Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 30
Capítulo 29




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Um, dois, três, quatro,

Cinco, seis, sete, oito.

Um, dois, três, quatro,

Cinco, seis, sete, oito... – conta Maria Luísa no ritmo de The Second Waltz, música de Dmitri Shostakovich. Ela observa Malú dançando com o travesseiro. Se o seu travesseiro tivesse pés estaria dolorido e no mínimo bem longe de Malú. Ela finaliza a dança e encara sua avó —Muito ruim Malú. Mais uma vez.

— O que está havendo aqui? – pergunta Aline entrando no salão de festas abruptamente acompanhada pelo Doutor Ricardo. Ela vai até o rádio e pausa — O ensaio não era mais tarde?

— Na verdade, Malú pediu que o ensaio tivesse início antes da chegada do rapaz – responde Maria —Mas ainda bem que estão aqui, vocês irão me ajudar a mostrar para Malú como são os passos e a postura para a dança.

— Infelizmente, nós já terminamos a aula e o Ricardo já está indo embora – explica Aline encarando Ricardo, nervosa. — E eu não sei nada sobre valsa.

— Entendi – comenta Maria —Doutor, você tem de estar em algum lugar depois daqui?

— Na verdade não... Eu adoraria ajudar a Malú, além de ser ótimo em valsa e com certeza saberei conduzi–la – responde Ricardo sorrindo para Aline que bufa.

— Ótimo. Posicionem–se aqui – explica Maria apontando para o centro da sala — Malú, você irá apenas observá–los.

Aline se posiciona na frente de Ricardo que faz uma reverência para ela. Maria volta a música do início e então passa ajeitando a postura dos dois:

— Doutor, coloque sua mão direita na cintura de Aline, a esquerda com punho fechado nas costas. Aline fique ereta. Os primeiros passos são simples. Um passo juntou, um passo juntou na contagem até quatro. Cinco, seis, sete, vocês irão girar... Mas tenho certeza que Aline se recorda dos passos, não é mesmo? – questiona Maria encarando a tia de Malú.

— Tentarei – responde Aline quase sussurrando enquanto Ricardo a encara, curioso.

— Então, vamos começar...

Cinco, seis, sete, oito...

Um, dois, três, quatro...

Ricardo e Aline começam a dançar observando um ao outro. Ela está de cara fechada, enquanto ele a admira. Eles giram, mas somente com Ricardo tocando na cintura de Aline.

— Se não lembrar, eu posso conduzi–la pelo salão – comenta Ricardo.

Aline rodopia então em direção ao braço esquerdo do Doutor que a segura pela cintura, dançando pelo salão. Ela sorri diante da surpresa dele...

— Como pode ver, eu não esqueci – alfineta Aline

— Não estou surpreso por isso, mas o fato de você ter aprendido a valsa de Shostakovich – revela Ricardo a conduzindo de volta para o seu braço direito e apoiando o antebraço direito de Aline com o esquerdo.

— Por quê? Eu não pareço ter sido uma adolescente que sonhava com um belo príncipe encantado? – questiona Aline observando seu braço direito flutuar com o esquerdo de Ricardo.

— Não, mesmo – responde Ricardo fazendo Aline rodopiar em sua frente. Ela aproxima seu corpo, deslizando sua mão direita até apoiá–la no ombro de Ricardo — Você está mais para uma adolescente que tinha Ozzy Osbourne na parede do quarto.

— Talvez... – comenta Aline antes de rodopiar sozinha pelo salão sendo apenas observada por Ricardo. Ele então se aproxima e a segura novamente na cintura com a mão direita, enquanto seu braço direito fica suspenso no ar junto com o direito de Aline — Mas isso não me eximiu de ter uma boa educação.

— Pelo nível, uma educação de uma princesa, certo? – pergunta Ricardo, curioso. Ela volta a rodopiar e então segura em seu braço esquerdo que está estendido com as duas mãos ficando um pouco atrás dele. — Não irá me contar certo?

— Exatamente– responde Aline rodopiando e segurando o braço direito de Ricardo e ficando em sua frente — Existem coisas do meu passado que não merecem ser lembradas.

— Assim você dificulta meu trabalho de conhecê–la melhor – comenta Ricardo se afastando e então segurando a mão direita de Aline, então se afasta novamente e segura a esquerda. Ele a puxa para si, colocando sua mão esquerda em suas costas enquanto a direita segura a mão de Aline com os braços esticados — Algo que eu adoraria...

— Adoraria... – repete Aline inclinando a cabeça para o lado enquanto eles giram. —Não há muito que conhecer a meu respeito. Fui a melhor amiga de Anna, ajudei na criação de Malú. Trabalhei como bartender e fui despedida. Recebi o convite do pai de Malú para continuar ajudando na educação e criação da minha sobrinha.

— Mas, antes disso? – questiona Ricardo a fazendo rodopiar novamente e parar em sua mão esquerda. Então ele a gira novamente, a fazendo parar na mão direita e assim, várias vezes no ritmo da música. Até que ele envolve a cintura de Aline com seu braço esquerdo, enquanto segura a mão direita dela com a sua. Ela toca de leve na mão esquerda de Ricardo, enquanto sorri — A quem pertencia seus lábios? Para quem sorria?

— Isso não importa – responde Aline, séria. Eles voltam a valsar com os corpos de frente um para o outro girando pelo salão.

— Tudo bem, então reformularei a pergunta –Ricardo rodopiando Aline. Quando ele a puxa para si, pergunta — Há alguma chance de você se abrir para o amor?

— Talvez – responde Aline se curvando levemente — Mas não é assim tão simples

Ele a segura pela cintura a levantando enquanto giram. Aline desliza seu corpo pelo de Ricardo, ofegante. Ele a gira mais uma vez a fazendo se curvar levemente. Os lábios dele estão entreabertos como se esperasse um beijo. Então Aline segura mão do Doutor e volta a ficar de pé.

Os dois se afastam, voltando para a posição inicial e fazem uma reverência, recebendo aplausos de Malú e todos os empregados que foram assistir. A adolescente nunca poderia imaginar que sua tia dançava tão bem. Maria também fica admirada com a leveza do casal.

— O que estão fazendo parados aí? – questiona Maria aos empregados — Voltem aos seus afazeres.

— Dona Maria – chama Adelaide —Só estou aqui para avisar que o rapaz chegou, mas ai eu vi essa formosura...

— Já avisou Adelaide – corta Maria, séria — Agora, traga–o aqui.

Aline respira fundo e se afasta de Ricardo indo até a jarra de água para matar sua sede. Ela toma devagar pensando há quanto tempo não valsava assim.

— Doutor Ricardo – chama Maria despertando Ricardo de seus pensamentos — Espero que possa nos acompanhar no sábado.

— Não perderia por nada – responde Ricardo admirando Aline que agora conversa com a sobrinha.

***

— Dona Maria, o senhor Benjamin – anuncia Adelaide dando passagem para o rapaz que não esconde a surpresa com o tamanho do salão da mansão.

— Aline – chama Maria encarando o rapaz. Assim que a tia de Malú se aproxima, ela ordena — Por favor, traduza ao rapaz que nós iremos começar o ensaio...

— Ele escuta – interrompe Aline abraçando Benjamin — Que bom que chegou.

— Malú e Benjamin se posicionem – começa a matriarca —Benjamin, coloque sua mão na cintura de Malú, Malú arrume a coluna – ajeita as mãos de Benjamin que admira Malú e por um bom motivo: A jovem fez alguns cachos nos cabelos que caem perto da orelha, uma tiara branca e está com um belo vestido florido. O look foi escolhido meticulosamente pela jovem. Maria se afasta — Ótimo. Vamos dançar.

A música invade o salão de festas da mansão. Benjamin e Malú começam a se movimentar, tímidos. O rapaz aproxima mais da jovem, colando seus corpos. Eles se olham enquanto dançam Malú nota que Benjamin está usando perfume. As mãos de Benjamin começam a suar, a única coisa em que consegue pensar é em não pisar no pé dela. Cada parte do corpo de Malú sente o calor que o de Benjamin transfere.

O rapaz nota que os lábios de Malú estão pintados de rosa bem claro, quase imperceptível, os olhos da jovem é azul bem próximo do escuro, tem o tom mais esverdeado, um pinta próxima aos olhos, um queixo pequeno, bochechas rosadas com covinhas... Malú nota que os olhos de Benjamin são castanhos quase mel... Ele aperta devagar a cintura dela... Olho no olho... Respiração forte... Lábios entre abertos...

—E... Pessoal... –chama Aline de braços cruzados despertando os jovens. Ela aponta para o rádio que está desligado, para Maria que agora está falando com sua governanta. Os dois ficam corados pelo fato de não terem notado isso — O ensaio acabou.

Os dois se afastam sem graças para lados opostos. Maria retorna observando as vestes simples de Benjamin.

— Rapaz, você possui algum smoking? Terno?Sapato?

O rapaz balança a cabeça negando veemente, nem ao menos uma camisa social seria encontrada na cômoda de Benjamin.

— Tudo bem, eu já esperava isso. Venha, pedi a Adelaide preparar um traje para você – informa Maria conduzindo Benjamin para o andar dos quartos da mansão.

***

Benjamin caminha pelo corredor acompanhando Maria até a porta de madeira maciça. Assim que ela abre, a luz solar que vinham das janelas o força a fechar seus olhos por alguns instantes. Quando os abre encontra o quarto pintado tons pastel e branco com detalhes em dourado e a maior cama que já tinha visto em sua vida. Ele se aproxima da governanta que segura o smoking preto, meia e os sapato preto de verniz.

— Vista. Preciso ver se ficará bom em você – ordena Maria, séria.

O rapaz pega o traje masculino e caminha para dentro do banheiro indicado pela Adelaide. Após alguns minutos o rapaz volta vestindo o casaco com lapelas em seda, calça com as laterais em seda. A faixa preta por cima da camisa branca com a frente trabalhada. O laço de seda preto para gravata borboleta ainda está desfeito. Maria se aproxima do rapaz e faz o laço para ele, ajeitando a gravata.

— Perfeito – elogia Maria se afastando.

— Benjamin, a Ariadne veio te buscar – avisa Aline entrando no quarto. Ela sorri, admirada com a elegância do rapaz.

— Vá se trocar então, rapaz – ordena Maria —Adelaide, guarde o traje para ele levar.

— Sim, senhora – responde Adelaide se afastando.

— Como você sabia que o smoking daria nele?

— Porque ele tem a mesma estatura do meu filho quando mais novo– responde Maria.

— Engraçado, sempre imaginei o Thiago um rapaz franzino – comenta Aline.

— Mas o Thiago era franzino... Estava falando do Ícaro. Ele sempre foi um rapaz grande, bem apessoado. – revela Maria sob o olhar surpreso de Aline — Bom, meu trabalho acabou, vou para o meu quarto. Por gentileza, conduza o Benjamin até a saída.

— Okay – responde Aline observando Maria saindo do quarto. — Quem diria... Nunca pensei que ela gostasse do Ícaro.

Benjamin sai do banheiro e entrega o traje para Adelaide que arruma dentro da capa e o devolve ao rapaz que agora é acompanhado em direção ao Hall por Aline. Ele se despede da tia de Malú, então pega suas coisas e caminha em direção a porta. Malú encara sua tia que faz um gesto com a cabeça para fazer a sobrinha acompanhar o rapaz.

A jovem praticamente corre para alcançá–lo...  Então caminha ao lado dele, tímida. Seu coração ainda bate acelerado, algo aconteceu e ela sente isso... Precisa saber se ele também sente o mesmo, mas não tem coragem. Já estão no portão quando um olha para o outro. Malú balança a mão se despedindo de Benjamin.

“Até” diz Benjamin se virando logo em seguida. Então ele pára e olha pra Malú, sorrindo “Quer dizer então que seu plano A te deu um bolo e você disse para sua avó que eu irei substituí–lo...”

“Por que acha isso?” responde Malú com uma pergunta, mordendo os lábios.

“Bom, sua avó me emprestou um traje completo até com sapato. E não acho que seja só para ensaiar.” responde Benjamin.

“Não, não é só pra ensaiar” revela Malú parando na frente de Benjamin” Você gostaria de ir comigo ao baile?”

“Então seu plano A te deu um bolo e acha que eu vou aceitar seu convite... vai sonhando, não sou plano B de ninguém” Benjamin, teimoso, cruzando os braços logo em seguida.

“Você não é meu plano B” reage Malú com um sorriso meigo. Ela se aproxima “Para ser um plano B, precisa ter um plano A... e você sempre foi a única pessoa com quem eu gostaria de ir”

“Mas você disse antes que ia com outra pessoa” recorda Benjamin, confuso.

            A jovem fica vermelha então decide confessar apontando para si e logo em seguida faz um gancho com o dedo indicador balançando rapidamente na frente de sua face. “Quando você deduziu que eu ia te levar ao baile, decidi colocar você um pouco no chão.”

“E se eu não quiser ir agora?” provoca Benjamin, tentando ficar sério.

“Eu darei um jeito de te convencer” responde Malú confiante.

“Qual jeito?” pergunta o rapaz, curioso. “Até onde eu sei, não teria nada que me fizesse mu...”

Malú toma os lábios de Benjamin, em um beijo doce. Ele se afasta, deixando Malú sem ar.

“Até o baile, Malú" despede–se Benjamin, correndo em direção ao carro de Ariadne


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