Hermione já estava em casa à espera do primo que sempre chegava mais tarde que ela. Tinha feito para o jantar o prato favorito dele, strogonoff. Como o garoto sempre voltava um pouco tarde da faculdade ela não o esperava para acompanhá-lo no jantar, então já estava preparando sua sobremesa favorita: brigadeiro. Gostava de esperar o primo voltar enquanto assistia tv, e achava que depois do dia exaustivo que tivera no hospital e depois dos estudos na universidade, ela merecia uma boa e enorme panela do doce.

Foi para o sofá sem se dar o trabalho de tirar o brigadeiro da panela e sintonizou a tv num canal que reprisava os episódios de sua série favorita: Friends. Enquanto assistia sentiu seu celular vibrar, alertando o recebimento de uma nova mensagem. Olhou o visor do telefone sem desbloqueá-lo e respirou profundamente.

Faziam quase três semanas desde o dia em que ela jogara uma caneca de chopp inteira no rosto de Ronald Weasley. Depois daquele fatídico episódio, Cedrico e Luna lhe contaram toda a verdade sobre a situação e ela não sabia o que fazer com a vergonha que passara. Sabia que não poderia ter ficado bêbada o suficiente para esquecer das coisas que fizera naquela noite, mas também sabia da sua intolerância ao álcool então resolver acreditar na história que lhe contaram.

Desde então ela vinha recebendo mensagens do garoto pois sua amiga Luna havia dado seu contato a ele. Hermione sabia que ele parecia ser uma pessoa bacana, mas estava morrendo de vergonha pelo acontecido e também não o entendia. Se a situação fosse inversa ela não procuraria por garoto nenhum, não um que tivesse lhe dado um banho de chopp. As mensagens de Ronald se resumiam em bons dias, boas tardes e boas noites, assim como a de agora em que ele lhe desejara um "Boa noite!". Hermione achava que aquela era uma maneira dele de tentar puxar assunto com ela, porém ele era sempre ignorado.

Ela estava olhando o visor do telefone cogitando o que faria ou não quando Cedrico adentrou a porta do apartamento resmungando.

— Meu Deus, essas escadas ainda me matam! — ele disse largando todas as suas coisas e seus sapatos em um lugar qualquer e foi sentar-se ao lado da prima no sofá — Vou falar com aquele maldito síndico outra vez, ele precisava consertar esse elevador logo! O que foi?

— Nada. — disse escondendo o celular tentando disfarçar — Não vá arrumar encrencas com o síndico, Ced. Ele já disse que iria providenciar o conserto...

— Me dê seu celular. — disse.

— O quê?

— Ande, me dê seu celular.

— Pra que você quer ver meu celular?

— Quero ver se você não está ignorando o ruivo de novo. Ande, deixe-me ver.

— Não estou ignorando ninguém.

— Então me deixe ver! — insistiu.

— Eu não quero falar com ele, Cedrico. — disse dando-se por vencida.

— Por que não?

— Estou com vergonha, vocês fizeram a pior besteira do mundo quando mentiram pra mim. Tratei o garoto como um lixo e no final das contas ele é um cara bacana. — disse envergonhada.

— Ah Hermione, por favor. Não acredito que está com vergonha. Você realmente acha que ele está ligando pra isso?

— Eu estou ligando e já é o suficiente pra mim. E afinal de contas, o que ele ia querer com uma garota que o humilhou?

Assim que ela terminou de falar o garoto levantou-se e começou a imitar os movimentos de uma líder de torcida.

— Me dê um T, me dê um R, me dê um O, U, X, A. Hermione, sua trouxa! — cantou completamente animado irritando a prima — Garota, se toca!

Hermione que ficara irritada levantou-se também.

— Me dê um C, me dê um A, me dê um não tenho paciência pra isso, CALE A BOCA, CEDRICO! — disse empurrando o garoto de volta para o sofá bufando de raiva.

— Hermione, será que só você não percebeu que estava enganada o tempo todo? Porque ele percebeu.

— A questão não é essa, Ced.

— É claro que é! Ele sabe que a garota que foi naquela festa com a Luna era diferente daquela que estava na festa em que vocês se conheceram. Você o achou bacana, porque ele não pode te achar também?

— Porque eu...

— Porque nada! — ele a interrompeu — Dê uma chance a ele! Já faz dias que ele tenta falar com você e a senhorita só o ignora. Não acho que isso seja coisa de alguém que não tenha gostado de você. Responda-o, se você não gostar bloqueie ele, se gostar já sabe o que fazer!

— O que? — perguntou curiosa.

— Oras Hermione, agarre o boy né! — disse fazendo-a rir.

— Obrigada, eu pensarei no que você disse.

— De nada gata, sei que sem mim sua vida seria uma droga! — disse levantando-se e desabotoando a camisa, estava se preparando para o banho.

— Estava gentil demais pra ser verdade. — disse irônica.

— Eu estou sentindo o cheiro de strogonoff? — ele disse virando o rosto para a direção da cozinha com tanta força que Hermione ficou imaginando se ele não teria torcido o pescoço.

— Sim.

— Então eu tenho que tomar um banho logo, Deus como eu amo strogonoff! — ele disse indo para o próprio quarto.

Hermione riu, Cedrico realmente amava strogonoff. Ela suspirou e deu uma bela colherada em seu brigadeiro, ainda com a colher pendurada na boca ela pegou seu celular e digitou uma resposta para o ruivo. Sua mensagem dizia apenas "Boa noite!" e ela sentiu o corpo estremecer quando "digitando" apareceu no visor de seu celular imediatamente.

(...)

Rony digitou uma mensagem de texto para Hermione. Deitou-se em sua cama ainda com o celular em mãos e com o auxílio do controle remoto sintonizou a tv em um canal que reprisava os episódios de sua série favorita: Friends.

Ficou pensando se fez o certo enviando uma mensagem para ela ou não, a garota nunca o respondia. Devia odiá-lo de verdade, talvez Luna não tivesse desmentido totalmente a história que havia inventado. Seria uma pena perdê-la antes mesmo de tê-la, parecia ser uma garota tão especial...

“Rony tentava fazer com que Hermione voltasse sua atenção para ele de novo, era incrível como ela gargalhava de todas as piadas bobas que ele lhe contava, e no momento ela gargalhava de mais uma. Agora ela ria sobre a gracinha que ele fizera dizendo que apelidara sua casa como "A Toca" já que sua família parecia uma ninhada de coelhos de tantos irmãos que tinha.

— Mas deve ser legal ter vários irmãos... — Hermione disse parando de rir.

— Tirando a parte de ter que dividir a atenção, o quarto, as roupas e tudo que é seu, até que é um pouquinho legal.

— Ah, duvido que seja tão difícil assim.

— Diz isso porque é filha única, isso sim deve ser legal! Imagine só, ter todos os brinquedos que quisesse! — ela riu com o comentário dele.

— Não é tão divertido assim. É óbvio que nunca pude reclamar de falta de atenção ou de não ter um quarto só pra mim, mas é chato não ter ninguém com quem brincar... Fora que ser o centro das atenções não é tão legal assim.

— Não?

— Não. Sempre colocam muito expectativa em você, é difícil ser a princesinha da família e não poder decepcionar ninguém...

— Princesinha da família, é? — perguntou com um tom de zombaria.

— Sim. Meus avós maternos têm apenas dois netos, eu e o Cedrico. Então você pode imaginar o quanto sempre fomos bajulados.

— Só vocês dois? Caramba! Bom, meus pais não foram os únicos na família que se reproduziram feitos coelhos... — ela gargalhou outra vez. — Então é difícil tentar surpreender alguém quando parece que outros vários já o fizeram na sua frente.

— A atenção em excesso ou a falta dela são uma droga, né?

— Pior é que são.

— Mas tenho certeza que você já conseguiu impressionar alguém da família, não tem cara de fracassado. — Hermione disse e ele sorriu convencido.

— Sério?

— Sério... O que você faz? — ela perguntou interessada.”

Rony lembrava-se que depois daquela pergunta eles passaram bastante tempo falando sobre o futuro e suas profissões. Ele descobrira que ela cursava medicina na universidade e pretendia especializar-se na área da oncologia, mas precisamente na oncologia infantil e que ela já estagiava num hospital renomado no centro de Londres. Ele notou que a inteligência dela não era apenas aparência, já que era a assistente da chefa da área que trabalhava no hospital, a inteligência era tanta que transbordava e ninguém que a olhasse ousaria dizer o contrário.

Ele percebeu que os olhos dela brilhavam quando ela falava sobre seu amor pela profissão que pretendia ter e ele ficara encantado com aquilo, eram desses profissionais que o mundo precisava e era exatamente por isso que ele também escolhera a profissão que também fazia seus olhos brilharem.

Hermione era divertida, risonha, alegre, simpática, adorável e extremamente linda. O que era completamente o contrário da Hermione que jogara um copo de chopp em seu rosto no barzinho, aquela era chata, cínica, arrogante, mal educada, odiável e linda. “Deus, como ela conseguia ser tão linda?” Rony pensara frustrando-se por ela estar o ignorando. Tinha gostado muito da Hermione que tinha conhecido na festa, e era exatamente por isso que estava disposto a esquecer o que a Hermione do bar tinha feito.

Foi pensando nisso que assustou-se ao sentir o celular vibrando, alertando-o que havia recebido uma mensagem. Uma mensagem de Hermione. Primeiro pensou que tivesse enlouquecido já que ela estava ignorando-o há dias, mas preocupado em não perder a oportunidade prontificou-se de respondê-la no mesmo instante.