Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 33
Capítulo 32




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/680582/chapter/33

Thiago entra em seu quarto, pensativo. Depois de uma longa conversa com sua mãe e Aline, eles decidiram que seria melhor encontrar com o grupo hoje mesmo para que o candidato tire suas próprias conclusões. Enquanto o pai de Malú subiu para se arrumar, Aline ficou responsável de falar com Ariadne para reunir o pessoal.

Ele caminha em direção ao banheiro tirando seu terno, soltando sua gravata cinza, camisa, jogando os sapatos, meias ,a calça, e por último sua cueca Box preta.Toma uma ducha rápida e em poucos minutos, está escolhendo com cuidado qual terno usará para esse encontro com o grupo de Libras e também para finalmente conhecer o tal Benjamin.

— Acabei de falar com a Ariadne e ela super topou reunir todo mundo lá no parque – comenta Aline entrando abruptamente no quarto olhando para o celular quando ela se vira em direção ao closet dando de cara com Thiago nu de costas. Imediatamente ela fechar os olhos — AI MEU DEUS! VOCÊ ESTÁ NÚ.

— Sim, Aline. É isso o que as pessoas fazem quando estão na privacidade de seu quarto – afirma Thiago vestindo o terno que decidiu escolher.

— Desculpa, desculpa... Eu deveria ter batido – pede Aline evitando olhar para Thiago —Foi erro meu.

Thiago fecha a porta do closet enquanto Aline fica girando pelo quarto , até que decide catar as roupas espelhadas pelo quarto para distrair sua mente da imagem que acabou de ver. Assim que pega o terno, nota que algo caiu de seu bolso. Ela abaixa pegando a aliança de noivado do chão e a mexendo entre os dedos.

— Pode olhar agora – avisa Thiago terminando de fechar suas abotoaduras.

— Pera... Você não vai assim né? – questiona Aline apontando para o terno com cara de deboche.

— O que tem? – pergunta Thiago erguendo a sobrancelhas sem entender.

— Thiago , você está indo conhecer um grupo de jovens em um parque em pleno domingo e não a um comício – responde Aline entrando no closet, revoltada — Sério, não é possível que você não tenha uma roupa casual.

— Eu tenho roupas casuais, para momentos casuais – retruca Thiago, sério.

— Esse é um deles – rebate Aline remexendo nos cabides — Sente–se, irei ajudá–lo com o look "sou um cara normal e não um candidato a senador".

— Tudo bem – concorda Thiago indo em direção a cama.

— Mas fique sabendo que isso é hora extra, tá? – Aline começa a avaliar as roupas de Thiago. A maioria, segundo ela, coisa de riquinho mimado. Até que uma camiseta preta lhe chama atenção. Ela pega o cabide e caminha em direção ao Thiago sorrindo — Eu não acredito que você tem uma dessas.

— O que tem? Eu também fui jovem, sabia? – responde Thiago rindo ao se lembrar da camiseta.

— Mas Black Sabbath? – questiona Aline olhando mais uma vez pra camiseta da banda — Você não tem cara de ser fã.

— Eu sou fã... Ou era. – responde Thiago, indiferente —Mas não inventa, não usarei essa camiseta.

— Tudo bem – concorda Aline voltando para o closet. Ela então escolhe uma bermuda cáqui, bata masculina branca e joga em direção ao pai da Malú — Pronto, uma coisa mais casual.

— Obrigado – agradece Thiago ajeitando a roupa.

— Eu achei isso – informa Aline chamando atenção de Thiago que levanta a cabeça. Na mão da Aline , a aliança de noivado. Ele se aproxima, pega a aliança e a leva até ao criado mudo — Quer conversar?

— Não há nada o que dizer – responde Thiago, sério. —Obrigado pela roupa, agora se puder me esperar lá fora... Preciso me trocar, com liberdade.

— Tudo bem. Espero você no hall – responde Aline indo para a porta.

— Avise minha mãe também – pede Thiago.

— Ela não irá. Disse que ficará com a Malú – explica Aline —Aliás, as duas estão bem próximas, ela até tomou Milk Shake.

— Minha mãe? Não mesmo – recusa Thiago , incrédulo.

— Em um fast food – acrescenta Aline sorrindo.

— Uau, muita coisa andou acontecendo por aqui – comenta Thiago,surpreso.

— E muito mais poderá acontecer, só depende de você.– responde Aline saindo logo em seguida.

***

O Parque Municipal do Passaúna é um dos mais belos parques de Curitiba. Possui Um imenso lago formado pela represa que abastece parte da cidade de Curitiba. A construção da represa inundou as instalações de antigas olarias, cujas chaminés ainda podem ser vistas no Parque.

A fauna da região é rica e variada, com muitas espécies de animais. Garças, mergulhões, canários, biguás, capivaras, tatus, jaçanãs e mesmo jaguatiricas podem ser eventualmente observadas na mata local.

O Parque possui uma trilha ecológica de 3,5 km, beirando o lago. Possui, também, Estação Biológica, ancoradouro de barcos, parque infantil, pontes de madeira, churrasqueiras e um mirante de 60 m de altura, em relação ao nível do lago, onde estão os jovens acompanhados de Ariadne que acena empolgada para Aline e Thiago que se aproximam.

— Olá – cumprimenta Ariadne tanto a Aline quanto Thiago — Estou muito feliz em saber que você decidiu finalmente conhecer o nosso projeto, Thiago.

— Eu fico grato em poder conhecer melhor o projeto de vocês.

— Bom, o objetivo principal do grupo é fazer a inclusão de jovens que possuem a condição de ausência auditiva ou até afonia.

— Você quis dizer Deficiência, certo? – corrige Thiago.

— Não, eu quis dizer condição mesmo. Na psicologia, deficiência significa insuficiência de uma função psíquica ou intelectual. Na medicina,insuficiência ou ausência de funcionamento de um órgão. No geral, perda de quantidade ou qualidade; falta, carência. Perda de valor; falha, fraqueza. – fala Ariadne apontando para os jovens — Olhe para eles, consegue encaixar alguma dessas definições?

Thiago observa os jovens admirando o lago enquanto conversam entre si. Eles riem e zoam uns aos outros como qualquer adolescente da mesma idade.

— Concordo – comenta Thiago para a psicóloga — Se não fossem as mãos o tempo todo em movimento, eles até parecem normais.

— Essa é a questão, eles são normais. São iguais a nós... Eles se adaptam ao meio da mesma maneira. Mas são excluídos da sociedade por conta da comunicação. Porém, nós não nascemos sabendo falar, aprendemos... Iguais a eles. Por que a Libras é tão discriminada se é apenas uma forma de comunicação?

— É... Seria como aprender um novo idioma – completa Aline — Aliás, até mais fácil que aprender um novo idioma.

— Sim – concorda Ariadne apontando para Aline — Eles apenas tem algumas condições, assim como nós.Não somos super humanos, nós temos limites. Nem todos nós nascemos para sermos jogadores de futebol, ou presidente do país. Nem todos tem jogo de cintura para ser ator, ou médico. Até mesmo cantor. Eles também, a diferença imposta por nós é por conta da comunicação. Nós isolamos, os colocamos como deficientes e as oportunidades colocadas como meros sonhos.

— Então você decidiu reuni–los nesse grupo. – conclui Thiago.

— Sim. Eles tem aulas de reforço , já que muitos frequentam escolas convencionais e muitas não possuem profissionais que saibam Libras e seus colegas também não tem essa disponibilidade.Conseguimos algumas pessoas para dar cursos pré– vestibulares, de capacitação e parcerias para inclusão desses jovens no mercado de trabalho. Como é o caso do Benjamin, o nosso coordenador. – responde Ariadne chamando Benjamin que se aproxima com receio — Benjamin, esse é o Thiago de Almeida, candidato a senador e pai de uma das participantes do nosso grupo, a Maria Luísa.

— Prazer – comenta Thiago estendendo a mão em direção ao rapaz. Apesar da fala parecer afável, a expressão do candidato era totalmente diferente. Benjamin aperta a mão de Thiago que se controla para não apertar com força – Sabe, é muito bom finalmente poder associar um rosto ao nome tão falado em minha casa.

— Ele inclusive faz parte a uma das floriculturas de sua família – explica Ariadne —Graças à parceria realizada.

— Há quanto tempo? – questiona Thiago encarando Benjamin.

— Ele já está indo para o terceiro ano – responde Ariadne, orgulhosa.

— Isso é ótimo. Meus parabéns – parabeniza Thiago, aliviado. Suas suspeitas contra Benjamin caíram por terra. Ele encara Ariadne —Mas já existem Institutos com formação continuada, iguais a esse projeto, não é mesmo?

— Existem, porém são todos pagos. E o nosso projeto é totalmente gratuito justamente porque muitos são de baixa renda. Suas famílias não tem como mantê–los em institutos de alto padrão. Então, a ideia do projeto me pareceu melhor meio de ajudá–los. O nosso maior problema é que não temos espaço para todas as nossas ações e temos recusado alguns potenciais alunos. Além disso, queremos também inserir a Escrita de Sinais.

— Então vocês precisam de um lugar adequado para isso?

— Também, mas não temos orçamento. Vivemos de doação da maioria dos alunos que ingressam no mercado de trabalho, mas não quero que eles tirem do sustento deles. Nós precisamos de um Instituto e manter a proposta do acesso para todos. E por isso, nós precisamos de alguém que seja do meio da política para ajudar a nossa causa e transformar o nosso projeto em algo real aqui em Curitiba.

— Entendo perfeitamente, Ariadne. – responde Thiago —Eu preciso de um tempo para pensar em tudo o que me disse e verificar se eu realmente posso ajudá–los.

— Tudo bem – concorda Ariadne — De qualquer forma, eu agradeço pelo seu tempo.

— Eu quem agradeço pela oportunidade de conhecer o projeto – agradece Thiago se afastando sendo acompanhado por Aline.

— Então? Você irá aceitar né? – pergunta Aline, curiosa.

— Melhor conversarmos em casa – responde Thiago, pensativo segurando no braço de Aline.

***

Aline e Thiago entram na mansão em silêncio, apesar das inúmeras tentativas da mulher para saber o que se passa na cabeça do candidato:

— Thiago, seu silêncio está me matando – solta Aline, nervosa — Pode ao menos dar uma pista do que concluiu. Pelo menos a respeito do Benjamin.

— Acho melhor conversarmos no escritório – comenta Thiago abrindo a porta.

Vera encostada na mesa escritório de Thiago ,furiosa, chama atenção do candidato e Aline que ficaram curiosos com sua presença:

— O que raios você esta fazendo? – questiona a loira com as mãos na cintura.

— Grazi contou a você que terminamos – conclui Thiago passando por ela e sentando em sua cadeira.

— Mas não é por esse motivo que estou aqui. E sim para tentar entender por que raios você largou o comitê inteiro durante a campanha e voltou para a capital? Se fosse apenas a ameaça, nós tínhamos combinado que eu cuidaria disso. Porém eu chego aqui e você simplesmente saiu com essa aí. Qual o problema com você?

— Eu tinha outras coisas a resolver relacionadas a Malú ...

—Como, por exemplo? – questiona Vera, séria.

— Como, por exemplo... Vera isso é problema familiar e não lhe diz mais respeito– responde Thiago, irritado.

— Mas quando interfere em meu trabalho, isso se torna problema meu também –retruca Vera imponente — Mas para sua sorte você esta muito bem assessorado por mim , consegui reverter a situação e ainda inserir a Malu no contexto da sua campanha.

— Nos já falamos a respeito disso, eu não quero a Malu envolvida – recusa Thiago se levantando.

— Isso está fora de cogitação, Thiago. Depois que você abandonou a campanha e agora quando descobrirem o término do noivado... Você não vencerá as eleições. – decreta Vera acendendo seu cigarro.

— Bom, os eleitores devem decidir se sou apto ou não para o cargo, não acha? Eu não irei manipulá–los usando a Malu.

—Então você é um perdedor? Por que você está concorrendo, se não quer vencer? – questiona Vera, transtornada.

—Eu quero vencer, mas não quero vencer usando minha filha para isso. Eu quero que me reconheçam como líder... Como um candidato ideal.

—Mas até o candidato ideal, se utiliza de artimanhas... E se quiser vencer terá de colocar a Malú na jogada – alega Vera.

—Ela tem razão –concorda Aline, por mais difícil que seja, entrando no escritório. Ela se aproxima dos dois que a encaram, surpresos — Não a parte em que precisa utilizar de artimanhas, mas sim da participação da Malú na sua candidatura.

— Como pode concordar expor a Malú assim? –pergunta Thiago, surpreso.

— Não vamos expor a Malú, mas sim a condição dela e de muitas crianças que de certa forma são negligenciadas e isoladas da sociedade.

— O que está propondo, Aline? –pergunta Vera, curiosa.

— Estou propondo que Thiago abrace a causa do projeto. Pela Malú.

— Mas o caso da Malú é temporário –argumenta Thiago.

— É o que a gente acredita, mas se não for? E se ela ficar assim permanentemente? Fora que, independente dela voltar a falar, essas pessoas precisam de representação. Precisam de apoio,e não são poucos os casos de crianças que não tem acesso a LIBRAS, além do assunto ainda ser tratado como TABU em muitos lugares. Thiago, você tem uma oportunidade incrível de mostrar seu valor. Além de eu ter a certeza que a Malú vai te apoiar incondicionalmente nessa causa e irá de livre e espontânea vontade onde precisar ir te representando. Isso unirá vocês –finaliza Aline.

— Será?–pergunta Thiago, indeciso.

— Claro que não né , Thiago –intromete–se Vera encarando Aline —Tudo o que eu escutei foram asneiras, atrás de asneiras... Eu nunca ouvi tanta besteira em toda a minha vida. Você acha mesmo que esses deficientes ajudarão o Thiago? Eles nem ao menos se ajudam! Você não vai cair nessa , não é mesmo Thiago?

— Você acha que eu seria o melhor para representá–los, Aline?– pergunta Thiago a Aline.

— Você não pode estar considerando... –comenta Vera, chocada encarando Thiago.

— Ariadne já tem o projeto para o Instituto de inclusão de jovens, juntando isso e fazendo uma pesquisa na área, podemos conseguir um excelente projeto –responde Aline , empolgada —Um projeto sólido na sua campanha com certeza trará a força que precisa para vencer.

— Você não pode levar isso a sério –alega Vera para Thiago — Ela não entende nada de política. Se Aline entendesse, saberia que esse tipo de coisa... Ajudar necessitado, não fará com que Thiago vença as eleições. O povo quer fofoca, intriga... Quer dinheiro fácil... Essas ajudas sociais... Só besta é quem faz. A única coisa que concordo com Aline é que devemos colocar Malú na jogada. Esse projeto para ajudar deficiente, pode ser descartado.

—Vera –chama Thiago ajeitando o terno — Eles não são deficientes. Eu irei subir para falar com a minha filha.Enquanto isso , você fica encarregada de marcar uma entrevista com a doutora Ariadne, para começarmos a trabalhar isso na campanha.

— Mas , Thiago... – contesta Vera, estarrecida — Isso é um tiro no pé.

— Faça só o que eu mandei. – ordena Thiago passando por Aline — Espero que esteja com a agenda vazia... Precisarei de você na minha campanha... Você e a Malú. Estou indo reverter a situação com a minha filha. Deseje–me sorte.

— Boa sorte – deseja Aline evitando sorrir. Assim que Thiago sai , ela sorri para Vera, vitoriosa antes de sair.

—Acha mesmo que venceu? Aline, você está entrando em um terreno muito perigoso – alerta Vera, fazendo Aline parar. A loira sorri e continua — Peço que você volte a sua insignificância e deixe esses assuntos comigo.

— É mesmo? E o que fará se eu não recuar?– questiona Aline se virando.

— Aline, não sou a tapada da minha irmã que corre no primeiro obstáculo – avisa Vera, séria se aproximando —Não ameaço , eu faço. E o que é seu... Está bem guardado.

— Então guarde muito bem, pois vai precisar – retruca Aline abrindo a porta.

— Pode ter certeza que sim...A ainda mais quando se trata de segredos... E o seu Aline é o mais sórdido que eu já vi. – comentei Vera em voz alta.

Aline fica parada na porta observando Vera pegar suas coisas e se aproximar. A loira passa pela tia de Malú sorrindo.

— Obrigada por segurar a porta para mim, Aline Buarque de Melo – agradece Vera, sarcástica, revelando o sobrenome de Aline que a encara em choque.

Será que ela descobriu...? Será que ela sabe o que eu fiz...? Pensa Aline observando Vera sair da mansão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Malú" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.