa história do Naruto!

Ino crispou a face com raiva.

— Eu até entendo e aceito sua reclamação sobre a Hinata, mas em que na sua vida bem sucedida você precisava de mim, Sakura? Não consigo ver a nossa grande Haruno sofrendo por algo nessa vida, tudo é tão perfeito e equilibrado pra você e olha só! — a loira bateu palmas — Nesse tempo em que você diz que eu não te dei atenção você arranjou um namorado, o cara mais popular do colégio, é claro. Porque tudo pra você tem que acontecer superando as expectativas.

Eu me sentia surpresa com a amargura da minha amiga de longa data.

— Então é sobre isso? Sobre você assumir que eu levo a vida perfeita? Você adotou uma zero à esquerda de estimação pra não ter que me aturar vivendo o sonho adolescente, é assim que você me vê, Ino?! — eu estava gritando naquele momento.

— Você não tem o direito de reclamar sobre qualquer coisa nessa vida, a Anna sim precisa de ajuda. Você só pode agradecer aos céus por tudo sempre ser tão conveniente quando se trata do seu mundo rosa.

— Você tá se ouvindo dizer essas coisas? Porque não é possível que você esteja me atacando por ter uma vida feliz. Desde quando você se sente assim?

Ela entortou a boca em desgosto e eu desejei vomitar, tudo aquilo era demais pra mim.

— Desde quando eu percebi que ninguém poderia ser mais bem-sucedido do que você, nem eu. Eu me sinto um monstro por pensar assim, mas não acho que você mereça tudo o que tem na vida. Você reclama dos seus pais, é possessiva com Sasuke, reclama do hóquei e da vida acadêmica e em todas essas áreas você só tem êxito.

— Então por isso ajudou a Anna com o Sasuke?

— Sim. Eu não esperava que vocês se revelassem apaixonados, foi uma jogada onde eu fracassei, admito, mas eu imaginei que se Anna conquistasse o Sasuke e os dois namorassem, ele teria menos tempo pra você e assim Sakura Haruno não teria aquilo que ela mais adora ao seu alcance, o melhor amigo.

Eu comecei a chorar, de verdade. Não esperava que minha melhor amiga tivesse armado pra me sabotar. Dentre todos os anos na vida perfeita que Ino descreveu, eu nunca havia sofrido um golpe tão duro.

— Mas você fracassou como disse, porque Sasuke nunca olhou diferente pra Anna. E agora?

— Você tem razão, eu nunca esperei que Sasuke não se interessasse por ela, a garota é o ideal de qualquer garoto que queira um amor pra vida toda e você sabe disso. E a garota mais bonita do colégio é só isso, Sakura, a garota mais bonita do colégio. Sua vida útil deveria expirar no baile de formatura até outra garota mais bonita surgir entre os calouros, enquanto isso, Anna iria viver o Felizes para sempre dela com o garoto que a garota mais bonita do colégio perdeu.

Eu arregalei os olhos. Como Ino poderia ter chegado às mesmas divagações que eu tão precisamente. E pior, ela usou isso pra me derrubar e tomar o cara que eu amo de mim.

— Por quê? Por que você resolveu ajudá-la? De verdade, por que fez isso?

— Pra cumprir o meu papel. Eu sou a melhor amiga inesperada da heroína, eu tenho que ajudá-la a garantir que conquiste o amor verdadeiro mesmo que eu tenha que trair a garota popular. E isso não é nenhum problema, ninguém liga pros seus sentimentos, Sakura, você é a antagonista aqui. O que você pensa ou sente não é importante, o que vale é o final do casal que deve acontecer. Estamos apenas cumprindo papeis.

— VOCÊ É LOUCA!

— Você também, Sakura! Você pensou o mesmo que eu, senão como poderia odiar uma menina que mal conhecia? Eu juntei as peças pouco depois da chegada da Sullivan, se você quer saber, lembrei de todas as suas reações quando estava perto da Anna ou quando ela se aproximava do Sasuke, depois lembrei da maldita teoria do clichê que você usava pra explicar aquelas comédias românticas adolescentes que a gente assiste, aí a ficha caiu. Você trouxe a teoria pro mundo real, sua desequilibrada! Eu só ajudei a fazê-la acontecer.

Eu me sentia desesperada, traída e confusa. Eu lembrei de Ino arremessando a caixa de leite no lixo e em todos os outros momentos especiais que vivi ao lado dela e nunca quis tanto desaparecer da face da Terra. Depois de um minuto de auto-piedade, resolvi reagir.

— Quer saber? Dane-se! Deu tudo errado tanto pra você quanto pra mim, a teoria não é real, Sasuke a quebrou escolhendo ficar comigo. Ele gosta de mim pelo que eu sou e não pelo que você e todo mundo imagina. Eu quero que você vá pro inferno junto com a Anna e esse fracasso colossal, sua cretina!

Para minha surpresa, Ino riu.

— É mesmo? E por quanto tempo isso vai durar? Vocês têm um futuro incerto pela frente.

— Ah, para de tentar me amedrontar, acabou, Ino.

— Pro seu azar, Sakura, Naruto está certo. Homens adoram beijar várias por aí e depois correm para a estabilidade emocional e firmam compromisso com a primeira boa moça que encontram pela frente. É fato.

— Já disse que Sasuke quebra qualquer teoria.

— Você não tem certeza. Você e ele vão ficar juntos por quanto tempo? Até o baile de formatura? Até metade da faculdade? Até uns três anos de casamento ou até o segundo filho chegar? Se conseguirem sobreviver a tudo isso, vocês vão compartilhar o primeiro beijo, a primeira vez, a primeira qualquer coisa que vier sem experimentar de outras sensações, outras pessoas... Que vida comum! — ela sorriu debochada — Eu consigo ver vocês dois morrendo afogados em arrependimento por anos a fio. Aí um dia você vai se lembrar dessa nossa conversa e perceber que eu estava certa.

— Isso não vai acontecer!

— Eu já disse que você não tem certeza! Seu pior pesadelo é não saber, Sakura. Por isso você cria as teorias, pra tentar antecipar aquilo que você não sabe, tentar se proteger. Ah, a Anna ainda não saiu do jogo, Sasuke ainda pode se encantar por ela caso perceba que você não é tudo isso que ele imaginou. E se não for a Anna, será outra. Mas certamente não será você — Ino sorriu ácida enquanto me encarou.

Eu Fechei os olhos desesperada enquanto imaginava Sasuke me deixando amigavelmente dizendo que o que tivemos foi incrível, mas que estava acabando. Eu sentia meu coração enrugar e secar e o ar escapar dos meus pulmões. Eu desabafei pela última vez com a minha ex-melhor amiga.

— Invejosa... Você fez tudo por inveja.

Ela gargalhou exultante e a minha cabeça latejava a palavra maldita um milhão de vezes.

— Foi, foi mesmo. Mas você não vai ter o quer nunca mais, Sakura. Vai viver com medo de dar um passo que possa comprometer o seu futuro, que droga de vida, não?

— Alguma vez a minha amizade foi importante pra você?

Ela me olhou com amargura e suspirou.

— Foi. Você é uma pessoa incrível, Sakura, sempre foi. E esse é exatamente o problema.

Ino foi embora e eu fiquei lá, jogada no chão do vestiário, chorando minha sorte que me trouxe tanta má-sorte. Eu pensava em Sasuke e em tudo o que passamos e solucei de medo.

Medo que o futuro me impeça de ficar com Sasuke Uchiha.


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Notas finais do capítulo

Só posso dizer que me sinto mal por fazer minha baby Sakura sofrer, mas teve que acontecer, gente. Sorry. T.T



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