Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 36
Capítulo 35




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Como todo início de discurso, os rostos estão incrédulos diante da figura de Thiago que agora sobe no palanque ajeitando seu terno preto. Ao seu lado, um intérprete de Libras. Ao fundo estão Aline e Vera observando o público atentamente. Enquanto a relações públicas analisa a linguagem corporal , a tia de Malú ficou encarregada de observar a conversa em Libras.

Conforme Thiago avança com seu novo discurso, reforçando a nova proposta, os rostos que antes duvidavam do candidato agora possuem um fio de esperança no olhar. Eles também passam a acreditar no Instituto e em Thiago que está empolgado finalizando seu discurso em mais uma cidade. As palmas vêm logo em seguida com todos de pé.

— Obrigado a todos – agradece Thiago acenando.

Ele desce do palanque sendo acompanhado por sua equipe e os repórteres que passam a segui–los. Aline tenta ao máximo evitar fotos suas , chamando atenção de Vera que a observa se esgueirar no meio da equipe.

— Senhor, Thiago, onde está sua noiva? – pergunta uma jornalista praticamente correndo ao lado dele.

— A morena ao seu lado é sua nova namorada?

—É verdade que terminou seu noivado?

— Candidato, o que acha da sua filha estar namorando um deficiente auditivo? – questiona outro praticamente se jogando na frente de Thiago.

— Senhores, por gentileza, qualquer pergunta que não seja a respeito do projeto, deve ser encaminhada a minha relações públicas – informa Thiago entrando no carro com Aline e Vera.

— Até que enfim...não aguento mais essas comunidades carentes. – resmunga Vera tirando os sapatos.

— Eu achei que fosse ser mais puxado, mas sabe, as pessoas querem saber mais a respeito , acreditam mesmo na gente... E isso dá um ânimo. Isso não é demais? — pergunta Aline, empolgada recebendo uma revirada de olhos de Vera.

— Eu também estou achando tudo bem legal – responde Thiago afrouxando a gravata —Sei lá, sinto que agora tenho um propósito com a minha campanha.

O silêncio reina no carro, enquanto os dois sorriem um para o outro. Aqueles dias foram os mais tranquilos entre eles que passaram a entender um pouco mais a respeito do outro. Um barulho surge dentro do carro, surpreendendo a todos.

— Desculpem–me, estou morrendo de fome – fala Aline passando a mão na barriga.

— Eu também. Que tal almoçarmos todos juntos? – propõe Thiago.

— Eu passo – recusa Vera se ajeitando no banco — Eu só quero voltar ao hotel, tomar um banho e descansar.

— Eu concordo – afirma Thiago. Ele sorri para Aline —Que tal a gente se encontrar no restaurante do hotel?

— Ótima ideia – concorda Aline —Um lugar mais reservado...

— Onde você não precisará fugir dos fotógrafos – alfineta Vera com os olhos semicerrados.

— Eu não estou fugindo dos fotógrafos.

— Não foi o que pareceu.Quer saber o que pareceu? – pergunta Vera colocando a mão no queixo.

— Eu não quero saber o que passa em sua mente doentia – rebate Aline.

— Parece até que você era uma foragida da polícia – comenta Vera ignorando a resposta da outra — Por alguns momentos , eu realmente fui capaz de jurar.

— Então você realmente precisa de óculos novos, pois eu não estava fugindo de ninguém – nega Aline — Eu só não gosto de fotos... Nunca gostei e não será agora que irei me expor assim.

— Parem – ordena Thiago se ajeitando — Nós chegamos, tentem fingir que não querem se matar, por favor.

Ele desce sendo acompanhado por Aline e Vera até o elevador. Entram silêncio até o andar da relações públicas que para bem próximo da morena:

— Engraçado você dizer isso,pois encontrei um jornal de 1996 com seu rosto estampado... Em um velório – sussurra Vera ,fazendo Aline virar, assustada. A loira ri passando pela tia de Malú — Tenham um ótimo almoço.

— Nos vemos em meia hora – fala Thiago também descendo do elevador.

Aline respira fundo, tentando ignorar a provocação de Vera. Ela só está blefando, só está blefando pensa enquanto olha para o painel.

***

Vera abre a porta do seu quarto e praticamente se joga na cama de olhos fechados. Sente–se exausta, não apenas por conta da campanha ou até mesmo lidar com os pobres e deficientes que viraram o foco do Thiago, algo que ela jamais teria cogitado ter de trabalhar. Apesar disso, ter de aguentar a Aline e toda sua benevolência é de longe que mais a deixa cansada e frustrada. Até o momento não conseguiu progredir com sua investigação a respeito dela, apesar de sua intuição dizer que seu segredo está no acidente, todos os laudos encontrados mostraram o contrário.

— Pelo visto terei de encontrar outra maneira de me livrar dessa mulher e logo, antes de ganharmos a eleição –fala Vera para si mesma. Então seu telefone toca a fazendo procurá–lo em sua bolsa por um bom tempo até encontrar —Vera Lúcia, quem fala?

— É neste número que eu falo com alguém da equipe do candidato Thiago de Almeida?

— Sim, você está falando com a chefe de campanha dele – informa Vera procurando um cigarro — O que você quer?

— Preste muita atenção. Vocês precisam tirar aquela assassina de cima daquele palanque— grita a mulher do outro lado da linha —Vocês não podem continuar compactuando com aquela mulher.

— E estamos falando de qual mulher? – questiona Vera tragando seu cigarro.

— Aline... Aline Buarque de Melo— responde a mulher, brava.

— E de onde a senhora a conhece? – questiona Vera engasgando.

—Ela é a minha filha.

— Isso é ótimo... Acho que nós duas temos muito que conversar – comenta Vera sorrindo. Peguei você, Aline.

***

Thiago está sentado observando a vista Guaraqueçaba da janela do hotel, se sente feliz por tudo estar caminhando bem. Está absorto em seus pensamentos, quando Aline senta–se à mesa com um enorme álbum de fotografias de capa marfim e um sorriso de ponta a ponta:

— Já tem um tempo que eu quero te mostrar – comenta Aline abrindo o álbum — Este é o álbum de fotografias da Malú, desde o nascimento .

— Nossa – exclama Thiago , admirando as fotos em devagar.

Fotos da Anna com a Malú na maternidade... Foto da Anna dormindo sentada em uma poltrona com a filha nos braços...

—Essa foto é a minha favorita – comenta Aline — Era umas três horas da manhã, Malú não parava de chorar, mas foi só a Anna encostar–se a ela que se acalmou... E eu tirei a foto.

Malú aos cinco meses com os cabelos em moicano cheios de xampu rindo junto com Aline que a estava dando banho... Dando os primeiros passos...Malú com um enorme ovo de páscoa... Malú segurando nas mãos de Aline e Anna. As três rindo no sofá sujas de tinta lilás...

— Malú estava com quase quatro anos – explica Aline.— Ela estava fissurada na cor lilás e aí decidimos pintar o quarto dela...

— E qual a cor favorita dela, hoje? – pergunta Thiago, curioso.

— Depende do humor. Quando eles entram na adolescência ama e odeiam tudo e todos, muito rápido – responde Aline fazendo Thiago sorrir. Ela vira a página, deixando a foto de Malú dormindo com um livro entre os braços encantar o candidato — Seis anos... Esse era o seu livro favorito... O pequeno príncipe.

— O meu também – confessa Thiago encantado com a filha pequena e saber que tinham isso em comum.

— Essa foto foi o Ícaro quem tirou... Ela ficou a noite toda esperando por ele e acabou adormecendo – comenta Aline — Ele é...Era o seu maior incentivador de leitura.

— Ele também lia para mim – revela Thiago, triste — O Ícaro lia para mim, assim eu não prestava atenção nas brigas dos nossos pais...

— Você sente falta dele? – pergunta Aline.

— Eu sinto falta do meu irmão todos os dias – responde Thiago com a voz embargada.

— Eu também sinto falta dele – responde Aline enxugando o rosto — Eu já até consegui perdoá–lo por tudo...

— Eu ainda não. Ele era o meu exemplo... A pessoa que eu gostaria de ser... Ele sabia que eu amava a Anna. Eu entendo perfeitamente a raiva dele por conta da empresa, mas... Foram dezesseis anos, Aline. – comenta Thiago apontando para o Álbum de Malú — Era para eu ter tudo isso na minha lembrança, o primeiro passo, a primeira palavra, o primeiro dente, o primeiro dia na escola... Eu queria ter participado de cada um desses momentos. Até mesmo da primeira vez em que ela bufou pra mim, ou me pediu colo... Eu não tenho mais essas primeiras vezes. Mas eu só não consigo perdoar o Ícaro por mentir pra mim e não por me impedir de conviver com elas. Na verdade, eu sou o culpado por essa ausência. EU deveria ter ido contra a minha mãe, a Anna contava comigo. Mas eu fui fraco e fui sendo fraco... E terei de conviver com isso pelo resto da minha vida – desabafa Thiago chorando.

— Thiago – chama Aline fazendo o pai de Malú encará–la — Você terá muitas outras primeiras vezes para colocar neste álbum...Fotos que a Anna não poderá participar. Por algum motivo, decidi me apegar ao fato de que era para ser assim. Porque se fosse diferente, eu jamais teria a oportunidade de conhecer a Anna e a Malú, seu irmão, sua mãe... E você. Eu tinha uma ideia diferente de você e quer saber? Até que você não é uma má pessoa.

— Você também não é uma má pessoa, Aline. – responde Thiago com um leve sorriso.

— Agora, chega de choro –comenta Aline enxugando seu rosto. Ela se aproxima do rosto de Thiago, limpando com cuidado sendo observada por ele. A tia da Malú sorri, sem graça — Imagina se pegam a gente chorando aqui no restaurante?

— Pois é – concorda Thiago sem jeito. Ele fecha ao álbum e pergunta — Será que eu posso ficar com o álbum mais um pouco?

— Claro que sim. Devolva–me quando quiser – responde Aline. Ela fica séria por alguns instantes — Você tem ideia de onde o Ícaro possa estar?

—Não. A última vez em que vi meu irmão foi quando a Malú chegou a Curitiba – responde Thiago — Foi a nossa última briga e desde então, nunca mais tive qualquer notícia dele. E você?

— Também não . Mas eu o vi no dia em que vocês foram a Belo Horizonte. Ele foi a minha casa... Foi estranho. – comenta Aline omitindo a conversa que teve com o Ícaro —Enfim, nunca mais o vi.

— Parece loucura, mas as vezes eu acho que ele está por perto... Vigiando – comenta Thiago — Bom, acho melhor a gente comer.

— Concordo plenamente – afirma Aline segurando o cardápio.

— Algo mais senhor? – pergunta o bartender.

— Mais um conhaque – pede Ícaro observando os dois.


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