Fado - Entre a Sorte e o Azar escrita por Theo Cavallone


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Perdões pela demora (De quase três meses..!!!) em continuar a fanfic. Eu já tinha esse capítulo pronto, porém quando comecei essa fanfic ainda não havia sido lançado o episódio "Jackady" e após assisti-lo passei a questionar-me sobre os erros existentes na fanfic (Como o Adrien andar sozinho na rua), mas cada review e mensagem de incentivo me fizeram decidir contornar isso e continuar a escrevê-la.

Finalmente temos o tão esperado banho que a Marinette tanto ansiava, mas parece que as coisas não seguem exatamente como ela imaginou.

Prometo lançar capítulos com frequência daqui para frente~ ♥
Apreciem a leitura~



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   “Amaldiçoado” foi o que o dono do antiquário dissera. Uma corrente inquebrável, uma corrente amaldiçoada. Não houve resposta ou contra argumento que saísse da boca dos jovens parisienses diante de afirmativa tão fria. O velho senhor, gentil, logo teceu uma explicação mais elaborada que saciasse as dúvidas e acabassem com os questionamentos dos dois, dando a eles a esperança de uma solução.

   Aquele simples cordão metálico tinha propriedades mágicas antigas, o que provavelmente teria sido questionado pelos dois em outras circunstâncias, mas tratando-se deles guardiões dos miraculous não foi difícil aceitar a explicação. “Acier de jour”, era o nome do artigo, uma fina corrente mágica capaz de aprisionar duas pessoas por vinte e quatro horas antes de soltar-se, de funcionamento simples - necessitando apenas do toque de duas pessoas em sua liga metálica no mesmo instante, depois disso ficariam atados um ao outro, sem possibilidade de rompê-la.

    A lenda que trazia o objeto era antiga, dizia-se primeiro que foi feita por um sábio para prender um homem e impedi-lo de seguir seu destino, depois que foi usada para prender amantes e então impedir criminosos de fugirem antes de sua execução. A última história envolvendo essa foi da própria família do antiquarista, contando que seu tio-avô, um antigo militar, obteve de presente de uma duquesa como prova de sua afeição, dando-lhe algo que jamais poderia ser destruído, forte como os sentimentos um do outro.

    As mãos da Marinette tocaram com a ponta dos dedos a liga metálica pouco após Chat Noir a levá-la para o Parque de Montsouris, completamente confusa em seus sentimentos. Não sabia se revelava sua identidade para tranquilizá-lo - e talvez tentar usar o Lucky Charm para libertá-los - ou se esperava pacientemente ao fim das vinte e quatro horas para obter a liberdade novamente. Vinte e quatro horas era bem mais do que o até o anoitecer ou amanhecer, forçaria-os ficarem juntos um ao outro e se exporem de forma que não estavam habituados. A garota não desejava de forma alguma descobrir os segredos por trás da máscara negra, da mesma forma que por segurança desejava manter sua identidade oculta, mas nunca ficaram tanto tempo juntos - menos ainda consigo desmascarada.

   - Está tudo bem, Chat Noir? - Precisou perguntar, quebrando o silêncio que reinava entre os dois.

    Desde que conversaram com o homem sobre o item que os prendia o louro arrastou-a em passos apressados para esse parque e a fizera sentar-se em um dos bancos, parecendo aguardar pacientemente o momento que o metal cedesse e os liberasse. Devia acalmá-lo, não é? Dizer que não iria usar esse tempo para desmascará-lo.

    - Estou aguardando - respondeu-a lento, observando o vento balançar umas árvores mais adiante, pensativo.

Para o felino aquela situação não era boa, não tratava-se apenas de estar preso a Marinette, mas estar em uma situação crítica com o garoto oculto pela máscara. Seu pai jamais o permitiria passar tanto tempo sozinho - longe de seu segurança -, foi em um acordo com a Nathalie que conseguira ir e voltar sozinho das suas aulas de piano, mas o simples atrasar faria-a perder a confiança que havia conquistado- e não era exatamente experiente em decepcionar pessoas. Além disso não havia a possibilidade de levar a Marinette consigo para casa - acabaria revelando-se para ela e para sua família e ter sua segunda identidade descoberta não era uma opção. Além disso essa máscara lhe era importante e não conseguiria abrir mão dela. Alguns poderiam pensar que a se libertava ao vestir a máscara, mas não era isso, usava-a como um passaporte para ver aquela garota, estar junto dela e vê-la sorrir. Se perdesse-a perderia o seu único método de encontrá-la.

    - O que está aguardando? - Perguntou Marinette, insistindo para entender o que se passava com aquele gatinho.

    - A Ladybug - respondeu-a, tirando os olhos das folhagens das árvores e voltando-o a garota ao seu lado.

    - Que bom que estamos esperando sentados - brincou acidentalmente.

Sabia que a Ladybug não viria - não dessa vez - salvá-lo, pois ela estava tão enrascada quanto ele. A situação como um todo era um problema, não? Mas precisava ser um pouco corajosa e pensar com cautela, não poderia liberá-los antes das vinte e quatro horas, mas poderia amenizar os problemas, não? E garantir a segurança dele.

    - É brincadeira. Não podemos ficar sentados aqui vinte e quatro horas, sabia?

    Era melhor primeiro encontrarem um lugar para ir. Precisava de um banho - tinha uma coisa viçosa grudada em suas costas com o odor terrível desde que caíra no lixo e precisava tirar urgentemente, já o gatinho ao seu lado também não estava muito cheiroso igualmente. Para onde devia levá-lo? As possibilidades eram limitadas. Uma delas seria levá-lo para a casa da Alya e pedir para passar a noite lá, era certo que a amiga adoraria, mas haviam algumas condições que atrapalhariam. A primeira era o fato da amiga vir de uma família grande - com irmãos mais novos - e ir sem avisar poderia tornar-se um incômodo, a segunda era deixá-lo sentir-se vulnerável com alguém interrogando-o durante toda a noite.

    Estava escurecendo e cada minuto que passavam ali eram apenas tentativas frustradas de evitar o inevitável. Teria de levá-lo para casa, não é? Se preocupava com os seus pais nessa questão, mas sendo sábado entrar escondido em casa era uma possibilidade. Todos os sábados, de sete às dez, seus pais iam ao cinema juntos - era a forma deles manterem o romance no casamento depois de vinte e cinco anos juntos -, poderiam entrar quando eles saíssem e fingir estar dormindo quando eles voltassem, os únicos problemas seriam para o Chat Noir, não? Capaz que a família dele ficasse preocupada - ou não, não sabia realmente, haviam aspectos dele que ainda eram bem misteriosos para si.

    - Vamos para a minha casa - sugeriu, batendo suas sapatilhas no chão antes de erguer-se do banco, olhando para ele e puxando-o de leve pelo pulso através da corrente. - Você pode ligar para a sua família e informar que passará a noite na casa de amigos. Eu prometo não ouvir.

    - Marinette - pronunciou o nome dela, observando-a atento. - Não sei se é uma boa ideia.

    - Não é - concordou, dando os ombros. - Mas é o melhor que podemos fazer. Não se preocupe, manterei em segredo dos meus pais, não será tão ruim assim.

    Não seria tão ruim? Um suspiro curto escapou dos lábios bem desenhados do garoto. Dormir na casa de um amigo, hein? Não teria como ligar para o seu pai dizendo isso, em quinze anos ele jamais permitira que a si dormisse uma noite fora, não seria com uma ligação curta que ele daria permissão. Tudo bem, fugiria por uma noite e depois aceitaria a punição - era a sua melhor chance mesmo. De todo modo, era um pouco emocionante, não? Dormir na casa de um amigo. O mais próximo que chegou disso foi aos seis anos quando viajaram em família para Milão e a si fizera amizade com outras crianças hospedadas no hotel, mas mesmo assim cada um dormira em seus respectivos quartos a noite.

    - Será então como uma festa do pijama, princesa? - Perguntou, restaurando um pouco do bom humor, levantando-se igualmente.

    Só faltaria o pijama, claro, mas passar a noite na casa de um amigo não podia ser de todo mal - se conseguisse se manter otimista talvez aproveitasse a experiência.

    - Não exatamente.. - Estranhou a comparação, vendo que o sorriso que surgiu nele se desfez com extrema facilidade diante de sua negação.

    O que diabos ele estava pensando afinal? Às vezes ideias estranhas saiam dele. A sino-franca controlou-se para não rir ou desfazer-se dos pensamentos dele. Chat Noir não funcionava exatamente bem quando deprimido - na verdade ele não funcionava exatamente bem, mas deprimido era um pouquinho mais chato e difícil de lidar. Levou as mãos aos cabelos louros bagunçados, deixando-os um pouco mais arrepiados que o habitual.

    - Algo mais como reunião do pijama, já que somos só dois - disse, vendo previsivelmente um sorriso crescer no rosto dele. Preferiu nem dizer nada, por hora continuaria tentando solucionar parte por parte do problema.

    - Isso parece ótimo! Então vamos a sua casa, não? - Buscou confirmação, animado.

    - É, mas vamos andando devagar, mais cedo eu - nem foi capaz de informar sobre a sua torção, vendo-o começar a mover-se.

    Foi algo estranho para os dois, mas Chat Noir tentou levar a mão aprisionada a cintura da Marinette, fazendo-a consequentemente mover o braço junto. Os braços foram erguidos para o alto e o rapaz deu um passo lateral para posicionar-se atrás dela. A mão de ambos abaixou-se com leveza e a menina viu-se abraçada por trás por ele, sentindo seus dedos tocarem nos dele, ficando juntos. Foi uma dança confusa, fazendo-a erguer o rosto em uma tentativa de olhar para o alto e vê-lo, tentando entender o que ele queria.

    Quando as iris azuis fixaram-se nas escleras verdes o coração da garota apertou por um momento, observando os lábios dele entreabertos, confuso ainda pela própria reação. O sol do crepúsculo fazia todo o ambiente tornar-se alaranjado e de algum modo ele pareceu bonito aos olhos dela. Aquele rapaz sempre impaciente, imaturo e exibicionista tinha dezenas de defeitos, mas era impossível para ela negar que simpatizava com ele. Confiava a sua vida a ele - da mesma forma que ele confiava a dele a si -, por isso mesmo às vezes ficando brava com a falta de seriedade dele, estava verdadeiramente feliz por ele estar bem, por ele não ter se machucado na perseguição.

   - Err.. Isso é meio desagradável - avisou-o, tentando afastar o corpo um pouco do dela. Aquela sujeira estranha nas costas dela estava um pouco mais nojenta do que podia se acostumar.

    Levou o dedo da mão livre ao local, tocando-o e sentindo-o grudento - com o odor fortíssimo, por sinal. Marinette estremeceu sentindo sua roupa grudar mais em suas costas. Não importava para ela o que fosse aquilo, não queria encostando em si - e precisava de um banho o mais urgente possível.

   - Irrck.. Não toque.. - Retraiu-se. Já era horrível demais sem ele lembrando-a disso.

   - Já sei!

   A mão que antes envolvia-a naquele abraço fixou-se em suas costelas, puxando-a e erguendo-a para deixá-la debaixo do braço dele. Por alguns segundos Marinette não reagiu, vendo-se colocada na mesma posição de um saco de batatas, sentindo os pés não tocarem mais o chão e o seu corpo pender para a frente. Ele não planejava carregá-la assim, não era? Poderiam apenas tomar um ônibus, haveria um pouco de constrangimento, mas seria um pouco mais normal.

    - Você mora na Rua Gottlieb, número doze, correto? - Perguntou para confirmar, não que precisasse realmente de confirmação. Era a padaria na esquina ao lado da escola, havia ido lá algumas vezes.

    - Sim, mas.. Espere! Minhas coisas! - Avisou-o apressado quando ele pegou o bastão, apontando para o saco deixado no banco.

     Suas compras de materiais para costura estavam nele, não tinha porque deixá-los para trás. Viu o gatinho pegar o saco, entregando-lhe e voltando a manusear o bastão.

    - Não tem medo de altura, não é? - Perguntou enquanto já erguia-se para o alto com ela em seu braço. Bem, se tivesse era melhor fechar os olhos.

    Preferiu nem respondê-lo, deixando-o saltar entre grades, telhados e muros. Ao menos ele controlou seus impulsos exibicionistas consigo com ele. Sem a transformação para si qualquer queda seria perigosa - se bem que com a corrente arrastaria-o para o asfalto caso ele lhe largasse. Nem questionou quando ele tomou o percurso mais difícil, andando na beirada do Rio Senna e escalando parte da catedral de Notredame. O que ele queria? Lhe impressionar? A si já tinha visto Paris de ângulos bem mais interessantes, não seria um passeio desses que iria tirar-lhe o fôlego.

   Para Chat Noir, carregar uma garota dessa forma arruinava um pouco a sua figura de cavalheiro, mas esforçava-se para mantê-la segura e mostrar sutilmente suas habilidades de equilibrista. Era ágil e forte - transformado o peso dela parecia-lhe mínimo -, tendo a velocidade como uma de suas aliadas enquanto seguia com ela para a casa dessa. Quando os postes da rua começaram a acender-se passou a pular no topo deles, como se tentasse ser mais rápido que a eletricidade para pisar no próximo antes que ele ligasse, divertindo-se secretamente nesse jogo que inventara - quase tão envolvente quando evitar pisar nas fendas da calçada enquanto caminhava sem máscara.

   - Sucesso - disse ao pousar no topo do terraço dela depois de vencer as ondulações das grades do parque a frente, animado.

   - Ótimo, gatinho.. Pode me largar agora - Pediu. Teriam apenas que fazer silêncio até os seus pais saírem.

   Talvez por estupidez ou despreparo, quando a mão dele afrouxou-lhe a costela os pés da morena não alcançaram o chão. O que se seguiu foi o corpo dela girando bruscamente antes de cair sentada no chão, puxando-o junto consigo. O rapaz nem pode preparar-se para impedir o puxão, caindo cruzado por cima dela com o rosto diretamente no chão, gerando um som abafado pela batida.

   Um ofego curto fugiu dos lábios da garota após o impacto, elevando-se quando o cotovelo dele atingiu-lhe o estômago. Seus olhos cerraram-se e já ia disparar-lhe alguma crítica quando notou-o retraindo-se com a batida. Para quem já tinha certificado em quedas mal planejadas era surpreendente vê-lo sentir um pouco de dor, talvez por isso hesitou-o em criticá-lo.

   - Você precisa ser mais cuidadoso - avisou-o, empurrando-o para sair de si, levando a mão ao local que ele atingiu - Está doendo.

   - Desculpe - disse, levando a mão livre ao nariz. Havia quebrado-o? Parecia que não. Ufa, se tivesse seu pai iria lhe dar mais uma razão para lhe prender em casa.

   - Precisamos fazer silêncio até os meus pais saírem - avisou-o, aproveitando que estavam sentados no chão para levar a mão ao tornozelo, descalçando a sapatilha.

   - Se machucou? - Perguntou, preocupando-se. - Miau desculpa - Pediu com um trocadilho para animá-la.

   Os olhos verdes fixaram-se no leve inchaço no pé dela. Torção? Não tinha percebido - pelo jeito não foi agora. Deveria ter sido um pouquinho mais cuidadoso, desse jeito toda a admiração que ela tinha por si iria acabar antes que a corrente se soltasse. Aproximou a mão livre desse, segurando-o.

   - Posso? - Pediu permissão para mexê-lo, notando o olhar de descrença dela.

   - E você entende algo de torções? Machuquei mais cedo, quando caímos no lixo. Está doendo um pouco, vou colocar alguma atadura depois.

   - Pode não parecer, mas eu sou um esportista nato - argumentou com ela, vendo que ela não parecia acreditar. Deu um suspiro, movendo o tornozelo dela com cuidado, vendo-a estremecer com o desconforto - É só uma torção - avisou-a. Sem sinais de fratura ou rompimento de ligamento.

   - Não me diga - ironizou. Não precisava da avaliação dele para perceber isso.

   - E mais - encarou-a, querendo mostrar que não era leigo - já está inchado, ataduras servem apenas para impedir a criação de inchaço e não rompeu um ligamento para precisar de imobilização. Basta colocar compressa de água fria e amanhã estará como nova.

   - Certo, doutor - concordou, preferindo não discutir. Pegou suas coisas e foi até a claraboia, jogando-as para dentro antes de descer, esperando-o fazer o mesmo para irem a sua cama.

    - Wow.. Foi mal - disse ao tocar com as botinas nos lençóis da cama dela. Um lugar meio ruim para uma passagem para o terraço, quem quisesse ir para ele acabaria pisando na cama dela.

   - Psiu.. Meus pais ainda estão em casa - pediu silêncio, já esperando a bagunça na sua cama de qualquer forma.

   Ela o fez descer as escadas consigo, puxando um pouco a gola da própria blusa e já tentando pensar em como tiraria-a para tomar banho. Olhou-o, lembrando-se que esse não era o único detalhe a ser considerado. Tomaria banho com o Chat Noir? Não lhe parecia uma opção viável. Olhou-o, vendo-o lhe encarar em um misto de dúvida e apreensão, acabando por desistir de pensar nele como ameaça. Era só um gatinho assustado com medo da sua identidade ser revelada, se tomasse o cuidado certo ele não deveria lhe olhar - isso sem falar que ele era cego pela Ladybug, se tivesse o mínimo de bom senso não flertaria com outras.

   Seu olhar observou a corrente, tentando pensar em meios de contornar a situação. A forma mais fácil de tirar as roupas seriam cortando-as. Não que fosse algo lamentável - lamentável seria tentar lavar a blusa nesse estado -, só que não parecia prático. Além de tampar o rosto um do outro teriam de evitar de olhar-se enquanto tomassem banho. Bem, a banheira de sua casa possuía cortina, porém a ideia de imaginar que teria alguém do seu lado era um tanto constrangedora, mas ficar desse modo não era realmente algo prático.

   - Você também quer tomar um banho? - Perguntou baixo, indo até a pia que existia em seu quarto, mexendo nas gavetas abaixo dela para pegar toalhas limpas.

   - Não acho que eu vá caber aí - apontou para a cuba da pia, ela era um pouquinho pequena, mesmo se fosse um gato de verdade ainda seria difícil tomar um banho ali.

    Qual era o plano? Banho de caneca? Seria engraçado, nunca passou por uma situação dessas - apesar que em alguns livros já havia lido sobre pessoas tomando banhos com baldes e similares. Riu baixo com a ideia, notando o olhar de desaprovação dela. O que? Disse algo errado?

   - Não aqui, claro.

   - Eu não recusaria trocar o cheirinho do lixo por sabonete líquido - brincou, tirando os olhos dela um pouco para olhar ao redor.

    Já estava escurecendo, se a si não possuísse visão noturna em breve o local iria começar a lhe incomodar, mas entendia que com ela fingindo não estar em casa ligar a luz do quarto não era bem uma opção. Olhou algumas fotografias e recortes de revista na parede, vendo a sua imagem em algumas dessas. Parecia até o seu pai espalhando suas fotos por toda a casa, chegava a ser cômico. Desviou o olhar para alguns desenhos de roupas feitos sem muita perícia artística, percebendo a desproporção entre os ombros de uma das artes, dando um sorriso leve.

    - Aqui - interrompeu-o, não entendendo o que ele olhava e entregando-lhe algumas toalhas, tendo pego-as para si também. - Quando meus pais saírem vamos poder usar o banheiro. Só não dá para entrar no banho assim, teremos de cortar - avisou-o, olhando a própria roupa e puxando-o para seguir até a mesa do computador, mexendo em sua caixa de costura em busca de uma tesoura.

    - Cortar? - Perguntou, vendo-a tirar uma tesoura enorme de uma caixa. - Mas a corrente.. - Nem completou a sua frase, recuando a mão e puxando a dela em consequência, colocando a mão livre diante do pulso. Eram só vinte e quatro horas presos, não precisavam de atitudes tão extremas. - Nããoo.. - Era contra! Não era possibilidade.

    Um sorriso torto surgiu nos lábios da Marinette. Ele não falava sério, falava? Claro que não cortaria o pulso dele. Mesmo assim decidiu provocar, olhando-o bem diretamente nos olhos enquanto ajeitou os dedos na tesoura, abrindo-a e fechando para simular o corte.

    - Não se preocupe, gatinho.. Será rápido, você nem vai sentir. Quando você ver.. - Voltou a abrir e fechar a tesoura, rindo em seguida. Ele era tão bobo.

   - Se me permite, princesa.. Prezo demais por minhas patinhas - falou em sua defesa, ainda mantendo o pulso protegido.

    - Não falei que seria sua pata, gatinho. Veterinários dizem que existe a formula perfeita para deixar gatos jovens mais dóceis. - Brincou-o com a possibilidade de uma castração, encarando-o determinada.

    Mais um abrir e fechar da tesoura e o herói tentou recuar, esbarrando o cotovelo em um suporte com canetas coloridas, virando-os na mesa. O som foi mais alto que as vozes e brincadeiras, fazendo-os calarem-se de imediato. Entreolharam-se e a Marinette deixou a tesoura de lado, ouvindo alguns barulhos no andar debaixo, notando as vozes dos seus pais e tentando compreender o que eles diziam sem muito sucesso. Olhou para o mascarado - recordando-se da audição apurada que ele possuía -, vendo-o relaxar aos poucos conforme as vozes dos familiares da sua anfitriã cessavam. Seus pais não deviam ter ouvido o barulho que fizeram, concluiu. Não queria estragar o único dia da semana que eles deixavam um pouco o trabalho e se divertiam, menos ainda tentando explicar como acabou desse jeito com o Chat Noir. Quando ouviu um som de porta da sala de sua casa, puxou-o em direção da janela, olhando para a rua na tentativa de ver os seus pais. Não demorou para avistá-los andando juntos, atravessando a rua. Aliviou-se, indo acender a luz, podendo conversar em um tom normal finalmente.

   - Pensei em cortar as roupas. Elas não vão sair com isso - balançou a mão presa para ele entender, buscando a tesoura novamente. - Depois eu posso ajudá-lo a tirar a sua blusa também. Você pode colocar uma toalha na cabeça, eu não vou olhar. - Explicou-o, sendo a melhor solução que lhe veio em mente por hora.

   - Ahh.. - Compreendeu-a. - Pode ser - nada contra umas roupas rasgadas, quando erravam na modelagem de alguma peça o seu pai fazia a mesma coisa na frente dos modelistas.

   - Venha, vamos ao banheiro, assim coloco a banheira para encher.

   Marinette aproveitou para passar diante da cômoda, procurando um vestido fácil de vestir, com alças de laço para não enfrentar problemas com a corrente. Abriu também a gaveta de roupas íntimas, percebendo o olhar curioso do gato ao que fazia e fechando-a rápido, encarando-o. As bochechas do Chat Noir formigavam por debaixo da máscara, mas logo ele virou-se para ficar um pouco de costas, dando privacidade a ela em suas buscas. Não que não tenha notado as calcinhas de pano com flores estampadas, algo um pouco antiquado para uma garota que logo entraria no colegial.

   - Vamos - disse a menina em um tom mais seco depois de pegar o que precisava e esconder entre as toalhas que carregava, puxando-o pela corrente para que lhe seguisse.

   Foi um pouco atrapalhado que desceram as escadas e a Marinette não demorou para guiá-lo a um banheiro pequeno com azulejos brancos e verdes. A largura do banheiro era do tamanho da banheira de cerâmica localizada na parede oposta a entrada, sem muitos detalhes. Uma cortina plástica servia para dar privacidade a quem tomasse banho, tendo alguns peixinhos desenhados nessa, simples, porém colorida. Os olhos felinos olharam admirados o local, sendo a primeira vez que adentrava nele, deixando a outra ocupar-se de fechar o ralo e ligar a água quente para que tomassem o banho. Para o herói era a primeira vez em um ambiente desses, sendo todo o banheiro um pouco menor que o seu chuveiro. O que mais o entretinha ali eram os pequenos detalhes como as escovas de dentes coloridas penduradas e os sabonetes transparentes em formato de flor, davam um ar íntimo junto ao tapete azul e os penduradores de toalha metálicos, como se cada item fosse comprado individualmente e colocado ali sem muitas preocupações estéticas.

   - Você pode tomar banho primeiro, vou depois - avisou-o, não entendendo o que ele tanto olhava. - Algum problema?

    - Ah, não - disse de imediato, sorrindo. - Mas, sabe.. Essas roupas são miaugicas - explicou-a. Não era como se desse para tirá-las.

    - Aqui. Coloque no rosto - jogou uma toalha na cabeça dele, pegando a tesoura. - Não vou olhar, eu só ajudo a cortar parte da blusa e você cuida do resto.

   A expressão do mascarado foi de horror, como se já não tivesse tido uma experiência ruim suficiente correndo pela cidade sendo o Miausque de Papier, agora seria despido pela garota que sentava atrás de si na escola enquanto usava uma toalha na cabeça? Mirou os olhos azuis encarando-o como o seu pai faria, impaciente a espera de uma tomada de decisão imediata. Devia confiar nela, não? Na sala todos achavam-na confiável, era a boa e previsível Marinette que tentava ajudar a todos. A representante de classe gentil, um pouquinho bizarra e com alguns problemas que a si não compreendia, mas no geral confiável: Marinette. Ela merecia esse voto de confiança, sem citar que ainda lhe trouxera a própria casa e tentava ajudá-lo. Levou as mãos a toalha, ajeitando-as e enrolando a cabeça parcialmente nessas.

   - Não olhe - pediu, esperando-a virar-se para sussurrar - Plagg, destransformar.

   E como um raio subindo o seu corpo a transformação se desfez e mais uma vez o kwami negro surgiu. Nem precisou dizer nada, agarrando-o e jogando-o para dentro da toalha que cobria o seu rosto. Com o simples som baixo do corpo da Marinette virando-se para si todo o ambiente ladrilhado tornou-se sufocante. Foi involuntário, mas respirar-se passou a ser uma tarefa penosa, como se desesperadamente tentasse através do silêncio deixar de ser visível aos olhos diante de si. Mordeu os lábios como uma presa encurralada ao ouvir o corte do tecido, começando pela área do seu tórax e seguindo reto em direção as mangas, cada movimento seco da tesoura o tornava mais apreensivo. Ela estava olhando-o agora e tinha plena noção disso, não era como antes que ela tinha a escolha de não olhar, talvez por isso se sentisse tão ansioso.

   Para a Marinette, entretanto, a tarefa não era tão desesperante. Sua atenção focavam-se no tecido - sem erguer-se ao rosto -, atenta ao corte como se trabalhasse em um manequim, procurando tornar a situação o mais breve possível para evitar constrangimentos aos dois lados. Não precisou cortar toda a roupa dela, apenas o acesso a um dos braços, esticando-se ao fim para deixar a tesoura na pia e pegar uma nova toalha, sendo a sua vez de jogá-la em sua cabeça e virar-se parcialmente de costas para ele.

   - Pronto.. Pode desligar a água e entrar - avisou-a, não faltando muito para a banheira estar cheia - não vou olhar - reforçou para ele despir-se em paz.

   Os segundos que se seguiram foram alguns dos mais estranhos na vida dos dois. A garota fez questão de fechar forte os olhos enquanto sentia a mão dele mover-se para tirar a blusa, descalçar os sapatos e por fim remover a calça. Não era de fato a primeira vez que o Adrien despia-se próximo a uma mulher, mas normalmente isso não envolvia tirar a roupa íntima e menos ainda tomar banho ao lado dessa. Só queria tirar um pouco do suor e odor desagradável do lixo, por isso tentou ser o mais sucinto possível.

    Os pés entraram com cuidado no interior da banheira, fechando a cortina e puxando um pouco a mão da outra como consequência. Quando abaixou-se ela fez o mesmo, sentando-se virada de costas do lado de fora, mantendo o braço como o seu - esticado na lateral da banheira -, dando a privacidade dele para que ele tomasse o seu banho. Só conseguiu relaxar quando fechou completamente a cortina, tendo coragem para remover a toalha de seu rosto, fechando o registro da água e mergulhando na banheira para poder limpar-se um pouco.

    - Adr- Plagg começou a falar, mas o Adrien adiantou-se e calou o seu kwami com uma das mãos.

    - Psiu, Plagg.. Aqui não.

    Os olhos verdes repreenderam o seu pequeno gênio negro. Sabia da natureza bagunceira dele, mas esse não era exatamente o melhor momento para que ele mostrasse a própria essência. Deixou-o voar dentro da área coberta pela cortina, encarando-o na expectativa de que seu olhar vigilante fizesse-o mais controlado. Plagg era um de seus melhores amigos, mas ele não era exatamente a criaturinha mais fácil de se lidar.

    - Estou exausto, quero me deitar em uma cama fofa e relaxar - começou o discurso, usando o tom baixo apenas para que ele não viesse lhe agarrando, sem a mínima intenção de participar daquele banho.

    - Fique comportado, prometo te recompensar em casa - pediu, caso ele colaborasse mostraria-o um dos seus esconderijos de camembert para que ele comesse até se satisfazer.

    A garota manteve-se calada, sentindo-se tentada a avisá-los para falarem mais baixo - estava ouvindo absolutamente tudo o que diziam. Chat Noir estava conversando com o seu kwami, não é? Apesar da situação estranha e constrangedora sentia-se um pouco curiosa sobre isso, talvez devesse tentar conversar com ele estando de Ladybug a esse respeito. Quando viu o kwami dele mais cedo, mesmo que de relance, notou-o ser quase o dobro do tamanho de Tikki e negro como o uniforme que ele trajava, completamente diferente do que a si imaginava - pensava antes que eles tinham algum padrão.

    - Ah.. Eu não aguento mais. Preciso descansar.. Ah, toalhas macias!

     As queixas de Plagg foram interrompidas ao avistar uma pilha de toalhas na pia, vendo-as através de uma abertura na cortina plástica. Adrien abriu os lábios para repreendê-lo e mandá-lo comportar-se, mas a pequena divindade foi mais rápida, escapando para fora da cortina e voando em direção a pia.

     - Não! Plagg! - Adrien disse mais alto para brigar com esse, movendo-se e tentando alcançá-lo antes que ele escapasse.

    Foi rápido, Adrien tentou levantar-se para capturar aquele brincalhão incorrigível, mas o braço preso ao da Marinette o limitou e impediu seu êxito. O que se seguiu foi uma onda de azar desastrosa, iniciando com um pisar em falso na banheira escorregadia e a batida do joelho no fundo dessa, tendo o seu corpo projetando-se para frente. A possível queda para fora da banheira foi amparada pela Marinette, tendo caído praticamente sobre ela, fazendo-a repetir a função de sua protetora e amparadora como ocorrera na caçamba. A atenção do rapaz por alguns segundos permaneceu no Plagg, assistindo-o deitar-se confortavelmente em seu objetivo, alheio aos problemas causados. Quando o rapaz fez-se entender o que acontecia que entendeu seu corpo despido estar parcialmente grudado ao dela e a cortina - agarrada no momento de euforia - com algumas de suas argolas arrebentadas após um puxão mal planejado.

    - Chat Noir! - Marinette chamou-o nervosa. Seus olhos fecharam-se enquanto o seu peito movia apressado com o coração disparado, ciente da nudez dele e da pressão de seu corpo em suas costas. Não fazia ideia se a área mais íntima dele lhe tocava, mas queria o que quer que fosse voltasse imediatamente para o seu devido lugar. - Você não precisa esconder o seu.. seu.. gato! - Atrapalhou-se ao falar, sabia que não podia chamá-lo de kwami, denunciaria sua segunda identidade. - Eu e a minha amiga, Alya, pesquisamos sobre você e a Ladybug e sabemos que você tem essas fadas mágicas, então, por favor, termine o seu banho - mentiu só para amenizar a situação, não que fosse fácil uma vez que ela era desconsertante como um todo.

    - Desculpe! - Pediu apressado, apoiando-se nas bordas cerâmicas enquanto jogava o seu corpo para trás e voltava a sentar-se dentro d’água. Qualquer explicação lhe passou despercebida, não via necessidade dela explicar-se se foi a si que faltou-lhe com decoro.

   As orbes peridoto miraram os cabelos escuros a sua frente por alguns instantes, notando um rosado atípico nas pontas de suas orelhas, dando alguns segundos antes de confrontar o responsável por tamanho constrangimento, vendo-o desfrutar de seu berço improvisado. Mergulhou na água, erguendo-se com cuidado, posicionando a mão livre estrategicamente em seu sexo, dando-se por satisfeito em sua limpeza após tamanho vexame.

   - Ch-chat Noir? - Marinette não entendeu quando sentiu o braço ser puxado ao ele levantar-se. Já era o suficiente, não queria mais tocando-o ou se aproximando, pelo menos não enquanto estivesse pelado! Nem mesmo olhava para o gato dele na pia, mesmo tendo ficado curiosa sobre a aparência desse, já tinha visto coisas demais para uma noite.

    - Acabei, não olhe - pediu, mesmo sabendo, ao julgar pelo desespero da colega de classe, que ela não o faria.

    Saiu, secando-se o mais rápido que pudera, evitando o uso de sua mão direita para não forçar a movimentação desnecessária do braço dela. Calça, tênis e bastou fazer o chamado para que o kwami saísse de seu confortável ninho e colorisse seu miraculous de negro. Fixou sua atenção na garota ainda ao chão, encolhida e de cabeça baixa com a toalha cobrindo-lhe parcialmente o rosto.

   - Eu lamento, princesa.

   - Você acabou, Chat Noir?

   Certamente um banho de gato, sem o uso do sabão ou shampoo. Não o julgaria, claro, estavam vivenciando momentos mais comprometedores naquela noite que provavelmente já tiveram em suas vidas. Respirou fundo, sentindo-o ajudá-la a erguer-se e voltando a olhá-lo uma vez que viu as botinas pretas próximas a si.

    - Te darei privacidade, promessa de herói - e colocou mais uma vez uma toalha em seu rosto, prontificando-se a ficar em pé de costas para ela e de frente para a parede, imóvel.

   Se para Marinette foi desagradável tê-lo tocando-lhe acidentalmente, o ápice da estranheza tomava forma enquanto cortava a própria blusa para imitá-lo e adentrar a banheira. Quando as tramas do tecido se desfizeram no último corte, segurou a blusa ainda junto ao seu corpo, ofegando com a falta de ar momentânea. Seria estranho, não é? Sabia que o Chat Noir era confiável - e não apenas isso, completamente devoto a uma única mulher, sua senhora -, mas nunca estivera tão exposta e próxima a um garoto desse jeito. Era um garoto, não é? Ou seria melhor enganar-se e fingir que era um gato? Talvez a confortasse um pouco.

    Removeu suas peças de roupa sem tirar os olhos dos ombros largos a sua frente, querendo estar preparada para qualquer eventual espiada ou atrapalhada dele. Sentia-se a mulher mais azarada do mundo, tinha certeza que Adrien odiaria-lhe se soubesse o que estava prestes a fazer - ficando nua e tomando banho junto a um desconhecido. Um arrepio percorreu sua coluna quando lembrou-se desse humilde detalhe, não bastava ser um garoto, em conjunto vinha acompanhado o fato de que nada que ele fizesse caberia-o a ser responsabilizado uma vez que mantinha sigiloso seu nome.

    Quando mergulhou nas banheira tentou fechar a cortina, frustrando-se com o fechamento imperfeito dada a ausência de algumas argolas. Seu suspiro foi audível, pegando o sabonete e esfregando-o em seu corpo com a mão livre, focando-se em eliminar qualquer resquício do encontro anterior com a caçamba de lixo. A água já não estava tão quente - não tanto quanto deveria ter estado quando ele se lavou -, mas a temperatura morna era confortável e até um pouco relaxante.

    O mascarado imitou-a, sentando-se do lado de fora com o braço esticado na lateral da banheira, de cabeça baixa. Por alguns instantes sentiu saudade do Plagg e de sua personalidade distorcida - o silêncio só deixava-o ainda mais sufocado. Não tinha dado-se conta de sua meninice ainda até ser tomado pela sensação de cócegas no pé do estômago com a presença de uma garota nua ao seu lado. Não ousava maliciar o momento de nenhuma forma, mas a ansiedade estava fora de seu controle.

    Um som curto roubou a atenção dos dois, gerado quando a Marinette derrubara acidentalmente o frasco de shampoo para fora da banheira, batendo no piso ao lado do felino.

   - Chat Noir, pode me passar o shampoo? - Pediu-lhe, vendo-o assentir com a cabeça e tentando pegá-lo.

   Foi um vislumbre curto e completamente involuntário, mas quando fora a entregar o que lhe foi pedido pode vê-la. Não muito, claro - a cortina permanecia parcialmente fechada -, mas conseguiu ver o ombro dela para fora da água, junto dos fios escuros deitados molhados nesse. Eram ombros estreitos, arredondados, por que não dizer femininos? Mesmo que por poucos segundos notou que a pele dela branca era mesclada com uma porção de sardinhas claras, quase não notáveis. Abaixou a cabeça antes que ela notasse que a vira, sendo tomado momentaneamente por sensações que não estava preparado.

   - O-o que você acha de cantarmos uma música? - Foi a vez do rapaz gaguejar, tomando fôlego antes de prosseguir. - Sim, sim! Uma música para o banho!

   Não sabia de onde viera ideia tão absurda, mas o acalmaria, não? Se funcionou com Mylene em seu surto de terror funcionaria consigo em sua agitação repentina. Que música cantaria? O melhor seria uma música conhecida, não? Algo presente nas rádios, que permitisse usar a voz e lhe roubasse a consciência em troca de devolvê-lo a lucidez.

    - Oh, ma douce souffrance (Oh, meu doce sofrimento)- começou após tomar fôlego, tentando manter a voz em um único timbre como exigia a canção. - Pourquoi s'acharner tu r'commences (Por que para começar você recomeça)? Je ne suis qu'un être sans importance (Eu sou só mais um ser sem importância). Sans lui je suis un peu "paro" (Sem ela em sou um pouco perturbado).

   Um sorriso nasceu nos lábios da garota enquanto ouvia a canção, virando-se para vê-lo e tendo sua visão barrada pela cortina plástica. De onde viera esse repertório musical? Ele treinava nos muros? Devia ser precedente aos banhos de balde de água fria que ele recebia dos vizinhos. Não que a voz fosse desagradável, era harmoniosa, já imaginava-o selecionando essa música como serenata a Ladybug.

   - Je déambule seule dans le métro (Eu vago sozinho no metrô). Une dernière danse pour oublier ma peine immense (Uma última dança para esquecer minha imensa dor). Je veux m'enfuir, que tout recommence (Eu quero ir embora, quero que tudo recomece). Oh, ma douce souffrance (Oh, meu doce sofrimento).

   Conforme mais a voz escapava de sua voz, mais sanidade recuperava. A inquietude dava lugar a tranquilidade e o desespero convertia-se em empolgação. A letra para si era perfeita, encaixava-se completamente com seu espírito. Com a voz um pouco mais elevada, aproveitando-se da acústica do ambiente, empenhou-se especialmente no refrão.

   - Je remue le ciel, le jour, la nuit (Eu movo o céu, o dia, a noite).Je danse avec le vent, la pluie (Eu danço com o vento, com a chuva). Un peu d'amour, un brin de miel (Por um pouco de amor, por um frio de mel). Et je danse, danse, danse, danse, danse, danse (E eu danço, danço, danço, danço, danço, danço). - Interrompeu a letra, batendo de leve com a mão cativa na cortina, dando-lhe a chance de seguir a segunda estrofe.

    - Est-ce mon tour (É a minha vez)? - Brincou Marinette, pulando uma frase da música para encaixar a frase, rindo. Gostava dessa música e mais que isso, gostava do que ele fazia, não sentia-se mais tão nervosa quanto antes. - Vient la douleur (Vem a dor). Dans tout Paris, je m’abandonne (E por toda Paris, eu me abandono). Et je m'envole, vole, vole, vole, vole (E eu vôo, vôo, vôo, vôo, vôo).

    - Que d’espérance (Que desesperança) - cantaram juntos, rindo, mesmo que tentassem manter a seriedade. - Sur ce chemin en ton absence (Nessa estrada, durante sua ausência). J'ai beau trimer, sans toi ma vie n'est qu'un décor qui brille, vide de sens (Eu estou aprisionado, sem você a minha vida é uma decoração brilhante, sem sentido).

   As vozes não combinavam, os tons eram diferentes, mas a canção continuava contagiando-os de uma forma imprescindível. E quanto mais cantavam, menos importava os medos, inseguranças, dúvidas. Faziam um dueto singular e juntos se sentiam perfeitos.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades:
O endereço citado é o endereço oficial da Marinette na animação, ela o revela no episódio The Marionettiste.
Apesar de ser frequentes os erros de animação, o Plagg constantemente é representado duas vezes maior que a Tikki, inclusive muitos fãs já fizeram análise com prints dos tamanhos deles.
A música que eles cantam no final da fanfic é Dernière Danse da Indila, ela é a música pop francesa mais tocada em 2015.

Muito obrigada por todas as reviews, se você gostou da fanfic não deixe de mandar uma mensagem mesmo que dizendo "Bolinho saltitante" para eu saber que agradei e continuar com ânimo para postar novos capítulos. ♥



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