Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 21
Capítulo 20




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A cama de Malú dá a sensação de dormir em uma nuvem, pelo menos é o que Aline está sentindo até ser tocada nos ombros pela sobrinha. Ela se vira e sorri para a jovem de olhos azuis.

— Bom dia - diz Aline. Ela senta na cama e pergunta— Hora de ir para a escola?

"Sim" escreve Malú. Ela pega sua mochila" Espero a senhora lá embaixo para o café."

Aline se joga novamente na cama, fechando os olhos, tentar lembrar quando foi a última vez em que esteve em um lugar assim. Então se lembra e percebe que é tão amarga que deveria permanecer no esquecimento. Ela se levanta e vai se arrumar, deixando as memórias de seu passado para trás.

***

O café da manhã servido alimentaria no mínimo dez pessoas, sendo que a mesa tinha metade disso, conclui Aline que vai até a copa chamar Adelaide para comer novamente com eles, quando se depara com Vera na cozinha falando com a empregada.

—... Então já sabe, se ela vier aqui e pedir que sente à mesa, recuse. Ou então contarei de sua audácia de ontem para Maria Luísa. Tenho certeza que ela não é tão generosa quanto parece.

—Coagindo a empregada? - pergunta Aline com ironia.

—Apenas a colocando em seu devido lugar - responde Vera se virando. Ela se aproxima — O mesmo lugar em que você deveria estar... Bartender.

— Andou me investigando? - pergunta Aline, curiosa.

— Sim... Preciso conhecer as pessoas que entram para o seio de nossa família - responde Vera, se aproximando mais de Aline.

—Engraçado, você não faz parte dessa família... - alega Aline, petulante.

— Mas defendo os interesses do meu cliente - retruca Vera, irritada.

— O que torna tudo muito mais interessante... Já que o seu cliente sabe que eu fui bartender... Assim como já trabalhei como empregada doméstica... Se quiser encaminho uma lista com todos os empregos que eu já tive. A única coisa que eu nunca serei é sanguessuga. Tenho pena dessas pessoas que vivem mais na casa do cunhado do que em sua própria.

— Mas talvez já seja uma... – alega Vera, cínica

—Bom, eu não sou uma especialista como você nesse assunto, então terei de acreditar que sim- retruca Aline. Ela olha para Adelaide — Se quiser sentar conosco, fico grata.

Aline sai em direção à sala de jantar se deparando com Thiago, Graziela e Malú com os olhos arregalados, mostrando que tinham escutado tudo.

—Bom dia a todos – cumprimenta Maria Luísa surgindo atrás de todos. Ela encara cada um, curiosa — Por que estão todos parados aqui?

—Bom dia, Maria – responde Vera aparecendo — Eu vim até aqui dar orientações a Adelaide a respeito do café da manhã e Aline veio convidar a empregada a sentar conosco.

— Adelaide virá tomar café conosco? – pergunta Maria, pensativa — Por qual motivo?

—Por qual motivo? – repete Aline, irritada — Talvez porque esse café da manhã sirva quase um batalhão!

—Mas Adelaide poderá tomar esse café da manhã, depois que terminarmos – explica Maria — Bem como todos os outros funcionários da casa, por isso as refeições são soberbas... Você tem algo contra eles comerem da mesma comida que você?

—Não – responde Aline — Só acho que...

—Querida, guarde suas suposições para quando tiver os seus empregados. Minha casa, minhas regras. – interrompe Maria, friamente. — Os funcionários devem fazer suas refeições na copa, logo após as nossas. Essa é uma regra para todos os funcionários.

— Ótimo, então farei minhas refeições na copa – reage Aline encarando Maria.

— Aline, isso é um absurdo, pois você é minha convidada. Essa regra não se aplica a você – explica Thiago tentando amenizar a situação — Não é mesmo, mamãe?

—Ela pode tomar café, onde achar que se identifica mais – responde Maria desafiando Aline com o olhar.

— Então me dêem licença – pede Aline entrando na copa.

— De volta à ralé – solta Vera sorrindo recebendo um olhar bravo de Malú que não gostou nada do que aconteceu — O que foi?

— O que está certo, está certo – comenta Graziela segurando no braço de Thiago que se desvencilha, indignado.

— Isso não está certo - reclama Thiago, transtornado — Mãe, você precisa fazer algo.

— A escolha partiu dela, Thiago – alega Maria. Ela encara Vera — Sem contar que já abri exceções demais a suas visitas... Se me der licença, preciso tomar meu café sem todo esse drama.

***

Depois da tensão na hora do café, Aline levou Malú para a escola, onde ficou esperando até poder levar a sobrinha para a psicóloga. Assim que entram na sala, são recepcionadas pelo sorriso de Ariadne

— Oi, eu sou Aline, tia da Maria Luísa - apresenta-se Aline estendendo a mão — Gostaria de saber como está à evolução dela.

— É um prazer finalmente conhecer algum parente da Malú. Por favor, sentem-se - pede Ariadne cumprimentando Aline. Ela senta e continua— A Malú não tem colaborado durante a terapia e temo que isso pode prejudicar o quadro dela. Compreendo que para idade dela esse método pode parecer enfadonho. Por conta disso, eu iria sugerir que ela participasse de um grupo de jovens que trabalha com o ensino de libras. Uma forma de ajudar a entender um pouco seu quadro que pode ser permanente.

— Quais são os dias dos encontros? - pergunta Aline, animada com essa possibilidade de inclusão da sobrinha.

— Hoje tem um encontro, se quiserem participar para ter uma noção de como é, eu levo vocês, o encontro ocorre no final do corredor. - responde Ariadne, empolgada.

— Então vamos lá - responde Aline pelas duas.

Malú caminha com as duas contra sua vontade, por ela já estaria em casa lendo Madame Bovary de sua biblioteca secreta. Ariadne abre a porta permitindo o acesso das duas. A sala é bem maior do que aparenta e tinha uma roda com pelo menos 15 pessoas, entre rapazes e moças que estão na mesma faixa deidade  que Malú.  Ariadne se aproxima, deixando Aline e sua sobrinha próximas à porta. Ela fala em libras com dos rapazes que está de costas para a porta, Malú observa sua silhueta, tentando lembrar com quem se parece. Até que ele se vira dando a certeza que Malú buscava em seus pensamentos: Benjamin.

***

Ariadne conversa em Libras com Benjamim que mantém a expressão séria, evitando olhar para Aline e Malú que observam o rapaz, curiosas. Ariadne coloca as mãos na cintura observando os sinais de Benjamim que fala algo bem nervoso. Depois de algum tempo ela caminha na direção das duas com uma expressão péssima.

— Eu sinto muito, mas Benjamim disse que não poderá aceitar a Malú no grupo – revela Ariadne sem jeito.

—Nossa... Ele disse o motivo?- pergunta Aline, surpresa

— Não- responde Ariadne, nervosa. Malú observa à psicóloga, sabe que está mentindo. A psicóloga sorri — Mas não se preocupem, falarei com ele mais tarde.

—Foi ele quem criou esse projeto? - pergunta Aline.

— Não, mas ele foi o primeiro a participar e agora coordena o projeto. - responde Ariadne olhando para Benjamim, feliz.

—E já tem algum político ou alguém investindo nesse projeto? Eu achei muito interessante – comenta Aline, empolgada — Talvez eu consiga até um candidato a senador.

—Puxa, seria ótima essa ajuda - comenta Ariadne, feliz.

Malú observa Benjamim sentar com o pessoal novamente. Ela sabe os motivos de Benjamim para recusá-la. Se fosse antes, Malú iria embora sem tirar nenhuma satisfação. Mas aquela era a outra Malú, a que ela prometeu que jamais voltaria ser para sua tia. A jovem respira fundo e tira seu celular da mochila, caminhando em direção ao rapaz. Assim que ela chega ao lado de Benjamim, mostra seu visor para ele, onde está escrito:

“Eu sei que você não quis me aceitar pelo fato do que aconteceu na floricultura! Só que você deveria ser mais maduro e perceber que eu não disse nada a respeito daquilo. Você pode me recusar, mas eu vou entrar nesse grupo quer você queira ou não e terá de me engolir todos os dias até se tocar que o mundo não gira como você quer"

Ela se vira e caminha em direção a Aline que a encara, surpresa. Ela segura a mão de sua tia e praticamente a puxa para fora da sala, indo em direção ao estacionamento. Entra no carro, com raiva de Benjamim. Se ele pensa que vai ficar assim, mas não vai mesmo...

 — Quer conversar? - pergunta Aline sentando no banco do motorista.

Malú fecha os lábios e sacode a cabeça negativamente. Conversar é a última coisa que ela quer no momento.

— Tudo bem- diz Aline colocando o cinto. Ela liga o carro e resmunga - Esse rapaz mexeu mesmo com você.

***

Vera e Thiago estão acertando os últimos detalhes para a reta final da campanha no escritório. Ele analisa os números não tão favoráveis de leitores em sua cadeira, enquanto Vera senta do outro lado da mesa analisando as possíveis cidades para a caravana da vitória. Seria muito bom se a Malú participasse, mas com aquelazinha de cão de guarda vai ficar muito difícil. Nós precisamos ganhar... Pense Vera, pense. Hummm... Talvez dê certo... Ela solta o tablet na mesa e olha para Thiago que está distraído:

—Você não acha estranho as cartas de ameaça terem parado de chegar? - pergunta Vera, pensativa.

— Não... Talvez a pessoa tenha cansado de ficar mandando cartas, já que ignoramos completamente - responde Thiago olhando para Vera. Percebe que ela tem algo a dizer - Por que essa pergunta agora?

—Você sabe que eu não acredito em coincidência... As cartas pararam justamente quando você foi a Minas... Talvez eu esteja me precipitando- comenta Vera, pausadamente — Mas eu acho que a Aline pode estar envolvida nisso.

 — A Aline? De onde tirou essa coisa absurda? - questiona Thiago, sorrindo surpreso — O que a Aline ganharia com isso? Realmente, Vera, dessa vez você se precipitou.

— A única pessoa que declara ódio mortal por essa família é a Aline.  Além disso, ela pode ter achado que você deixaria a Malú com ela depois das ameaças - explica Vera. Ela se ajeita na cadeira — Pelo sim, pelo não... Eu acho que seria interessante investigá-la.

— Para quê? - pergunta Thiago, confuso.

— Para saber as reais intenções dela. O que ela ganha ficando com a sua filha? Ela não tem nenhum vínculo de parentesco com Malú... Então o que ela quer? - pergunta Vera sem esperar uma resposta — Eu acho que devemos investigá-la.

—Eu acho que você está exagerando só por conta do café da manhã. Deixe-a em paz, Vera. - pede Thiago.

 — Só não diga depois que eu não te avisei- alerta Vera.

O barulho do carro utilizado por Aline faz Thiago ignorar o aviso. Ele vai até a janela e observa Aline e Malú entrar na casa bem relaxadas e até brincando uma com a outra. Sente uma pontada de tristeza por saber não tem esse contato com sua própria filha.

— Vera, chame Aline. Preciso de um relatório completo - ordena Thiago, frio.

Vera sai da sala e encontra Aline subindo as escadas com Malú, distraída.

— Aline, Thiago quer falar com você. Ele está aguardando no escritório- avisa Vera.

— Diga que daqui a pouco eu irei até lá. – responde Aline brincando com Malú.

—Ele disse agora. - retruca Vera, séria.

— E eu disse daqui a pouco – reforça Aline subindo as escadas, abraçada com Malú.

Vera volta para o escritório com o rosto vermelho de raiva. Olha para Thiago e diz:

—Ela teve a audácia de dizer que virá depois! Como ela pode ser tão petulante!

— Tudo bem - responde Thiago com um sorriso nos lábios. Ele se lembra de uma pessoa que era exatamente assim: Anna.

***

Depois de meia hora, Aline entra no escritório vestindo uma short jeans, camiseta branca e com seus cabelos soltos. Ela respira fundo, entediada e pergunta fazendo uma reverência:

— O que deseja nobre senhor?

— Boa tarde Aline - responde Thiago se levantando — Eu gostaria do relatório sobre o dia da Malú.

— Bom, a levei para a escola e depois ela foi à psicóloga. Ela irá participar de um grupo de aprendizado em Libras - responde Aline. Então ela se lembra da conversa que teve com Ariadne — Que, aliás, eu acho muito interessante. Eles fazem inclusões de pessoas que não tem condições e seria ótimo se você investisse, sei lá homologasse o projeto... Acho que seria ótimo para sua campanha.

— Desculpe-me, querida, mas quem foi que disse que pode sugerir alguma coisa para a campanha? - pergunta Vera, irritada — Eu não dou pitaco no que você faz com a Malú então não venha com uma ideia tão ridícula quanto essa.

— Está desculpada. Até por que achei que ele fosse ser um político que aceita opiniões, mas pelo visto ele é só mais um... Manipulado para completar - alfineta Aline encarando Thiago, irritada — Eu vou indo. Tenho coisas mais importantes para fazer.

Ela sai do escritório sendo seguida por Vera que segura seu braço no pé da escada.

— Sabe, acho essa sua atitude petulante, muito interessante. - comenta Vera apertando o braço de Aline — mas quer saber, isso só me deixa mais empolgada com o final da campanha. Quando todos nós partiremos para Brasília, incluindo Malú e você voltará para a sarjeta de onde veio.

—Quem disse que vocês irão para Brasília?-pergunta Aline se soltando de Vera.

— Você não entende nada de política mesmo... Quando o Thiago se eleger, ele tem de morar lá e a Malú irá junto. Agora, para onde você irá, Aline?


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