Destino escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 7
Capítulo 6




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Ashley suspira diante da paisagem rupestre. Havia se esquecido do quanto o trajeto de Londres até o Palácio de Birth[1],  a mansão campestre da família Wilkinson, era deslumbrante.

            Ela  dirige tranquilamente pela alameda orlada por uma grande porção de plantações, árvores e jardins. Passa pelos imponentes portões de ferro da propriedade até chegar à entrada principal localizada na frente sul, ladeada por duas pilastras esbeltas e elegantes em cada lado, decoradas com folhas de acanto e no topo, coroadas com volutas, espirais que lembram a forma de caramujo, como suporte para o frontão na fachada do palácio que é feito de arenito já desgastado pelo tempo.

            Estaciona o veículo, fecha os olhos apreciando o clima frio apesar do belo sol que predomina naquela manhã. Esquece por alguns momentos o motivo de estar ali, se deixando levar pelas memórias que tem daquele lugar.

****

            Ashley encara a enorme estátua de mármore do cavaleiro com a espada entre as mãos e sua armadura que fica aos pés da escadaria principal. A menina tenta dar um passo para frente, para tentar ler o que tem na placa, mas o medo da estátua se mexer a impede.

— Esse é Francis Stewart-Wilkinson – explica Murilo assustando a menina de cabelos negros que solta um grito. — Desculpe-me, não quis assustar você. É que o meu avô disse que esse é o nome da estátua... Ah , e que ele é o primeiro de nós.

— Primeiro de nós? – questiona a menina fazendo uma careta. —  O que ele quis dizer?

— Não sei. – responde Murilo erguendo os ombros. Ele estende a mão em direção a menina — Eu me chamo Murilo.

—Eu me chamo Ashley – responde a menina segurando na mão do garoto.

— Ótimo , agora precisamos ir – comenta Murilo puxando a menina pela mão enquanto tenta correr em direção ao pátio.

—Espere, ir para onde? – pergunta a menina patinando com seus sapatos de verniz no chão.

— Se esconder da tia Anna, é óbvio – responde Murilo olhando para os dois lados, antes de passar pela porta da sala principal. — Se vencermos o esconde-esconde, ela disse que dará um pote enorme de biscoitos... antes do jantar.

— Eu não posso – recusa Ashley se soltando, acaba se desequilibrando. Só não cai, pois o menino foi rápido e a segurou novamente — Obrigada – agradece a menina que fica sem graça — Eu não posso brincar agora.

—Por quê? – pergunta Murilo sem entender.

—Porque eu vim com os meus pais conhecer alguém importante. – revela Ashley, séria, ajeitando seu vestido vinho escolhido para a ocasião.

— Oras, você me conheceu. – alega Murilo.

— Você é um menino – retruca Ashley — Minha mãe foi bem clara quando disse que eu ia conhecer alguém importante.

— Aqui estão eles! – fala Anne Scott, a governanta da família Wilkinson apontando em direção as duas crianças.

Atrás da governanta surgem quatro pares de olhos acompanhados por sorrisos aliviados.  Janet e John caminham em direção a filha que abraçam e então ficam atrás dela observando Flávio desarrumar o cabelo de Murilo enquanto Beatriz segura no ombro do filho.

— Pelo visto o destino  já se encarregou de cruzar o caminho de vocês – comenta Beatriz sorrindo.

— Murilo, essa é a Ashley – apresenta Flávio apontando para a menina — Ela é afilhada do papai e da mamãe.

— Ashley – chama Janet atraindo atenção da filha — Esse é o Murilo, filho dos seus padrinhos.

—Vamos, não fiquem tímidos, apertem as mãos – orienta John para as crianças.

—Murilo, ofereça sua mão para Ashley – pede Flávio ao filho.

— De novo? – questiona Murilo para o pai.

—A gente já se apresentou – explica Ashley para John — Agora só falta a pessoa importante.

—Filha, ele é a pessoa importante – informa Janet segurando para não rir.

—Ah, tudo bem – comenta Ashley sorrindo pra Murilo —Agora sim eu posso brincar.

— Ah verdade – afirma Murilo. Ele se vira para o pai — Agora que a gente já se conhece, podemos voltar a brincar?

— Vocês já estavam brincando? – pergunta Flávio, surpreso.

—Sim, nós estamos nos escondendo da Tia Anna – responde Murilo. — Não conte pra ela que nos viu aqui, tá bom?

—Tudo bem. Divirtam-se – responde Flávio dando um tapa leve nas costas do filho.

Murilo estende a mão em direção a Ashley que a segura prontamente e os dois saem correndo em direção ao pátio do Palácio.

— Posso ajudá-la?

 Ashley abre os olhos e se vira em direção a porta principal,  onde uma funcionária da casa  a encara curiosa com um discreto sorriso.

— Posso ajudá-la, madame? – pergunta a mulher mais uma vez.

— Bom dia – diz Ashley se aproximando — Eu gostaria de falar com o Duque de Wilkinson, ele se encontra?

— Infelizmente isso não será possível, pois o duque já partiu para sua residência. – responde a funcionária. — Mas se quiser deixara recado, estarei à disposição.

—Não será necessário. Muito obrigada pela informação – responde Ashley antes de caminhar em direção ao carro lentamente.

 Olha mais uma vez ao redor tentando capturar a beleza do lugar, quando seu telefone toca a fazendo atender prontamente.

— Então, my lady, já conseguiu o que precisamos?

****

Ashley está paralisada com a ligação: Não consegue acreditar que Clementine já está ligando querendo uma resposta do Duque de Wilkinson. Ela respira fundo e então decide responder:

— Olá Vossa Graça, eu achei que fosse me dar um tempo para conseguir falar com o duque...

— E eu dei. Acho que um dia é mais do que o suficiente para qualquer pessoa determinada e que gostaria de ser Diretora Geral de uma empresa cumprir o que pedi.

— Certo...  Porém, o duque não se encontra mais aqui em Cambridge. – responde Ashley , devagar — Fui informada de que ele já regressou ao Rio de Janeiro.

— Tudo bem. Embarca hoje para o Rio de Janeiro , boa viagem – informa Clementine, empolgada.

— Hoje? Como assim? Vossa Graça? Alô? ... Alô? Clementine ? – questiona Ashley nervosa . Ela tira o celular do ouvido e então percebe que sua sogra  já havia desligado.

Agora está feito, pensa enquanto entra no carro. Tenta se convencer de que era o correto , mas a sua mente a condena por ter aceito.

Seus pensamentos são interrompidos por uma mensagem que chegou no celular de Ashley. Ela liga o telefone e no visor aparece:

VIAGEM PARA O RIO DE JANEIRO: INSTRUÇÕES

****

Ashley chega em casa e vai direto para seu notebook , onde abre o e-mail de Clementine As instruções eram bem simples: ela ligaria para os seus padrinhos e se hospedaria na casa deles. Segundo o texto , ela tinha a opção de contar a verdade sobre o motivo da viagem ou não , pois só ela conhecia a família tão bem. Porém , Ashley não poderia contar que aquele era um pedido direto dos Beaufort, ou melhor, da Duquesa de Beaufort.

A jovem ficou ainda um bom tempo relendo a mensagem , enquanto respirava fundo. Não tinha ideia de como iria abordar os seus tios e muito menos se iria ser aceita na casa deles. Para piorar , achava a possibilidade remota do duque aceitar receber qualquer tipo de orientação da afilhada de quem manteve distância durante todos esses anos. Então ela percebe que mesmo se quisesse não teria como entrar em contato com eles, pois não tinha o número de seus padrinhos.

 Aquilo lhe dá uma sensação de alívio, ela pega o telefone para ligar para a duquesa e usar isso como desculpa , quando percebe que no rodapé tem uma observação. Ali estavam todos os números pessoais dos Wilkinson. Ela previu tudo, pensa Ashley sentindo seu estômago ferver.

Ela encara um por um dos quatro números e escolhe um que seria mais fácil de ligar. O número chama, enquanto o estômago de Ashley petrifica de ansiedade. No quarto toque alguém atende e a jovem força a sua voz que sai rasgando sua garganta:

— Boa noite – começa Ashley chutando o horário que estaria no Brasil — Gostaria de falar com a Duquesa de Wilkinson?

— Sim , é ela – responde a voz feminina do outro lado da linha — Quem gostaria?

— Your Grace, aqui é a Ashley Stephanie Mary Campbell Davenport – responde a jovem nervosa. Ela bate com a mão na testa se repreendendo por dizer seu nome completo.

— Olá, querida! Há quanto tempo , que saudades de você –responde Beatriz, surpresa — Como você está?

— Estou bem... Na verdade, estou entrando em contato , pois preciso pedir um favor a vocês – confessa Ashley, receosa.

— O que quiser, meu bem – responde Duquesa de Wilkinson, uma resposta que Ashley não desejava.

****

Escolher roupas para uma viagem de última hora nunca foi o forte de Lady Argyll que tenta enfiar em sua mala peças que sirvam pra qualquer situação.Recorda-se da conversa que teve com sua madrinha , foi mais sobre o que aconteceu nas últimas duas décadas e sobre o casamento.

Quando chegaram no motivo de sua visita, tinha ficado para ser dito pessoalmente, a pedido de Ashley que não levantou a menor suspeitas em Beatriz que se mostrou muito feliz pela visita da jovem a ponto de não se importar com esse detalhe. Escuta leves batidas em sua porta que aos poucos se abre, deixando a figura de sua avó aparecer com um olhar curioso:

— Pretende viajar?

— Sim,  a pedido da Duquesa de Beaufort – responde Ashley fechando sua mala.

— A duquesa lhe pediu para viajar? – questiona Stephanie, desconfiada encostando na cama. — Isso tem a ver  com a L&D?

— Mais ou menos – responde Ashley indo até o banheiro conferir se ficou algo para trás. Volta com algumas escovas — Mas a minha viagem é que determinará se ficou ou não na empresa. E também se irei ou não casar com o Darwin. Ou seja, essa viagem é a minha vida.

— Para onde é essa viagem tão importante? – questiona a duquesa cruzando os braços.

— Para o Brasil – responde Ashley , receosa guardando as coisas em sua nécessaire. — Mas não se preocupe, não tem a ver com eles.

— Só o fato de você dizer isso , significa que eles estão diretamente envolvidos – retruca a Duquesa de Argyll — Ashley, não vá atrás deles. Os Wilkinson só irão magoar você.

— Não, vovó, eles não irão. – solta Ashley,séria. — Na verdade, quem fará isso , sou eu.

****

BOEING 777 Londres com destino a Houston, embarque liberado. Boeing 777 Londres com destino a Houston, embarque liberado...

Ashley encara mais uma vez sua passagem e o passaporte e então respira fundo se virando em direção a Charlotte, a quem chamou para levá-la ao aeroporto já que Darwin estava com sua agenda cheia de compromissos. Ela sorri para a amiga e então a abraça:

— Deseje-me sorte – pede para Charlotte.

—Toda sorte do mundo, amiga – responde Charlotte abraçando Ashley apertado. Ela se afasta segurando a mão da loira e continua — Você vai conseguir cumprir essa “missão Clementine” e tudo dará certo. Tenho plena certeza que de que daqui três dias você já estará de volta.

—Tomara que tudo flua como deve – comenta Ashley respirando fundo.

—Relaxa, Ash. – pede Charlotte sorrindo — Saiba que se você precisar de mais tempo com eles, eu cuidarei de tudo aqui. Ficarei de olho em Clementine e também naquela tal de... May. Vou deixá-la bem longe do Darwin.

—Muito obrigada – agradece Ashley sorrindo.

— É para isso que servem as madrinhas – responde Charlotte. Ela aponta em direção ao portão de embarque — Agora vá e tenha uma boa viagem.

Ashley sorri mais uma vez para a amiga e então se vira em direção ao portão de embarque. Respira mais uma vez e então entrega sua passagem para a funcionária da companhia. Agora só lhe resta esperar para ver o que o destino lhe reserva.

 

 


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Notas finais do capítulo

[1]Inspirado no Palácio de Dalkeith



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