Malú escrita por Pauliny Nunes
Curitiba, Julho de 1998.
O juiz Alexandre de Almeida está terminando sua inalação, quando Thiago entra em seu quarto. Ele encara seu filho, sem demonstrar qualquer gesto de carinho, pede para que ele se aproxime.
— Olá, meu pai - diz Thiago segurando no braço de seu pai — Como o senhor está se sentindo?
—Como acha que eu estou me sentindo? - retruca Alexandre irritado — Eu estou morrendo, o que mais gostaria que eu sentisse?
—Desculpa - pede Thiago constrangido. Havia se esquecido do jeito estúpido que o pai agia quando lhe faziam uma pergunta que ele considera sem sentido — Eu vim o mais rápido que pude.
— Tudo bem - diz o pai sem se importar com o que Thiago lhe disse. Ele olha para a enfermeira e ordena — Saia preciso falar com meu filho a sós.
Alexandre encara seu filho, sentia que havia algo de diferente nele. Ele se ajeita melhor na cama, com muito esforço, sendo ajudado por Thiago.
—Eu faço isso sozinho! - diz Alexandre irritado — EU não estou gaga, sei fazer isso sozinho... Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!
— Acalme-se, pai - diz Thiago preocupado — Assim acabará pior do que já está.
— É meu filho, isso - diz Alexandre mostrando a gosma verde no lenço — Isso é o resultado da vida que tive...
— Sinto muito...
—Não sinta... Isso mostra que eu vivi o suficiente. Sabe, eu vivi agarrado aos quatro vícios mais prazerosos e mais letais que um homem pode ter: bebida, cigarro, jogos e mulheres. O que me deu mais problema foi...
— Nota-se que foi o cigarro - interrompe Thiago, lembrando o diagnóstico do pai. DPOC avançada.
— Deixe de ser tolo - diz Alexandre — Mulher foi o meu maior problema... e o meu maior prazer.
—Você está falando...? - questiona Thiago sem entender.
—Estou falando do Ícaro, ou você ainda acredita que ele é adotado? - pergunta Alexandre irritado. Ele olha para o filho que mostra no rosto a surpresa da revelação — Bom, eu me envolvia com uma mulher... Antes de casar com sua mãe... E depois de casados... Ela bateu em nossa porta com o Ícaro nos braços e se foi como surgiu... Sua mãe... Uma santa... Jamais pensei que ela fosse capaz de tanto por mim... Decidiu que o tomaria como se fosse nosso... e o resto é o que vivemos até hoje. Eu sei que magoei sua mãe, mas esse vício que é mulher nos deixa cego... Esse foi o meu mal e ele é jogado em minha cara todos os anos.
— Bom, eu prometo não cometer esses vícios, se é o que o senhor deseja... - começa a falar Thiago, sendo interrompido pelo pai.
— Não todos, só não se deixe levar por uma mulher. Não estrague sua vida pelas mulheres da rua...
— Bom... Isso não vai mesmo acontecer... Eu tenho uma coisa para contar - diz Thiago sorridente — Eu estou gostando de uma pessoa.
—Eu sei a filha dos Financhielli, Graziela. Vai dizer que decidiram finalmente casar? - pergunta o pai sério.
—Não, pai. Eu e a Grazi terminamos no Natal - responde Thiago constrangido. —É outra garota... Ela é incrível, o senhor vai gostar dela.
—De qual família ela é? - pergunta Alexandre.
—Ela não tem família... Nem posses, mas ela é especial - diz Thiago confiante.
—Então está na hora de você voltar - intervém Alexandre sério — Peça a transferência da universidade para a daqui e chega dessa brincadeira de ser independente. Eu preciso de você aqui , bem como sua mãe , os negócios da família. Depois me agradeça por estar livrando você de um golpe.
—Eu não posso voltar pai. Do que está falando? - pergunta Thiago transtornado — EU preciso terminar a faculdade. E ela não está interessada em dinheiro... Ela me ama. E sem contar que o Ícaro está bem mais preparado do que eu para assumir.
— Um bastardo não assumirá a minha empresa! - grita Alexandre — Ele fará outras coisas. E você não ama essa garota, é só um brinquedo novo. Daqui a pouco você cansa.
— Eu não sou assim...
— O mesmo sangue que corre em suas veias, corre nas minhas, meu rapaz -comenta Alexandre com um olhar malicioso — Você pode ser a cara de sua mãe, mas é igual a mim e sei que no final você cansará dessa garota e logo estará com outra.
—Eu não sou igual a você. Tanto que irei me casar com ela - dispara Thiago.
—O assunto está encerrado, Thiago. Você não voltará para aquela cidade e nunca mais verá aquela garota – ordena Alexandre, sem olhar para o filho —Agora vá.
— O senhor não entende... Eu não posso abandoná-la - diz Thiago — Ela... Eu... Nós estamos...
—Thiago, meu filho - interrompe Maria Luísa entrando no quarto. Ela o abraça impedindo de continuar a falar com o pai — Que bom que chegou, venha deixe seu pai descansar.
—Agora não, mamãe. - responde Thiago a afastando. Ele encara seu pai irritado e continua — Tenho que terminar de falar com o papai.
—O assunto foi encerrado há muito tempo - resmunga Alexandre — Se você não quer agir por bem, eu farei as coisas por mal. Saia do meu quarto.
—Venha querido – pede Maria Luísa com um sorriso forçado nos lábios. Ela segura no braço do filho, o conduzindo para fora do quarto — Conte-me como está Belo Horizonte.
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— Eu não acredito que ele não quis me escutar - diz Thiago revoltado, sentando no sofá.
—Seu pai não está escutando ninguém nesses últimos dias - explica Maria Luísa servindo uma bebida ao filho. Ela senta ao lado de Thiago e continua — Então, me diga quem é essa jovem por quem você se apaixonou tão rápido?
— Anna... - suspira Thiago — Ela é incrível, mãe. Eu queria muito que ela viesse comigo, mas... Ela não arriscar.
— Ficou com medo de conhecer o seu pai? - pergunta Maria Luísa, curiosa. — Acho que ela menos corajosa do que a Graziela.
—Não foi por isso - diz Thiago nervoso. Ele passa as mãos na calça antes de segurar nas da sua mãe — Eu sei que deveria ter contado isso antes, mas eu quis falar pessoalmente.
—O que foi? - pergunta Maria Luísa, séria — Aconteceu algo?
—Mãe, eu vou ter um filho - confessa Thiago observando o olhar chocado de sua mãe.
— Oh... Meu... Deus... - diz Maria Luísa se levantando. Ela vai até a janela, respira fundo e se vira para o filho com um sorriso nervoso — Tem certeza?
—Ela está de três meses agora - diz Thiago - Eu sei que foi rápido, mas eu sei que é para valer. Eu a amo.
—Contou isso para seu pai? - pergunta Maria Luísa, nervosa. — O que ele disse?
— A senhora me interrompeu e ele não quis me ouvir - diz Thiago chateado — Mãe, eu preciso da sua ajuda. Eu não posso ficar muito tempo e quero deixar tudo resolvido o mais rápido possível.
—Mas seu pai precisa de você aqui, todos nós precisamos de você aqui... Em Curitiba.
— Eu sei - responde Thiago se levantando. Ele toca nos ombros da mãe e responde — Eu vou ficar só dois meses e depois vou para lá... E no fim do ano eu trago a Anna... E o bebe.
— Você está realmente decidido a levar essa relação para o altar? - pergunta Maria Luísa.
—Sem dúvida. Só que com essa história do papai, acabou atrasando um pouco. Mas nós pretendemos casar. Espero que a senhora nos apoie.
— Bom... - diz a mulher de vestido verde musgo servindo outra bebida, agora para si. Ela vira em um gole e pigarreia — Claro que vou te apoiar... Sempre. Só acho que não deve contar ao seu pai agora. Espere ele se reestabelecer um pouco, tudo bem?
— Tudo bem. -diz Thiago — Eu também acho que não o ajuda falando a respeito.
—Só quero que saiba que estou do seu lado - diz Maria Luísa — Estou feliz por saber que meu filho está crescendo... E formando uma família. Espero conhecê-la o quanto antes.
—A senhora irá amar a Anna. - garante Thiago.
—Eu não tenho a menor dúvida. - diz Maria Luísa com um leve sorriso nos lábios.
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Curitiba, setembro de 1998.
Thiago desliga o telefone da sala. Já não tinha mais noção de quantas vezes tinha feito aquilo... Não tinha mais notícias de Anna desde o começo do mês. Sentia que havia algo errado e que estava na hora de voltar.
—Thiago? - chama Maria Luísa entrando na sala - Está tudo bem, meu filho?
—O telefone do meu apartamento não está funcionando... - diz Thiago preocupado — Eu preciso voltar e saber se Anna está bem.
—Mas você falou com ela esses dias - diz Maria — Tenho certeza que ela está bem. Gravidez não é doença, ao contrário do que o seu pai tem.
— Eu sei mãe. Mas eu quero acompanhar a gravidez da Anna - explica Thiago — Eu vou falar a respeito da gravidez com o pai hoje e sei que ele entenderá.
—Por que fará uma coisa dessas? Quer ver seu pai piorar? - questiona Maria preocupada.
—Claro que não, mas ela precisa de mim. - argumenta Thiago.
—E nós também. Seu pai pode morrer a qualquer momento. - alega Maria Luísa apontando para a porta.
—Estamos nessa desde que eu cheguei. Ele já está bem melhor - argumenta Thiago — Eu realmente preciso saber como a Anna está.
—Eu irei - dispara Maria Luísa - Eu irei à Belo Horizonte.
—Vai fazer o que lá, mãe? - pergunta Thiago confuso.
—Vou buscar a sua... Sua... sua... - gagueja a mãe.
—Anna? - pergunta Thiago arqueando a sobrancelha.
—Isso, eu a trarei para ficar perto Da... Nossa família. - explica Maria Luísa apertando os dedos.
— Não precisa fazer isso, mãe. Eu vou e fica tudo certo.- responde Thiago segurando nos ombros de sua mãe.
— Claro que preciso... Ela é nossa família também. - conclui Maria Luísa.
— Mas ela não vai querer... Ela não vai querer incomodar.
—Eu sei como convencê-la, afinal eu também sou mulher e mãe. Agora, somente se preocupe com a transferência da faculdade que em breve todos nós estaremos reunidos. - divaga Maria Luísa
—A senhora não tem ideia do quanto eu fico feliz em ouvir isso. - diz Thiago abraçando a mãe.
—Só peço que enquanto eu estiver fora, não conte a seu pai sobre isso. - diz Maria Luísa segurando o rosto de seu filho — Espere a gente chegar e todos nós daremos a notícia, está bem?
— A senhora é a melhor, mamãe - diz Thiago sorridente.
— O que nós não fazemos pelos nossos filhos. - diz Maria Luísa abraçando Thiago. —Quando tiver o seu, entenderá o que eu digo.
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Uma semana depois...
— Eu sinto muito, querido - diz Maria Luísa passando a mão nos belos cabelos negros de seu filho. —Quem poderia imaginar que ela havia perdido o bebe e fugiria com medo de você descobrir? Vai saber se ela realmente estava grávida...
—A Anna não é assim! - grita Thiago levantando da cama — Ela com certeza têm uma boa explicação para tudo isso. EU preciso ir para lá...
—Mas ela não está lá. - reforça Maria Luísa, socando o colchão — Eu fiz questão de procurar e nenhum vizinho sabe do paradeiro dela. Se quiser eu posso colocar um detetive atrás dela... Mas não vai mudar o fato de que ela fugiu de você. A vida sempre nos ensina algo e dessa vez lhe ensinou que nem todos são bonzinhos, de bom caráter, boa índole como gostaríamos que fossem. Eu sei que a ama, mas ela não retribuiu esse amor.
—A senhora não conhece a Anna - diz Thiago enquanto abre o guarda roupa. Ele começa a jogar as roupas na cama deliberadamente — Eu sei que ela está precisando de mim. Ela deve estar sofrendo.
— O que está fazendo? - pergunta Maria Luísa, observando o Thiago arrumar suas roupas — Não acredita em mim?
—Acredito mãe. -diz Thiago fechando a mala — Mas eu preciso encontrar a Anna. Ela é a minha vida e está precisando de mim mais que qualquer pessoa.
—Com licença - diz a enfermeira batendo na porta — O senhor Alexandre... Acaba de falecer.
Thiago corre em direção a sua mãe que desmaia na cama.
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Curitiba, novembro de 1998.
Thiago fecha calmamente a porta do quarto de sua mãe. Ela foi a mais afetada com a morte de Alexandre, obrigando Thiago a se manter constantemente ao seu lado. Por mais que ele tentasse, sente que deveria ir atrás de Anna. Ele começa a andar pelo corredor pensativo quando vê a imagem de um homem de cabelos castanhos e vestindo um terno preto no final do corredor. Thiago para por um instante e então reconhece a figura: Seu irmão, Ícaro.
Após a morte do pai, Ícaro decidiu viajar em busca de novos sócios para ampliar a empresa de advocacia da família. Também era uma forma dele espairecer e fugir da dor que estava em seu peito, pois agora só tinha Thiago a seu lado, já que não gostava de Maria Luísa e parecia ser recíproco.
— Meu irmão - diz Thiago abraçando Ícaro - Como está?
—Bem... Um pouco cansado - diz Ícaro sorrindo — Precisamos conversar.
—Vamos para sala - diz Thiago sussurrando — Não quero acordar mamãe. Foi difícil fazê-la dormir
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—Eu tentei encontrar novos sócios, mas quando escutam o meu nome, eles se recusam - diz Ícaro olhando pela janela — Com a morte dele... É como se eu tivesse virado um ninguém.
— Não se preocupe - diz Thiago bebendo uísque — Depois que você se tomar o cargo do papai, eles te respeitarão.
—Eu duvido - responde Ícaro — Escutei rumores de que eles querem te indicar ao cargo...
—Não pretendo tomar seu lugar - diz Thiago — A única coisa que eu desejo é a Anna.
— A garota mineira... - diz Ícaro — Como irá fazer para localizá-la?
—Não sei... A mamãe nesse estado não tem contribuído muito. -responde Thiago com a mão no rosto — Só que cada vez que eu penso nisso, sei que estou a perdendo. Ela deve estar com raiva de mim.
— Bom, eu posso ir atrás dela por você - diz Ícaro, olhando para Thiago — Enquanto isso quero que convença ao máximo possível deles de que sou o melhor para a empresa. De acordo? - pergunta Ícaro estendendo a mão para o irmão.
—De acordo - diz Thiago sorrindo, enquanto aperta a mão do irmão — Ela só não sabe seu nome... Eu sempre disse seu apelido.
—Isso me dá até uma vantagem. - diz Ícaro — Assim eu posso provar se a história que a Maria Luísa contou é verdade ou não.
—A minha mãe não mentiria uma coisa dessas - defende Thiago.
— E eu não consigo acreditar nela - retruca Ícaro — Estamos empatados. De qualquer forma só descobriremos quando eu voltar. Minas Gerais será vasculhada atrás dessa Anna. Eu só preciso de uma foto e seus problemas serão resolvidos.
— Obrigado, irmão. Não sei o que faria sem você.
—Só faça a sua parte que a minha já estará feita.
— Por onde vai começar? - pergunta Thiago.
—Pelo seu prédio. Alguém deve ter visto sua namorada sair de lá.
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Curitiba, 26 de dezembro de 1998.
Maria Luísa serve sua quinta taça de gim, quando Ícaro entra na sala abruptamente. Seu rosto revela o que a mulher mais temia: Ele sabia a verdade sobre Anna e o bebe. Ele a encara com os olhos em fúria.
— Onde está o Thiago? - pergunta Ícaro irritado.
—Por que você quer saber? - responde Maria Luísa com uma pergunta.
—Você sabe - responde Ícaro entre os dentes. — Sua neta nasceu dia 24 de dezembro... Elas moram há três quadras do prédio de onde você as expulsou.
—Quer dizer que passou o natal lá em Belo Horizonte? - pergunta Maria Luísa bebendo um gole — Interessante.
— Por que mentiu para ele? - pergunta Ícaro irritado — Eu sabia que você era má, mas não a esse ponto.
— Os meus motivos só cabem a mim - responde Maria Luísa — O que vai fazer? Contar ao seu irmão que eu menti a respeito das duas?
— Basicamente isso - responde Ícaro— Onde ele está?
—Ele já deve estar voltando- responde Maria Luísa sentando no sofá — Hoje foi um dia muito importante... Na empresa.
—DO que está falando? - pergunta Ícaro, cruzando os braços.
—Enquanto você desenterrava o passado do seu irmão... Ele estava sendo indicado ao cargo do Alexandre. E hoje ele foi nomeado. Pelo visto, as pessoas gostam do que é legítimo ao que é duvidoso.
—Eu não acredito em você... Meu irmão jamais me trairia dessa forma - diz Ícaro secamente. — Ele não é como você.
— Então vamos esperar ele chegar a casa e descobrir. Você irá se surpreender.
— Mãe, cheguei - diz Thiago vindo pelo corredor. Assim que ele chega à sala, encontra Ícaro encarando Maria Luísa — Ícaro? Que bom que você chegou!
—Parabéns meu filho pela nomeação - diz Maria abraçando seu filho —Estou orgulhosa de você.
— Obrigado, mãe - diz Thiago sem graça diante de Ícaro.
— Então você foi nomeado? - pergunta Ícaro — E aceitou...
—Sim... Olha eles me pressionaram... não tive escolha... -esclarece Thiago — Conseguiu encontrar a Anna?
—Não - mente Ícaro friamente — A Maria Luísa estava certa, mais uma vez.
— Puxa... Eu tinha esperança...
—Esqueça - retruca Ícaro saindo da sala — Até breve
—Não vai ficar? - pergunta Thiago confuso.
—Não há nada que me prenda aqui. - responde Ícaro se retirando.
Thiago vai atrás dele e o encontra já próximo a seu carro.
— Olha... Eu sei que você queria muito o cargo , mas eles pressionaram , ameaçaram...
—Thiago... Eu não estou interessado em saber. Pelo visto, as pessoas gostam do que é legítimo ao que é duvidoso. - diz Ícaro recordando as palavras de Maria.
Ele sai com seu carro sem dar a Thiago a chance de uma explicação. Seu irmão ficou com a empresa e agora Ícaro ficaria com sua família.
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Dezesseis anos depois...
Maria Luísa terminava de se arrumar no quarto, quando alguém bateu em sua porta. Ela pega sua bolsa preta que combinava com seu vestido da mesma cor e a abre, se deparando com Ícaro.
— O que está fazendo aqui? - pergunta Maria arqueando as sobrancelhas.
— Você ainda não contou para o Thiago sobre a Anna. - responde Ícaro entrando no quarto — Já tem um ano que lhe contei que ela está com câncer e você nem sequer teve o bom senso de falar com ele.
— Eu ia contar, mas ele decidiu concorrer às eleições, não quis preocupá-lo com isso - diz ela fechando a porta.
—Isso é uma vida. Anna está morrendo... Ponha a mão na consciência - grita Ícaro nervoso - A Malú ficará sozinha.
—Se ela morrer, nós daremos tudo o que a menina precisar - responde Maria tranquilamente.
—Ela precisa de uma família! - grita Ícaro. Ele encosta o braço na parede — Droga... Ela precisa de alguém por ela... Da família que lhe foi negada.
— E quem foi que negou isso a ela? - questiona Maria fingindo tentar se lembrar de colocando o dedo nos lábios. Então ela sorri encarando Ícaro — Foi você.
—Eu?
—Sim, você poderia ter contado a ele e não o fez. Nunca o fez e quer que eu conte para ele. Por mim esse assunto... Não precisa ser revelado.
— Por mim, sim - retruca Ícaro.
—Então vai lá, conte para ele - diz Maria Luísa abrindo a porta — Conte que escondeu a família dele por não ter conseguido o cargo.
—Não vou cair mais nessa. Estou cansado das suas chantagens - diz Ícaro passando pela porta — Isso é maior do que nós dois. Não me importa se ele irá me perdoar...
—Depois que contar, não há volta - ameaça Maria Luísa, segurando o braço de Ícaro. — Ele não irá te perdoar.
— Nem eu mesmo me daria perdão pelo que fiz.
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Thiago terminava de se despedir da família de sua noiva, Graziela, quando Ícaro apareceu. Ele parecia nervoso, andando de um lado para o outro.
— Está tudo bem, irmão? - pergunta Thiago tocando no ombro de Ícaro.
— Anna está morrendo - dispara Ícaro ofegante — Ela está com câncer, internada no hospital de Belo Horizonte.
—Do que está falando? - pergunta Thiago confuso — Anna está morrendo...? Como sabe disso? Você a encontrou? Quando a encontrou?
— Desculpa... Eu quis te contar, mas eu não tive coragem... - diz Ícaro.
—Quando você a encontrou? - pergunta Thiago estreitando os olhos.
— Eu a encontrei há dezesseis anos. - revela Ícaro exasperado. Ele sorri nervoso e continua falando rapidamente — Ela teve uma linda menina chamada Maria Luísa, nós a chamamos de Malú. Ela tem os cabelos como a noite e os olhos mais azuis do que qualquer céu que nós já tenhamos visto. Ela é dura na queda, esperta, decidida. A Anna é uma mãe maravilhosa. Tem a Aline, uma mulher incrível que acolheu às duas quando... Quando... Sua mãe a tocou de casa e eu sou perdidamente apaixonado por ela. Pela Aline e não pela Anna. Anna é incrível, mas o coração dela sempre foi seu. Assim como eu entreguei o meu para a Aline.
—Por que está me contando tudo isso? Como você sabe tudo isso? Você conviveu com elas? Você está me contando que conviveu com a minha família por dezesseis anos?- pergunta Thiago com a cabeça baixa. Ele encara Ícaro que está chorando, se aproxima dele e em um acesso de raiva desfere um soco no queixo de Ícaro, o fazendo cair no chão — Você escondeu a minha família de mim! Como pode fazer isso comigo?
— Eu sinto muito, cara - diz Ícaro — Você não me deu escolha.
—Do que está falando? O que eu fiz para você? - pergunta Thiago confuso
—Você tirou a empresa de mim! - grita Ícaro — A única coisa que eu poderia ter do nosso pai... Eu queria que você sentisse exatamente a mesma coisa que eu senti. Mas foi antes de eu entrar na vida delas. Esses anos todos eu me senti um lixo pelo o que eu fiz.
—Você destruiu a minha vida por uma empresa?! - grita Thiago. Sem pensar ele começa a chutar seu irmão que não reage as suas investidas — Eu odeio você! Odeio você!
— Pare! - ordena Maria Luísa segurando o braço do filho — Não faça isso.
—Solte-me! - diz Thiago empurrando a mãe no sofá— Você presta menos do que ele. Seus lixos! Odeio vocês dois!
Thiago caminha a passos largos em direção ao seu quarto sendo seguido por Maria Luísa. Ela corre um pouco mais, parando em frente ao filho com ar de desespero:
— Aonde vai? O que pensa que está fazendo?
—Eu vou atrás do pouco que resta da minha família — responde Thiago secamente.
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Hoje
— Depois disso eu comprei uma passagem e vim para cá. - diz Thiago encarando o vazio da rua — Mas era tarde demais para resgatar tudo o que me tiraram. Só me resta Malú e farei de tudo para tê-la comigo.
— Se você pensa que essa sua história ia me comover a ponto de deixar que fique com a Malú... Tenho uma péssima notícia para você: Isso não vai acontecer. - diz Aline secando seu rosto. Ela o encara séria e diz— Isso tudo só me fez perceber o quanto vocês não prestam e quanto farão mal a minha Malú.
—Está declarando guerra? - pergunta Thiago — Pois eu não estou nem aí para quem eu tiver de destruir para ter a minha filha de volta.
—Estou declarando guerra - responde Aline — Porque eu não estou nem aí se acha que tem o direito de ficar com ela.
— Então é guerra - declara Thiago se afastando.
Aline respira fundo enquanto deixa suas lágrimas caírem por seu rosto. Tenta processar mais uma vez tudo o que Thiago falou a respeito de Ícaro e só chega a uma conclusão: Precisa tirar a Malú das garras dessa família.
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