Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 29
Capítulo 28




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Aline caminha impaciente pelo hall a espera das duas. Encara mais uma vez o relógio que já se aproxima do horário do jantar. Onde será que elas estão?Será que aconteceu alguma coisa? Pensa Aline, nervosa mordiscando o pouco que resta da unha do polegar.

—... As famílias vinham de todos os lugares só para esse baile, então imagine a situação constrangedora que passei ao errar aquela nota no piano – comenta Maria abrindo a porta sendo acompanhada por Malú que está sorrindo e o motorista com a enorme caixa do vestido.

— Até que enfim! – exclama Aline com as mãos na cintura. — Aonde é que vocês estavam?

— Boa noite, Aline – cumprimenta Maria sem se importar com a irritação da mulher — Você sabe muito bem que fomos comprar o vestido da Malú.

— Mas até essa hora? – questiona Aline, irritada.

— Adelaide – chama Maria ignorando Aline. Assim que a governanta aparece, ela sorri e ordena — Traga o álbum do meu baile da ASM.

— Sim, senhora – responde Adelaide já indo em direção a biblioteca central.

— Antes de ir – intervém Maria com a mão —Sabe onde está guardado meu vestido?

— No quarto da senhorita Malú dentro do closet – responde Adelaide — Quer que eu pegue para a senhora?

— Não é necessário, eu mesma irei pegá–lo – responde Maria —Por enquanto só preciso que leve o álbum lá para o quarto dela. Vamos, Malú, precisamos encontrar o meu vestido.

Maria e Malú sobem animadas sendo acompanhadas por Aline que não está gostando nada dessa situação.

***

A caixa de madeira era quase o dobro do tamanho da que trouxe o vestido de Malú que agora ajuda sua avó a retirá–la de dentro do closet e colocar em cima da cama. Aline senta na beirada apenas observando a empolgação da avó e neta ao soltar as presilhas que prendem a tampa, tirar o embrulho com cuidado deixando aparecer o tecido pérola.

— Um, dois, três... – conta Maria antes de tirar o vestido da caixa e o fazer flutuar pelo quarto até descansar na cama.

O vestido é longo rodado com decote de princesa. O corpo bordado com pedrarias diversas e aplicações de flores em relevo. A saia rodada em net de paetê, sobreposta por tule liso; com acabamento de crinol e fechamento com botões de cristais. Aline nota que na caixa de madeira, ainda tem no canto outra caixa de jóias, ao abrir, uma bela tiara repleta de cristais.

— Esse é o seu vestido de noiva, né? – pergunta Aline, admirada com a beleza do vestido e da tiara.

— Não, Aline. Esse foi só o meu vestido de baile que meus pais mandaram fazer na França. – responde Maria tocando levemente em seu vestido que lhe trouxe belas lembranças.

Malú também admira o vestido de cor pérola em sua cama, esse é o vestido perfeito para o baile da ASM.

— Quer experimentar? – pergunta Maria surpreendendo Malú e Aline. Ela o levanta da cama e o coloca nos braços da neta — Vamos, experimente. Quero ver como ele ficará em você.

— Mas é pouco provável que ele caiba nela – comenta Aline.

— Ela só saberá quando vestir – alega Maria.

Malú segura o vestido com certa dificuldade e caminha para o banheiro para experimentá–lo sendo observada por Aline e Maria.

— Aline, posso lhe pedir um favor? – pergunta Maria sem encarar a tia de Malú.

— Só o fato de você estar pedindo me deixou curiosa. O que você quer?

— Teria como você me ensinar algumas coisas... Em Libras? – pergunta Maria, séria.

— Okay, quem é você e o que fez com a megera Mor? – questiona Aline se levantando.

— Então é assim que me chama pelas minhas costas? – questiona Maria, surpresa.

— Eu te chamo de coisa pior, mas enfim... Por que você quer aprender Libras? – questiona Aline sussurrando.

— Porque é o melhor para...

Malú abre a porta do banheiro, o vestido serviu perfeitamente ao corpo da jovem que caminha para dentro do quarto sob os olhares emocionados da avó e sua tia.

— Você está linda –elogia Aline, emocionada, admirando o vestido.

Maria fica sem palavras, se não fosse o cabelo curto, Malú facilmente seria uma miragem de sua avó de anos atrás quando experimentou o vestido pela primeira vez naquele quarto.

— Minha Nossa Senhora! – exclama Adelaide derrubando o álbum de fotografias no chão a ver a jovem — Mas vocês são idênticas!

— Devo admitir que também achei – comenta Aline fazendo uma careta enquanto encara o quadro da matriarca.

— Coloque a tiara – pede Maria entregando a tiara para a neta que a coloca — Você ficou linda.

Malú sorri encarando o espelho mais uma vez, realmente está belíssima no vestido. Mas aos poucos, seu sorriso desaparece e ela suspira fundo, fechando os olhos.

— Ela com certeza diria que você está linda – comenta Aline que sabe exatamente quem veio nos pensamentos de Malú: Anna.

Malú se vira encarando a tia com um leve sorriso de agradecimento. Ela volta para o banheiro a fim de retirar o vestido e volta, sentando ao lado de sua tia.

— Ficou ótimo em você, Malú – elogia Maria que se vira para Adelaide —Traga meu álbum.

O álbum de Maria está repleto de memórias do dia em que foi apresentada a sociedade. As fotos em preto e branco não impedem Malú de admirar a beleza do evento. Malú aponta para rapaz que parece ter o cabelo claro dançando com sua avó:

— Esse foi o meu parceiro. Augusto Brückner, filho de um poderoso desembargador – comenta Maria admirando a foto.

— O primeiro rolo da Dona Maria – debocha Aline.

— Não, mas foi um grande amigo. – responde Maria, tristemente.

“Quem foi o seu primeiro namorado?" pergunta Malú, curiosa.

— Seu avô. Ele foi meu primeiro namorado, noivo e esposo. – responde Maria, séria.

“Como se conheceram?"

— Nossas famílias eram grandes amigas e, obviamente, já tinham planejado a nossa união que aconteceu três anos após o baile.

— Casamento arranjado? – pergunta Aline erguendo a sobrancelha.

—Sim, bem como os dos seus pais , Aline – responde Maria virando a página do álbum. Malú encara a tia, surpresa, como sua avó sabe a respeito dos pais de Aline? A sua avó sorri e aponta para o álbum — Essa era a minha melhor amiga na época.

“O que aconteceu com ela?"

—Casou–se logo após o baile com um grande produtor de uvas e perdemos o contato.

Elas continuam vendo as fotografias de Maria, até que na última página a foto mais preciosa de Maria: Pedro, seu professor de piano.

— Bom, é isso – finaliza Maria fechando o álbum rapidamente. Ela se levanta, ajeita sua roupa e a serenidade de seu rosto é trocada pela velha e conhecida expressão séria. Caminha até a porta sendo acompanhada pela governanta. — Não se esqueça de pedir ao rapaz vir aqui em casa ensaiar. Aguardo as duas lá embaixo para o jantar, sem atrasos.

Assim que ela sai, Aline e Malú se entreolham, confusas. Então começam ajeitar o vestido dentro da caixa.

— Conte–me, o que vocês fizeram hoje? – pergunta Aline, curiosa.

"A gente comprou o vestido... e tomamos Milk Shake"

— Espera, você está querendo me dizer que aquela senhora tomou Milk Shake? – questiona Aline parando tudo o que está fazendo, incrédula.

"Sim, fomos a um fastfood ali perto."

— Não mesmo...

"Estou falando tia, avó foi comigo, sentou–se à mesa e tomamos juntas. Ela até congelou o cérebro. Ah, ela me ensinou o que fazer quando isso acontece... Resolve mesmo"

— Ah é, não acredito que perdi isso... E você gostou de sair com ela? – pergunta Aline com receio.

“Sim, foi muito legal. Ela me contou como era na época dela. Sabia que ela conheceu a mamãe?"

— Ela te disse que conheceu sua mãe? – Aline fica paralisada. Será que a Maria contou toda a história para a Malú?

“Sim e que a mamãe era a pessoa mais adorável, honesta e de bom coração que ela conheceu na vida"

— Algo mais? – pergunta Aline, nervosa.

“Só isso mesmo" finaliza Malú omitindo a respeito do acordo. "Bom, vamos guardar os vestidos antes que a gente se atrase e a vovó surte"

— Sim, vamos – responde Aline, intrigada. Sente algo muito estranho no ar.

***

A Floricultura está movimentada com tantos pedidos que vieram após o episódio do Reality Show de Graziela, deixando todos os funcionários ocupados, incluindo Benjamin que resolveu levar Malú para lá a fim de não cancelar a aula com a jovem.

Ele arruma as flores na vitrine da floricultura, enquanto Malú pratica os exercícios passados. Benjamin então percebe que a jovem está fazendo um dos movimentos errados, se aproxima segura a mão de Malú fechando todos os dedos menos o polegar. Conduz o polegar até a bochecha dela e o desliza pelo rosto até após o queixo. Estão concentrados a ponto de não notarem a presença de Aline que entra sorrateira no espaço.

— Hora de ir – avisa Aline assustando aos dois— Você tem dever de casa e não quer que eu coloque isso no relatório para o seu velho.

“Tudo bem, tia” responde Malú em libras recebendo o sorriso de Aline que aponta para Benjamin, a lembrando do convite. Ela se vira para o rapaz “Posso te fazer uma pergunta?”

“Claro” responde Benjamin. “Se você responder a minha primeiro”

“Tudo bem” concorda Malú, curiosa.

“A Aline não é sua tia, né? Digo tia de verdade?” pergunta Benjamin, tímido.

“Não, ela é minha tia do coração... conheceu minha mãe quando estava grávida de mim... Por que a pergunta?”

“Porque ela é legal, então deduzi que não poderia ser sua tia de sangue” brinca Benjamin, recebendo um tapa no ombro de Malú.

“Ela é legal, mas a minha mãe era mais... muito mais... ela era incrível” comenta Malú que ao terminar, toca em seus cabelos um pouco abaixo da orelha.

“O que aconteceu com ela?” pergunta Benjamin, curioso.

“Ela morreu de câncer... há pouco tempo. Eu tenho de ir” Malú, desconfortável.

“Ei, você disse que tinha algo pra me perguntar” lembra Benjamin. Ele se aproxima dela com um lírio e entrega para ela que fica vermelha

“Pois é... Sábado será meu baile de apresentação na Associação de Senhoras de Magistrados. Uma daquelas festas sem graças e tradicionalistas”

“Quer que eu vá com você?” pergunta Benjamin, sério.

“Não... eu já tenho par”mente Malú, nervosa. “Eu ia te perguntar se você poderia ensaiar comigo... O meu par está em época de provas e minha avó insiste que tudo fique perfeito. Então queria saber se você poderia me ensaiar comigo?"

“Mas eu não sei dançar esse tipo de música de rico” responde Benjamin“Ainda mais se você irá dançar com outra pessoa”

Malú estreita os olhos, analisando Benjamin que claramente ficou com ciúmes. Por mais que ela não quisesse admitir, as coisas estão mudando entre os dois. Ele respira fundo e então a encara:

“Você me ensina?” pergunta Benjamin, nervoso.

“Claro, mas tenho duas regras: a primeira é que vai ser lá em casa e a segunda é que o seu corpo é meu... digo para aprender a dançar, claro. Podemos começar amanhã”

“Tudo bem”

“Obrigada, Benjamin” agradece Malú que logo em seguida abraça Benjamin.

Os dois ficam um tempo abraçados, sentindo a respiração um do outro, os corações no mesmo ritmo. Benjamin observa os cabelos de Malú, a pinta na orelha da jovem. Malú respira fundo, sentindo o cheiro da colônia que Benjamin está usando.

— Vamos, Malú– chama Aline aparecendo novamente fazendo Benjamin quase jogar Malú em cima das begônias. Dessa vez a tia da jovem percebe que foi um momento constrangedor e se vira caminhando rápido.

“Até lá”diz Benjamin” E... suas mãos são suas novamente”

“Obrigada. Até amanhã” responde Malú quase correndo da floricultura.

Assim que ela surge no estacionamento, encontra Aline com o rosto sem graça.

— Desculpe–me, eu não queria atrapalhar vocês. – pede Aline sem graça. — Mas só para constar, acho vocês dois uns fofos.

Malú só acena com a cabeça, ignorando a provocação da tia e entra no carro. Está pensando em como aprenderia a dançar até amanhã.


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