Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 20
Capítulo 19




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— Cancelar o casamento? - pergunta Graziela, atordoada — Você está terminando comigo, Thiago?

— Não, ainda não. Mas se quiser... - responde Thiago indo em direção ao escritório.

— Como assim se eu quiser? - pergunta Graziela indo atrás de seu noivo. Ela coloca as mãos na cintura e continua — Por que está cancelando o casamento?

— Porque eu estou pensando de forma racional,Grazi, como você pediu - explica Thiago servindo um uísque doze anos sob o olhar de Vera que está sentada na mesa principal. — Vera, nos ajude aqui, por favor.

— Diga - responde Vera, prontamente.

— Sua irmã me disse hoje que eu devo reconsiderar alguns pontos da minha vida. – conta o candidato a sua cunhada.

— Eu disse que você deveria... —corrige Graziela ajeitando os cabelos.

—Shhhhh, Grazi, eu estou falando agora - interrompe Thiago com o dedo na boca em forma de silêncio sem tirar os olhos de sua noiva — A Graziela disse que para minha vida voltar ao normal eu deveria me desfazer da Malú. O que pensa sobre isso, Vera?

— Bom... Eu acho... - começa Vera bem devagar sem olhar para sua irmã. — Que tudo precisa ser analisado antes de se tomar uma decisão tão... Drástica.

— Sabe o que eu acho? Acho que posso desfazer das eleições e não causar nenhum dano aparente posso desfazer do casamento, do escritório e de qualquer outra coisa... Mas eu nunca poderei me desfazer de uma filha. Porque é isso que a Malu é... Minha filha. Eu não posso fingir que não existe, pois ela é real e só tem a mim. Eu sou a família da Malú. E a sua irmã me pediu para mandar minha filha de volta de onde ela veio... Pois analisando a situação como um todo, ela é o elo mais fraco. Você pensa a mesma coisa que ela? – pergunta Thiago encarando Vera.

— Não - responde Vera, olhando para a irmã, séria. — Lógico que não.

—Excelente resposta, Vera. - elogia Thiago aplaudindo sua relações públicas — Mas eu segui o conselho da sua irmã e analisei a situação racionalmente. E a conclusão a qual eu cheguei foi a de que o casamento pode ser adiado... E será. Assim terei mais tempo para minha vida. Então, Vera quero que cuide do cancelamento do casamento... A menos que tenha algo contra a isso?

 — De forma alguma - responde Vera recebendo o olhar surpreso de Grazi.

— Viu só? Sua irmã concorda comigo- comenta Thiago apontando para a Vera enquanto olha para Graziela que está em choque — A menos que a sua ideia de pensar racionalmente tenha sido somente para prejudicar a Malú, acho que essa é a melhor decisão.

— É lógico que eu não quero prejudicar a Malú – rebate Graziela —Eu já estive na mesma situação que a dela...

— Então sabe que ela precisa de um pai para cuidar dela- completa Thiago.

— Sim. Só que eu também preciso de um marido. - retruca Graziela — Eu também preciso de alguém para cuidar de mim... Você me pediu muitas coisas durante o nosso relacionamento e eu sempre acatei. 

— E de acordo com a sua lógica, eu irei abandonar a minha filha a pedido seu –conclui Thiago — Assim ficamos quites, é isso?

— Eu não pedi que fizesse isso. Só queria que pensasse racionalmente. - explica Graziela chorando. Ela coloca a mão na cabeça — E aí você destrói os meus sonhos, cancelando o casamento. 

— Está decidido,Grazi.  - determinaThiago bebendo o uísque.

 — Eu acho interessante vocês darem prioridade a sua agenda, Thiago - comenta Vera apontando em direção ao cunhado — Mas estou achando todas as decisões drásticas e elas afetam os outros pontos.

— E qual a sua proposta? - pergunta Thiago, sério.

— Que cada um cuide de um ponto. Eu cuidarei da campanha eleitoral, você cuida da Malú e a Grazi cuida do casamento. Assim tudo ficará organizado e o Thiago não fica tão atolado em tudo e pode resolver os problemas do escritório. O que acha? – propõe Vera.

— Interessante – responde Thiago — Vamos fazer isso por enquanto e se eu perceber que ainda está do mesmo jeito cancelamos o casamento.

 — Por isso gosto de trabalha com você, Thiago - elogia Vera. Ela encosta-se ao ombro dele — Agora é melhor você ir falar com sua mãe, ela me pareceu indisposta. Não se preocupe com nada, pois eu tenho certeza que minha irmã gostaria muito de providenciar o jantar de recepção à Aline para mostrar que tudo isso foi apenas um mal entendido.

 — Obrigado, Vera – agradece Thiago saindo. Ele passa por Graziela — Até o jantar.

— Até - responde Grazi, irada. Ela caminha em direção a irmã e ergue a mão para bater no rosto de Vera que a impede — Por que se virou contra mim? Você deveria me apoiar!

— E você deveria para de usar a sua boca como aparelho excretor e pensar nas coisas que diz. - retruca Vera apertando o pulso de Grazi que se contorce. Ela empurra a irmã - Você tem de me agradecer por ele não ter desistido mesmo do casamento. Quase colocou tudo a perder, maninha. Agora vá providenciar o jantar para aquela mulher... Que, aliás, eu me preocuparia se fosse você.

— Não me preocupo. Thiago tem bom gosto - alega Grazi se arrumando.

— Tanto que agora temos uma garota de 16 anos colocando tudo a perder. Fique de olho nela e seja a melhor anfitriã que conseguir caso contrário eu me tornarei a sua pior inimiga, entendeu?

***

Thiago entra no quarto de sua mãe devagar encontrando a bela senhora deitada em sua cama com um dos braços sobre seu rosto. Ele caminha em direção a cama, senta na beirada e toca levemente na mão de Maria Luísa que se ajeita na cama observando seu filho:

—Soube que está indisposta – comenta Thiago.

— Sim, um pouco. – admite Maria encarando o filho — Precisa de mim para alguma coisa?

— Eu queria apresentar a Aline para a senhora, mas tenho quase certeza que sua indisposição tem a ver com ela.

— Em parte, sim. Você deveria avisar da sua pretensão de trazer uma completa estranha para ficar em minha casa.

—Ela criou Malú junto com a Anna. – explica Thiago — E essa casa não é somente sua, então eu a trouxe para ficar aqui por tempo indeterminado.

— O que está tentando fazer? – pergunta Maria, transtornada — Está querendo me punir por minhas escolhas?

—Não,foi a sua consciência pesada quem concluiu isso – responde Thiago.

—Eu não matei a sua Anna. – reage Maria — Não pode me culpar por isso.

— Você não matou a Anna, mas matou a oportunidade que tínhamos ser uma família feliz, você matou os sonhos de todos nós, foi isso o que a senhora fez. – rebate Thiago segurando sua mão.

— Então, saiba que não me arrependo das escolhas que fiz – revela Maria fazendo Thiago afastar a mão da sua. Ela o impede e continua — Pois ao menos ela teve uma vida ao lado de sua filha.

— A senhora escuta o que diz? – pergunta Thiago, irritado — Que vida ela teve?

— Ela pode aproveitar o tempo que teve com a filha mais do que poderia ter se ficasse ao seu lado. E a Malú está viva, então eu não me arrependo de nada do que fiz no passado.

— Eu juro que tento entender você, mãe.

— Se você tivesse assumido Anna e a Malú, elas estariam mortas – revela Maria, séria.

— E quem as mataria, mamãe? – pergunta Thiago.

— Desculpe interromper vocês dois – pede Vera na porta do quarto — Thiago, a gente precisa rever sua agenda de hoje, pois tivemos de cancelar muitos compromissos com patrocinadores importantes.

— Vera, agora estou ocupado – responde Thiago se virando em direção a Vera.

—É melhor você ir, meu filho – pede Maria — Esqueça as coisas que eu falei, pois tudo é apenas passado e delírios de sua mãe.

— Venha, Thiago – pede Vera.

—Depois conversaremos a respeito disso, mamãe – avisa Thiago dando um beijo na testa de sua mãe.

***

Malú vai à frente de Aline, depois de três quartos, ela para em uma porta branca. A jovem sorri para Aline e então abre a porta mostrando a beleza de seu quarto estampada na expressão de admiração de sua tia. As duas entram e a jovem vai em direção a parede secreta abrindo e mostrando sua biblioteca secreta.

—Esse lugar é incrível – elogiaAline, maravilhada — Sem dúvida iremos dividir esse quarto.

“Que bom que gostou”

—Sim, amei e sua mãe também com certeza iria gostar. Então para começar, nós iremos jantar lá embaixo com todo aquele pessoal bacana- comenta Aline, com os olhos estreitos, indicando que está sendo irônica. — Vamos mostrar a eles que nós somos fortes. Tudo bem?

“Sim" escreve Malú

—Ótimo - diz Aline, se levantando — Acho bom não ter se acostumado com todo esse espaço na cama, pois eu irei dormir aqui. Não quero um quarto deles...

“Tudo bem"

— Sua avó está por aqui? - pergunta Aline, irritada.

"Sim"

—Mais uma no meu caminho - resmunga Aline. Ela olha o resto do quarto e pergunta olhando para a Malú — Onde fica o banheiro? Preciso tomar banho.

"Eu te mostro" escreve Malú, indo em direção a tia, feliz. Pelo menos um pouco de normalidade em sua vida.

***

Graziela inspeciona a mesa arrumada por Adelaide, quer que tudo saia dentro do esperado, assim quem sabe ela consegue acalmar Thiago. Sorri para a empregada, enquanto agradece:

—Obrigada, Adelaide, já pode chamar a todos para comer.

— Tudo bem - responde Adelaide saindo da sala de jantar.

Graziela respira fundo, sabe que está perdendo o controle da situação e que por pouco não iria mais casar com Thiago. Precisa se reorganizar, mas com a presença de Aline na casa, as coisas se tornariam um pouco mais complicadas. Ela tem uma ideia, que mesmo sendo arriscada, é a única que lhe cabe naquele momento. Pega seu telefone e disca um número , presta atenção aos toques da chamada que logo cessam, dando lugar a uma voz que diz:

—Sabia que me ligaria...

— Preciso de ajuda. - diz Graziela que escuta passosvindo em sua direção — Mais tarde passarei os detalhes. – finaliza desligando o telefone e olhando para a porta, nervosa.

— Muito bom irmãzinha - elogia Vera entrando na sala de jantar — Ótimo serviço.

— Como a próxima senhoraAlmeida, preciso ser exemplar nesse tipo de recepção - retruca Graziela, ácida.

— Mesmo para seus inimigos?  - pergunta Vera, curiosa.

— Principalmente para eles- responde Graziela puxando a cadeira para sua irmã.

— Muito bem, está indo no caminho certo - afirma Vera, sentando.

— Muito bom – elogia Thiago entrando na sala. Ele passa por Graziela, recusando o beijo que ela ensaia lhe dar. Senta na ponta da mesa e pergunta — Onde está Malú e Aline?

— Já pedi para Adelaide chamá-las, querido - responde Graziela sentando perto de Thiago.

Não demora muito e Aline entra ao lado de Malú e não disfarçam o desgosto ao ver as duas irmãs sentadas perto de Thiago. Ele olha para Vera e depois para Graziela e pede:

— Por gentileza, vocês poderiam ceder seus lugares à minha filha e a Aline?

— Como? - pergunta Graziela, surpresa — Eu sempre sento ao seu lado... Por que isso agora?

— Eu preciso falar sobre alguns assuntos com elas. - respondeThiago, sério. 

—Por mim tudo bem - responde Vera se levantando e indo para a cadeira ao lado.

— De acordo com as convenções sociais... - começa explicar Graziela com um sorriso nervoso nos lábios.

— Então fique aí - interrompe Thiago indo para a outra ponta. Ele puxa a cadeira para Malú que senta e depois para Aline, a contragosto. Ele senta na outra ponta — Agora podemos jantar.

Graziela encara Thiago,chocada. Depois de um tempo compreende que aquilo foi apenas uma forma de punição pela discussão anterior. Sorri e serve um pouco de vinho tinto, tomando sua taça em um gole só.

— Então, Aline. Diga o que você e Malú decidiram fazer? - pergunta Thiago encarando a tia de Malú

 — Amanhã a levarei até escola e também a psicóloga, quero ver o que ela tem a dizer sobre a Malú e o que pode ser feito. Por enquanto é isso - responde Aline com um pouco de nervosismo. Ela olha para a enorme mesa vazia e pergunta — Não deveriam ter mais pessoas para jantar conosco?

— Como assim? - pergunta Thiago, confuso.

—Eu acredito que a matriarca da família deveria estar aqui, bem como a Adelaide que nos convidou para o jantar. Acho que as duas deveriam estar aqui, com a gente.

—Não, querida - responde Vera sorrindo — A matriarca está indisposta e por isso não poderá comparecer. Agora a respeito da empregada, saiba que a criadagem realiza as refeições na copa e nós aqui. Apesar de você estar em uma linha tênue...

— Obrigada por me esclarecer essa dúvida... Querida - responde Aline com o seu melhor sorriso sarcástico — Mas eu acho que eu não te perguntei, mas sim ao dono da casa.

—Adelaide! - chama Thiago em voz alta. Ele encara Aline, com leve irritação — Se isso te incomoda, ela jantará conosco essa noite.

— Querido, sua mãe não vai gostar - intervém Graziela.

— Minha mãe não está aqui. - retruca Thiago. Ele se levanta e avisa — irei chamar as duas, licença a todas.

Graziela acompanha seu noivo com o olhar, enquanto Aline sorri para Malú. A noiva de Thiago sorri para a convidada e avisa:

— Cuidado, não dê um passo maior que a perna.

—O que quer dizer com isso? - pergunta Aline, séria.

— Que se você pensa que pode chegar e fazer o que quer, saiba que eu irei cortar suas asas fora antes de você começar a batê-las. – respondeGrazi imitando uma tesoura com os dedos.

— Isso é uma ameaça? - pergunta Aline sorrindo.

— Não, isso é o que nós chamamos de preservar os bons costumes - responde Graziela retribuindo o sorriso. — Mas talvez a Maria Luísa possa ensiná-la melhor.

— Engraçado porque eu não estou nem aí para os bons costumes de vocês e muito menos preocupada com a Maria Luísa - responde Aline servindo a comida.

— Vai mesmo afrontar a matriarca dentro da casa dela? O que pretende? Declarar guerra a essa família?- pergunta Graziela, exaltada.

— A guerra já foi declarada há 16 anos. - responde Aline servindo vinho. — Eu só estou aqui para honrar a Malú e a minha amiga, custe o que custar.

— É o que veremos - avisa Graziela, irritada.

— É o que veremos - repete Aline erguendo a taça em direção a Graziela, sorrindo.

O resto do jantar foi em silêncio, ninguém se esforça a iniciar um diálogo, deixando o clima da refeição mais pesado que o normal. Graziela serve mais uma taça de vinho, finalizando a garrafa que somente ela bebeu, sob o olhar constrangido de Thiago. Vera manteve seu olhar pensativo durante todo o tempo, como se tramasse algo. Aline e Malú apenas sorriem uma para a outra. Adelaide só mexe em seus talheres, nervosa e apressada.

— Muito obrigada pelo jantar, Adelaide - agradeceAline, sorrindo — Maravilhosa sua comida.

— Obrigada, Dona Aline - responde Adelaide, orgulhosa.

 — Só Aline, por favor. - corrige Aline. Ela olha para Thiago,séria - Eu vou me retirar, licença.

 — Adelaide já arrumou o quarto de hóspedes para você – avisa Thiago.

 — Eu decidi que ficarei com a Malú - informa Aline.

— Não vejo necessidade para isso - retruca Thiago. — Temos tantos quartos, além do que vocês precisam de privacidade.

—Nós sempre dividimos o mesmo quarto, então eu não vejo motivo para ficar em outro. Além de estar aqui para ficar com a Malú. - reage Aline se levantando — Vamos ,Malú?- a jovem levanta da mesa e caminha em direção a Aline que toca em seu ombro, saindo juntas da mesa.

— Eu preciso ir - avisa Vera se levantando — Tenho de planejar algumas coisas para a campanha. Em breve teremos de começar a nossa caravana da vitória.

— Até amanhã - despede Thiago se levantando.

—Vamos, irmã? - pergunta Vera encarando Graziela que bebe sua taça de vinho.

— Não... - responde Graziela colocando a taça na mesa então aponta para Thiago, embriagada — Eu irei dormir aqui... Com o meu noivo.

—Tudo bem - responde Vera, se virando para Thiago — Ela é toda sua.

Thiago se levanta de seu lugar e caminha em direção a Graziela que termina de beber sua taça. Ele a segura pelo braço, a erguendo da cadeira. Coloca os braços de sua noiva envolta de seu pescoço, então a encara:

—Vou te ajudar a ir com a sua irmã para casa.

— Shhh... - Grazi colocando os dedos nos lábios de Thiago— Eu não quero ir com ela... Quero ficar aqui com você... - coloca a mão dentro do terno do noivo, descendo bem devagar - Passar a noite toda com você... Sem dormir, é claro.

— Grazi é melhor ir para sua casa. Você está bêbada- alega Thiago.

— Isso nunca te impediu antes- recorda Grazi beijando o pescoço de Thiago.

— Grazi, isso não é verdade – nega Thiago segurando as mãos de Graziela — Vá para a casa, por favor.

— Dizem que o sexo depois de uma briga é o melhor. - argumenta Graziela fazendo beicinho.

— EU não irei transar com você hoje. Não tem clima para isso, entenda - explica Thiago segurando o braço de Graziela e a levando em direção à Vera.  —Vá embora com a sua irmã. Até amanhã,Grazi.

Graziela observa Thiago se afastar, sente o desespero querendo tomar conta da situação, respira fundo e olha para a irmã que fuma um cigarro.

— Nós temos de reverter à situação - comenta Graziela para a irmã — E você precisa me ajudar.

— Não se preocupe, eu já tenho um plano- comenta Vera dando uma baforada — Essa família irá voltar para as nossas mãos e essas duas irão voltar para o lugar de onde vieram, isso eu garanto.


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