Destino escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 13
Capítulo 12




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O vento percorre por todo o carro , irritando Ashley que tenta em vão arrumar seus cabelos , pois Murilo fez questão mais uma vez de deixar a capota abaixada. Ele a observa de canto tentando decifrar o que se passava na mente da inglesa que evita ao máximo virar em sua direção.

— Uma hora você aprenderá a apreciar esse nosso passeio e até sentirá saudades quando voltar para o seu gélido país – comenta Murilo quebrando o silêncio.

—Acho pouco provável – retruca Ashley , irritada arrumando o cabelo mais uma vez — Eu apreciaria muito se você reduzisse a velocidade e ativasse a cobertura novamente.

—Bom , eu não estou nenhum pouco preocupado com seus desejos... Então iremos continuar assim – recusa Murilo sorrindo. Ele então liga o som de seu carro fazendo a inglesa colocar as mãos sobre seus ouvidos, evitando em vão escutar a banda de rock tocar.

Em poucos minutos o Porsche estaciona na vaga reservada , Murilo entrega as chaves na recepção enquanto Ashley ajeita sua bolsa de mão e tenta puxar sua mala pesada em direção a entrada do aeroporto.

— Quer ajuda? – pergunta Murilo parando na frente da loira.

—Bom, se não ter que vender minha alma a você... tudo bem – responde Ashley com dificuldade em arrastar a mala

Murilo se aproxima mais da jovem , tocando suas mãos nas de Ashley que ruboriza, o rosto do Lorde está bem próximo do seu com esboço de sorriso que vai se tornando cada vez mais tentador... As mãos dele conduzem as da inglesa pela mala até que encontram uma alça lateral. O jovem se afasta e então diz:

—Segure sua mala por essa alça , assim ficará mais fácil, rápido e leve de carregar . – finaliza caminhando em direção ao aeroporto com sua mala.

—Espera –  pede Ashley, irritada, chamando atenção de Murilo eu se vira. Ela sopra os cabelos de seu rosto , revoltada— Você não ia me ajudar?

— E ajudei – responde Murilo, tranquilo, apontando para a mala dela — Ensinei você a carregar sua mala corretamente. O que foi?

—É que eu pensei... eu pensei... Quer saber , esquece – finaliza Ashley carregando sua mala e passando por Murilo.

—Você pensou o quê? – pergunta Murilo , curioso , caminhando ao lado dela.

— Bom... – começa Ashley soltando a mala. Ela respira fundo — Pensei que você fosse carregar a mala pra mim.

—Sério? – pergunta Murilo arqueando a sobrancelha — E por que eu faria isso?

— Porque é algo que um cavalheiro faria a uma dama – retruca Ashley , altiva.

—AHAHAHAAAHAHAHAHAHAHAAHAHAA – gargalha Murilo bem alto deixando Ashley sem graça. Ele ri por algum tempo , deixando a jovem com mais raiva ainda, então limpa as lágrimas que escorreram pelo seu rosto — Ashley , Ashley , você é muito engraçada , mas se eu fizer isso ,  estarei roubando de você parte da nossa aventura.

— O que carregar uma mala tem a ver com nossa viagem, ou melhor, aventura? – questiona Ashley , confusa.

— É simples, a partir de agora você fará as coisas por conta própria. Para onde estamos indo não tem muita mordomia, então acho bom se acostumar a fazer tudo para você mesma. – responde Murilo que agora segura nos ombros de Ashley que está chocada — Veja pelo lado bom, agora aprenderá a ser independente...mesmo que forçada a isso.

—Você não pode estar falando sério... –  comenta Ashley , incrédula , gesticulando no ar.

—Sim , eu estou – afirma Murilo .Ele pega sua mala , se vira e começa a caminhar novamente. Dá alguns passos e então se vira, lembrando se algo. — E só para ressaltar: A nossa aventura está apenas começando...

O lorde se vira novamente , caminhando sem se importar com a jovem. Ashley respira fundo ao escutar as últimas palavras, definitivamente aquela será a pior viagem de sua vida.

****

Apesar de toda a dificuldade que teve com sua mala, Ashley conseguiu fazer o seu check-in a tempo de entrar no avião e tal qual sua surpresa ao ver Murilo sentado em seu lugar no corredor.

— Com licença, mas esse é o meu assento – informa Ashley segurando sua raiva.

— Eu decidi trocar de lugar com você – comenta Murilo afastando um pouco suas pernas para o lado e dando passagem a loira.

—Ah, você então decidiu por mim que eu não irei sentar no meu lugar? – pergunta Ashley transtornada com petulância do lorde.

—Ahhhhh... sim – responde Murilo sorrindo —. Eu sei que você irá amar ficar na janela e apreciar a vista.

Ashley respira fundo , passa por Murilo, não sem antes empurrar as pernas dele com força e então senta no assento que seria dele. Ela vasculha sua bolsa de mão procurando algo deixando Murilo curioso. Ashley sorri triunfante ao tirar sua venda para dormir .

—Sério? Você não querer mesmo apreciar a vista? – pergunta Murilo, sério , apontando para a janela.

— E pelo visto você vai odiar isso , não é mesmo? Ver alguém contrariando os seus planos, mexe com seu ego – comenta Ashley sorrindo , irônica — Então saiba que a única coisa que eu quero nesse avião é dormir em paz e no escuro. Até a chegada – finaliza colocando a venda sobre os olhos.

****

O avião chacoalha fazendo Ashley despertar, ela tira a venda e abre seus olhos lentamente, encontrando o belo céu azul iluminado pelo sol. Lá embaixo árvores com flores roxas , amarelas, brancas e rosas tomam conta da vegetação e também estão dentro da charmosa cidade que vê do alto. Sakuras? No Brasil existem Sakuras? E ainda de outras as cores ? Pergunta-se Ashley tentando se aproximar mais da janela se não fosse o peso em seu ombro esquerdo atrapalhando sua mobilidade.

Ela se vira e encontra Murilo dormindo , aconchegado em seu ombro , tranquilamente. Em nada lembra aquele homem inflexível , debochado e irritante que ela conheceu. Os cabelos castanhos de Murilo caem em sua testa , desgrenhados e sua expressão está calma, poucas rugas marcam o rosto do rapaz que hipnotiza Ashley de tão ponto que ela ergue sua mão para tocar no rosto do rapaz adormecido.

—Atenção , senhores passageiros, sentem em seus lugares e apertem os cintos para o pouso em Campo Grande , Mato Grosso do Sul. Atenção , senhores passageiros, sentem em seus lugares e apertem os cintos para o pouso em Campo Grande , Mato Grosso do Sul... – avisa a comissária de bordo.

Murilo se espreguiça abrindo os olhos e então percebe que dormiu encostado em Ashley que ainda o encara. Ele se afasta dela ,arruma o cinto e olha para frente, mas não consegue ficar muito tempo assim e volta a se virar em direção à Ashley que está com os lábios levemente abertos:

— Ahmm... Você está bem? – pergunta Murilo enrugando a testa. — Olha ,se foi por eu ter dormido em seu ombro , desculpa , REALMENTE não foi a minha intenção.

—Não! – grita Ashley assustando Murilo — Não , não foi isso, apesar de ter sido extremamente inapropriado também. Eu estava... esperando você acordar, pois gostaria de saber como pode no Brasil ter Sakuras... até onde eu sei o clima local não é propício para essa árvore.

—Sakura? Ashley, você andou bebendo no avião? – questiona Murilo, confuso.

— Claro que não! Estou dizendo isso pelo simples fato de estar vendo ela daqui de cima, ou uma árvore que parece com ela. – responde Ashley , ofendida, olhando pela janela novamente.

Murilo solta seu cinto e investe seu corpo contra o de Ashley tentando enxergar as árvores que ela está falando. Ele fica tão próximo que a jovem precisa virar o rosto para seus lábios não tocarem o pescoço do rapaz que continua tentando observar a vista.

O avião chacoalha mais uma vez empurrando Murilo contra Ashley, o rapaz coloca a mão na poltrona para se segurar enquanto seu rosto para de frente para o dela que respira fundo com a aproximação, seus lábios se entreabrem automaticamente enquanto seus olhos se encontram por um instante sem qualquer raiva sendo expressa entre eles. Ashley fecha seus olhos apenas escutando a respiração ofegante e sincronizada de ambos, já consegue sentir os lábios de Murilo sobre os seus...

— Ipês... – sussurra Murilo fazendo Ashley abrir seus olhos.

— O quê? – pergunta Ashley, desnorteada.

—São Ipês e não Sakuras. As árvores que você viu lá embaixo são chamadas de Ipês – explica Murilo tocando em uma mecha do cabelo de Ashley que ruboriza.

— Senhor , por favor, peço que retorne ao seu lugar, pois já iremos pousar – pede a comissária.

Murilo se afasta da jovem , sentando em seu lugar e colocando seu cinto novamente.

— Obrigada – agradece Ashley com a voz rouca — Por me explicar.

— De nada – responde Murilo sem olhar para ela — Se quiser levo você para ver uma de perto, quando aterrissarmos.

— Adoraria – responde Ashley com um leve sorriso. Murilo ri fazendo com que a jovem colocasse uma ruga de curiosidade em sua testa — Do que está rindo?

—Bom , esse é o primeiro diálogo que tivemos sem você estar na defensiva– responde Murilo encarando Ashley.

— Eu , na defensiva? – pergunta Ashley, ofendida. Ela aponta o dedo em direção ao Murilo — Talvez eu esteja assim por sua culpa.

—Minha culpa? – pergunta Murilo apontando para si, rindo.

—Sim, se você não ficasse sempre pregando peças em mim , me boicotando ,eu não precisaria estar sempre na defensiva. – acusa Ashley , irritada.

— Se você não se achasse a rainha da cocada preta, as coisas poderiam ser diferentes – alega Murilo.

— Eu não sei o que significa , mas eu não sou essa tal rainha aí, saiba que um bom anfitrião...

— Avião , por favor, pouse logo – resmunga Murilo.

— Viu só, como você é ! – solta Ashley, brava. Ela começa a ajeitar suas coisas — Quer saber, eu também não vejo a hora do avião pousar e eu ficar longe de você.

— Sinto decepcionar, mas nós ficaremos um bom tempo juntos – avisa Murilo, sério.

— Você entendeu o que eu quis dizer – retruca Ashley fechando sua bolsa.

A jovem observa a comissária finalmente abrir a porta de saída. Mesmo a jovem achando falta de educação, praticamente corre em direção a porta passando pelos passageiros que resmungam com sua ação desenfreada. Murilo levanta calmamente caminhando até a saída enquanto observa Ashley pisando firme em direção as malas, a jovem tenta puxar sua mala com toda força, mas não surte efeito.

 Ela arruma o cabelo atrás da orelha, respira fundo e tenta mais uma vez , fazendo surgir nos lábios de Murilo um leve sorriso, por mais que não queira admitir, ela faz seu coração disparar. Ele então acelera o passo e passa por ela , segurando a mala junto com Ashley, suas mãos se tocam brevemente, então a jovem se afasta deixando o lorde retirar sua mala.

— Aqui está, My  Lady – diz Murilo deixando a mala dela no chão e se virando para pegar a sua sem dificuldade.

— Obrigada , Your Grace – agradece Ashley pegando sua mala do chão.

— Vamos , temos um longo caminho pela frente – comenta Murilo caminhando em direção a locadora de carros localizada em um dos guichês.

Em poucos minutos, Murilo já está com a chave do carro alugado nas mãos , abrindo o porta mala para colocar as suas coisas e as de Ashley que agradece pelo carro escolhido não ser um conversível.

— Eles não tinham conversível disponível – informa Murilo ao ver a cara de satisfação da jovem. Ele abre o carro deixando a loira entrar, o fazendo em seguida. Ele coloca seu pendrive no som , sorrindo para a jovem que revira os olhos — Mas isso aqui não pode faltar.

O jovem Wilkinson dirige o veículo para fora do estacionamento, mas para a surpresa de Ashley em direção oposta a cidade , como mostra a placa de sinalização. Ela o encara, curiosa com o sentido tomado por Murilo que não parece se importar.

 Então Ashley olha para frente admirando o sol tomar sua posição para em breve formar um pôr do sol . Murilo sai da rodovia e entra em um bairro , vira em algumas ruas e então para em uma deserta. Ashley não entende bem a razão, aliás, ela conclui que nunca entende as ações do Duque , já atualizando mais uma palavra para descrevê-lo : impulsivo.

—  Venha – ordena Murilo abrindo a porta do veículo para a jovem.

A jovem sai do carro já irritada, com a forma como ele falou até que repara no olhar admirado de Murilo em direção ao final da rua , Ashley olha em direção e encontra a razão do encantamento do rapaz: Ali no meio das casas urbanas um imponente  Ipê rosa.

Ela nunca tinha visto um espécime tão belo em toda sua vida. A árvore deve ter pelo menos uns 20 metros, de acordo com a jovem inglesa, sem folhas , apenas flores rosas juntas em cada galho que parecem formar belos buquês por toda sua copa. No chão , as que caíram formam um belo tapete sobre o cimento da calçada. Ashley caminha em direção ao Ipê que parece crescer cada vez mais, ela se ajoelha e pega algumas flores belas e frágeis. Lágrimas caem do rosto de Ashley com tanta maravilha de uma única árvore. Murilo admira a beleza da imagem de Ashley com as flores de Ipê. Ele se aproxima devagar com receio de assustar a jovem que está pela primeira vez desde que chegou, relaxada. O Duque tenta enxergar o topo da árvore enquanto Ashley está no chão, deslumbrada:

— Eu lembro a primeira vez em que fui a apresentado a esta senhora, fiquei assim como você, encantado. Aliás, todas às vezes em que venho aqui , fico assim. Ela sempre surpreende. – comenta Murilo tocando no tronco — Assim como as Sakuras,floresce apenas uma vez ao ano.

— Que triste – exclama Ashley se levantando —Uma beleza dessas deveria ser vista mais e mais vezes – abraça a árvore com os olhos fechados —Sempre e a todo o momento.

— Eu pensava dessa forma – comenta Murilo também abraçando a árvore. Seu rosto fica de frente para o da jovem , mas dessa vez não tão perto — Mas uma pessoa me explicou uma vez que não devemos querer que as coisas sejam do nosso jeito. Tudo tem um motivo...

— Quem foi essa pessoa? – pergunta Ashley encarando Murilo.

— Meu pai – responde Murilo com a voz embargada. Ele sorri e continua — No caso dessa árvore , ela representa uma beleza no meio da seca, em um momento bem crítico desse bioma, uma esperança de dias melhores , suas flores vivas dão o incentivo necessário... Ela se prepara durante o ano todo para nos lembrar de que sempre haverá esperança de dias melhores.

— Verdade? – questiona pergunta Ashley admirando o tronco até o topo. — É isso o que ela representa?

— Para mim , sim. – responde Murilo fechando os olhos. Então os abre e encara a loira — E para você? O que ela representa?

— Boa tarde– cumprimenta um senhor com a aparência de 70 anos. Ele caminha devagar em direção aos jovens , os fazendo se afastar da árvore alheia.

— Boa tarde – respondem os dois. Ashley sorri em direção ao senhor e continua — Desculpe-me pela intromissão, mas a sua árvore é belíssima.

—Obrigado , jovem – responde o senhor , bondoso. — Quer uma lembrança? Elas não duram muito, mas fazem valer a pena.

—Bom , eu adoraria – responde Ashley , emocionada.

O senhor caminha de volta para sua casa e em poucos minutos retorna carregando uma escada com dificuldade, Murilo ao ver a cena , vai até o senhor e carrega a escada até a árvore.

—Poderia me ajudar e cortar um dos galhos bem rente para dar um a essa jovem? – pergunta o dono da árvore a Murilo.

—Claro que sim – responde Murilo subindo na escada.

—Sabe, houve um tempo que várias jovens pediam um galho desse para colocar em seu buquê de casamento. E pelo seu olhar , você também está para se casar.

—Sim, estou – confessa Ashley erguendo a mão com a elegante aliança de noivado da família Beaufort. Por algum motivo não consegue soltar um sorriso espontâneo com seu gesto.

Murilo desce com um galho em formato de buquê e entrega nas mãos de Ashley que fica deslumbrada.

—Querem tirar uma foto com as flores? – pergunta o senhor.

—Se possível – responde Ashley.

—Dêem então uma câmera ou um desses telefones que vocês têm hoje tira foto – pede o senhor — Eu tiro para vocês.

Ashley entrega o dela para o senhor enquanto Murilo explica onde deve apertar para tirar a foto. A jovem se posiciona na frente da árvore com seu buquê de Ipê.

—Obrigado , jovem , agora vai lá ficar com sua noiva – pede o senhor.

—Mas ela não... – começa Murilo.

—Vá – ordena o homem.

Murilo caminha sem graça em direção a Ashley que não entende nada.

— O que foi? – pergunta Ashley, curiosa.

—Aparentemente , somos noivos – responde Murilo.

— O quê? – pergunta Ashley, chocada.

—Sorria e finja que é isso mesmo , ou é bem capaz de sairmos daqui sem nada. E você quer as flores, não quer?

—Claro – responde Ashley se virando.

Murilo tenta se ajeitar atrás da jovem, passa sua mão pela cintura dela que praticamente salta com o gesto, abraçando em seguida. Ela tenta se concentrar com as flores , mas é impossível com cada centímetro do corpo de Murilo tocando o seu.Porém ,não está desconfortável, mas sim como se ali fosse o seu lugar.

— Eu definitivamente trocaria as flores do meu casamento por essas – solta Ashley tentando aliviar a tensão.

— E o noivo, você trocaria?- pergunta Murilo , fazendo Ashley virar em sua direção.

— Digam X! – pede o senhor.

Ashley se vira em direção a Murilo que analisa cada centímetro da imensidão azul dos olhos da jovem que se mantém hipnotizada pelos lábios do Duque se aproximam dos seus. Ela fecha os olhos entreabrindo seus lábios para receber o beijo de Murilo.


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