Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 17
Capítulo 16




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Malú acorda com a porta do seu quarto sendo aberta lentamente, ela levanta a cabeça e se depara com Adelaide segurando uma enorme mala. Ela acompanha a empregada abrir seu closet e retirar suas roupas, dobrando cuidadosamente cada peça. Depois pega uma muda de roupa e coloca em cima da cama.

“O que está fazendo?” pergunta à jovem escrevendo no tablet.

 — Desculpa se acordei a senhorita, mas seu Thiago pediu para que arrumasse suas roupas, para a viagem de vocês.

“Viagem? Que viagem?” já levantando da cama.

 — Eu não sei Dona Maria Luísa- responde Adelaide terminando de fechar a mala.

 “Onde ele está?” pergunta Malú.

 — Tomando o café da manhã- responde a empregada.

 “Ótimo” escreve Malú saindo do quarto.

Ela caminha brava até a sala de jantar, onde encontra Thiago tomando seu café tranquilamente com sua avó. Malú bate na mesa com uma das mãos chamando atenção dele que a encara com a xícara de café suspensa.

“O que você está fazendo agora?” pergunta mostrando o tablet para Thiago

 — Tomando meu café - responde Thiago, pacificamente.  — Você deveria estar fazendo o mesmo, pois temos um vôo dentro de uma hora.

 — Para onde? – pergunta a matriarca encarando o filho surpresa — Como assim vocês irão viajar, sem ao menos me avisar?

 — Mãe, isso é um assunto de interesse meu e da Maria Luísa – alega Thiago. Ele se vira para Malú— Vá se arrumar.

“Para onde está me levando?” pergunta Malú encarando Thiago, irritada.

 — Para Belo Horizonte, não era isso que você queria? – pergunta Thiago encarando o olhar chocado de Malú. Sem esperar uma resposta da filha — Agora preciso que se apronte se não perderemos o avião.

            Malú sorri, caminha em direção de Thiago e então o abraça apertado, para a surpresa de todos. Ela se afasta e caminha em direção ao quarto, enquanto Thiago coloca um sorriso enorme no rosto.

 — Você tem certeza que essa é à melhor escolha para Malú? – questiona Maria observando o filho.

 — Como a senhora pôde ver, sim essa é a melhor escolha – responde Thiago limpando os lábios.

 — O que a fez mudar de ideia? Ou melhor, quem te fez mudar de ideia? – pergunta Maria.

 — Ah sim... Eu decidi seguir o conselho de Graziela e acho que está na hora de eu pensar no que é melhor para Malú e conhecê-la melhor.

 — E para isso você precisa levar a Malú embora?

 — Sim, eu preciso. – responde Thiago, sério.

***

 O despertador toca insistente no criado mudo ao lado da cama de Aline. Ela abre os olhos, mas não se esforça para levantar, observando o relógio marcar os minutos, assim como em todos os dias desde que a Malú foi embora. Após meia hora , se levanta , vai ao banheiro e lava o rosto, enquanto encara seu reflexo no espelho. Seu rosto está marcado com olheiras e rugas de expressão, parecendo mais velha do que realmente é.

            Sai do banheiro e pega seu uniforme de bartender, tinha um longo dia pela frente no hotel, talvez com a alta temporada conseguisse manter a mente ocupada com outra coisa além de Malú. Já está terminando de colocar seus sapatos pretos , quando sua campainha toca , a surpreendendo. Quem será uma hora dessas? , se pergunta ao abrir a porta.

            Os olhos de Aline se arregalam quando a imagem de um homem surge em sua frente. De todas as pessoas que poderiam bater em sua porta, ele era o menos improvável. Entra e a puxa para perto do seu corpo , tomando seus lábios ,intensamente. Conduz seus corpos em direção a parede da sala, onde pressiona Aline.  Então a expressão de surpresa de Aline muda para toda a raiva que guarda desde a morte da Anna. Ela o empurra, e, logo em seguida, lhe dá um tapa violento no rosto.

 — Olá, Aline - cumprimenta Ícaro tocando seu próprio rosto vermelho, com o tapa que Aline desferiu.

 — O que está fazendo aqui, Ícaro? - pergunta Aline, irritada. Logo em seguida ela balança a cabeça e vai em direção a porta , dizendo — Não importa , vá embora. Eu tenho que ir trabalhar.

 — Antes de você me tocar da sua casa... Eu tenho um plano pra trazer a Malú de volta para casa... eu encontrei uma maneira de consertar tudo - revela Ícaro, confiante ao notar que Aline parou de caminhar. Ela se vira para ele, com os olhos arregalados.   — Isso mesmo, as coisas voltarão a ser como antes.

   Ela o encara por um bom tempo até começar a rir, colocando a mão na boca. Sua risada aumenta de forma descontrolada, deixando Ícaro confuso. Depois de muito rir, lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto, então começa a chorar desesperada. Ele se aproxima dela, compadecido de seu desespero e tenta abraçá-la, mas ela dá um passo para trás, cruzando os braços. 

 — Quando você fala essas coisas , você se escuta? - questiona Aline limpando o rosto.  — Como ... Como você ... Explique-me, como você ressuscitará a Anna?

 — Como? - pergunta Ícaro , sem entender.

 — Esquece, pois mesmo se você conseguisse esse feito - começa Aline , séria.  — Nada iria ser como antes... Porque aquilo que a gente vivia antes era uma mentira... Uma mentira sustentada por você durante anos. E se a Anna estivesse viva , continuaríamos vivendo nela , na mentira que você criou!

 — Aline, calma... – pede Ícaro.

 — Não... Eu não vou ter calma porque a verdade é que a Anna está morta , a Malú está com o pai que nunca sequer sabia  que ela existia e eu ... Eu estou sozinha, amando o homem que causou tudo isso! E que agora bateu na minha porta dizendo que vai consertar o erro que ele mesmo causou!

 — Aline eu sei que não posso voltar no tempo e mudar isso , mas...

 — É isso, você não pode.

 — Mas se eu pudesse , você sabe que isso mudaria tudo. Aline , você não conheceria Anna , nem a Malú e nem a mim - explica Ícaro , tocando no rosto de Aline — De qualquer forma , você estaria sozinha.

 — Sim , você está certo em quase tudo...- alega Aline , afastando a mão de   Ícaro de seu rosto — Exceto que mesmo que eu não fosse amiga da Anna e jamais conhecesse a Malú , eu estaria feliz. Eu não teria enterrado a minha amiga e deixado o pai desconhecido da filha dela a levar para longe! Elas teriam um final feliz, uma família feliz e você pode ter certeza que eu também teria o meu final feliz, mesmo sozinha porque eu não carregaria essa dor no meu peito de ter perdido tudo o que tinha e que me fazia feliz, graças a você.

 — Eu também perdi tudo, Aline.

 — Sem dúvida. Você com certeza enterrou alguém que amava porque uma pessoa egoísta determinou isso. Quer saber, Ícaro, eu preciso trabalhar se não será mais uma coisa que irei perder por culpa sua... Então saia da minha casa e leve esse seu plano que sem dúvidas vai matar mais alguém, com você.

 — Aline...

 — Saia – ordena Aline, indo em direção à porta. Ela abre mais a porta — Agora.

   Ícaro caminha em sua direção, parando bem na sua frente. Ele tenta tocar no rosto de Aline, que vira cabeça.

 — Aline... Eu vou fazer de tudo para você me perdoar e a gente poder ficar juntos, novamente.

 — Boa sorte com isso - responde Aline, fria.

              Ícaro caminha em direção a calçada, acompanhado pelo olhar amargurado de Aline que fecha a porta. Ela senta um pouco em seu sofá, respirando ofegante. Por mais que tenha dito ao Ícaro que não queria saber do plano, ele não saía de sua mente.

***

Malú admira a bela vista que tem de Belo Horizonte da janela do avião, ainda não acredita que está voltando para casa, depois de tudo o que aconteceu. Algumas coisas mudaram e então senti um frio na barriga: Como sua tia irá reagir?

Assim que o avião pousa, Thiago e Malú caminham apressados para o carro alugado, mas para a surpresa de da jovem, o trajeto feito não é o que os levaria para a casa onde cresceu.

Thiago caminha com Malú em direção ao bar do Hotel MaxiSavaggi, um dos hotéis de luxo de Belo Horizonte, ela senta em uma das mesas enquanto Thiago se aproxima do balcão, onde há somente um rapaz atendendo os hóspedes. Ele encara o rapaz que percebe sua presença e vem atendê-lo:

 — Bom dia, senhor. O que deseja tomar?

 — Na verdade, gostaria de uma informação: Sabe me dizer se a Aline ainda trabalha aqui no bar?

 — Sim... Bom esse é o horário dela- responde o bartender— Mas ela se atrasou... novamente.

 — Então, ela vem hoje? – pergunta Thiago, confuso.

 — É o que todos nós esperamos - responde uma voz masculina atrás de Thiago. O pai de Malú se vira encontrando um velho amigo de infância— Olá, Thiago.

 — Olá, Pierre – cumprimenta Thiago sorrindo para o amigo — O que faz aqui?

 — Bom, eu trabalho aqui, sou um dos sócios - responde Pierre — E o que você faz aqui, atrás da Aline?

 — Eu tenho um assunto para tratar com ela... Familiar - responde Thiago olhando discretamente para Malú alheia a sua conversa, conservando o máximo de informações possíveis.

 — Maria Luísa? – pergunta Pierre, surpreso ao ver a menina sentada. Ele se vira para Thiago, ajeitando o botão de seu paletó—Bom, eu duvido que ela venha hoje. Para não perder sua viagem vindo até aqui, gostaria de beber um pouco comigo e colocarmos os assuntos em dia?Estou bem curioso para saber o que tem a falar com a minha, por enquanto, funcionária - comenta Pierre, enigmático. Ele se vira para o funcionário — Leonardo leve um Chandon ao meu escritório e peça ao Pedro para ir falar comigo daqui a pouco.

 — Tudo bem, senhor - concorda o funcionário.

 — Vamos, Thiago. Temos muito que conversar. – fala Pierre segurando no braço do candidato.

 — Venha, Malú – chama Thiago sua filha que se levanta irritada.

***

Pierre está estarrecido diante ao relato de Thiago que admira sua filha assistir a televisão alheia à conversa.

—Você está me dizendo que a filha da Anna Braga – começa Pierre apontando em direção a Malú— Também é sua filha e agora a Aline, minha funcionária, declarou guerra a você para recuperá-la?

—Exatamente – confirma Thiago que toma mais um gole de Chandon— E devo admitir que ainda esteja surpreso por saber que tanto Anna trabalhava aqui junto com a Aline. Isso é muita coincidência...

— Não, essa parte não é coincidência – nega Pierre também saboreando seu champanhe sob o olhar curioso de seu amigo—Eu empreguei as duas a pedido de Ícaro.

— O meu irmão, o mesmo que estava por trás de tudo o que aconteceu – comenta Thiago.

— Sim, mas saiba que foram duas ótimas funcionárias. Quer dizer, Anna foi uma funcionária exemplar. Já a Aline... Se não fosse a proteção de Ícaro, já estaria no olho da rua. Algo que estou disposto a fazer já que seu próprio irmão permitiu que eu o fizesse.

— E quando falou com o meu irmão? – pergunta Thiago, curioso.

— Hoje pela manhã – responde Pierre — Ele estava hospedado aqui, inclusive.

A porta do escritório se abre, permitindo que a presença de Pedro seja notada pelos três. O homem de quase cinqüenta anos se aproxima chocado ao ver Malú sentada no sofá que sorri para ele.

— Olá, Malú? O que está fazendo aqui? – pergunta Pedro que tenta se aproximar do sofá da jovem.

— Pedro – chama Pierre atraindo atenção e seu gerente – Venha aqui.

— Sim senhor – responde Pedro caminhando em direção ao patrão que continua conversando com o Thiago – O que o senhor deseja?

— Pedro, eu preciso que você tenha aquela conversa com a Aline – comunica Pierre recebendo um olhar perplexo de seu funcionário.Ele se vira para o seu amigo — A menos que você tenha algo contra a minha decisão?

— Não, prefiro não me envolver em seus assuntos – recusa Thiago.

— Ótimo – exclama Pierre, satisfeito. Ele olha para o seu funcionário – Assim que ela chegar quero que faça isso.

— Mas senhor... – contesta Pedro.

— É uma ordem, Pedro – intervém Pierre —Ela tem causado problemas demais, até mesmo aos meus amigos.

— Como quiser senhor – responde Pedro.

— E só mais uma coisa: Mantenha tudo o que viu aqui nesta sala, em sigilo. Estamos entendidos?

— Sim, senhor – concorda o gerente.

— Ótimo – exclama Pierre se virando para o Thiago enquanto seu funcionário sai, abismado – Aline não será mais um problema a vocês.

— Ela nunca foi um problema para mim – rebate Thiago – Na verdade, eu a vejo como solução.

— Solução? – questiona Pierre, confuso.

— Só a Aline poderá me ajudar a conquistar a minha filha – responde Thiago.

***

Com uma hora de atraso, finalmente Aline chega ao hotel, correndo pelo saguão para chegar ao bar. Lá encontra Leonardo, com uma expressão nervosa ao ver Aline.

 — Desculpa, Léo, Eu sei que me atrasei, mas é que eu tive um imprevisto e...

 — Tudo bem - responde Leonardo, tirando o avental. Ele encara Aline com um olhar penoso, a abraça— Eu vou sentir sua falta.

 — Okay, por que está dizendo isso? Eu só vou cobrir seu turno, deixa de ser dramático.

 — Aline... Eu vi o Pierre falando com um cara a seu respeito... – revela Leonardo – E eu também vi a Malú.

— Malú? – questiona Aline, confusa – Impossível, ela está em Curitiba, você deve ter se enganado...

 — Aline, me acompanhe até a gerência - ordena Pedro, gerente do hotel.  — Leonardo, continue cobrindo o turno da Aline, sim?

 — Tudo bem - responde Aline, confusa.

             Ela caminha atrás de Pedro e então se vira para olhar para Leonardo que sussurra: "Cuidado". Ela volta a andar atrás do gerente, com frio na barriga, só de imaginar o que está por vir.

***

— DEMITIDA? Eu estou sendo demitida? - grita Aline, nervosa.  Ela coloca a mão na boca, sem acreditar que Pedro havia mesmo dito aquilo, justo ele a quem ela ajudou tanto durante todos aqueles anos.

 — Sinto muito, Aline - pede Pedro, entristecido — O hotel está passando por uma renovação de pessoal, e bem, segundo Pierre, você não se enquadra mais para a função...

 — Deixe-me ver se entendi: Eu não me enquadro mais para servir bebidas?

 — Não é só servir bebidas, Aline. Você sabe que o bar é uma parte importante da imagem do nosso hotel e você trabalha aqui há quase 16 anos.

 — Exato, eu dediquei uma vida a esse hotel e agora vocês irão simplesmente me mandar embora, assim?- questiona Aline, exaltada.

 — Aline, eu sinto muito... - pede Pedro.

 — Não, eu sinto. Poxa, há quanto tempo nós nos conhecemos, Pedro? Eu te ajudei tanto quando você precisou de mim para voltar com a sua esposa. 

 — Eu sei, mas...

 — Não sabe. Eu te emprestei dinheiro , cobri seus turnos quando você ainda era um bartender... E é assim que você retribui? Por que isso? Se for por conta das minhas faltas, você sabe o motivo, eu perdi a Anna, a Malú está em outro estado e eu estou fazendo de tudo para trazê-la de volta para casa.

 — Aline, as ordens vieram de cima. Foi uma ordem especial do Pierre. – revela Pedro, nervoso.

 — O que isso significa? - pergunta Aline, nervosa.

 — Isso significa que... Você deve ir até ao seu armário, retirar todas suas coisas e ir embora. Não se preocupe que irei garantir que receba tudo corretamente, como manda a lei. – finaliza Pedro indicando a porta.

            Aline se levanta da cadeira encarando Pedro. Ela não consegue acreditar que aquele homem à sua frente estava agindo daquela forma tão fria e radical. Sai da sala e caminha a passos firmes até a ala dos funcionários, abre seu armário e começa a tirar todas as suas coisas, calmamente. O armário já está praticamente vazio, quando ela encontra uma foto de Anna sorridente com o barrigão de oito meses da Malú. Ela senta no banco de madeira que fica no meio do espaço e começa a chorar. Aperta a foto contra o peito enquanto pensa em tudo o que perdeu: Anna, Malú e agora seu emprego. Fica mais alguns minutos sentada, até que se levanta e caminha até a saída, pela última vez.

***

Aline está com os braços sobre o rosto até escutar sua campainha tocar. A princípio a mulher de cabelos castanhos decide que não irá abrir a porta, pois o dia não lhe está sendo favorável, mas quando percebe que a pessoa ainda insiste por mais um tempo, se levanta e abre a porta, irritada. Ali, parado em sua frente, Thiago a encara, surpreso.

 — Ótimo, agora é oficial: Hoje é o dia dos Almeida invadirem a minha casa - dispara Aline, irritada. Ela tenta fechar a porta, mas Thiago coloca o pé, a impedindo de fechar — O que você quer?

  — Estou aqui para lhe fazer uma proposta... Que envolve a Maria Luísa - responde Thiago , sério. Ele se afasta da porta deixando Malú aparecer — Vai nos deixar entrar?


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