A Diferentona escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 5
Livro do Arregaço


Notas iniciais do capítulo

Olá diferentões e diferentonas! Não, eu não morri e nem desisti de escrever, apenas passei por um longo período de bloqueio criativo. De qualquer forma, aqui está o capítulo novo. Espero que gostem e boa leitura ♥



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— Se divertindo com o livro do arregaço? – Após terminar a conversa com Laquisha e Bart, ouço alguém falar e me viro. Dou de cara com Pamela em pé segurando um drinque com uma azeitona dentro.

— Livro do quê? – pergunto sem saber sobre o que ela está se referindo.

— Do arregaço. É um livro em que Virginia e as garotas escrevem todas as brincadeiras maldosas que planejam contra os colegas da escola – Pamela explica. – Pensei que soubesse, afinal, você é amiga delas, não é?

— É, eu acho.

— Se você não sabia disso, provavelmente você deve estar nele. Eu sinto muito, querida. Você é tão doce e bonita. Parece até a Lindsay Lohan antes das drogas.

 E sua boca está tão inchada que você parece o Flappy Bird antes de bater em um cano, penso. Porém a única coisa que digo é:

— Obrigada.

— É por isso que estou te alertando para ficar longe da minha filha. Eu dei a luz a um monstro. Quando eu estava grávida dela, fui abduzida por ETs. Ou será que fui sequestrada por uma seita satânica que usava máscaras de ETs? De qualquer forma, eles fizeram diversas coisas comigo, e até que eu gostei de algumas, mas aposto que Virginia não tem sentimentos por causa disso. Sabe o que ela fez ao nascer? O médico deu um tapa e ela o ameaçou com um bisturi. Depois, começou a rir. E não era uma risada bonitinha. Era uma risada maléfica. Eu só queria ter uma garotinha normal que me amasse e não me humilhasse porque eu durmo em um freezer para evitar que minha cara derreta.

— Eu lamento por isso, Pamela. – Tento confortá-la.

— Sabe todas essas plásticas? – ela indaga apontando para o próprio rosto. – Eu fiz cada uma quando estava me sentindo mal por conta da Virginia.

— Pelo visto, a senhora entrou em uma profunda depressão. – Penso alto demais, analisando seu semblante.

— Eu pareço estar sorrindo, mas por dentro estou triste.  Gostaria de chorar agora, porém, fiz uma cirurgia para retirarem meus canais lacrimais e nunca mais chorar. Isso evita a maquiagem ficar borrada.

— Não teria sido mais fácil comprar maquiagens a prova d’água? – pergunto.

— O que você disse? Não consigo te ouvir direito.

— Eu disse que...

— Ah, meu Deus! – Pamela exclama ao colocar a mão sobre o ouvido esquerdo, apavorada. – Eu perdi minha orelha! Preciso encontrá-la antes que meu poodle a coma e eu tenha que esperá-la sair pelo outro lado... de novo! Foi bom conversar com você, Emily. – Ela se vira e caminha o mais rápido que pode com seus saltos elegantes e seu vestido apertado. – Ah, e não conte nada para Virginia sobre o que acabamos de conversar. Não quero meu nome naquele livro.

— Pamela, espere! A sua orelha caiu no drinque! – Tento avisá-la, no entanto ela não me escuta e vai embora.

 Então, volto para o quarto de Virginia.

— Quem era no telefone? – McBitch indaga assim chego no dormitório.

 “Ah, e não conte nada para Virginia sobre o que acabamos de conversar”, a voz de Pamela ecoa em minha mente.

— Eram meus avós querendo saber se eu estava usando alguma droga porque se eu estivesse, eles iriam querer usar também – minto.

— E levou meia hora para falarem só isso? – ela questiona, aparentemente desconfiada de mim.

 Engulo em seco. Meu coração dispara a ponto de atravessar meu peito e minhas mãos começam a suar. Droga, eu sou péssima em mentir. Preciso dizer algo que a convença.

— Eu fui fazer cocô depois – respondo. – E estava muito duro.

— Eca! – Virginia diz, fazendo cara de nojo. – Informação demais, Emily.

 Consegui! Ela acreditou!

— Bom, o que perdi? – Sento no chão, me juntando às oxigenadas.

— Tirando que a Karina quase caiu no buraco que minha mãe abriu com a bunda, acho que nada – McBitch fala.

— Então vamos continuar de onde paramos – digo.

— Pronta para dizer somente a verdade, nada além da verdade? – Greta me encara com uma expressão e um tom de voz malicioso.

 Não.

— Sim – digo, voltando a ficar nervosa por conta do que poderão me perguntar.

— Com quantos garotos você já cometeu o pecado da fornicação?

— Nenhum – respondo.

— E garotas?

— Nenhuma também.

— Espera, você é virgem?

— Com essas roupas, dá pra entender o porquê – Virginia comenta. – Tem tanto pano aí que qualquer garoto iria se perder e desistir de achar algum orifício.

 Ai, essa doeu. Parece que McBitch está começando a mostrar suas garras. Pelo jeito, Pamela está certa a respeito de sua filha.

— Que maldade, Virginia! – diz Greta.

— É – Karina concorda. – Você foi tão cruel.

— Vocês pensaram o mesmo – ela diz.

— Eu sei, mas você que disse – Greta fala.

  E as oxigenadas caem na gargalhada.

— Alô! – Chamo a atenção das três. – Eu ainda estou aqui!

— Ah, desculpe. – McBitch recupera o fôlego. – Às vezes eu penso alto demais.

— E sobre a pergunta da Greta, sim, eu sou virgem – admito. – Nunca fiz nada.

— Mas por quê? – Karina indaga.

— É obvio ela está esperando o cara certo – explica Greta –, não é, Emily?

 Na verdade, eu estou esperando o pênis certo, que se encaixe perfeitamente na minha periquita e a deixe dormente depois de um sexo brutal.

— É isso aí – respondo. – O cara certo.

* * *

 Na manhã seguinte, as oxigenadas me dão carona até o colégio. Chegando à classe, vejo que todos já estão em seus lugares, sentados em dupla.

— Com licença, Senhor Who. – Me aproximo do professor figurante asiático. – Quem é a minha dupla?

— Aquele belo rapaz sem camisa bem ali – ele diz, apontando para James Tripé, sentado no fundo da classe e usando apenas uma bermuda com um enorme volume.

 Então, caminho em câmera lenta em direção a James enquanto uma música romântica começa a tocar:

Chupa o bico do meu peito

E mete com vontade.

Sussurrando desse jeito,

Eu gozo de verdade.

 

 E quando seu olhar encontra o meu, fico corada, pois sinto minhas bochechas (e o rabo) pegarem fogo. Se ele sorrir para mim, eu juro que minha vagina vai bater palma tão alto que meus vizinhos vão pensar que tem alguma testemunha de Jeová na porta deles.

  De repente, tudo volta ao normal quando alguém coloca o pé no meio do caminho e eu tropeço, caindo de cara no chão. Todos começam a rir de mim. Droga. Odeio chamar a atenção. Levanto de imediato e ando envergonhada até meu assento ao lado de James. Como sou tímida, fico de cabeça baixa. Algumas mechas do meu horrível cabelo ruivo e sedoso cobrem meu rosto.

— Ei, acho que eu já te conheço – diz James. – Você é a garota com quem eu esbarrei no corredor, certo?

— Isso mesmo – confirmo.

— Eu sou o James. Qual o seu nome?

— Emily – digo, desviando meu olhar do dele. – Mas e aí? O que já fez até agora da matéria? – Abro minha mochila e pego os materiais.

— Nada. Matemática é tão difícil.

— Mas isso é biologia.

— Ah, por isso que eu não entendia o que números tinham a ver com o sistema digestivo, a não ser o número dois. – Rio sem saber o que dizer. Ele me olha de acima abaixo. – Bom, eu não sou muito de fazer isso, mas acabei de pensar em algo.

— E no que você pensou? – pergunto intrigada.

— Olha, eu preciso ir bem em todas as matérias senão vão me tirar do time de futebol. E eu acho que você poderia me ajudar.

— Você pediu ajuda para todos os asiáticos da escola e nenhum deles aceitou, né?

— É, inclusive para o professor Who. Mas você parece ser inteligente também.

— Eu? Não, imagina.

— Se você não fosse inteligente, não usaria óculos, nem ficaria com o cabelo preso num coque frouxo e muito menos leria coisas intelectuais como... – James tira alguns livros da minha bolsa aberta e lê os títulos. – “Crepúsculo”... “A culpa é das estrelas” e...  “Cinquenta tons de cinza”? Enfim... se você me ajudar, eu faço qualquer coisa em troca.

— Como esmagar minha rata com seu mastro da luxuria?

— O quê?

— Eu disse que vou pensar no que eu quero em troca. Mas eu vou te ajudar.

— Obrigado! – Ele agradece, sorrindo.

 CLAP!CLAP! CLAP!

— Você ouviu isso? – James pergunta.

— Isso o quê? – Tento disfarçar.

— Não sei. Parecia o som de alguém batendo palmas.

— Eu não ouvi nada. – Mudo de assunto rapidamente. – Posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Por que você está sem camisa?

— Porque eu tenho tanquinho, dã. Seria muito egoísmo da minha parte não deixar todo mundo vê-lo.

— Faz sentido.

* * *

  Depois da escola, chego em casa e encontro meus avós na sala, sentados no sofá, assistindo TV.

— Oi, querida – diz vovó. – Está com fome?

— Estou sim.

— Então vai fazer a janta, garota preguiçosa!

— Aproveite e faça bastante comida – aconselha vovô. – Sua avó e eu fumamos maconha e estamos de larica.

— E por que não comeram nada? – pergunto.

— Porque não podemos levantar – ele responde. – Não sentimos nossas pernas. A erva era da boa.

— Acho que você vai ter que carregar a gente no colo até nosso quarto, lá em cima – ela fala.

— E nos ajudar a ir ao banheiro – ele diz. Ouço um som de peido. – Ih, não precisa mais. Acabei de fazer tudo nas calças. Agora, você só precisa limpar.

— Tudo bem, eu ajudo vocês – digo, indiferente.

— Querida, você está bem? – indaga vovô. – Você nem sequer fez cara de nojo quando eu disse que sujei minhas calças.

— Sinceramente, eu não estou bem – respondo. – Vocês querem saber o motivo?

— Sinceramente, não queremos – diz vovó.

— De qualquer forma, eu vou falar e vocês vão me ouvir porque os dois não podem ir a lugar algum – digo, sentando em uma poltrona próxima deles.

— Ela está ficando esperta – ele comenta com minha avó. – Ok. Desembucha.

 Então, conto sobre como ganhei e perdi a amizade de Laquisha e Bart em menos de dois dias.

— Quer dizer que você trocou seus amigos que foram legais com você desde o primeiro capítulo por uma festa do pijama na mansão dos McBitch, uma das famílias mais ricas de Clichésville? – vovó pergunta assim que termino a história.

— Sim – digo arrependida.

— Você foi uma grande escrota – vovô fala. – E estamos tão orgulhosos de você por isso.

— Finalmente você está se tornando a vagabunda que nós acreditávamos que você seria – ela diz.

— Mas eu não fiz de propósito! – explico. – Eu não tive escolha quando fui para aquela festa.

— Elas te atraíram para dentro de uma van dizendo que lá tinha doces mágicos, colocaram um pano com sonífero no seu rosto para você apagar e no momento em que você acordou, estava nua, amarrada e pendurada por cordas como uma mortadela defumada? – ele questiona.

— Não.

— Bom, acho que você teve escolha.

— Talvez eu tivesse tido mesmo. Só que não importa mais. Eu apenas queria voltar a ser amiga deles.

— Já tentou se desculpar? – pergunta vovó.

— Já. Na hora do almoço. Assim que cheguei perto dos dois, Laquisha me disse: “Se não sair da minha frente, vou te socar tão forte que sua cabeça vai girar igual a da garota do exorcista”.

— Gostei dessa tal de Laquisha – diz vovô.

— A única opção que te resta agora é: comprar presentes – minha avó fala.

— Tem certeza de que funciona? – pergunto.

— Claro que sim – ela garante. – Seu avô vive fazendo merda e comprando presentes pra mim. A maconha que a gente acabou de fumar foi um deles.

— Pensando bem, pode dar certo. Obrigada! Nunca pensei que vocês poderiam me ajudar.

— Nem a gente, querida – ele fala.

— Eu só preciso saber o que dar para eles.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram (ou não), deixe aquele comentário maroto. Eu sei que tenho bastante leitor fantasma, e se você é um e está lendo isso, só quero dizer que um cometário seu pode fazer toda diferença, pois isso me incentiva bastante a continuar escrevendo. Até mais (se tudo der certo)!



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