Malú escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 15
Capítulo 14




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Três semanas depois...

 

Malú desce as escadas, como se fosse ao matadouro, ajeita o vestido amarelo que Adelaide separou para a ocasião, no caso, as aulas de etiqueta com sua avó. Segue em direção a sala de jantar, quando passa pelo espelho e nota que ainda tem mancha de tinta verde no pescoço. Droga pensa Malú passando a mão para tirar os últimos resquícios da aula de pintura que achou que seria algo livre e acabou se tornando aula de como saber pintar um quadro decente, coisa que a jovem tem certeza que nunca utilizará em sua vida.  Quando finalmente consegue tirar a mancha, respira fundo e continua seu caminho.

A jovem para na porta e fica admirando o belo aparelho de jantar posicionado a mesa. Sua avó supervisiona tudo com cuidado enquanto Adelaide ajeita os últimos copos. A matriarca se vira em direção à porta encontrando os olhos curiosos de Malú e logo em seguida verifica seu relógio de pulso e conclui: ao menos a neta era pontual para as aulas, o que não pode dizer o mesmo das refeições e outras atividades que a jovem pratica.

 — Aproxime-se e sente – ordena a matriarca apontando para a ponta da mesa. A jovem atende ao pedido. Então a senhora pega o lenço azul turquesa que está ao redor de seu pescoço, o retira enquanto caminha em direção a Malú. Passa o lenço em torno da jovem que encara sua avó, surpresa.  Maria prende bem o lenço ao redor de sua neta e então acena para Adelaide que coloca o primeiro prato a mesa. A matriarca senta em seu lugar encarando a jovem que bufa ao ver que aquela não será simplesmente uma refeição qualquer. Aula de etiqueta, que saco, pensa Malú.

 — Maria Luísa – chama a matriarca encarando a neta — Ter boas maneiras à mesa não é frescura, maseducação.A etiqueta à mesa é muito mais do que um conjunto de regras. Portar-se bem nas refeições, faz parte da autopromoção da sua imagem e demonstra o quanto se importa em fazer uma boa presença à sua companhia na hora de sentar-se à mesa. É uma forma de expressar, antes de qualquer coisa, respeito. E reparei você não teve instrução alguma a respeito disso. Compreendo que sua mãe achava que estava fazendo o melhor que podia fazer, mas ela esqueceu que você uma Almeida e ser um membro dessa família significa levar sua imagem a todo instante, principalmente em eventos familiares, como o casamento do seu pai. Então, peço que leve a sério o que estou prestes a lhe ensinar. E um pedido meu, não é opcional. Então deixe esse seu lado, como posso dizer de espírito livre, e passe a agir como se deve. Você entendeu o que estou lhe dizendo?

Malú balança a cabeça afirmando que sim.

 — Primeiro, peço que coloque seu guardanapo no colo – continua a matriarca fazendo o mesmo.  — Agora irei lhe ensinar os modos de se sentar a mesa. Mas antes quero reforçar algumas regras básicas e fundamentais, a qual você não deve ter tido instrução. A primeira delas, Se vista de acordo, hoje a Adelaide escolheu sua roupa, mas quero que você passe a fazer isso. Rejeito jeans, camiseta, blusinha de alça e qualquer outro tipo de traje informal demais, para se vestir ao vir fazer as refeições conosco. Eu sei que na sua outra casa, vocês faziam o estilo... Livre de fazer as refeições, mas agora você precisa entender que deve estar preparada para qualquer tipo de eventualidade. Segunda coisa, não se atrase. Procure chegar ao evento entre 15 minutos e meia hora após o início, até mesmo em nossas refeições. Terceira coisa, Mantenha a classe. Seja delicada, fale baixo e não gesticule com os talheres na mão. – olhando para as mãos de Malú que já seguram os talheres, soltando rapidamente — Continuando, quarta regra: Mantenha a postura. Depois de algum tempo sentada, você poderá ficar cansada e começar a se curvar. Endireite-se discretamente. Agora podemos começar.

Malú se endireita a mesa, enquanto Maria se levanta de seu lugar observando a neta que parece perdida entre quais talheres deve usar:

 — Comece a usar os talheres de fora para dentro – orienta a matriarca sendo atendida prontamente.

Malú inclina levemente seu corpo em direção ao talher já servido com a entrada, colocando seus cotovelos na mesa, em busca de apoio, quando sua avó empurra seus cotovelos e a conduz bruscamente em direção a cadeira:

 — Nunca apóie os cotovelos na mesa, dá a impressa de desleixo. E a comida deve ser levada à boca e não o contrário. Tente novamente.

Malú se posiciona mais uma vez e então refaz o gesto de comer a primeira refeição, recebendo mais uma repreensão:

 —  O garfo fica na mão esquerda e a faca na mão direta. Durante todo o tempo, o garfo é usado com os dentes para baixo . Ao descansar os talheres no prato, o garfo fica do lado esquerdo e a faca do lado direito, podendo tocar-se ou não.

Malú tenta então finalizar o prato sob a supervisão da avó que não parece nada contente com as garfadas da neta que assim que termina seu prato , fica em dúvida se regressa os talheres na posição inicial , ou se os deixa dentro de seu prato, fazendo  a matriarca revirar os olhos:

 — Para sinalizar ao serviçal que você está satisfeita, coloque o garfo e a faca alinhados no prato, sendo o garfo ao lado esquerdo ou abaixo da faca. Para um entendimento mais claro, eles devem seguir as posições do ponteiro do relógio quando atinge às 4 horas ou às 6 horas. Os talheres não devem mais ser encostados na mesa, apenas apoiados dentro do prato – explica Maria ajeitando os talheres minuciosamente.  — Adelaide, traga o próximo prato.

Adelaide traz o segundo prato com cara de que aquele não era o último a ser servido. A cada prato Maria repassa as orientações de como Malú deve agir:

 —   Dobre as folhas da salada em vez de cortá-las, basta fazer uma trouxinha com a ajuda dos talheres.

 — Massas como espaguetes e talharins não devem ser cortados. Enrole alguns poucos fios no garfo e leve à boca.

 — As facas de carne são utilizadas apenas para carnes vermelhas e aves. Os peixes têm a sua faca própria, que normalmente é usada apenas para afastar peles e espinhas que possam aparecer.

 — Omeletes, legumes e outros alimentos devem ser cortados com o garfo. 

 —  Na hora de tomar uma sopa, leve a colher à boca pela lateral. Incline-se um pouco para frente e evite que gotas caiam sobre a sua roupa. – explica Maria observando Malú levar a colher a boca, mas antes ela assopra para esfriar o líquido que está quase fervendo  — Não assopre a colher, comece a tomar pelas bordas, onde a comida esfria mais rápido. – ela segura levemente no ombro de sua neta e continua  — E jamais, JAMAIS, faça barulho com a sopa.

Malú já está quase levantando da mesa e pondo fim aquela tortura , quando Graziela surge pela porta com sua equipe do reality show, ela caminha em direção a senhora Almeida que a observa, irritada.

 — Olá, Maria- cumprimenta Grazi dando um leve beijo na face de sua sogra que não retribui o cumprimento. Ela sorri em direção a Malú que as observa , curiosa.

 —  O que faz aqui , Graziela? – pergunta Maria calmamente.

 —  O que eu vim fazer aqui?- repete Grazi sorrindo para a câmera, mostrando que estavam gravando  —  Ora, minha sogra, nós combinamos que mostraríamos a louça que usaremos no jantar de ensaio. A senhora não se recorda?

 — Sim , eu me recordo que combinei com você há duas horas... e por algum motivo, o qual eu desconheço, você não compareceu – responde a matriarca cruzando os braços.

 — Bom , você sabe muito bem, Maria, o quão tem sido corrido meus dias atrás dos preparativos e... – defende-se Graziela, sem jeito.

 — E você sabe que eu sempre priorizei pela pontualidade- interrompe a senhora Almeida.

Graziela sorri para a equipe enquanto faz um discreto sinal com a mão pelo seu pescoço indicando para que parassem de gravá-las. A última coisa que deseja é que saia em rede nacional seu conflito com a mãe de seu futuro marido. Ela se aproxima mais da sogra,tocando levemente no braço dela que a encara com desprezo:

 — Maria, você sabe que o programa é importante para as eleições do Thiago, creio que irá compreender meu pequeno deslize e perdoá-lo. – deduz Graziela.

 — Graziela, lhe darei um conselho: Quando as coisas são importantes para nós , damos extrema prioridade. Nós planejamos, organizamos, controlamos a margem de eventualidades e assim obtemos o sucesso. É assim que pensa e age um Almeida. – comenta Maria de forma ácida. Ela se aproxima do rosto de sua nora e continua  — agora se você não tem essa capacidade, acho que está na hora de rever seu objetivo de entrar para nossa família. – a  matriarca sorri para a jovem loira em sua frente  —  Aprenda com esse deslize e faça melhor da próxima vez.

 —  Obrigada... pelo ótimo conselho- agradece Graziela segurando o ar ao máximo  — Não esquecerei.

 — Que bom que nós tivemos essa conversa – comenta Maria que se vira para Malú —  Está dispensada.

Malú se solta do lenço de sua vó , com pressa, não deseja passar mais nenhum minuto no meio das duas, então sente a mão de Maria segurar firme em seu ombro:

 —  Coloque o guardanapo a mesa, do lado esquerdo do prato. Como terminou de comer, coloque o garfo e a faca com os cabos voltados para a direita, ligeiramente inclinados para baixo.

Malú faz exatamente o que sua avó pediu e então se levanta, inclinando a cabeça levemente em direção a matriarca que retribui. Então a jovem ajeita seu vestido e caminha calmamente até sentir a liberdade de ter passado pela porta.

 —  Eu preciso ir , tenho que continuar minha agenda –comenta Maria sem esperar qualquer resposta de Graziela.

Grazi fecha suas mãos com força, não consegue acreditar que Maria decidiu dificultar as coisas nessa altura do campeonato. Agora , sem o apoio da sogra, ela precisa bolar algo que seja melhor que ter um relacionamento com a matriarca. Ela observa o guardanapo de Malú um pouco fora do posicionamento correto e então o ajeita, quando lhe vêm uma ideia. Agora tudo o que precisa é convencer Malú de que isso é o certo.

 —  Pessoal, podemos encerrar por hoje – recomenda Graziela para a surpresa da equipe  — Retornamos na semana que vem com uma ótima surpresa. Algo único e exclusivo.

 — Graziela, não creio que a Senhora Almeida tenha desejo em se juntar a nós para as filmagens-  alega o diretor de filmagens.

 — Não , eu sei que não. Aliás, ela é peixe pequeno comparado ao que tenho em mente para nós. – explica Grazi sorrindo.  —  Nos vemos semana que vem.

Assim que a equipe se vai ,Grazi sobe as escadas da mansão sentido ao quarto de Malú  que nesse momento está lendo mais um livro proposto pelo “amigo da biblioteca”. Decidiu chamá-lo assim já que ainda não conseguiu desvendar quem pode ser a pessoa com quem troca os bilhetes, não mais somente sobre livros, conforme o tempo foi passando , a jovem passou a se abrir mais com aquele “amigo” e a contar como se sente frustrada com sua nova situação.

Mesmo com as sessões de Fonoterapia, ela não conseguiu nem ao menos sentir um calorzinho em sua garganta, ou um rouco leve. Mesmo seu fonoaudiólogo dizendo que ela precisa ter paciência, no fundo sente que ficará assim para sempre, forçando Ricardo a pressioná-la a falar com Ariadne. Mas Malú não quer se abrir com a psicóloga,  para quê , se no final a psicóloga só dirá para ela dar tempo ao tempo e a incentivará a conhecer Libras, ou que ela precisa aceitar sua nova vida?  Uma vida em que ela mais parece uma coadjuvante.

Não , coadjuvante não, uma figurante... Um fantasma, igual ao Fantasma da ópera  da partitura ensinada por Jaqueline nessa semana. Caminhando e desvendando os segredos da mansão... Durante esse tempo, ela aprendeu muitas coisas sobre a família , bem diferentes das que tinham em sua família. Começando pelo fato de seu pai  nunca escutar música moderna.  Nem ao menos no carro, ele simplesmente entra no veículo e dirige, sem cantarolar ou tocar em seu som. Notou também que ele tem a mania de apertar mais o volante quando está nervoso, mas ele não fala com ninguém. Sua avó toca o piano de madrugada, músicas belas e melancólicas. Ás vezes é possível escutar seus soluços.

 Bem diferente da casa de Malú , quando Anna ainda era viva. Sua mãe já começava o dia cantarolando sendo acompanhada por Aline e Malú, sempre riam quando uma ou outra errava a letra. Apesar da casa delas serem menor que a mansão, tinha muito mais vida. A mansão parece mais uma obra de arte e as pessoas , apenas figuras exercendo sua função dentro daquela bela pintura. E é isso que Malú sente estar se tornando também.

 — Malú?- chama Grazi batendo na porta da jovem e a fazendo despertar de seu devaneio  —  Posso entrar?

Malú bufa e então se levanta da cama indo abrir a porta de seu quarto, já sabe bem o que Grazi veio fazer ali.

 — Oi , querida – cumprimentaGrazi dando dois beijos na face da enteada  —  Acordei você?

Malú balança a cabeça negando enquanto se afasta para sua futura madrasta entrar. Grazi observa a bagunça do quarto com certo desprezo camuflado. Que desperdício de espaço, pensa enquanto tenta encontrar um lugar para sentar. Malú volta a sentar em sua cama observando sua madrasta encontrar um lugar para sentar. Por fim escolhe a  cadeira da penteadeira.

 — Sabe , hoje eu vi sua aula de etiqueta, lembrei tanto de quando eu era mais jovem e passei por todos aqueles ensinamentos – comenta Graziela  encarando Malú que não está disposta a manter nenhum diálogo evasivo com sua futura madrasta. Grazi respira fundo e então continua —  Sei que tudo isso deve estar sendo tedioso para você. Para mim também era... muito.  Muitas atividades, pouco tempo livre para fazer algo diferente... Vai por mim , sei mais de você do que imagina. Por isso, vim reforçar o meu convite para que faça parte do meu casamento e assim fugir um pouco dessa rotina sufocante. Sabe, eu posso te livrar  de tudo isso e ainda você irá se divertir  e conhecer a cidade. Mas não precisa me responder agora, semana que vem tenho outros preparativos a fazer e minha irmã estará ocupada. Então se quiser escapar da aula de etiqueta,eu ficarei esperando você no hall de entrada.

Graziela se levanta e então dá um leve afago no ombro de Malú antes de sair. A jovem fica parada por alguns instantes analisando a proposta tentadora. Por que não?

***

Por mais que seus cabelos estivessem um pouco maiores, eles ainda permaneciam para cima, a deixando como um porco espinho. Pelo menos era isso que Malú via, enquanto tenta, inutilmente, ajeitar seus cabelos. Por fim, pega uma faixa e a coloca na cabeça, pelo menos assim seus cabelos não ficavam tão para o alto. Pelo menos assim, está escondendo o mal feito, pensa Malú no que sua tia diria se estivesse ali. Ela olha para o seu celular tristemente, ainda não tinha notícias da tia. Olha para seu reflexo mais uma vez: Aquele vestido xadrez foi à única coisa decente que tinha para usar, que combinava com os sapatos pretos de verniz. Burguesinha, diz para si mesma em pensamento.

Maria Luísa desce as escadas devagar, como se não quisesse chegar ao final dela. Mas antes que ela pudesse imaginar já se encontra no piso do hall, encontrando Graziela e sua avó tendo uma leve discussão:

 — Não entendo que autorização você acha que tem para levar Maria Luísa para os seus eventos, sem ao menos me consultar. Hoje ela terá aulas de etiqueta. – alega a matriarca.

 — Tenho autorização do pai dela que foi a pessoa que deu carta branca para eu fazer o que quiser. E isso inclui levar Malú comigo – rebate Graziela que então nota a presença de Malú— Vamos, Malú, temos um longo dia pela frente.

 — Espero que saibam que esse comportamento será repassado para Thiago – avisa Maria enquanto observa Graziela segurar o braço de sua neta e arrastá-la para fora da casa.

Malú fica desnorteada com tantas luzes ao seu redor. A única coisa da qual tem plena noção é o seu braço sendo segurado por Graziela que sorri para as várias câmeras que as cercam. Ela não consegue entender bem o que está acontecendo, ainda mais com todo mundo falando ao mesmo tempo:

 — Maria Luísa, olha pra cá!

 — Quer dizer então que vocês possuem uma boa relação de madrasta e enteada?

 — Malú, vai ajudar a Graziela a escolher toda a decoração?

 — O que acha da campanha de seu pai?

 — Está gostando da cidade?

Sente suas pernas caminhando no meio da multidão de luzes e pessoas.  Só consegue finalmente ter noção do que se passa, quando já está no carro da família , com a Graziela sentada ao seu lado.

 — Que bom que veio Malú - comenta Graziela, sorrindo. Ela percebe que a enteada ainda está assustada e toca em seu ombro— Não se preocupe isso faz parte do dia de hoje, estamos gravando o reality show do casamento, lembra. Relaxe aja naturalmente que nem vai perceber que eles estão ali ao nosso redor.

Mas é impossível não perceber , quando para todos os lados que Maria Luísa caminha , trombava em um. Decidiu permanecer metade do tempo sentada, enquanto Graziela conversava com bufês, decoradores, cerimonialistas, músicos, etc. Por alguns momentos se pegou pensando se fosse à mãe dela que estivesse fazendo tudo aquilo, será que teriam tantas câmeras? Recorda-se do quanto sua mãe era reservada. Talvez tenha puxado isso dela...

 — Bom, agora vamos escolher as flores – avisa Grazi, interrompendo os pensamentos de Malú, que concorda se levantando do banco. A madrasta segura no braço de Maria Luísa — Espero que participe mais dessa vez, Maluzinha. Preciso da sua opinião.

Malú balança a cabeça afirmando, enquanto caminha ao lado de Graziela. Espera que aquela parte da programação seja mais interessante.

***

A floricultura parece um enorme jardim, com flores, ramos e árvores para todo os lados. Não tem cara de loja para Malú. Graziela está com um sorriso nervoso no rosto, mostrando estar desconfortável em estar ali.

 — Essa é uma das floriculturas em funcionamento graças ao cooperativismo, uma forma de unir as famílias carentes, pessoas que vivem à margem da sociedade, deficientes para que juntas criem lugares maravilhosos. - comenta Graziela olhando para Malú, mas a jovem sabe que esse era um daqueles momentos em que a pessoa está falando com a outra pessoa, e passando uma informação para quem está assistindo. Malú acena com a cabeça, recebendo um sorriso da madrasta que se afasta abrindo os braços no meio da floricultura — Isso é natureza e é uma das propostas do meu noivo. E é aqui que pretendo... Ai desculpa, errei - interrompe Graziela colocando as mãos no rosto. Ela se abana — Esse calor está me desconcentrando. Não tem um ar por aqui não?

 — Não, senhora- responde uma senhora negra surgindo por entre as flores — A temperatura aqui é ambiente. Não pode ser muito alta e nem muito baixa. Tem de ser no ponto, ou se não ficaremos sem flores.

 — E você é...? - pergunta Graziela, olhando a mulher dos pés à cabeça com desprezo.

 — Sou a administradora da floricultura, Lisbela - responde a mulher, estendendo a mão para Graziela — Ao seu dispor.

 — Graziela Financhielli, futura esposa do Thiago de Almeida – responde Graziela, sem tocar na mão da administradora. 

Lisbela encara a Malú e lhe dá um sorriso afetuoso. Estende a mão para a jovem:

 — Com certeza você deve ser a Malú, filha do Thiago. - Malú toca na mão de Lisbela, lhe oferecendo um sorriso tímido — Você é a cara do seu pai, mas tem algo a mais...

 — Bom, vamos lá, Lisbela, tenho de escolher as flores do meu casamento - interrompe Graziela.

 — As flores estão aí – retrucaLisbela apontando por toda a floricultura — a senhora só tem de andar e ver qual será a sua. É assim que funciona aqui.

 — Tipo um self service? - pergunta Graziela incomodada.

 — Sim - responde Lisbela, se virando para sumir novamente entre as flores — Fique à vontade, só me chame quando escolher.

 — Obrigada – agradece Graziela, com uma leve irritação. Ela se vira para Malú e sorri — Vamos procurar as minhas flores.

***

O lugar é muito maior do que realmente parece, fascinando Malú que anda por entre as trilhas naturais do lugar. Existem inúmeras espécies de flores que deixariam Anna deslumbrada. Maria Luísa sorri quando finalmente encontra o que estava procurando: os lírios brancos.

Ela colhe um, igual a sua mãe lhe ensinou e o cheira. Será um belo presente para Graziela, pensa enquanto caminha de volta. Então percebe que não lembra mais o caminho que percorreu até chegar ali, se desesperando. Ela começa a andar mais depressa e sem rumo. Não consegue encontrar a saída daquele lugar, só vê flores e arbustos em seu caminho. Sua visão está girando, quando sente alguém atrás dela. Malú se vira, dando de frente com o rosto cor de ébano... O mesmo rosto de seu acidente... Aquele que invadiu a sua mente nos últimos dias sem sua permissão.  Ele sorri e estende a mão para Malú que a segura, o rapaz então a conduz por uma das trilhas. Malú não tem ideia de onde aquele caminho daria, mas se sente segura, enquanto segura a mão do rapaz, pelo rumo que só ele conhece.


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