Destino escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 14
Capítulo 13




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680583/chapter/14

Mamãe , por que as pessoas quando se beijam, fecham os olhos? – pergunta a pequena Ashley para sua mãe.

As duas estão deitadas na cama da menina terminando de assistir A Bela e a Fera. Janet ajeita os cabelos negros de sua filha enquanto pensa em uma resposta digna para essa pergunta. Ela sorri para a pequena e então diz:

—Porque quando duas almas se amam, incondicionalmente, o ato do amor acontece em forma de beijo e neste instante, as duas se tornam uma e nada mais importa, nem o que está à frente e nem dos lados. Assim fecham-se os olhos, pois naquele momento é onde encontram sua metade.

—Mas nem todo mundo fecha os olhos quando se beija, a vovó não faz isso quando o vovô a beija... – alega a menina fazendo sua mãe rir.

—Sim , é verdade. Mas a alma dela um dia já se uniu a de outra pessoa e ela fechou os olhos...

—A senhora também já uniu a sua com outra pessoa? – pergunta a menina,curiosa.

— Querida, o carro já está pronto – avisa John parado na porta.

—Sim, todos os dias – responde Janet olhando para o esposo.Ela se vira para a filha sorrindo — E sabe o que acontece quando elas se juntam várias e várias vezes?

—Não... – responde a menina encarando a mãe com bastante atenção.

— Elas unem tanto amor, tanto carinho, tanta felicidade, que não cabem mais nas duas pessoas e acabam gerando algo único com todas as qualidades que cada um possui dentro de si.

— E o que é? – pergunta Ashley sorrindo.

— Filho – responde John sentando na cama. Ele toca no rosto de sua filha — E o nosso , fizemos questão de chamar de Ashley.

— Agora o nosso tesouro precisa dormir – informa Janet se levantando da cama. — E quando voltarmos , nós iremos brincar muito.

— Sim, de tudo o que você quiser – afirma John. — Agora feche os olhos e durma.

Ela ajeita a pequena com a coberta , enquanto John desliga a televisão e as luzes deixando apenas o abajur aceso. A mãe pega o ursinho favorito e coloca ao lado de Ashley que o abraça bem forte. Os pais da menina se aproximam e lhe enchem de beijos enquanto a filha fecha os olhos com toda força tentando apenas sentir. Quando ela abre os olhos vê o encontro de almas de seus pais pela última vez.

****

As flores do Ipê roxo caem lentamente, os raios do sol brilham intensamente, o vento toca cada fio de cabelo de Ashley , sussurrando em seu ouvido, mas nada aquilo abala a jovem que apenas sente os lábios de Murilo sobre os seus, um beijo tão doce e puro como nunca sentiu igual. Aquele sentimento traz consigo todas as sensações que teve em sua vida: O primeiro cheiro de terra molhada, primeira mordida em uma fruta, um dia de céu completamente azul, banho de chuva , sentir o vento tocar seu rosto ao andar de bicicleta pela primeira vez , borboletas no estômago, comer chocolate , se emocionar ao assistir um filme, frio na barriga , escutar sua música favorita e o amor de seus pais.

Sua mente procura os beijos trocados com Darwin, recorda-se de todas as vezes que se forçou a fechar os olhos por acreditar que ele era sua alma gêmea. Porém, naquele instante tudo ficou confuso, como pode estar beijando outro homem além de seu noivo? Ainda mais Murilo que é totalmente o oposto do tipo de homem que planejou ter ao seu lado. Foi ele quem a beijou e aquilo era totalmente inaceitável, ainda mais para ela , uma mulher comprometida. Ashley empurra Murilo com toda sua força, desferindo um tapa violento no rosto dele.

— Está tudo bem? – pergunta o senhor , surpreso com a reação da jovem.

— Nunca mais ouse tocar em mim, entendeu? – grita Ashley , nervosa.

Ela corre pela rua, deixando Murilo e o dono do Ipê, paralisados.

— Foi algo que eu disse? –  pergunta o senhor sem entender.

— Não, o problema dela, sou eu – responde Murilo tocando em seu lábio que sofreu um leve corte.

—Você deve ser um problema e tanto – comenta o senhor apontando para o corte na boca do lorde — Espere um minuto, irei pegar um gelo pra você colocar aí, se não vai ficar muito inchado.

Murilo acena com a cabeça aceitando a ajuda, então o bom senhor entra em sua casa novamente. O rapaz de cabelos castanhos senta no meio fio admirando o Ipê enquanto toca seus lábios que a pouco sentiu os de Ashley, o melhor beijo que já deu em toda sua vida. Por um instante teve certeza que ela retribuiu o beijo , mas talvez tenha sido apenas coisa da sua cabeça. Sente-se culpado por ter forçado a situação e promete a si mesmo que jamais tocará em Ashley novamente.

— Aqui está o gelo – informa o velhinho entregando um saco com cubos de gelo dentro.

Murilo se levanta em direção ao senhor. Ele sorri para o velhinho que devolve o celular para o Duque.

—Obrigado pela foto. – agradece Murilo vendo a foto. Só de olhar sente que aquela deveria ser a realidade dos dois. Algo que não irá se concretizar.

—Não sei isso servirá de consolo, mas essa foto é a mais bela que já tirei , durante todos esses anos em que aparecem casais aqui.

— Sinto muito , senhor, mas não somos um casal – confessa Murilo — Na verdade estamos bem longe disso.

— Tem certeza?  – questiona o idoso , surpreso — Olha , a historia de vocês acontece há muitas vidas e a foto deixou isso bem claro.

— Obrigado, por tudo – agradece Murilo se afastando em direção ao carro.

****

O Sol quente é o único companheiro de Ashley que caminha na beira da rodovia. Não tem ideia de como  localizar o caminho de volta, mas esse é o menor problema para ela que apenas deseja voltar para Inglaterra e esquecer todos os Wilkinson para sempre. A inglesa limpa mais uma vez o suor de seu rosto enquanto se arrepende do salto que decidiu usar para a viagem , o terno azul que agora mais para um forno, seu coque se tornou apenas um emaranhado de cabelo. Está tão distraída que nem percebe o carro andando atrás bem devagar.

— Onde você está indo? – pergunta Murilo dirigindo devagar para acompanhar a jovem.

— Para bem longe de você – responde Ashley, brava — De preferência onde você não possa abusar de mim!

— Eu sinto muito – pede Murilo ,arrependido.

— Que bom que pelo menos isso você reconhece – comenta Ashley ainda caminhando.

— Sim , reconheço, agora entre no carro – pede Murilo.

—Você enlouqueceu? – pergunta Ashley, brava, parando no acostamento. Ela se aproxima da janela do carro — Não é tão simples assim. Não é só pedir desculpas e tudo irá ficar bem entre nós. Você ultrapassou todos os limites!

— Tudo bem, Ashley – concorda Murilo — Eu sei disso. Do que mais você precisa, diga e eu farei.

—Quero impor regras – responde Ashley — Eu só continuarei nessa viagem com algumas regras que você deverá cumprir.

— Okay – concorda Murilo — Mas será que pode dizê-las dentro do carro? Não quero que você tenha uma insolação.

— Estou bem aqui – garante Ashley cruzando os braços — Primeira regra: nada de brincadeiras, não quero mais você tirando sarro da minha cara. Segunda regra: Nunca mais toque em mim, nada de beijos, abraços ou qualquer tentativa de afeto. EU sou comprometida e pretendo continuar assim.

— Eu aceito suas regras – afirma Murilo abrindo a porta do carro para Ashley que entra ajeitando as flores no colo e os cabelos. Ela o encara esperando que saia com o carro , o que o Duque não faz —Eu estava tentando apenas tornar essa viagem um pouco mais agradável para nós dois , desejava que você aproveitasse essa oportunidade única de estar em um lugar que nunca pensaria em conhecer , já que esse é um dos seus últimos momentos antes do casamento, o qual você faz questão de lembrar o tempo todo, como se tivesse medo de esquecê-lo ou está insegura com relação a sua decisão. Desculpe-me se ultrapassei os limites com você, foi errado.A única coisa que desejo de você Ashley é ser teu amigo. Aquele beijo não deveria ter acontecido, eu não sei o motivo de ter acontecido e não importa porque se depender de mim isso nunca mais acontecerá. Será que podemos recomeçar?

— Sim,  podemos Murilo – responde Ashley, quase sussurrando.

— Obrigado – agradece Murilo , sério. — Eu quero acrescentar mais uma regra, está bem?

—Claro – responde Ashley sem jeito tentando pensar no que mais faltava entre eles.

— Terceira regra: Nada de se apaixonar. Nem eu por você e nem você por mim, está bem?

— Você está de brincadeira né? – questiona Ashley, irritada — Acabei de falar das regras e já começou a quebrar a primeira.

—Não estou quebrando a primeira. Só estou deixando bem claro que ...

— Eu estou noiva – interrompe Ashley, nervosa —. A não ser... que venha de você, considere a terceira regra cumprida.

—Oh, não se preocupe, se depender de mim, isso NUNCA vai acontecer.  – ressalta Murilo, sério. — Estamos bem ?

—Sim, estamos – repete Ashley calmamente , intimidada com a imponência de Murilo que em nada lembra o rapaz brincalhão de antes.

Murilo então volta dirigir o carro pela rodovia, agora sem qualquer som vindo do rádio, enquanto Ashley olha para o horizonte tentando segurar a vontade que tem de chorar, mesmo não sabendo o motivo de se sentir assim.

****

Em poucos minutos Murilo estaciona o carro na movimentada avenida da capital morena, bem em frente ao enorme casarão antigo pintado de Amarelo com detalhes marrons com letras da mesma cor que escrevem seu nome: Morada dos Baís. Ele desce ignorando totalmente Ashley que desce para acompanhá-lo:

—Fique aqui – pede Murilo sem olhar para a loira que fica paralisada no meio da calçada.

Ele entra no casarão, enquanto Ashley se vira em direção ao canteiro da avenida cheio de enormes árvores e um belo gramado. Os olhos de Ashley ficam vidrados nas Araras vermelhas que estão em um coqueiro em frente ao casarão. Ela admira a harmonia da natureza com a paisagem urbana.Aliás , desde que pisou os pés em Campo Grande a única coisa que faz é admirar.

— Vamos – pede Murilo chamando atenção de Ashley — Consegui algumas informações, mas nada muito específico.

— Aquelas aves são belíssimas- elogia Ashley ainda admirada com as araras.

—São araras – explica Murilo observando o casal de aves vermelhas no coqueiro. Ele sorri lembrando que elas possuem apenas um parceiro por toda a vida, sente vontade de contar isso a Ashley que sorri ao ver as araras brincando e fazendo barulhos, mas se o fizesse quebraria as regras. Ele a encara tentando ficar sério — Venha, My Lady. Informaram que aqui perto existe um mercado onde podemos encontrar algumas coisas.

Murilo conduz Ashley , evitando tocar na jovem, por uma rua estreita e em poucos minutos surge um mercado e ao fundo lojas aberta em formato de ocas com índias vendendo frutas , legumes , verduras e algumas peças de cerâmica. Ashley toca nas peças encantada com a diversidade e riqueza de detalhes.

— É isso que eu pretendo levar para a coleção – comenta Murilo segurando uma escultura de uma índia da fertilidade e entregando a Ashley

— Mas como você irá conseguir essas peças em grande quantidade? – pergunta Ashley virando a peça entre as mãos.

— Eu já fiz alguns contatos com a FUNAI e com os caciques, hoje nós vamos a uma das aldeias apenas confirmar o acordo. Quero que veja também como essas peças são feitas, para que possa analisar a questão dos custos.

— E fica muito longe daqui? - pergunta Ashley, curiosa.

—Uma hora e meia de carro. Vamos, My Lady?

— Claro , Your Grace – responde Ashley deixando a peça no lugar. Ela se vira e Murilo já está caminhando a passos largos de volta para o carro a deixando para trás.

****

Depois de uma hora e meia de viagem contemplando a vegetação local , pois Murilo não pronunciou nenhuma palavra depois que saíram do mercado, finalmente eles chegam a tribo dos Okara -Terena localizada entre a cidades de Terenos e Aquidauana , bem no meio do cerrado. Eles descem do carro e são recepcionados pelos índios , que vestem saias de palha que vão até os joelhos chamada de Xiripá, chinelos de couro Muitos adornos coloridos como pulseiras e enfeites para as pernas feitos pela ligação de sementes, contas ou dentes e ossos de animais, com fios de algodão. Ashley encara Murilo em busca de ajuda para entender o que tudo aquilo significava. Ele se aproxima da jovem, sussurrando em seu ouvido, tentando explicar rapidamente como funciona a sociedade Terena:

— Os Terena são uma sociedade pratiarcal e matrifocal. Na pirâmide social temos os Naati (famílias nobres), Wahêrê Xané (guerreiros e homens livres) e Kauti (escravos ou trabalhadores). A sociedade Terena também é divida de forma cerimonial em duas metades sociais que se complementam, provenientes desse mitologia. Os Xumonó são os considerados bravos, gozadores, enquanto os Sukirikionó são os mansos, sérios. A Aldeia possui dois líderes Unati-Chané, um Xumonó e outro Sukirikionó.

— Na kéyeeye, Murilo? ( Como vai você, Murilo?) – pergunta o Unati-Chané Xumonó que usa um cocar grande com penas de papagaio amarelas em sua cabeça e saia de palha.

— Ako ngóyeeku ( Estou bem) – responde Murilo na língua Terena a qual aprendeu nos últimos anos.

— Kuti koéha pe'ínu? (Como se chama sua irmã?) – pergunta o Unati-Chané olhando para Ashley que  é tocada nos braços por alguns dos Terenas.

—Ashley Campbell Davenport koéha ( Ela se chama Ashley Campbell Davenport),ela está me auxiliando no projeto e veio conhecer como são feitas as cerâmicas. – responde Murilo.

— Prazer em conhecê-la, Aselei – fala em português o cacique Xumonó sorrindo.

— O prazer é meu. – responde Ashley se segurando para não corrigir seu nome — Eu já tive a oportunidade de segurar uma das peças de vocês e achei incrível a resistência, a modelagem em espirais e a pintura de acabamento. Vocês devem ter uma moderna olaria aqui.

— Na ké'eye? (O que você disse?) O que é ... olaria? –            questiona o Unati-Chané, confuso , olhando para Murilo que segura o riso.

— Seria um lugar onde vocês fazem as peças. Vocês já devem ser até industrializados pela qualidade do material que analisei – explica Ashley procurando algum edifício que se destacasse no meio daquela terra vermelha.

— Interessante que pense assim – comenta  Unati-Chané, enigmático. Ele sorri para Murilo —A surpresa será melhor ainda.

— Sem dúvida – afirma Murilo sorrindo. Ele vira para o Xumonó e sai caminhando com o líder indígena —Temos de acertar alguns outros detalhes antes de mostrar a "olaria" para a Ashley.

— Sim, andei falando com as mulheres da tribo e elas levantaram algumas questões importantes para o nosso Koixomuneti e que se for contrário não poderemos negociar as peças. Por favor, me sigam.

— Tudo bem – concorda Murilo ,sério. Já esperando que existissem certas restrições durante o acordo.

O Xumonó caminha com Ashley e Murilo até uma das ocas , onde uma índia de longos cabelos negros os aguarda, usando saia de algodão e um cinto, com o dorso e tórax descobertos. Seus olhos negros encaram Murilo e apesar de ser menor que ele , impõe respeito.

— Essa é Jurecê , nossa Koixomuneti. Na língua de vocês , ela é nossa Xamã, líder espiritual – apresenta o cacique — Koixomuneti , essas são as pessoas que possuem interesse na produção do Ipuné Kopenoti Terenoe.

— Como devem saber a confecção do Ipuné Kopenoti Terenoe é diferente. – começa a Xamã — Nós seguimos o calendário lunar então que fique claro que a produção segue uma regra principal: A primeira é a argila para a modelagem não pode ser coletada em semana de lua nova ,pois o barro coletado em lua nova não produz uma boa cerâmica. Devem também respeitar nossos rituais de proteção e limpeza. Além disso, não poderão criar esse material fora da tribo, pois nosso tempero não está à venda. Concordam?

— Sim – responde Murilo , apressado sob o olhar surpreso de Ashley.

— Então tudo bem – responde Jurecê demonstrando certo alívio. Ela esboça um sorriso em direção a inglesa — Gostaria de ver como são feitas as peças?

— Sem dúvida – concorda Ashley, empolgada

— Vai querer manusear a argila? – pergunta Jurecê.

— Será uma honra – responde Ashley, lisonjeada.

— Se for , precisa se banhar no rio junto com a outras mulheres. – informa a Koixomuneti , séria.

— Por quê? – questiona Ashley , nervosa.

— Para evitar que o seu suor se misture à matéria-prima e prejudique a peça. E se estiver em seu período impuro também.

— Tudo bem... não irei participar – revela Ashley, tristonha. Não trouxe nenhuma roupa de banho para poder participar desse momento tão único.

— Está menstruada, My Lady? – questiona Murilo,sério. — Pois se for isso , realmente não poderá participar, já que na cultura deles , você está impura.

— Não! – nega Ashley, surpresa — Eu não trouxe roupa para tomar banho... Ainda mais em um rio.

— Então é só por desfeita - conclui Murilo falando com Jurecê que fica séria.

— Eu não sei fazer cerâmica – explica Ashley, nervosa.

— Eu te ensino – informa Jurecê puxando a Ashley para dentro do rio.

Ashley entra sentindo a água gelada tocando seu corpo por cima da camisa social branca que usa e a calça da qual se arrepende de estar usando. O maior receio dela nem é o banho , mas a possibilidade de algum animal predador, como jacaré e onça estar a espreita. Tinha visto documentários não muito animadores sobre o pantanal e tomar banho de rio está na categoria perigo. Ela mergulha rapidamente e sai do rio, quase correndo. Nota que Murilo a olha de cima abaixo, fazendo uma leve careta de surpresa.

— O que foi? – pergunta Ashley , brava. Já estava realmente acreditando que Murilo conseguiria ser profissional , mas pelo visto se enganou.

— Lembre-se de não entrar em um rio com roupa branca, elas molham e ficam transparentes. – responde Murilo apontando para a blusa da jovem que fica vermelha na hora tentando tampar seu corpo. — Por mim tudo bem, nada que eu já não tenha visto antes.

— Vamos – chama Jurecê — Está na hora.

Ashley caminha ao lado da Xamã procurando a olaria deles, até que Jurecê para nos fundos da casa de uma das mulheres terena.

— É aqui que fazemos as peças – explica Jurecê. — Agora vamos confeccionar.

Ela entra com Ashley na oca , onde já tem algumas mulheres preparando o barro que é feito a partir da retirada de resíduos como pedras da massa e depois é feita a adição dos chamados "temperos" para regular a plasticidade, como pó de cerâmica amassado e peneirado, conchas trituradas e cinzas de vegetais.

Depois a argila pronta é levada para os roletes, onde irão produzir as peças com cuidado , simplicidade e singeleza , o trabalho é todo feito à mão. Utilizam também torno sem motor. As cores utilizadas são basicamente o preto, branco, vermelho e amarelo e os padrões de grafismo são o estilo floral, pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Aos poucos o barro vai se transformando em peças como vasos, bilhas, potes, jarros, cobras, sapos, jacarés, além de cachimbos, instrumentos musicais e variados adornos.

Jurecê coloca um pouco de barro para Ashley que se ajoelha desajeitada em frente ao rolete. A jovem aos poucos vai aprendendo como criar a peça. Tocar na argila gera um leve momento de leveza, como se estivesse extravasando toda a sua tensão e passando para a peça, algo relaxante. O barro toma conta de toda a mão da jovem que se entrega ao momento.

— Toda peça aqui produzida é única - informa Jurecê terminando sua peça — Ela deve possuir resistência, boa estrutura e beleza. Assim como todas as mulheres.

— Interessante – comenta Ashley terminando a sua peça que fica totalmente desajeitada e diferente das outras.

— Você é uma peça bonita, parece ter boa estrutura, mas não é resistente. Um dia você irá quebrar... – comenta Jurecê saindo da oca.

Ashley acompanha a índia até o lado de fora , onde as mulheres entregam as peças aos homens para realizarem o processo final da confecção. As queimas são feitas em fogueiras a céu aberto ou em rudimentares fornos, usando lenha como combustão. Os indígenas verificam o estado do ciclo da queima tilintando com um pedaço de taquara nas peças. Através do som obtido constatam o estágio da cozedura. A jovem se apressa em colocar a sua primeiro que as outras, esperando ver ela se tornar igual aquelas que viu no mercado .

A cerâmica de Ashley se espatifa no primeiro contato, assustando a jovem ao ver cacos do que era sua escultura voarem para todos os lados. A Koixomuneti segura no ombro dela e então diz:

— Assim como sua peça , você precisa se tornar forte , ou então irá espatifar e machucar a todos em sua volta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ATE QUARTAAAA



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.