29 - Uma Tragédia Bissexta escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 1
29


Notas iniciais do capítulo

História feita na hora e postada na mesma hora.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680960/chapter/1

Aquele lugar meio arejado e meio iluminado, calmo, tranquilo e com aquele ar vultuoso que em poucos segundos me arrepiou. Mesmo assim eu já estava preparado para este sufoco que sinto, dias antes, tudo preparado, tudo esquematizado... concluo aqui a minha missão. Vou embora seguir de mãos dadas com os meus pais, estes me deixaram para trás na caminhada da vida.

Sofri muito desde criança. Sou minoria sufocada pela maioria sufocadora. É a lei do mais forte, contudo acho que Darwin morreria de tristeza ao ver no que o seu ser mais evoluído acabou virando neste último século. Desde guri as pessoas me chamavam de macaco por eu ser filho de imigrantes quenianos que vieram morar no Brasil no final da década de 70. Racismo é algo comum e às vezes parece ser impossível combatê-lo por mais esforços que a minha cor tente fazer. Mesmo assim admiro muito os meus irmãos de cor não ficarem mais calados como antes, porém eu fui fraco e sempre serei um fracote. Pelo menos vou fazer a minha história mesmo negativamente.

O racismo não se esconde atrás de um neonazista ou de um branquelo com ares de superioridade. O preconceito vem de berço e vai até o túmulo. Uma pessoa legal pode ter momentos de racismo, mas não a culpo, pois o preconceito institucionalizado é pior do que o individual. Quantas novelas retratam um nego rico e foge do estereótipo favelado-empregado? Houve algum negro indicado ao óscar em 2015/ 2016? Por que o cabelo pichain é odiado enquanto o estirado com prancha é agraciado?

O som do helicóptero do lado de fora me tirou a linha do raciocínio. Os inúmeros repórteres e policiais não me intimidavam. Uma classe é majoritariamente branca e a outra odiava os negros das periferias, veja o que ocorre diariamente nos Estados Unidos.

Eu caminho num chão vermelho. Meus sapatos começavam a ficar úmidos com o líquido viscoso abaixo da sola. Puxo uma carteira e ponho no fundo da sala. Sento-me esperando algo que irá acontecer comigo logo em breve.

Sou uma taça de cristal que se quebra facilmente, 12 anos de depressão consumiu 50% da minha vida. Depois de muito tempo, eu preferi fazer justiça com as minhas próprias mãos. Acessei a sites duvidosos que ensinavam como você portava uma arma e como construir bombas caseiras. Era óbvio o que eu estava prestes a fazer.

À escola em que eu estudei até o ensino médio. Apesar de pública, era modelo em qualidade de ensino e racismo. Bem no coração de Porto Alegre. O zelador me conhecia, era o meu vizinho! Facilitou muito a minha entrada. Minha missão era salvar essas crianças da cor de algodão felpudo do preconceito institucional.

Retirei duas pistolas e comecei a purificação. O barulho dos disparos, as crianças caindo como se fossem animais de caça e os gritos... estes últimos eram músicas para os meus ouvidos.

Logo os homens de bem foram acionados. Todo o santo dia um homem de bem mata um jovem negro na terra do Tio Sam ou prende um black de maneira arbitrária. Já não aguento mais tanta hipocrisia. Por ser negro e por ser gay, fui uma vítima. Não quero que outros sigam o meu exemplo, mas eu sou uma exceção e não regra.

Ainda vivi bastante para ver um negão entrar na Casa Branca, grandes artistas negros sendo aclamados mundialmente. Entretanto não foi o suficiente...

Olhei o relógio de parede. Já era quase 1 da tarde do dia 29 de fevereiro de 2016. O meu corpo fica trêmulo, mas não posso desistir agora. Eu sempre olho os corpos das crianças alvas e fico tranquilo pois as livrei de serem racistas no futuro.

A voz... a voz que me deu coragem estava me chamando. Retirei do casaco um celular de cachaça e bebi com gosto. Quero ficar quente na hora H. Sinto que a PM está invadindo o lugar. Não posso esperar, não quero ser preso a este mundo. Pego um revólver adicional com 1 bala e abro a boca. Mamãe, papai... estou com vocês. Respiro fundo e puxo o gatilho...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "29 - Uma Tragédia Bissexta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.