Weight of Love escrita por Stormborn


Capítulo 6
So many things were left unsaid


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todas que comentaram o capítulo passado, vocês me incentivaram mesmo quando a inspiração tava no 0. ♥
Eu tive que dividir esse capítulo em dois porque passou das 8k palavras e ficaria uma coisa muito maçante de ler. Ou seja, não vai ter o tão esperado almoço ainda. ):

Desejo uma boa leitura e tomem cuidado com a linha temporal do Kakashi, uwehfioewjifow.



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— Esse treino seria mais eficiente se nós trabalhássemos com informações reais. — Sakura disparou de uma maneira forçadamente despreocupada.

— Sakura, — Itachi arqueou o canto dos lábios. — Se você quer me perguntar alguma coisa, pergunte.

Sakura soltou o ar que segurava, indignadamente.

Desde que eles interromperam a atividade de ‘gato e rato’ e tiveram um breve encontro com Shisui (e Sakura não conseguia parar de repetir a cena sem parar em sua cabeça), os dois shinobi passaram a se dedicar a treinamentos mentais e que não exigiam esforço físico, o que a dava tempo de pensar.

Em combate ela não se permitia vacilar. Sakura gostava de pensar que estava no campo de batalha e qualquer pensamento ou passo em falso que desse lhe custaria a vida. Ela colocava tudo si na tarefa em mãos, sendo ela derrotar o adversário (mesmo sendo apenas uma sessão de taijutsu) ou caçá-lo.

Mas ali, sentada de frente para ele, tendo que adivinhar através de sua linguagem corporal, tom de voz e até mesmo seu conhecimento – raso, ela admitia – sobre sua personalidade se Uchiha Itachi estava mentindo, sua mente podia se desligar em um instante focar em qualquer coisa que não fosse exatamente o treinamento.

Para ser honesta, Sakura não estava interessada em fazer aquilo, não naquele momento. Ela queria falar, conversar com ele sobre todos os assuntos que rodeavam sua cabeça. E ela não podia fazer nada quanto a isso, nem se quisesse.

Itachi percebera muito antes dela sequer manifestar sua insatisfação de forma verbal, tendo a advertido já duas vezes a respeito de sua concentração e seu foco na tarefa. Sakura sabia que ele teria encerrado em ambas as vezes o que estavam fazendo se ela ao menos falasse, mas como ela apenas se desculpou e voltou a tentar (e falhar), o Uchiha não falou nada tampouco.

Sakura não podia deixar de se sentir grata por Itachi simplesmente ser do jeito que era.

A kunoichi precisou de mais algum tempo, mas finalmente conseguiu reunir a coragem necessária para falar alguma coisa que colocasse em pausa o treino.

— Eu não quero perguntar uma coisa em específico, eu só quero conversar. — Sakura colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, se sentindo embaraçada.

— Aa. — A expressão de Itachi voltou a ficar nula de seu (quase) sorriso, num claro gesto de deixá-la mais confortável. — Sobre?

Sakura procurou escolher suas palavras cuidadosamente.

— Você. Sabe, desde que você aceitou me treinar eu venho querendo saber várias coisas. — Sakura olhou com Itachi com firmeza, procurando algum indício de irritação. Como não achou nenhum, prosseguiu. — E ver você falando com o Shisui hoje me lembrou de alguma das coisas que eu queria saber.

Haruno Sakura era extremamente curiosa e não era por um motivo tão banal quanto o sentimento em si, puro. Ela gostava de alimentar seu conhecimento e entendimento sobre as coisas e principalmente sobre as pessoas. Ela repudiava ignorância e coisas fora de seu controle, e Uchiha Itachi estava perigosamente perto da margem de pessoas que ela convivia e sabia muito pouco para aquietar sua mente articulada.

Agora que eles se viam regularmente e essa rotina se perpetuaria por mais algumas semanas, ela precisava tirar da cabeça todas as informações, falsas ou verdadeiras, que recebera ao longo dos anos e substituí-las por suas próprias opiniões a respeito de quem era o capitão ANBU a sua frente.

Seria uma tarefa difícil suprir os dezoito anos de sua vida em que ela podia contabilizar nos dedos de uma só mão a quantidade de vezes que vira o irmão de seu companheiro de time, mas ela tentaria. Ela fazia isso com todo mundo, afinal.

E tinha algo nele, ela sentia no fundo de seu ser, que ela precisava conhecer e entender.

Sakura olhou para Itachi mais uma vez, realmente olhou, e se sentiu perdida mais uma vez em tamanha intensidade que ele emanava. O Uchiha parecia um oceano composto da mais densa água e da mais profunda imensidão. Sua presença era totalmente diferente da de Sasuke, embora os dois exalassem o mesmo ar misterioso.

Itachi era simplesmente mais atraente, quase como o fogo é para uma mariposa.

E Sakura tinha a impressão de que ela iria se queimar exatamente como uma.

O shinobi sustentou seu olhar sem vacilar um único segundo.

— Bem, — ele se movimentou até encontrar uma posição mais relaxada e confortável no chão da clareira — você pergunta, eu respondo, você diz se é mentira ou verdadeira e a gente alterna. Você não é a única curiosa aqui. — Itachi completou ao ver Sakura levantar uma sobrancelha.

A Haruno teria sido tomada por uma onda de constrangimento se ela não estivesse pensando em outra coisa.

— Você gosta de falar? — Sakura mordeu o lábio inferior.

— Aa. — Sua voz soou divertida. — As pessoas assumem que eu não gosto de falar porque eu prefiro observar. — Itachi deu seu meio sorriso.

— Verdade. — Sakura podia assumir que Itachi conseguia muito mais informação desse jeito do que perguntando, era seu campo de trabalho, afinal.

Itachi a observou cuidadosamente.

— Você tem medo de mim?

Sakura arregalou levemente os olhos e abriu e fechou a boca antes de responder.

— Não. — Itachi estava prestes a interromper quando ela percebeu que talvez respondera muito rapidamente e na defensiva. — Não é medo, é... eu não sei. Talvez seja respeito misturado com “eu não sei o que esperar de você”. — Sakura deu de ombros, olhando para qualquer ponto do shinobi que não fosse seus olhos. — Eu só conheço o Itachi das histórias e elas são bem assustadoras, para ser sincera.

A kunoichi achava que mesmo depois de sua explicação ele fosse taxar sua resposta de falsa.

— Verdade. — Sakura o olhou surpresa. — Linguagem corporal, Sakura. Você é um livro aberto.

Haruno Sakura se sentiu quase ofendida.

Ela levantou-se do chão e falou que estava cansada de ficar sentada e que precisava esticar as pernas. Itachi concordou silenciosamente e se pôs de pé a seguí-la em sua caminhada. Ambos sabiam que ela só não aguentava mais ficar à mercê do olhar examinador do Uchiha.

Andando e conversando, ele teria que prestar mais atenção no caminho do que nela, Sakura concluiu ingenuamente.

— Você provavelmente é o melhor shinobi da geração, talvez de Konoha. Se sente satisfeito?

Sakura olhou para Itachi e não pode deixar de perceber o vislumbre de amargura que passou por sua feição.

— Sim.

— Falso.

— Aa.

Um silêncio quase constrangedor se fez presente entre os dois. Itachi claramente se sentia desconfortável com o tópico – ou talvez por ter mentido e sido pego imediatamente – mas Sakura não estava disposta a abandonar esse barco tão rápido assim. Ela respeitava a distância entre eles, mas não se sentia obrigada, naquele momento, a aceita-la agora que ele lhe dera uma brecha.

— O que ainda falta?

Itachi encontrou o seu olhar e talvez tenha cedido devido a sua determinação. Sakura nunca iria ter certeza.

— Eu vivo pela Aldeia, Sakura. Não sou bom por querer poder ou porque quero subir em rank. Trabalho para proteger Konoha, e se minha força no momento é insuficiente para isso então eu não posso estar satisfeito.

Sakura não conseguiu comprar totalmente sua resposta, mas achou melhor não falar nada. Ao invés disso, demonstrou sua incredulidade parcial ao estreitar os olhos em sua direção. Ele não demonstrou se importar, entretanto. A kunoichi resolveu que iria por outra abordagem.

— Verdade. Mas você também vive pelo Sasuke que eu sei. — Itachi lhe dirigiu um olhar afetado e sua boca tremeu levemente como se sofresse um espasmo. — Ele não fala muito sobre você porque ele não fala no geral, mas eu sinto devoção toda vez que ele faz isso. E, acredite, Sasuke só sabe retribuir sentimentos. — Sakura deu um pequeno sorriso sincero, como se quisesse reforçar cada uma de suas palavras. — Você deve amar seu irmão.

Sakura observou a postura do shinobi ao seu lado mudar completamente. Ele antes apresentava sinais singelos de tensão que se evaporaram ao ouvir o que a rosada tinha a dizer. Itachi olhou para cima e suspirou. Sakura absorveu como um agradecimento mudo e abriu ainda mais o sorriso, não deixando de notar como se ângulo de observação favorecia os traços do rapaz.

A medi-nin não podia considerar essa uma conversa “de coração para coração” mas chegava o mais perto possível do que ela achava que teria com Itachi em toda sua vida e isso por si só já a deixava extremamente contente.

Eles prosseguiram num silêncio confortável até que Itachi o quebrasse novamente.

— Eu poderia dizer a mesma coisa de você sobre o Sasuke, não é mesmo? — Ele a olhou de soslaio.

Haruno Sakura não tinha medo algum de admitir.

— Sim, eu amo o Sasuke assim como amo o Naruto. Eles são mais do que meus companheiros de time, são minha família.

Uma rajada de vento passou pelo local assim que os dois saíram dos limites do campo de treinamento. Sakura soltou um suspiro de frustração ao ter seu cabelo embaraçado. Ela ainda se perguntava porque o deixara crescer tanto. Seu comprimento simplesmente não era prático em diversos níveis para o seu trabalho como ninja e até mesmo no laboratório, ainda mais que ela preferencialmente o deixava solto.

O fato era que ela gostava de se ver no espelho todo dia de manhã, nua e o corpo fresco do recém banho tomado, seus longos cabelos rosados emoldurando não somente seu rosto de uma forma que ela não falhava em apreciar, e talvez esse fosse motivo o suficiente para que ela não o cortasse, afinal.

Sakura parou no meio do caminho e voltou a prestar atenção no moreno ao seu lado e o que viu quase a fez perder o fôlego.

Poderia ter sido por causa dos fios de seu cabelo preto como o carvão a esvoaçar ultrajantemente no ritmo da ventaria, mesmo que o elástico os limitasse (e Sakura com certa relutância poderia admitir que queria mais do que nunca se livrar do acessório para ver como o cabelo de Itachi se comportaria sem ele). Poderia ter sido por causa do sorriso satisfeito que ele exibia – e que ela poderia dizer que tinha um toque de satisfação masculina. Poderia ter sido pelo olhar no mínimo curioso que ele sustentava (e por mais que Sakura tentasse, ela não conseguia decifrar com clareza).

Mas na verdade era a figura completa. Era Uchiha Itachi, simples assim. Ele era de se cair o queixo, no mínimo, fazendo todo o cenário e a situação se tornar irreal.

Porque era isso mesmo, irreal. Ela estava, pelo amor de deus, secando Uchiha Itachi, o prodígio dentre os prodígios do clã Uchiha, o gênio que com treze anos se tornara capitão de seu próprio esquadrão na ANBU. O irmão de seu melhor amigo.

Sakura estava mortificada por dentro e teria soltado um gemido de desgosto se seu corpo tivesse permitido tal reação. Ela só conseguiu, entretanto, desviar o olhar e continuar a andar, as faces tingindo-se de vermelho em vergonha.

Ela não percebeu que Itachi não voltou a segui-la.

— Sakura. — A Haruno parou em sobressalto e virou-se parcialmente, sem encarar Itachi. — Você está voltando para o centro.

— Oh. — Sakura retornou ao lado de Itachi, embaraçada e mordeu o canto interno da boca quando ele voltou a esboçar seu sorriso de divertimento. O shinobi passou a andar então na direção que levaria aos campos de treinamento mais distantes, Sakura o seguindo a uma distância respeitosa (conservadora, sua inner gritou).

No dia anterior eles haviam tido uma breve conversa entre socos e chutes sobre o treinamento que estavam tendo, mais especificamente sobre o clã Uchiha não saber sobre ele. Sakura não ousara dar nenhum tipo de resposta malcriada ou insinuar que os Uchiha esperavam que ele lhes contasse todos os detalhes de sua vida como uma criança deve satisfação a sua mãe.

Não, ela não falara nada, mas não se omitira de expressar sua indignação com o olhar e ao bufar irritadamente.

Era além do ridículo um homem formado e independente como Itachi ter de se encontrar as escondidas com ela porque seu clã não aprovaria. Ela sabia perfeitamente (ou tentava se convencer disso para não alimentar o fogo do ódio) que o problema não era ela em si, mas sim o fato do futuro líder abdicar de suas funções ninja – ainda por cima da ANBU – para treinar alguém.

Mas não havia nada que ela pudesse fazer a não ser se lamentar, se contentar em poder pelo menos ter a tutoria do shinobi nas áreas de treinamento e não se sentir desapontada com a falta de possibilidade dos dois ao menos almoçarem juntos no seu restaurante preferido da vila.

Se bem que a vendinha perto do posto 6 não é de todo mal.

— É a minha vez, não é?

— Como? — Sakura perguntou.

— De perguntar.

— Aa, sim. Vai em frente. — Sakura já tinha até se esquecido da sessão prévia de perguntas e resposta.

Itachi ponderou por alguns segundos.

— Você quer entrar na ANBU por você ou pelo seu time?

Sakura franziu o cenho e pôs se a pensar na melhor resposta possível. Essa não era uma pergunta fácil de se responder de forma condensada sem que os detalhes importantes se perdessem, e a kunoichi ao mesmo tempo tinha que tomar cuidado com a quantidade de informações que revelaria.

Não que sua vida não pudesse ser compartilhada com ele, mas alguns pensamentos e sentimentos a respeito do Time 7 eram muito pessoais para que qualquer pessoa ficasse ciente deles.

Havia tanto sobre a relação entre ela, seus dois melhores amigos e Hatake Kakashi que Itachi não poderia nem começar a sonhar em um dia descobrir tudo.

Haruno Sakura engoliu em seco e começou a falar, a voz levemente descortês em relação a que ela costumava usar.

— Meu time está se despedaçando já faz algum tempo. Naruto vive viajando com o mestre Jiraya ou treinando em algum lugar longe o suficiente para que a gente só tenha notícias dele por cartas. — Ela suspirou. — Sasuke está sempre sendo manipulado pelo maldito clã. E eu estive assistindo a tudo isso sem saber o que fazer, na verdade. Eu nunca tive um objetivo de vida, Itachi. Isso me matava.

Outra rajada de vento passou pelo local, mas Sakura estava perdida demais em pensamentos e em sua própria tristeza para prestar atenção em qualquer coisa que não fosse sua história.

Itachi era uma pessoa que compelia as pessoas a lhe confidenciarem as coisas, Sakura estava percebendo. E ela não sabia o quanto disso podia culpar ao seu trabalho de espião e interrogador da ANBU ou a sua natureza calma e acolhedora.

Olhos verdes sombreados de um sentimento pesado fitaram o semblante sério de Itachi.

— Por muito tempo eu achei que meu objetivo era simplesmente seguir Naruto e Sasuke em qualquer jornada e caminho que eles quisessem tomar. Apenas ficar com eles. Mas isso não me satisfez porque eu fui ficando para trás.

Ela pôde ver compreensão invadir o semblante do shinobi.

— Kakashi nunca se interessou em mim de verdade, para início de conversa, e não tinha ninguém que pudesse me ensinar o que eu queria na vila. Foi quando Tsunade chegou e me deu um propósito e eu sou realmente grata a ela por tudo. Mas eu não quero mais seguir nesse caminho.

Sakura então colocou-se então na frente de Itachi, fazendo com que ele parasse entre uma passada e outra. O Uchiha a encarou com aqueles olhos que pareciam dois buracos negros e ela perdeu a linha de raciocínio por uma fração de segundo.

Ela piscou rapidamente, cílios longos e rosados lhe encobrindo os olhos agora renovados por uma nova determinação e fogo que rapidamente lhe subiam o peito e a preenchiam de sua característica jovialidade.

Sakura sorriu perspicazmente.

— E é aí que entra a ANBU. É meu novo objetivo e você vai me ajudar a alcança-lo. — Ela colocou as mãos na cintura, ousando que ele a contradissesse. Itachi levantou uma sobrancelha.

— Você é uma garota inteligente, Sakura.

— E...

— Mas a ANBU não combina com você. Não acho que tenha sido um pensamento espontâneo gerado pela sua falta de objetivo. — Antes que Sakura pudesse interromper, entretanto, Itachi continuou, lhe lançando um olhar de que era sua vez de falar. — No fundo você sabia que era o jeito reunir seu time novamente.

Sakura o olhou indignadamente, mas não retrucou.

— Eu só me pergunto porque não compartilhar essa ideia com Naruto e meu irmão.

— Porque, — Sakura cerrou os dentes. — eu precisava ter certeza de que conseguiria. Que estaria pelo menos dessa vez a frente deles. Pode chamar de egoísmo, mas eu não suportaria ser deixada para trás de novo. E eu tenho certeza que eles fariam isso.

Haruno Sakura não se orgulhava de nada do que estava falando e qualquer um que soubesse ler tão bem a linguagem corporal como Itachi saberia identificar isso.

A kunoichi fechou os olhos e tentou acalmar a respiração que ficara irregular durante sua fala. De repente, ela sentiu um toque tão leve em seu cabelo que pensou inicialmente se tratar do vento. Ao abrir os olhos, entretanto, ela percebeu que se tratava de Itachi segurando delicadamente alguns fios soltos de sua franja.

Sakura olhou surpresa dos dedos que proporcionavam o toque aos olhos do moreno, vendo nada além de uma expressão calculadamente em branco. Ela abriu a boca para falar alguma coisa (e, honestamente, ela não fazia ideia do que) mas Itachi fora mais rápido.

— Você podia ter mentido e eu não teria pressionado. Aprecio a honestidade. — Ele retirou as mãos de seu cabelo rosa e assumiu uma posição de quem nunca os havia colocado lá em primeiro lugar.

Sakura ainda estava ligeiramente boquiaberta com toda a situação quando resolveu falar antes de dar as costas para o Uchiha e prosseguir a caminhada.

— Eu não quero mentir para você. Não faz sentido.

Por estar de costas, Sakura perdeu o pequeno sorriso que Itachi se deixou abrir.

— E, Itachi, — Ela inclinou-se ligeiramente para o lado, deixando visível o sorriso de canto que sustentava. — você fala demais.

— Só com pessoas interessantes.

(...)

Quando Hatake Kakashi já estava mais do que convencido de que sua semana não poderia ficar mais peculiar (esse era o adjetivo perfeito na cabeça do copy-nin), a vida lhe provou mais uma vez de que previsões – ou apelos – de nada adiantavam perante a ferocidade do que o destino gostava de reservar para os meros mortais.

  Era bem verdade que ele gostava de dramatizar as coisas mundanas em sua cabeça para dar um ar maior de entretenimento a vida, mas nenhum exagero que ele pudesse pensar ou até mesmo colocar em palavras sobre os últimos dias deixariam de fazer jus ao já surrealismo de tudo.

Tudo começara com um dia atípico no Quartel General da ANBU.

Kakashi não era mais um membro ativo da organização por vários fatores, desde uma gestão do atual Comandante que ele não conseguia aprovar até mesmo por seu cansaço mental do campo de batalha. Ele havia lutado e sacrificado sua vida por muitos anos em nome de Konoha, e agora tudo o que ele queria era continuar seu trabalho de ensinar as futuras gerações.

Mas ele não deixava de frequentar ocasionalmente o prédio cede da ANBU. Eles tinham o melhor café da cidade, afinal, e ainda saia de graça. Fora isso, Kakashi gostava de confraternizar com seus antigos colegas que sempre que tinham a oportunidade, ficavam esparramados em um dos grandes sofás a disposição dos membros na Sala Central.

Mas quando ele chegara lá naquele dia, ninguém se encontrava no recinto, nem mesmo algum shinobi sentado à mesa lateral preenchendo um relatório de última hora. Não era a primeira vez que isso acontecia em seus anos ativos, mas era um acontecimento tão esporádico que Kakashi não deixara de se sentir desconcertado.

Me resta tomar meu café sozinho.

Ele se dirigiu à mesa de centro, verificou se ainda tinha café em uma das garrafas acima de uma enorme bandeja de prata e se serviu de uma quantidade razoável dele. Kakashi não era uma pessoa diurna e a única coisa que o deixava pronto para o que seria um dia cansativo e interminável de papeladas para preencher, era uma boa caneca de café, até mesmo duas.

O shinobi abaixou sua máscara e provou a bebida; perfeita como sempre (e um dia ele descobriria quem era o responsável por tamanha maravilha e o contraria para ser seu fazedor de café diário).

Kakashi sentou-se em uma das confortáveis poltronas e aproveitou para abrir seu Icha Icha Tatics, desfrutando do silêncio sempre bem-vindo para que gozasse melhor de sua leitura.

Não, Kakashi nunca se cansaria de ler a mesma série sempre e de novo. Icha Icha fora uma recomendação de Uchiha Obito há muitos anos atrás quando este ainda estava vivo e não perdia uma oportunidade de lhe provocar. Ele dissera que o livro seria perfeito para alguém frio e distante como o Hatake.

Kakashi obviamente o ignorara veementemente.

Após tudo o que se passara entre os dois durante a guerra, entretanto, e o eventual desfecho com a morte de Obito, o shinobi começara a ler os livros de Jiraya como a melhor forma de honrar a memória de seu amigo-rival em vida.

Não fora fácil no início. Os livros simplesmente não faziam seu estilo e Kakashi não os conseguia ler sem fazer uma ou duas caretas por página. Mas, no final, ele se afeiçoara a série mais por causa da lembrança de Obito e de como a história soava como um alívio cômico para sua vida tumultuada.

Atualmente ele poderia dizer que apreciava mais pela história em si do que qualquer outra coisa. Os anos realmente amadurecem um homem e o fazem perceber o que é bom de verdade, Kakashi não falhava em pensar.

Hatake Kakashi estava lendo uma de suas partes preferidas (algo sobre os protagonistas se declararem durante uma cena particularmente quente), entre bebericadas de café e outra, quando ele pôde ouvir pela primeira vez uma voz se esticando do corredor até a sala, quase se perdendo no meio do caminho.

Ele não conseguiu reconhecer imediatamente o timbre – o que o levava a crer que não se tratava de um de seus ex companheiros ou até mesmo um dos novatos que ele passara a conhecer de suas visitas – mas à medida que o shinobi ia se aproximando e os passos ficando mais audíveis (e Kakashi pôde perceber que se tratava de duas pessoas, embora o segundo permanecesse calado), a ficha de identificação ia caindo.

Kakashi poderia ter pensado se tratar de Uzumaki Naruto simplesmente pelo jeito como o rapaz falava, mas obviamente o louro não conseguia entrar nas imediações do Quartel por não possuir uma tatuagem da ANBU (que na verdade era um selo, não enfeite).

Então só podia ser Uchiha Shisui.

O timbre dos dois era impossível de ser confundido, mas o tom de voz conseguia ser o mesmo quando ambos falavam sobre coisas que os deixavam excitados. Kakashi majoritariamente vira o Uchiha em missões quando ele ainda era ativo, e Shisui não era um cara de muito falatório em âmbito profissional, mas as poucas vezes que os dois confraternizaram fora dele, fora o suficiente para que Kakashi marcasse em sua mente o estilo de fala de Shisui.

Naruto e Shisui eram tão diferentes, mas tão iguais, que isso chegava a assusta-lo.

— Ela é legal, pode admitir.

— Aa. — Kakashi imediatamente se tornou ultra consciente da conversa ao notar que a segunda pessoa era sem dúvida alguma Uchiha Itachi.

— Eu sabia que você ia gostar dela.

Pausa.

— Sakura é formidável. Sobre o que vocês conversaram?

— Nada.

Hatake Kakashi não sabia por onde começar a pensar.

Shisui era uma presença incomum na ANBU, ainda mais após seu pedido de licença indefinida para tratar de assuntos da Força Policial, mas a de Itachi era simplesmente surreal. Inacreditável.

Ele não ficava no Quartel General, nem mesmo para pegar ou enviar relatórios. Itachi estava sempre em missão – e essa era uma das oportunidades que um agente tinha de vê-lo, se fosse seu companheiro – ou recebendo missões de algum mensageiro em sua própria casa. Uchiha Itachi não colocava os pés naquele recinto, ou pelo menos ninguém o via fazendo isso.

E se ele os colocara naquele dia, pela primeira em quase dez anos de serviço, era porque alguma coisa de especial estava acontecendo ou iria acontecer.

Pera, eles estão falando da Sakura?

Kakashi franziu o cenho. O que estava acontecendo ali?

Os dois Uchiha finalmente entraram na sala e ele soube imediatamente que ambos sentiram sua presença. Kakashi levantou os olhos do livro vagarosamente – como se só tivesse percebido a aproximação dos dois naquele momento – e deu um sorriso afetado, esquecendo-se que não estava com a máscara no lugar.

Ele praticamente se estapeou mentalmente.

Shisui o reconheceu com um sorriso alegre nos lábios e uma saudação divertida. Itachi fez um gesto sutil com a cabeça, olhando-o de forma estranha. Bom, não é como se ele tivesse agido de forma natural, não é mesmo.

— Yare yare, que incomum ver os dois aqui. — Kakashi disse de sua forma arrastada, quase desinteressada enquanto virava a página do Icha Icha.

Mas os Uchiha sabiam melhor.

— Oh, não é mesmo? Eu vim acompanhar o Itachi-kun só, acho que ele queria falar com o Comandante.

Falar com o Comandante, em outras palavras, queria dizer que o que quer que fosse, era sério ao ponto de Itachi não poder resolver com o departamento de Recursos. Interessante.

— Aa. — Kakashi voltou a fingir que lia. — Boa sorte, ele está sempre de mau humor.

Shisui riu e concordou, enquanto Itachi não se pronunciou. Os dois já haviam começado a andar novamente, prontos para saírem da Sala Central pelo outro corredor que dava para o bloco administrativo do Quartel General, quando Kakashi tornou a falar, sem levantar o olhar.

— Algo sobre minha estudante? — Se eles achavam que iriam escapar sem dar um mínimo de satisfação sobre a conversa que ele oh, sem querer ouvira, os Uchiha estavam enganados.

Kakashi não precisava olhar para conseguir sentir o sorriso de canto de Uchiha Shisui e a calma e despreocupação de Itachi, que nem se dera ao trabalho de parar e virar para reconhecer sua pergunta como seu primo fizera. Ele prosseguiu seu caminho, até que estavam presentes no cômodo apenas o Hatake e Shisui.

— Alguém está de mau humor hoje e não é o Comandante. — O mais novo brincou, aproximando-se de seu senpai. — Olha, vai ficar entre nós dois, — Shisui inclinou-se até que sua boca ficasse a poucos centímetros do ouvido esquerdo de Kakashi. — mas acho que o Itachi-kun está interessado na Sakura-chan.

E, assim, Uchiha Shisui desapareceu rapidamente como se nunca tivesse estado na sala para início de conversa, deixando um Hatake Kakashi atônito para trás, sozinho tanto em presença quanto em pensamentos.

Esse havia sido somente o primeiro dia de sua inigualável semana.

Ele passara o resto do dia murmurando Uchiha Itachi está interessado em Haruno Sakura até que todo o conceito começou a soar ridículo e ele não conseguiu mais segurar uma risada que beirava o desespero. Mas no fundo, ele sabia que estava apenas tentando apaziguar o nível da informação.

Shisui poderia ter mentido, mas Kakashi realmente duvidava disso.

O que lhe restava, portanto, era carimbar esse fato como cem por cento verdadeiro ou não e resolver se valia a pena se meter na vida amorosa de sua estudante. Kakashi precisava dar um jeito de observar o que o faria tomar uma decisão.

Era errado intervir? Talvez, mas depois de todo o problema envolvendo Sakura e seu outro estudante Uchiha, ele não seria burro de apenas ver sua garota se meter numa furada que só a deixaria num estado deplorável de tristeza como da outra vez.

Kakashi tinha um fraco por sua estudante feminina que em tudo tinha a ver com a forma que ele lhe abandonara em favor dos outros dois em épocas passadas. O jounin não se orgulhava desse período e hoje em dia fazia de tudo a seu alcance para mudar um pouco a disparidade de tratamento que fora criada ao longo dos anos.

Sakura merecia.

Então, quando Uchiha Shisui apareceu na casa de chá em que ele e Sasuke se encontravam para discutir algumas coisas referente a prova de qualificação da ANBU – cinco dias (ou seis) após o encontro no Quartel General – e convidou os dois para um almoço com oh, Uchiha Itachi, ele e Haruno Sakura, Kakashi não pôde deixar de dramatizar e ver o reencontro como uma intervenção divina.

Deus estava lhe dando uma oportunidade de ouro.             


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Notas finais do capítulo

Putz, o que falar sobre esse capítulo? HIWEHFIWEIFWE
Perdão pela aloprada no ItaSaku mas eu não resisti, a cena tava pedindo pra ser escrita. E espero que vocês não tenham se perdido no pov do Kakashi (qualquer coisa eu esclareço melhor em review), mas basicamente é isso: cena do QG > ele treina com o Sasuke e a Sakura no capítulo 3/4 (e acaba soltando aquele comentário SasuSaku porque ainda tá pensando no que o Shisui disse, srrrsrsrs) > é convidado pro almoço porque acaba que está com o Sasuke.

Bom, acho que preciso falar um pouco sobre o Itachi e o Shisui. Como eu especifiquei na história e até nas notas da fanfic, não acho que o Itachi é esse cara que odeia falar, ama ficar quieto e é frio e bla bla bla, ainda mais depois do Itachi Shinden (tanto a novel quanto os fillers do anime).
Non-mass!Itachi e o WoL!Itachi (imo) partilham da mesma personalidade de gostar de observar, aprender muito com isso mas também gostar de conversar quando é pra ser produtiva e ele ainda não se entende com a pessoa o suficiente para não precisar falar. Creio que o relacionamento dele com a Mikoto, Shisui e Sasuke é tão profundo e bem desenvolvido que eles se entendam por linguagem corporal e olhar. Então, sim, vai chegar ao ponto em WoL que ItaSaku vão "regredir" na comunicação e aí talvez vocês achem que deixou de ficar OOC, mas não é o caso.

Sobre o Shisui, ele é um Uchiha, apesar de ser todo flamboyant e É manipulador. Só que do bem, UHEWUWFHEWIFE. Ele não faz as coisas sem razão, que nem o Itachi. Que nem todos do seu clã. Tenham isso em mente. (E, sim, ele meio que "mentiu" pro Kakashi).

E é isso, desculpem se eu falo demais. Próximo tem ItaSasuSaku e Kakashi + Shisui de voyeur, hoho. ♥