Destino escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 18
Capítulo 17




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A fazenda é imponente com suas construções amplas que se espalham pela planície pantaneira. O trio caminha pelo píer de madeira já desgastada pela força das águas em direção ao homem bronzeado de cabelos castanhos, por volta de seus quarenta anos, usando camisa azul marinho entreaberta deixando seu peitoral aparecer, calça jeans, colete de couro de vaca, bota cano alto de couro, e chapéu de pralana preto. Ele permanece parado com as mãos em sua enorme fivela enquanto observa Murilo se aproximar com suas acompanhantes:

— Gouvêa – cumprimenta o homem em direção a Murilo, sorrindo.

— Carvalho – responde Murilo apertando a mão do homem a sua frente, antes de se abraçarem.

— Você veio bem acompanhado – comenta Carvalho observando as duas jovens.

— Sim – concorda Murilo olhando para trás enquanto estende a mão para Sofia que caminha em direção aos dois sorrindo — Você deve se lembrar da Sofia Peixoto Lima...

— Impossível esquecer – admite Carvalho estendendo a mão para a ruiva que segura e então ele a conduz até seus lábios — A mulher dos cabelos de fogo.

— Olá Carvalho – responde Sofia, vermelha, enquanto sorri — Sempre galante.

— Mas o meu coração é todo seu – responde Carvalho — E a loira?- pergunta Carvalho, curioso

— Ashley Stephanie Mary Campbell Davenport – responde Murilo chamando a Lady de Argyll que se aproxima, séria. - Ou também pode chamá-la de Lady de Argyll, veio de Londres diretamente para conhecer o nosso trabalho.

— Espia, mas que nome chicoso – exclama Carvalho, surpreso. Ele estende a mão em direção da loira — Vossa senhoria é da realeza?

— Não, sou apenas de família nobre, mas sem membros diretos com a família real britânica.Bem como a família do...

— Lady de Argyll esse é Fabiano de Carvalho – interrompe Murilo , não permitindo que Ashley concluísse sua fala, deixando uma leve suspeita de que foi proposital — Dono da fazenda Aconchego e nas terras dele que se encontram os sítios arqueológicos principais para o projeto.

— Muito prazer – cumprimenta Ashley apertando a mão de Fabiano.

— O prazer é meu – responde enquanto se limita apenas a retribuir o toque, diferente do que fez com Sofia. — Se é amiga do Gouvêa, será sempre bem vinda em minhas terras. E por falar em terras... O Juvenal já deixou os cavalos prontos.

— É mesmo? – exclama Murilo olhando para o relógio - Achei que não conseguiria chegar a tempo.

— Chegou bem em cima. Vamos se achegar e não se preocupem com a bagagem não que meus homens vem buscar. – chama Carvalho caminhando em direção a fazenda com Murilo ao seu lado, Sofia do outro e Ashley mais atrás admirando a beleza do lugar.

A fazenda é belíssima tanto por fora quanto por dentro com seus móveis de madeira rústica, seus cômodos arejados, mesmo com as telas de proteção em todas as janelas, além de rolos tampando o final das portas , o que colocou uma ruga no meio da testa de Ashley.

— Por que tem essas telas ? – questiona Lady de Argyll. — E aqueles... tampões nas portas?

— É para evitar mosquito e também que os bichos entrem – informa Murilo sem olhar para Ashley que se assusta com a resposta.

— Bichos? Que tipo de bichos? – pergunta Ashley,preocupada.

— Todos – respondem os três ao mesmo tempo assustando ainda mais a jovem.

Eles continuam andando até chegar em uma enorme cozinha do mesmo estilo que outros ambientes e com um fogão a lenha que deixava o cômodo bem aquecido, além de uma mesa de ponta a ponta farta com várias iguarias jamais vistas pela inglesa, sendo arrumada por uma mulher de cabelos ajeitados em duas generosas tranças. Seus traços indígenas lembravam muito a Xamã que Ashley conheceu na tribo, ainda mais agora sorrindo em direção a loira.

— Essa é a Moara – apresenta Fabiano enquanto observa a empregada se aproximar — Ela é meu braço direito, esquerdo... Meus olhos e ouvidos na fazenda. E responsável por essa comilança toda. Podem comer à vontade.

— Oba, eu já estava morrendo de saudades da comida da Moara – comenta Sofia sentando, empolgada.

— Enquanto isso, nós dois vamos lá – continua Carvalho para Murilo, o conduzindo para fora da cozinha. Eles caminham de volta pelo corredor — Você ficará impressionado com algumas coisas que fizemos desde que foi embora...

— Sente-se , senhora – pede Moara à Ashley que observa os dois indo pelo corredor.

— Só um momento , por favor – pede Ashley que se afasta da mesa , praticamente correndo pelo corredor até chegar na varanda da fazenda , onde para com as mãos na cintura observando Murilo montado em um dos cavalos arrumados por Juvenal. — Duque de Wilkinson, perdoe-me a minha intromissão, mas achei que fossemos analisar o cronograma para amanhã, para evitarmos qualquer contratempo. – alega Ashley.

—Ah... não –  nega Murilo de imediato. — Não se preocupe, pois não faremos isso hoje.

— Your Grace, sabe que não temos tempo a perder – argumenta Ashley. — Pode ao menos dizer quando regressará?Assim terei o maior prazer em esperá-lo para colocarmos o nosso cronograma em ordem.

—  Your Grace? Duque ? – questiona Carvalho, confuso com a formalidade da jovem, já montado em seu cavalo.

— Ashley, eu sei bem dos meus compromissos e sei o quanto de tempo eles levarão. Sua obrigação nessa viagem não é esta. – alega Murilo, sério ajeitando seu cavalo — Descanse, Ashley. Porque a partir de amanhã, eu exigirei o máximo de você.

O duque de Wilkinson puxa as rédeas do cavalo o forçando a sair em disparada, deixando para trás apenas poeira e a silhueta da Lady de Argyll:

— Murilo! – grita Ashley enquanto tenta enxergar por entre a poeira.

Murilo continua cavalgando rápido por entre a planície semi-alagada, sendo acompanhado sem esforço por Carvalho.

— Gouvêa! – chama Fabiano em voz alta. — Ou devo dizer, Duque de Wilkinson?

— O que é? – questiona Murilo,irritado. Ele acalma seu cavalo, reduzindo a velocidade do galope.

— Oxê, eu quero saber que história é essa de  Duque – alega Fabiano

— Isso é uma parte da minha vida que é melhor você não saber. Aliás, não há nada que precise saber – responde Murilo , sério.

— Tudo bem, Your Grace. – zomba Carvalho fazendo uma reverência em cima do cavalo.

— Não me chame assim – pede Murilo, sério.

— Bom, se você chegar primeiro , eu paro de lhe chamar de Your Grace – propõe Carvalho.

— Tudo bem. Saiba que andei treinando – avisa Murilo, mas nem bem fecha a boca e Fabiano sai em disparada — Ei! Isso é trapaça!

— Minhas terras, minhas regras – grita Carvalho.

****

Ashley entra na fazenda irritada,  sem conseguir entender as alterações de humor de Murilo. Uma hora ele a trata tão bem e na outra, a trata com enorme diferença. Nunca se sentiu tão confusa  a respeito de uma pessoa  em toda sua vida. Ela caminha pelo corredor soltando fogo pelas ventas até chegar na cozinha , onde Moara e Sofia conversam, animadas.

— Desculpem-me, mas eu preciso saber onde colocaram a minha bagagem. – explica Ashley tentando manter a calma.

— Está um dos nossos quartos de hóspedes. Eles ficam entrando no primeiro corredor à esquerda – responde Moara se levantando da mesa — Eu levo a senhorita até lá.

— Não precisa – recusa Ashley  — Por favor , fique, eu mesma encontrarei o meu quarto. Obrigada pela dica.

A loira se vira, voltando pelo corredor, fazendo o trajeto o mais rápido possível. Ela começa a abrir as portas, procurando qualquer vestígio das suas coisas, sem sucesso. Já está na terceira porta de madeira maciça, torcendo para que esse seja o seu quarto, quando escuta passos atrás dela:

— Está tudo bem com você? – questiona Sofia com uma expressão, preocupada.

— Está tudo ótimo – responde Ashley tentando abrir a porta que não cede. Ela continua tentando — Eu só preciso... encontrar minha bagagem... meu celular ...e então... ligar para o meu noivo... e me atualizar a respeito do meu... noivado. — finaliza sem que a porta ao menos se mexa.

— Está trancada – avisa Sofia apontando para a porta — Até porque esse é o quarto do Murilo. Aquele – aponta para o anterior — É o meu. O do final do corredor é o do Fabiano. E conhecendo a Moara, tenho certeza que ela escolheu esse quarto para que colocassem suas coisas – ela caminha para a próxima porta — Voi lá, acertei. Aqui estão suas coisas...

— Obrigada – agradece Ashley entrando em seu quarto com uma cama de casal simples de madeira, bem como o resto dos móveis e ao canto sua bagagem. Ela corre em direção as suas coisas, procurando o celular e se surpreende ao ver que está sem sinal, mostrando para Sofia.

— Ah é, Nós estamos muito longe da cidade, então aqui só pega o telefone rural que fica na sala. Ele é o nosso único meio de conversação com o resto do mundo – explica Sofia. — Se quiser, pode usar.

— Obrigada, eu realmente precisarei – agradece Ashley, guardando o telefone de volta. — Desculpe-me atrapalhar você. Pode voltar a cozinha, eu me viro.

—Tem certeza? – questiona Sofia, séria — Você não quer conversar?Comer? Olha, a comida da Moara é de comer rezando.

— Não, eu estou bem. Eu só preciso me adaptar. – responde Ashley caminhando para fora do quarto, sendo acompanhada pela Sofia.

— Se precisar conversar sobre qualquer coisa, saiba que continuo sendo sua amiga. – reforça Sofia encarando a amiga de infância demoradamente — Qualquer coisa.

A ruiva caminha de volta a cozinha enquanto Ashley vai em direção a sala, onde encontra um telefone com uma enorme antena acoplada. Fecha a porta com cuidado, trancando por dentro então disca sua ligação internacional, enquanto espera, tenta calcular que horas já são em Londres.

— Darwin – responde a voz sonolenta do outro lado da linha.

— Sou eu – fala Ashley sussurrando - Recebeu as fotos?

—Sim. Recebi todas – responde Darwin, seco - Espero que tenha mais a oferecer.

— Amanhã começaremos os trabalhos nos sítios arqueológicos. Ele trouxe uma fotógrafa para que eu não precise tirar tantas fotos, o que torna tudo mais difícil.

— Vire amiga dela... ajude-a , sei lá. Faça de tudo para que sua ida não tenha sido em vão, Ashley. E assim que estiver em posse de imagens importantes envie para a nuvem.

— Meu telefone não pega neste lugar. Nós estamos no meio do pantanal, no sentido literal. – explica Ashley.

— Então dê um jeito de ir à cidade sempre que puder. – reforça Darwin, irritado — As minhas eleições não podem ficar nas mãos desse homem. Ashley, não nos decepcione. Agora eu preciso dormir, já passa da meia noite. Ligue-me quando tiver boas notícias.

O telefone fica mudo e o coração de Ashley apertado. A loira coloca o telefone em seu devido lugar e então sai da sala indo direto ao seu quarto. Ela se joga na cama, fechando seus olhos. O silêncio é algo sublime, os únicos sons que a jovem escuta são da natureza e do peso de sua consciência por ter cada vez mais certeza que tomou a decisão errada.


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