Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 5
Capítulo 4




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Malú está sentada olhando para a televisão. Tenta assistir ao noticiário enquanto algumas mechas de seu cabelo caem em seu rosto, pescoço, braços e pernas. Seus cabelos cortados a incomodavam como se fosse grama.

"Já terminou, tia Aline?"- pergunta Malú através do aplicativo em seu tablet que seu pai havia lhe comprado. Mesmo fazendo cara feia, ele tinha acertado em ter feito aquilo.

—Pensa que é fácil consertar seu cabelo? - pergunta Aline depois de ler o que está escrito — Você praticamente deu perda total nele.

 “Meu cabelo não é um carro" - responde Malú.

— Mas o estrago foi o mesmo - rebate Aline cortando mais uma mecha — Se ficar paradinha em dez minutos eu consigo te deixar... Razoável.

— Malú - chama Thiago entrando no quarto. Em seu rosto tinha um grande sorriso — Tenho uma surpresa para você.

Ele vai até a porta e a abre, colocando no rosto de Malú um sorriso que ela não esperava surgir tão cedo. Elas vieram, pensa a jovem feliz.

Renata é a primeira entrar, com sua pele morena e seus cabelos cacheados, no quarto esbanjando sua simpatia. Letícia vem logo em seguida ajeitando seu cabelo Chanel loiro e seu jeito tímido. Aquelas eram as duas melhores e únicas amigas de Malú.

—Olá estranha - diz Renata, sentando na cama — Quer dizer que veio filar boia aqui no hospital?

 “ahahaha, engraçadinha" - responde Malú pelo tablet.

— Oi, Malú – cumprimenta Letícia abraçando a amiga — Como você está?

 “Sem voz" - responde Malú —"Fora isso, eu estou bem apesar de tudo".

— Bom, para mim, nada mudou. As nossas melhores conversas sempre foram escritas - diz Renata sorrindo — Agora a Tia Aline não vai mais pegar no nosso pé se continuarmos nos falando pelo celular.

— Infelizmente - resmunga Aline revirando os olhos — Mas em breve isso acabará e ela não vai ter essa desculpa.

 “Veio mais alguém com vocês?" - pergunta Malú.

—Veio quase todo mundo da escola, mas o hospital não liberou a entrada - responde Letícia.

— E quando ela diz todo mundo, É TODO MUNDO - reforça Renata, piscando para Malú que fica vermelha imediatamente.

— Thiago de Almeida? - pergunta a enfermeira entrando no quarto — Os resultados já saíram e chamaram o senhor para dar o parecer.

—Eu também vou - responde Aline largando a tesoura e parando ao lado de Thiago.

— Desde que não faça escândalo - diz Thiago saindo pela porta.

—EU não faço escândalo - argumenta Aline indo atrás dele irritada — Já você... Pega o bonde andando e quer janela.

— Desculpa, mas você só está indo porque eu autorizei - responde Thiago já fora do quarto sendo ouvido pelas meninas.

— Nossa quanta generosidade - ironiza Aline. -

—Nossa... Eles estão bem bravos um com o outro - diz Letícia sorrindo.

"Feito cão e gato" - explica Malú — "Tem dias que é pior”

— É como dizem: Os opostos se atraem - diz Renata maliciosa — Toda essa carga de ódio pode se transformar no amor mais ardente.

“Ah tá, você só esqueceu que a minha tia ama o Ícaro e que o Thiago está noivo”.

— Não há barreiras para quem se ama - diz Renata deitando na cama, com as mãos no peito como se tivesse sido atingida por uma flecha do cúpido.

—E por falar em amor... - começa Letícia — O Pedro veio te ver, mas não deixaram entrar.

— “Ainda bem. Não quero que ele me veja assim” - confessa Malú tocando nos cabelos.

—Mas você ficou até bonitinha assim. - responde Renata mexendo no cabelo da amiga - lembrou o cachorro da minha mãe quando foi tosado em casa.

“Cala a boca, Re" - responde Malú jogando o travesseiro na amiga.

— Eu concordo com a Renata - diz Letícia — Não a parte do cachorro, mas seu cabelo ficou legal assim.

“Você diz isso porque adora cabelo curto, Lele” - diz Malú, mostrando a língua em seguida — "Obrigada por estarem aqui".

— Amiga é para essas coisas - responde Letícia abraçando a amiga.

—E também para começar guerra de travesseiros - responde Renata segurando o travesseiro — Guerra de travesseiros!

M

Aline respira fundo, enquanto espera, ao lado de Thiago, algum médico entrar na sala.

— Você é impaciente demais – reclama Thiago, sério.

— E você não me parece preocupado com a situação da Malú - retruca Aline.

—EU não estou preocupado? - questiona Thiago — Eu quero levá-la para Curitiba o quanto antes para resolver essa situação e não estou preocupado? Faça-me rir.

—Você quer levar sim, mas por pensar apenas em você - argumenta Aline.

— Pense o que quiser, não estou nem aí para você. - diz Thiago se ajeitando na cadeira.

— Se você pensa que vai levar a Malú para Curitiba, está enganado. Eu vou até a delegacia acusar você por sequestro- ameaça Aline com dedo próximo do rosto de Thiago.

—Acha mesmo que eles vão te escutar? Eu sou o pai dela, isso não é sequestro - diz Thiago.

— Eles vão me escutar quando eu contar que você era um pai ausente... Que nunca se importou com ela.

—Ela recebe uma pensão mensal, a casa em que você mora tem dinheiro que eu dei a ela. Não sou pai um negligente - retruca Thiago.

—Mas não era você quem dava - revida  Aline que logo em seguida o encara surpresa— E como sabe disso?

— Quando declarou guerra contra mim, fui atrás de tudo. Eu sei do acordo da Anna com a minha mãe. Sei que posso tirar a Malú quando quiser daqui, pois está autorizado pela Anna - responde Thiago — Acredite essa você não irá vencer.

— Bom dia - diz a médica, interrompendo o diálogo ao entrar na sala. Ela estende a mão em direção a Aline e depois ao Thiago e se apresente — Meu nome é Adriana, sou fonoaudióloga e estou acompanhando o caso da Maria Luísa.

—Bom dia - respondem os dois.

—Os resultados dos exames saíram e as cordas vocais de Maria estão perfeitas sem nenhum trauma. O otorrinolaringologista também não encontrou nada que justifique a afonia da jovem.

—Isso se significa...? - pergunta Aline confusa.

— Que eles não têm a menor ideia do que a Malú tem - responde Thiago irritado.

— Bom, não é bem assim, senhor Thiago. Nossa equipe está fazendo de todo o possível para encontrar a causa desse problema. 

—Pelo tempo que ela está aqui já deveriam ter encontrado - resmunga Thiago.

— Vocês não possuem nenhuma ideia do que possa ser? - pergunta Aline, ignorando Thiago.

— Eu acredito que seja um trauma psicológico. Ela teve alguma mudança na rotina, algo que possa ter abalado seu estado emocional?

—A mãe dela morreu recentemente - responde Aline cabisbaixa.

—Entendo. - diz Adriana — Eu não sou psicóloga, mas existem casos de pessoas que sofrem traumas psicológicos que interferem no corpo fisicamente. Ninguém reage da mesma forma a perdas como essa. E eu acredito que possa ter acontecido isso com a Maria Luísa. Se ela possuir aversão às mudanças, a situação dela poderá se complicar ainda mais.

—O que a senhora recomenda? - pergunta Aline curiosa.

—Que ela comece a fazer terapia. - diz Adriana.

— E se isso não resolver? - questiona Thiago.

—O que se pode fazer é tentar tudo o que for possível. Para que as cordas vocais não se atrofiem, seria interessante que ela também realizasse um tratamento preventivo.

—Recomenda algum psicólogo aqui em Minas? - pergunta Aline.

— Existem excelentes psicólogos aqui - diz Adriana.

—Não será necessário, ela fará esses tratamentos em Curitiba. - explica Thiago — Quando ela terá alta?

—Só estava esperando conversar com vocês para assinar à alta.

—Ótimo - responde Thiago se levantando. Ele ajeita seu terno cinza e sai da sala.

—Obrigada por tudo - responde Aline se levantando.

Ela sai da sala apressada, caminha até Thiago e para em sua frente.

— Você não pode levar a Malú de BH. - diz Aline — Você escutou o que a doutora disse, ela tem aversão a mudanças.

—Ela disse que pode ter não que tem. Sem contar que ela não é psicóloga, então tenho de desconsiderar esse diagnóstico dela. Sem contar que a Malú vai para Curitiba comigo.

— Vamos ver o que ela acha quando descobrir o crápula que você é - diz Aline caminhando em direção ao quarto.

—Aproveita e conta para ela que vocês a vendaram para a minha família por dinheiro - diz Thiago andando tranquilamente.

— O quê? - pergunta Aline se virando— O que foi que você disse?

—Isso mesmo que você ouviu... Conte para a Malú que você e a Anna a venderam... Ou acha mesmo que a minha filha vai aceitar que o acordo em que a minha família fica detentora da guarda foi somente pensando no que é melhor para ela? Ela vai ficar com raiva de você... E muito mais da Anna. Ela vai sentir tanta raiva por saber que a mãe foi capaz de fazer isso com ela que vai desejar ter ficado com a minha família desde o início. Você já teve coragem de contar para ela que o Ícaro é meu irmão?

—Acha que pode me chantagear? - questiona Aline irritada — Você não teria coragem de colocar a Malú contra a Anna...

— Isso só depende de você. - diz Thiago se aproximando de Aline. Ele toca na mecha dos cabelos castanhos da mulher e continua — Eu disse que sou capaz de tudo para ter a minha filha de volta, mesmo que para isso eu tenha de ir contra aos meus princípios.

— Eu achei que você fosse igual à sua família, mas você... Você é pior que eles. - diz Aline se afastando de Thiago.

— Pela Malú eu sou capaz de tudo — grita Thiago sem ter certeza que Aline o escutou.

M

Malú já trocava a roupa de hospital pela sua, quando Aline entrou no quarto. Ela aparenta estar nervosa, preocupando a jovem. Maria Luísa vai até a cama, pega seu tablet e escreve:

“Está tudo bem?"

— Eu tenho uma coisa para te contar - diz Aline chorando. Ela abraça Malú e continua— Eu sei que prometi a sua mãe nunca fazer isso, mas preciso que saiba sobre as pessoas com quem você irá morar.

“Com quem vou morar? Pensei que fosse morar com você" - diz Malú.

—Não será possível... Ainda. Confie em mim, não irei desistir de você. Agora mais que nunca, sei que preciso te proteger.

“O que tem para me dizer?" - pergunta Malú curiosa.

Conte para ela que vocês a vendaram para a minha família por dinheiro...

— A sua família paterna... - começa Aline tentando ignorar seus pensamentos — A sua mãe me prometeu nunca fazer nada que prejudique seu julgamento com relação a eles.

Acha mesmo que a minha filha vai aceitar que o acordo em que a minha família fica detentora da guarda foi somente pensando no que é melhor para ela?...

—Eu preciso que saiba...

Ela vai ficar com raiva de você... E muito mais da Anna.

“Sim?" - diz Malú confusa.

Ela vai sentir tanta raiva por saber que a mãe foi capaz de fazer isso com ela que vai desejar ter ficado com a minha família desde o início.

— Eu quero que tome cuidado - diz Aline — Fique sempre com o pé atrás. Eles não são... Quando estiver lá vai perceber que nada é o que parece. Todas nós fomos enganadas. 

“Tudo bem" - diz Malú abraçando a tia.

— E saiba que eu e sua mãe sempre te amamos. Mesmo que em algum momento as nossas ações pareçam ser ruins, saiba que foi tudo por você. Sua mãe fez tudo por você.

“Eu não estou entendendo..." - diz Malú confusa.

— Um dia eu irei contar tudo, mas hoje não posso. 

“A senhora irá comigo para Curitiba?" - pergunta Malú.

— Ainda não Malú. Mas quando eu for, será para buscar você. Farei de tudo para buscar você.

—Está pronta, Malú? - pergunta Thiago da porta. As duas o encaram assustadas, pois não tinham notado sua presença.

Maria Luísa balança a cabeça afirmando, enquanto Aline se afasta da jovem. Ele entra no quarto e pega a mala da filha e sai, sendo seguido pelas duas. Os três entram no carro estacionado no hospital e vão para a casa de Aline.

Assim que ele estaciona, tenta dar um beijo na bochecha de Malú que se esquiva, ainda sente raiva de Thiago e de toda a situação. Aline desce rapidamente, deixando os dois sozinhos no carro.

— Venho te pegar amanhã cedo para irmos embora. - avisa Thiago. Ele olha para a filha e continua tentando encorajá-la — Tenho certeza que sua mãe iria gostar que você fosse para Curitiba.

Malú o encara com mais raiva do que já estava ele não devia ter citado sua mãe. Ela sai do carro e bate a porta com toda sua força.

M

Malú desperta e olha para sua janela. Estão entrando os primeiros raios de sol o que faz levantar ir para o quintal. Lá estão todos os lírios que sua mãe cultivava, era um belo jardim. Ela senta no meio deles, tocando nas flores e sentindo seus perfumes.  Lembravam o cheiro de sua mãe. Ergue o rosto em direção à luz do sol e deixa suas lágrimas escorrerem.

De repente a luz que tocava seu rosto desaparece e uma sombra toma seu lugar, fazendo Malú abrir seus olhos. 

—Sabia que era você - diz Malú sorrindo. 

Anna senta na frente da filha com um sorriso nos lábios e toca seu rosto. Pega um de seus lírios e coloca na orelha de Malú, ajeitando seu cabelo. 

—Estou sem sono - diz Malú.

—Por que perdeu o sono? - pergunta Anna.

— Estou indo embora - diz Malú entristecida — Não vou conseguir mais te ver. Sinto tanta sua falta.

—Eu também sinto a sua, meu anjo - responde Anna abraçando a filha - Mas não se preocupe, sempre poderemos nos ver.

—Como? - pergunta Malú limpando o rosto — Eu não vou mais poder ver o seu jardim... E nem seu túmulo.

— Eu estarei aqui - diz Anna tocando no peito da filha - Dentro do seu coração e quando quiser falar comigo é só me chamar. Nunca irei abandonar você... Nunca. Você sempre poderá me encontrar em seus sonhos.

—Eu te amo, mamãe -diz Malú deitando no colo de sua mãe — Te amo muito.

—Eu te amo minha filha, além da vida - diz Anna tocando nos cabelos da filha — Agora tente dormir.

— Não quero que você desapareça - diz Malú lutando contra o sono.

—Não irei.

Malú sente alguém tocar em seu ombro, sacudindo levemente. Ela abre seus olhos e levanta do gramado, sendo ajudada por Aline. 

—Insônia... - diz Aline segurando a jovem pelos ombros — Venha não se preocupe tudo ficará bem.

Malú caminha em direção à casa ao lado da tia, queria poder responder algo para ela, mas naquele momento era impossível. Passa a mão perto da orelha sentindo o lírio o que lhe faz abrir um sorriso tímido.

M

A viagem de Belo Horizonte à Curitiba não foi muito demorada, mas para Malú foi um martírio. Thiago fazia de tudo para conversar com ela que evitou ao máximo até o ponto de mentir que estava dormindo. 

Assim que chegaram ao aeroporto foram recepcionados por um grande número de fotógrafos e repórteres, todos querendo saber onde tinha ido o candidato ao senado e quem era a jovem que está ao lado dele. Se não fossem os seguranças, a situação poderia ter sido pior. Eles os conduziram para o estacionamento, onde um motorista os aguardava. Ele dirigiu rapidamente pelas ruas até chegar a uma parte nobre da cidade, onde entrou em uma bela mansão que parece mais uma obra de arte. Sua fachada creme com pilares gregos chama atenção de Malú que remetem a casa branca. Logo na frente uma enorme fonte em mármore os recepciona.

Thiago leva Malú até o hall da casa, onde se deparam três pessoas os esperando. Maria Luísa, avó da jovem. Vera Lúcia, uma bela mulher de cabelos loiros soltos, era a relações publicas de Thiago e cunhada. E Graziela, noiva, se parece um pouco com sua irmã, os encara curiosa. 

—Bem vindo, meu filho - diz Maria recebendo um olhar gélido do filho.

—Quem é vivo sempre aparece - diz Vera, séria. Ela olha Malú de cima a baixo, curiosa — Pelo visto com uma surpresa...

— Quem é essa jovem? - pergunta Graziela, curiosa.

—Grazi, Vera e mamãe, essa é a Maria Luísa Braga de Almeida - responde Thiago à sua noiva. Ele segura os ombros de Malú e continua — Minha filha.


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