Weight of Love escrita por Stormborn


Capítulo 9
All that I can’t ignore at night


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu disse que nunca abandonaria essa história.
Bem-vindos de volta após... 4 anos.
Como sempre, notas gigantescas ao final do capítulo!

Boa leitura, e obrigada a todxs que comentaram, favoritaram e recomendaram essa fanfic mesmo na minha ausência. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680946/chapter/9

 

Haruno Sakura já estava cansada da mesma batida nos seus ouvidos há mais de uma hora, as ondas sonaras reverberando pelas paredes do estabelecimento e ecoando indesejadamente nos seus ossos, fazendo ela se arrepiar em desconforto vez ou outra.

A parte mais difícil da noite não estava sendo fugir de Kiba, como ela pensara que fosse ser – ela percebera assim que se cumprimentaram na entrada que seu episódio com o garoto virara mera lembrança, soterrada no canto do esquecimento junto a todos os encontros regulares que ele tinha com muitas das garotas de sua faixa etária. Sakura não sabia se ficava ofendida ou eternamente grata, no entanto.

O verdadeiro desafio estava sendo não ir embora correndo para casa nos poucos minutos em que Yamanaka Ino tinha um lapso de atenção provocado por um garoto ou dois e a deixava respirar em paz. Mas Sakura era inteligente, e ela sabia que não chegaria nem mesmo na altura do bar antes de ser interceptada por sua amiga e vigiada ainda mais ferozmente dessa vez.

Se ela estivesse se sentindo menos irritada, talvez o esforço da loira de lhe proporcionar um mínimo de distração e divertimento – embora fosse bem óbvio pelas caretas que Sakura fazia que estar num bar amarrotado de gente não era exatamente sua ideia de festa, no momento – a teria feito abrir um sorriso.

Mas sorrir era a última coisa que Sakura queria fazer.

— Sakura, pelo amor de deus, para de me olhar como se eu tivesse matado seu cachorro. — Ino disse indignadamente, tirando o rabo de cavalo do ombro. — Eu só estou sendo uma boa amiga, agora desfaz essa cara feia e bebe logo esse copo.

Sakura tinha uma resposta desagradável na ponta da língua, mas percebendo que talvez o álcool realmente ajudasse sua noite, ela virou o conteúdo do copo de uma só vez, ignorando a sensação de fogo vivo descendo pela sua garganta e a leve vontade que sentiu de cuspir o que acabara de beber. A bebida era horrível, e um olhar a Ino lhe informou que a loira escolhera o item mais pelo efeito do que pelo gosto.

A kunoichi de cabelo rosado fez uma careta, tremendo de angustia, talvez.

— Ino, pelo amor de deus, se você quer que eu beba pelo menos escolha uma bebida agradável.

Ino sorriu, gesticulando em descaso.

— Bobagem, não é com bebidas de garota que você vai ficar bêbada.

— Eu não quero ficar bêbada…

A Yamanaka lhe lançou um olhar exasperado, como se Sakura fosse cansativa que nem uma criança. E talvez ela realmente fosse.

— Você só tem duas opções, Sakura, ou fica bêbada ou me conta porque está com tanta pressa de voltar pra casa e ficar pensando no Uchiha que nem uma adolescente.

Alarmada, a Haruno encarou sua amiga como se subitamente ela tivesse criado chifres, ou pior, se todo seu cabelo dourado tivesse caído. Ino até fez questão de conferir as madeixas com uma das mãos, suspirando de alívio quando percebeu que Sakura apenas era exagerada mesmo.

— O que foi? Tem alguém muito gato atrás de mim? — Ino virou o pescoço para conferir, mesmo sabendo que não era esse o motivo.

Sakura tinha certeza que ela apenas gostava de tirar com a sua cara o máximo de tempo possível.

— Ino! — ela colocou o copo de vidro na mesa entre elas antes que jogasse na cabeça da loira com sua força inumana.

— O que, Sakura? Oras, não sei porque essa surpresa toda. Eu te conheço desde sempre, toda vez que você aceita sair comigo é porque tá cansada de ficar chorando pelo Sasuke-kun.

A garota de cabelos rosados não pôde deixar de se sentir aliviada, mas indignada ainda assim. Era totalmente mentira que Sakura ficava chorando por Sasuke, ainda mais na frequência que Ino insinuava – não era tão raro assim que Sakura aceitasse os convites inusitados de Ino. É verdade, ela passara boa parte da adolescência fazendo exatamente isso, mas há anos isso não se repetia. Ino já deveria ter percebido que Sakura e Sasuke estavam num ritmo agradável de relacionamento.

Ou, pelo menos, estavam, até ela começar a esconder coisas dele, mentir e nem tão sutilmente assim desistir de ter seu time deixado em paz pelas engrenagens políticas da vila. E ela nem estava considerando seu novo relacionamento com Itachi na balança desproporcional de coisas que ela estupidamente fazia porque era burra.

Estremecendo tanto pela música que aparentemente aumentara de volume e por suas péssimas escolhas de vida, ela fez um sinal para o atendente mais próximo e pediu “uma dose da bebida verde, por favor” quando ele se aproximou, ignorando o olhar de incredulidade que ele lhe lançou.

Ino apenas sorriu em vitória, dobrando o pedido para o rapaz.

Sakura deixaria ela se sentir vitoriosa por enquanto; era melhor que Ino achasse que Sakura estava tendo uma recaída pelo seu companheiro de time do que descobrisse que na verdade quem atormentava os pensamentos da kunoichi era ninguém menos que o irmão de Sasuke.

— E então, o que foi dessa vez? Vocês se beijaram loucamente durante o treino e depois começaram com aquele papo chato de ah, nós não podemos, não agora? — Ino quem fez uma careta dessa vez, como se a lembrança de outrora fosse mais repugnante que qualquer coisa naquele bar imundo.

Sakura fechou os olhos verdes, reprimindo um grunhido.

As batidas repetitivas das músicas nem pareciam mais tão ofensivas perto da voz irritante da Yamanaka.

O atendente retornou com dois copos idênticos e os entregou para as jovens, claramente questionando o paladar das duas. Ino fez menção de brindar – mais uma vez – mas Sakura foi mais rápida e voltou a entornar todo o conteúdo odioso, só para minimizar a desgraça de noite que estava tendo.

Deus, Sakura, agora eu realmente quero que você fique bêbada só para me contar o que houve mesmo. — Ino disse sem pestanejar, tomando um gole comedido de sua bebida. Sakura estreitou os olhos, sentindo o estômago revirar e a pele formigar com os primeiros efeitos do álcool.

— Nem tente, porca, eu não vou te contar mesmo que você invada minha mente.

Ino bufou, sabendo seu jutsu não funcionava na amiga de infância, e engoliu o resto da bebida, fechando os olhos azuis no processo. Sakura se permitiu um sorriso de satisfação, alargando contra sua vontade conforme sua cabeça desanuviada de preocupações e seus músculos relaxavam.

Claro, Itachi não era bem uma preocupação, o que seu cérebro descaradamente usou como desculpa para voltar a pensar nele e no que exatamente a estava incomodando. Era verdade que ela não estava chorando por um Uchiha quando Ino batera em sua porta, mas, ainda assim, ela estava triste por um.

Depois que o shinobi recusara seu estúpido convite, as coisas começaram a ficar estranhas entre eles. Não exatamente estranhas, até porque eles treinaram e se falaram depois do ocorrido. Era tão ínfimo e súbito que Sakura de início taxara como paranoia. Mas ela conseguia ver, sentir nas costas de seu pescoço e nas juntas de seus dedos, quando ele olhava para ela agora… não havia mais aquele calor, aquele sentimento que lhe percorria a espinha como uma suave carícia.

E Sakura se sentia extremamente solitária em seus antes prazerosos encontros.

 

[…]

 

Shisui estava excepcionalmente sério, contemplando os primeiros sinais do amanhecer pintar o templo onde as reuniões dos Uchiha eram realizadas de um azul perolado.

Ele suspirou e subiu as enormes escadarias, tomando seu tempo para não parecer tão ansioso perante o líder do clã. Antes mesmo de chegar no topo ele pôde ver a figura de Uchiha Fugaku envolta pelas sombras da madrugada. Ele ainda não conseguia ver seu rosto, mas Shisui nunca vira Fugaku expressar nada além de seriedade ou raiva, e qualquer uma das emoções no momento era o suficiente para deixá-lo no limite, a espera do pior.

O patriarca cruzou os braços quando Shisui se aproximou, parando a uma distância respeitosa.

— Para alguém conhecido por ser rápido, você sempre está atrasado.

O Uchiha mais novo reprimiu uma careta, escolhendo dar uma breve reverência em troca. Fugaku assentiu em aprovação quando Shisui se endireitou.

— Me desculpe, Fugaku-sama, estive resolvendo pendências da Força Policial.

Fugaku dispensou suas desculpas com um gesto de mão, não se importando realmente com o atraso.

— Como estão as coisas?

Shisui sabia que sua pergunta era sobre Konoha, e mais especificamente sobre assuntos referentes ao gabinete da Hokage, mas ele escolheu se fazer de burro.

— Bem. — ele começou em voz baixa. — Estamos com alguns problemas de jurisdição com a ANBU mas nada que eu não consiga resolver.

Fugaku lhe lançou um olhar que ele mais conseguia sentir do que ver pela escuridão. Ele novamente se controlou para não reagir fisicamente as táticas de intimidação clássicas de seu tio.

— Shisui. Eu ainda sou o comandante da Força Policial, não preciso que você me inteire dos fatos. — ele disse sem veneno, mas o tom de reprimenda já era o suficiente para entregar a mensagem. Não brinque comigo. — Mas já que tocou na ANBU, por que Itachi não está saindo em missões ou te ajudando com esses problemas?

Shisui colocou as mãos nos bolsos e piscou uma, duas vezes.

— Itachi está numa missão pela vila, que eu saiba. Mas não sei os detalhes.

Ele se esforçou para ver o rosto de Fugaku, mas ele realmente não precisava ver sua testa franzida para saber que estava lá. O patriarca soltou um barulho de descrença.

— Como está em missão se ele esteve em casa e foi visto pela vila?

Dessa vez, Shisui não pôde deixar de fazer uma careta, odiando ter de vender seu melhor amigo só para desviar do assunto Konoha e Tsunade.

— Eu não sei os detalhes, Fugaku-sama. — quando ele percebeu que sua voz soara talvez áspera demais, Shisui continuou, só que mais reservadamente. — Mas eu sei que ele está em missão porque fui tentar arranjar uma pro meu time e ele já estava como ocupado na lista. Eu duvido que a Shizune-san tenha cometido algum erro. — ele mentiu com tanta naturalidade que Fugaku não tinha porque suspeitar. — Deve ser alguma questão interna, um informante ou espionagem…

De repente o céu começou a se abrir em mais cores intensas, os raios de sol ficando cada mais dourados com o aproximar da manhã. O rosto de Fugaku se iluminou, e Shisui pôde ver que ele o encarava sem expressão, ponderando as informações.

— Bom. — ele descruzou os braços, fechando os olhos repentinamente e girando nos calcanhares, pronto para partir. — Tente descobrir com o Itachi.

Ele deu alguns passos em direção a escadaria antes de parar, virando o pescoço para fitar Shisui novamente, uma expressão séria no rosto.

— Espero que esteja colhendo as informações que pedi. Sasuke já iniciou o treinamento e em breve estará apto. Espero que ainda se lembre da sua lealdade, Shisui, seu dever é vigiar Itachi e a Hokage; você não é um deles.

Ouvir palavras tão sérias e duras numa voz sem emoção era definitivamente mais mortal do que o corte da mais afiada kunai. Ele observou Fugaku descer as escadas, suas costas desaparecendo no horizonte. Shisui soltou o ar que nem percebera segurar, bagunçando os fios encaracolados da cabeça para aliviar a tensão.

Ele percebeu então que Fugaku ainda se referia a Itachi como um deles, da vila, e não dos nossos, do clã. Seu comentário sobre sua lealdade não o afetou tanto quanto saber que Itachi ainda era desdenhado pelo líder do clã, quando muitas de suas atitudes eram a única razão que todos eles ainda respiravam, pisavam sobre Konoha.

Shisui olhou mais uma vez para o nascer do sol, mas ele já não tinha a mesma beleza de antes, as cores pareciam diminutas. Ele se dirigiu até os portões de entrada e saída do Distrito Uchiha, com a intenção de descansar numa árvore qualquer de um dos vastos campos da vila quando ele avistou um amontoado de cabelo rosado pelo canto do olho.

Só havia uma kunoichi com aquele tom de cabelo e pela hora ela deveria estar bem longe de uma região tão isolada e quase deserta como a do complexo.

A passos rápidos, ele se aproximou da Haruno, pronto para vestir seu melhor sorriso e começar o dia de fato quando ele instintivamente sentiu que algo estava errado. Seu lindo rosto estava num misto de apreensão e nervosismo, e quando ela o viu, seus lábios arquearam num sorriso desanimado.

Shisui olhou no fundo de seus incríveis olhos verdes e franziu o cenho, exibindo toda sua preocupação.

— Ei, Sakura. O que houve? O que está fazendo aqui?

A kunoichi engoliu em seco e tomou um tempo para escolher suas palavras. Shisui estava próximo o suficiente para sentir o leve aroma de álcool emanando cada vez que ela abria a boca para falar alguma coisa mas desistia no meio do caminho. Ela não parecia ter dificuldades para se manter de pé ou andar, e muito menos seu olhar estava inebriado. Mas Sakura claramente não estava sóbria. Shisui teve vontade de rir, e foi exatamente o que ele fez.

Isso pareceu acordá-la um pouco, de modo que ela corou e bufou, cruzando os braços.

— Não ri de mim, eu tive que andar muito para chegar até aqui.

Ela quase soara infantil, e Shisui não pôde deixar de sentir pena da garota. Se ela andara a distância que ele imaginava – Shisui lembrava vagamente da localização do bar que os mais novos frequentavam – então ela definitivamente tinha razão para reclamar. Agora, porque ela fizera isso era um mistério. E Shisui não costumava gostar de mistérios.

— Sakura-chan, você não respondeu. Por que está aqui?

Sakura olhou de seu rosto para a entrada do Distrito, da entrada para seu rosto, e o Uchiha quase arfou quando percebeu o que ela queria fazer, os olhos arregalando em puro alarme.

— Está doida, Sakura-chan? Você não pode entrar no Distrito assim. — ele deu um passo em sua direção, colocando uma mão sobre sua testa para verificar se ela estava febril ou em estado de demência.

A Haruno estalou a língua no céu da boca e afastou sua mão com um tapa gentilmente rude – o que fez Shisui rir contra sua vontade. Ela olhou diretamente nos seus olhos pretos, como se quisesse provar sua sanidade e sobriedade.

— Por que não? Eu só quero falar com o Itachi, você sabe onde ele está?

Shisui a encarou. Piscou. E então abriu um sorriso tão característico que ele quase podia sentir Sakura se arrependendo internamente de ter-lhe confiado seu objetivo naquele lugar.

Que interessante, não?

Ele simplesmente precisava provocá-la.

— Itachi, é? Por que quer falar com o Itachi?

Sakura corou em indignação, cerrando levemente os dentes.

— Eu não preciso te contar. Posso ir até a casa dele e ver se ele está lá.

— E você sabe onde ele mora?

Sakura arregalou os olhos comicamente, seus lábios se abrindo em surpresa. Ela era bem fofa, Shisui podia admitir.

— Então… você não sabe onde ele mora. — Shisui inclinou a cabeça, sorriso ainda no lugar. — Boa sorte então. — ele começou a andar como se fosse ir embora, só para ter o prazer de ouvi-la dizer…

— Espera! Volta aqui, Shisui.

Ele voltou, parando do lado dela, esperando.

— Você… arg, mais que droga, Shisui. Eu sei que você está se divertindo com isso mas eu realmente preciso encontrar o Itachi, me desculpar pelo que eu fiz e arg, por que você está rindo, Shisui? Eu quero o ‘Tachi de volta, meu… amigo ‘Tachi. — ela passou as mãos exasperadamente pelo cabelo rosa desarrumado de leve, em clara irritação com o divertimento que Shisui sentia as suas custas. O assunto era bastante sério, por que ele estava rindo?

Honestamente, Shisui não dava um mês até que a pequena kunoichi e seu primo rolassem por aí aos beijos, bochechas pegando fogo e o coração em eterna negação do que estava se desenrolando entre eles. Um mês, e ele estava sendo generoso.

E então ele poderia sorrir vitoriosamente, esfregar eternamente na cara de Itachi que ele tinha razão esse tempo todo e que não há de que, querido primo, eu sei o que é melhor pra você. Ele se banharia nos espólios de sua conquista – sorrindo de orelha e orelha.

Uchiha Shisui colocou um braço sobre os ombros de Sakura, a trazendo para bem próximo de si.

— Não estou rindo de você, Sakura. Estou rindo com você. — ela não pareceu entender, e a esse ponto já estava exasperada demais para dar-lhe mais que meia atenção, então ele não via mais porque continuar aborrecendo-a. — Venha, vou levá-la até o ‘Tachi.

Bem, a culpa não era dele que ela se aborrecia com tão pouco – e convenhamos que ela praticamente implorara para ser tirada quando se embolara ao falar o nome de Itachi na pressa e vergonha e também no álcool.

Ele ignorou as reclamações de Sakura e suas tentativas de se desvencilhar dele, apertando-a ainda mais contra seu corpo. Num instante eles estavam do lado de fora do complexo, e no outro estavam de frente para uma casa azulada, mais afastada das demais. Sakura visivelmente não lidara muito bem com o deslocamento em alta velocidade e ele se preocupou por um instante que talvez ela fosse passar mal.

Talvez não tivesse sido a melhor das suas ideias, afinal.

Quando ela apagou, ele teve reflexo para segurá-la antes que ela caísse de cara no chão.

Suspirando, ele a pôs no ombro como um saco de batatas – mas carinhosamente, ele disse a si mesmo entre risos abafados – e adentrou sua casa, sem se preocupar com o estranho retrato que os dois faziam. Morar sozinho tinha suas vantagens.

Quando ele a depositou cuidadosamente no futon do segundo quarto da casa, ele se deixou admirar suas feições adormecidas por um tempo, ponderando se deveria cobrir-lhe ou não. Optando por deixá-la sofrer os calores do pós álcool e do verão de Konoha, Shisui pegou o cobertor mais denso que encontrou no armário do corredor e o jogou em cima de Sakura, apenas deixando seu rosto de fora para que ela também não sufocasse até a morte.

Ele riu de leve.

— Bem, Sakura, parece que eu vou ter que trazer o Itachi até você ao invés disso.

Quando ele pisou do lado de fora novamente com o intuito de acordar seu melhor amigo, o céu estava pintado belamente de um tom incrível de rosa e dourado contra o céu azul.

 

[…]

 

Kakashi entregou um pergaminho para Shizune com os olhos enrugando em seu típico sorriso de olho.

Shizune procurou o número de identificação da missão no pergaminho e estremeceu, soltando um som muito próximo de exasperação, para o divertimento interno de Kakashi.

— Você deveria ter entregado esse relatório há um mês, Kakashi! Um mês!

Kakashi deu preguiçosamente de ombros, sorriso intacto. Tsunade levantou o olhar da papelada que assinava, estalando a língua e o encarando como se quisesse que seu cabelo pegasse fogo, ou sua cabeça tombasse de seu pescoço como um boneco desmembrado. Provavelmente ela realmente queria que essas coisas acontecessem.

— Você sente prazer em dificultar meu trabalho, não é, Kakashi?

Admitir que sim só o deixaria com alguma parte do corpo afetada – ele ainda se lembrava de quando ela errara por milímetros de acertar uma caneta no seu crânio, sem dúvida alguma impulsionada por chakra.

— Claro que não, Hokage-sama. É que eu estive ocupado, você sabe, levando bolsas de mercado, ajudando velinhas a atravessar a rua…

Tsunade riu de escárnio, virando-se para Shizune.

— Coloque esse junto com os outros. Não precisa se dar o trabalho de ler, só deve ter uma linha escrita.

Shizune sorriu.

— Já desisti de ler os relatórios do Kakashi, Tsunade-sama. — ela se retirou da sala sem olhar para o shinobi, praticamente fingindo que ele não estava mais ali. Kakashi levou uma mão ao coração e fingiu mágoa.

— Shizune pode ser tão cruel às vezes.

A Godaime Hokage voltara sua atenção para a papelada, e Kakashi realmente se sentiu invisível dessa vez. Quando ele não fez menção de ir embora, Tsunade suspirou e levou as mãos nas têmporas, massageando ferozmente para evitar uma dor de cabeça – no fundo, Kakashi achava que eram justamente esses movimentos bruscos que pioravam a enxaqueca da Hokage, mas quem era ele para opinar nos hábitos da mulher.

Ela fechou os olhos cor de mel brevemente antes de se recostar na cadeira giratória e encará-lo com certa impaciência.

— Sinto que você quer alguma coisa.

— Eu? — Kakashi arregalou os olhos teatralmente. — Claro que não, Tsunade-sama. Como eu estava dizendo, vivo ajudando as pessoas pela vila, sem pedir nada em troca. Hoje mesmo, eu estava saindo de um… ah, restaurante, e me deparei com uma jovem adorável. A acompanhei até chegar em casa, mas aparentemente não era a casa dela.

Tsunade o encarou como se ele tivesse ficado maluco de vez, juntando chakra nas mãos instintivamente caso precisasse imobilizá-lo e interná-lo num hospício, camisa de força e tudo. Kakashi não se deixou abalar, pausando apenas para dar efeito a sua história.

— Bom, imagino que não seja a casa dela porque eu não conheço muitos Uchiha de cabelo rosa.

O Hatake agora tinha sua total atenção, como se as palavras rosa e Uchiha na mesma frase fossem a combinação mágica da vez.

Tsunade estreitou os olhos, apontando uma unha pintada para ele.

— Juro por deus, Kakashi, se você continuar falando em charadas…

Kakashi sorriu debaixo da máscara.

— Não são charadas, Tsunade-sama.

— Ah não? Que engraçado, eu podia jurar que acompanhar no seu vocabulário significava stalkear.

Kakashi ficou sério de repente, ligeiramente ofendido pelo tom de Tsunade.

— Eu não estava stalkeando minha aluna, eu só estava garantindo que ela chagasse bem em casa. Como um bom sensei deve fazer.

Tsunade não comprou sua justificativa.

— E eu imagino que restaurante deva ser bar.

Kakashi preferiu não responder. Tsunade deu um sorriso enviesado.

— Desembucha, Kakashi, eu não tenho o dia todo.

— O dia acabou de começar, Tsunade-sama.

— E eu já desperdicei demais da minha manhã com você. Desembucha.

Sentindo que o clima para brincadeiras havia parcialmente desaparecido, Kakashi endireitou a postura e pôs as mãos nos bolsos, encarando seriamente sua Hokage com o único olho visível.

— Estou um tanto preocupado, Tsunade. Sakura bebeu um pouco demais e foi parar no Distrito Uchiha. Se o Uchiha Shisui não tivesse aparecido ela provavelmente teria entrado e até mesmo causado uma cena.

Tsunade franziu o cenho, apoiando o queixo sobre uma mão.

— Dificilmente uma coisa séria. Não é como se os Uchiha fossem entrar em guerra por causa de uma kunoichi bêbada no complexo deles.

Kakashi piscou.

— Ah, não, Tsunade-sama. Não é com isso que estou preocupado. Só te contei pra você poder lembrá-la disso por um bom tempo. Coisa que um bom sensei faz.

E por mais que Tsunade lutasse contra, o sorriso malicioso não deixou de tomar sua feição.

— Minha preocupação, na verdade, — ele disse, mais sóbrio. — é com o desenrolar dessa história da Sakura com o Itachi.

Tsunade fechou os olhos mais uma vez.

— Ele só está treinando ela, não?

— Você não acha meio esquisito esse súbito interesse dele por ela?

A Senju tamborilou os dedos contra a mesa de madeira, pensando.

— Você acha que ele tem uma agenda por trás disso?

— E quando Uchiha Itachi não tem?

Kakashi arqueou uma sobrancelha. Tsunade parou de mexer os dedos.

— Você acha que ele está usando ela?

O shinobi levou uma mão ao rosto, coçando a bochecha sobre a máscara.

— Eu não sei. Pode ser que o clã tenha planos para ela, pode ser que ele tenha planos… talvez ele só esteja ajudando num ato de empatia… e talvez a Sakura acabe no meio do fogo cruzado.

Hatake Kakashi realmente se importava com a sua aluna. Ele gostava de Itachi, tendo sido seu superior na ANBU por muito tempo, mas algo lhe dizia, sussurrava nos ouvidos quando ele não conseguia dormir a noite que tudo o que Sakura ganharia se metendo com o Uchiha era um coração partido e um alvo em suas costas.

E ele não deixaria isso acontecer.

Tsunade suspirou, como se lesse seus pensamentos.

— Bom, por enquanto não há o que fazer. Eu confio no Itachi e espero que ele saiba com quem está lidando.

Kakashi também esperava, pelo bem de Sakura.

Quando Shizune voltou bocejando para a sala, os dois se olharam e entraram num acordo silencioso de manter as especulações entre eles. Shizune pareceu surpresa que Kakashi ainda estivesse ali, quando ele era mais escorregadio que manteiga quando não tinha mais obrigações para cumprir.

Tsunade voltou a assinar papéis que ela mal lia pela metade.

— O que mais você quer, Kakashi? — ela perguntou sem levantar o olhar.

Kakashi bocejou, percebendo que não dormia a vinte e quatro horas.

— Só uma última missão com os meus adoráveis alunos.

Shizune estremeceu pela segunda vez aquela manhã, se preparando para uma inevitável tempestade que Tsunade faria só de pensar em lidar com os problemas do Time 7 tão cedo de uma manhã de sábado.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não sei por onde começar, aaaa.
Eu realmente não sei porque eu fiquei tanto tempo sem atualizar essa fanfic quando eu amava de todo o coração escrevê-la. Eu reli tudo (óbvio) antes de escrever um novo capítulo e hoje eu vejo muito defeito que me faz querer reescrever tudo, mas eu tenho muita consideração por quem gosta dessa história do jeito que ela é, e principalmente porque eu sei que às vezes nós formamos laços muito fortes com o que a gente lê (então, não, por mais que eu queira, eu não vou mexer no que já foi escrito. Só vou tentar melhorar a qualidade já que a minha escrita hoje é zilhões de vezes diferente).
Mas antes de mais nada, me permitam uma desculpa sincera pela demora de anos e anos. Eu não posso justificar com nada além de: faculdade é osso, mas eu me formo esse ano. Yay.
Aaa. Eu tô muito sem graça de estar aqui, sabendo que vou receber um monte de pedradas MAS eu devo dizer que foi literalmente por causa de uma leitora que eu voltei. Eu não aguentei ler o que ela escreveu na recomendação, meu coração se partiu todinho e eu senti um calor de é agora! E então saiu esse capítulo. (Então muito obrigada, mais uma vez, a todxs que comentaram durante esse blank space).
Bom, quanto a história, eu só tenho duas certezas: eu não faço a menor ideia do que eu queria fazer antes e eu faço total ideia do que eu quero fazer agora, hehe. Se as duas coisas se intercalam aí eu já não sei, mas espero que sim.
E perdão pela falta de ItaSaku logo de cara, mas eu realmente precisava estabelecer um norte, é como reaprender a andar de bicicleta.
Beijos infinitos. ♥