Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 34
Capítulo 33




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Malú abraça seu travesseiro com força, deixando suas lágrimas caírem sobre a fronha de linho branco. As palavras de Thiago martelam em sua cabeça, mas não aquelas, que acreditou que ele fosse capaz de dizer. Que ilusão, eu realmente achei que ele fosse capaz de mudar, pensa Malú.

— Posso entrar? – pergunta Maria da porta.

Malú acena com a cabeça, observando sua avó entrar e sentar em sua cama. A jovem então pega o tablet no criado mudo:

“Por que o Thiago é assim? Por que ele foi mau comigo? Por que ele não me escutou?

— Eu sinto muito, Malú pelas coisas que seu pai disse. Ele só estava... Chateado. Mas não com você.

"A forma que ele falou comigo, vovó, não foi isso o que pareceu."

— Malú, nós pais, somos complicados – começa Maria — A gente pensa que sabemos o que é melhor para os nossos filhos. A gente tenta os proteger de todas as formas,pois para nós vocês sempre serão indefesos e despreparados para o mundo. Quando na verdade, estamos sufocando vocês, privando–os da oportunidade de ter novas experiências, tomar suas próprias decisões. Acredite em mim, seu pai errou, mas não o fez por mal.E tenho certeza que ele mudará de ideia e virá falar com você e tudo ficará bem.

“Como pode ter tanta certeza?"

— Bom, eu gostaria muito de falar a você, mas acho que é melhor ele contar – responde Maria olhando para a porta, por onde Thiago acaba de entrar —É melhor vocês conversarem.

Ela dá um beijo na testa de sua neta e caminha em direção a porta, onde Thiago está de cabeça baixa. Maria encara o filho por alguns minutos, então pede:

— Seja carinhoso, paciente e generoso com sua filha. E saiba que espero que fique ao lado dela, ou então terá duas Marias Luísas contra você dentro desta casa.

—Obrigado, mamãe – agradece Thiago recebendo um beijo em sua bochecha da mãe que agora se retira. Ele caminha em direção à cama de Malú que evita olhar para ele. Senta na ponta e olha para seus polegares dançantes — Filha, me desculpe... Pela forma que falei com você, pelo modo que agi... Eu deveria ter escutado você, prometi que ia tentar e... Falhei. Mais uma vez, falhei com você. Mas quero que saiba que não vim aqui apenas para pedir desculpas. Quero que saiba, que eu fui conhecer o grupo... E o rapaz, Benjamin.

“Você foi? E então? O que achou? Você gostou né? E o Benjamin... Thiago, o Benjamin é um garoto muito legal,educado e honesto. Ele até trabalha na floricultura" escreve Malú, nervosa.

— Eu sei, agora eu sei. Falei com a Ariadne e me dei conta da sorte que tenho por dar a você tudo o que precisa para ter uma qualidade de vida e quantos jovens da sua idade não tem essa chance, bem como o Benjamin não teve, mas está buscando. Mas olha, eu prometo que farei de tudo para ajudar a cada um deles... Eu farei do projeto, o carro chefe da minha campanha.

“Fico feliz em saber disso" escreve Malú, ainda tristonha.

— E também, você poderá voltar ao grupo – revela Thiago observando sua filha que imediatamente abre um enorme sorriso.

“E eu poderei ver o Benjamin?" pergunta Malú, desconfiada.

— Sim... – responde Thiago — Mas com uma condição.

“Qual condição?"

***

Duas semanas depois...

Benjamin e Malú... Malú e Benjamin... Tão diferentes e tão iguais... Ele parece que entrou na vida da jovem para amenizar qualquer dor que ela sente ... Ela consegue fazê–lo sorrir até na enorme fila do cinema para assistir comédia romântica. Ele é o responsável e ela é a teimosa... Ele prefere o ar livre... E ela ficar trancada na biblioteca...Apesar de ter acontecido tão rápido e ser tão intenso... O sentimento vem crescendo entre eles... Raramente concordam com alguma coisa... Apesar das brigas, muitos admiram a forma como um olha para o outro, como se eles estivessem destinados a se encontrar... Como se aquele sentimento tivesse passado por outras épocas... Benjamin e Malú... Malú e Benjamin.

“Não te incomoda a forma como as pessoas ficam nos encarando?” pergunta Malú à Benjamin que está na fila do cinema junto com ela.

“Que culpa elas tem se não podem ter o prazer da companhia de uma garota tão bonita como você?" responde Benjamin que recebe um selinho "Falando sério, acho que eles estão nos observando por verem a filha do candidato a senador no cinema com cinco seguranças”

“Lembre–se que essa foi a condição que meu pai impôs para que nós pudéssemos sair juntos sempre. Mas não estou falando de olharem dessa forma" explica Malú” É a forma como nos olham quando estamos falando em libras. Não te incomoda?”

“Não , na verdade eu acho até bom" responde Benjamin” Com o tempo, eu passei a ver só o lado bom das coisas”

“E tem lado bom em ver as pessoas nos encarem com... preconceito?” questiona Malú.

“Sim” responde Benjamin“Uma das coisas que a Ariadne me ensinou é que não devemos nos tornar vitimas... Eu nasci sem as cordas vocais , mas tenho braços , pernas, ouvidos, olhos... tenho mais sorte que muitos por ai. E eu tenho uma linguagem especial... Eu olho a minha deficiência hoje como uma benção. Eu consigo repassar os meus pensamentos através dos dedos... não vê como isso é mágico? A gente faz parte de um grupo incrível de pessoas que possuem o super poder de quebrar barreiras... a nossa linguagem não é pra todos, somente para aqueles que são capacitados e tenham o coração aberto para a realidade: somos todos iguais e quem não acha isso , é por que se sente inseguro... uma pessoa fraca.”

“Eu queria ver dessa forma , igual a você” responde Malú , triste.

“Um dia irá e você perceberá que tragédias acontecem a todo o momento, que temos mais perdas que ganhos, mais tristezas que alegrias... mas sabe? Mesmo o balanço sendo negativo, quando estamos felizes , não há tristeza que consiga nos derrubar...”

“Eu não quero superar minha mãe” responde Malú caminhando.

“Não precisa, mas você tem de lidar com a dor. Com o tempo ela se reduz... Com o tempo , a raiva minimiza...”

“Como pode ter tanta certeza?” pergunta Malú.

“Porque se for não fosse assim,estaria exatamente no mesmo lugar. Em um orfanato qualquer , abandonado pelos meus pais por ser afônico permanente e sem a menor expectativa de vida. Agora, eu vejo que só depende de mim, ser o que eu quero. E eu serei um professor de biologia. Então, pare de alimentar rancor... ele não te levará a nada.”

“É fácil falar quando sua mãe não morreu e você só conheceu seu pai agora e tudo o que você conhecia era uma mentira.”

“Malú, sua mãe não teve escolha... tenho certeza de que ela teria escolhido viver com você. E seu pai... olha o pouco que eu conheço dele , já percebi que ele não é mau. Ele escolheu você... por mais que não seja o melhor pai do mundo , ele te trouxe para cá.”

“Forçada.” reforça Malú.

“Mesmo assim... Seu destino estava traçado... você tinha de vir pra cá. Você teve de passar por tudo isso. Então, aprenda a dar valor ao que tem, ou não terá nada. Olhe sua vida de forma positiva. Se não tivesse vindo pra cá , jamais conheceria um cara tão legal e bonito como eu. Imagina viver com esse remorso.”

“Convencido” diz Malú sorrindo. Ela se aproxima e enche Benjamin de beijos que sorri “Obrigada, obrigada por ser você”

“Agradeça ao seu pai por deixar a gente ficar juntos.”

“É, quem diria que o Thiago ia ser legal assim?” comenta Malú.

“Sabe, acho que seria legal você começar a chamá–lo de pai.”

“Não sei, mesmo ele pedindo desculpas... Agora não me sinto confortável a chamá–lo de pai. Quem sabe um dia”

“Só não espere muito, para não se arrepender” observa Benjamin indo até a bilheteria.

 Ela não quer criar nenhuma expectativa em torno dele, não quer perder o chão de novo. Então decidiu consigo mesma que vai ser igual a São Tomé: Ver para crer.


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