A Diferentona escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 4
Festa do Pijama


Notas iniciais do capítulo

Olá, diferentões e diferentonas! Não, eu não abandonei a história e não pretendo abandoná-la, eu apenas estava ocupado com a faculdade e tive bloqueio criativo por um longo período. De qualquer forma, mil desculpas por quase quatro meses sem atualização. No entanto, para compensar, esse capítulo está um pouco (quase nada) maior que os outros. Enfim, espero que gostem e boa leitura!



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 Chegando à casa de Virginia, me deparo com uma enorme mansão branca assim que ela estaciona em frente ao lugar.

— Eu já te contei que meus pais são muito ricos? – Ela se vira para mim. Balanço a cabeça positivamente. – Tipo, eles são tão ricos que podem te comprar uma família nova ou até mesmo ressuscitar a sua antiga.

 Ao entrarmos na residência carregando um monte de sacolas, tenho mais noção do quão grande é o recinto.

— Eu sempre me perco aqui – Virginia fala sacando o celular. – Por isso, toda vez, recorro ao GPS para saber onde estou e aonde quero ir.

 Subitamente, uma mulher de idade e com o olhar cansado aparece para nos receber.

— Boa tarde, senhorita McBitch – ela diz.

— Emily, essa daqui é a Dolores, minha escrava latina – Virginia me apresenta à mulher. Aceno timidamente para ela. – Meus pais a chamam de empregada, mas para mim é a mesma coisa. Se essa preguiçosa não me obedece, eu meto o chicote nas costas dela.

— A senhorita precisa de algo? – pergunta Dolores.

— Agora não, puxa-saco – ela responde. – Pode se retirar e assistir à novela mexicana das seis. Pelo jeito é a única coisa que vocês, pobres, têm como entretenimento. – E se volta para mim depois que a empregada vai embora. – Vamos pro meu quarto. Fica no andar de cima.

 Subimos uma escadaria de mármore e andamos até o final de um longo corredor, onde há uma porta que dá para o quarto de Virginia. Antes de entrarmos, imagino uma masmorra cheia de objetos de tortura, mas, na verdade, o quarto é como o de qualquer outra adolescente, só que mais espaçoso e rosa. Uma vez dentro do cômodo, McBitch fecha e tranca a porta. Ao ligar um rádio sobre o criado mudo, uma canção da Taylor Swift toca em alguma estação. De repente, as três gritam histericamente.

— Eu não acredito que é a nossa música! – Karina fala, animada.

— Isso é tão top! – diz Greta.

— O que é top? – Virginia pergunta.

— É uma gíria brasileira – ela responde.

 Em seguida, elas iniciam a cantoria junto com a artista:

So it's gonna be forever
Or it's gonna go down in flames
You can tell me when it's over
If the high was worth the pain

Got a long list of ex lovers
They'll tell you I'm insane
'Cause, you know, I love the players
And you love the game
...

 No momento em a que a canção termina, outra (dessa vez, da Inês Brasil) começa a tocar, e elas param de cantar. Contudo, eu berro empolgadamente e me descabelo toda por essa ser a minha música favorita, portanto, acompanho Inês a partir do segundo em que ela solta a voz:

Hoje eu tô, que tô, que tô
Hoje eu tô, que tô, que tô
Se é pro baile de funk
Eu vou contigo, meu amor
Mas se for pra fazer guerra
Não me chama que eu não tô

Make, make, make love
É muito melhor, demorou
(demorou, demorou)...

UI, QUE DELICIA! – giro com os braços abertos ao som de Make Love.

— Bicha, pare – Virginia fala desligando o aparelho. – Você não pode gostar de Inês Brasil. É suicídio musical.

— Totalmente – Greta concorda. – Além disso, só os homossexuais ouvem isso. Você não é, né?

— Não – digo. – Desculpe.

 Toc, toc, toc.

 Ouço batidas na porta.

— Meninas, vocês estão aí? – Diz alguém do lado de fora com uma voz feminina e abafada. A maçaneta começa a chacoalhar freneticamente.

— Já estou indo! – Virginia revira os olhos e caminha em direção à porta.

— É a mãe da Virginia – Greta me conta sussurrando. – Por ser casada com um cirurgião plástico, ela recentemente botou hidrogel no traseiro.  Nós a chamamos de “bunda de concreto”. Logo você vai entender o porquê.

  A porta é destrancada e uma mulher de cabelos loiros nada naturais entra. Deve ter por volta de quarenta anos, no entanto, há tanta plástica no rosto que aparenta possuir dez a mais. Ela usa salto alto e um vestido vermelho bastante decotado, sendo impossível não prestar atenção em seus peitos que parecem duas bexigas prestes a explodirem. Se me pedissem para definir a mãe de Virginia McBitch em duas palavras, eu diria: “boneca inflável”.

— E aí, meninas? – ela diz empolgadamente. Sua expressão é assustadora. Os olhos são arregalados como se algum médico tivesse tirado suas pálpebras e a boca, esticada num largo sorriso, não se mexe quando fala. – Acabei de chegar e, por causa da música alta, notei que vocês estavam aqui. Só passei para dar um “oi”.

— Pronto, já deu – diz Virginia com rispidez. – Pode ir embora agora.

— Quem é a sua nova amiga? – Ela pergunta, referindo-se a mim, assim que percebe minha presença.

— Mãe, essa é Emily – responde McBitch, impaciente. – Emily, essa é a insuportável da minha mãe.

— Muito prazer, senhora McBitch. – Me aproximo, estendendo a mão para cumprimentá-la, no entanto, ela me abraça.

— Por favor, me chame de Pamela. “Senhora” me faz parecer uma mãe velha e chata. – Ela anda até uma penteadeira e puxa a cadeira para sentar. – Mas, me contem as novidades. Quero saber de tu... – BUM! Ao sentar, as pernas da cadeira quebram e Pamela cai de bunda no chão. O quarto inteiro começa a tremer, objetos saem do lugar.  Apoio-me na parede ao lado para manter o equilíbrio.

 O pequeno tremor cessa.

— Desculpe, meninas. – Pamela se levanta, deixando um buraco no piso, sendo possível ver o andar debaixo através dele. A cadeira já era. – Depois que turbinei minha raba pra ficar linda igual a Barbiezinha, me esqueço que preciso ser mais cuidadosa.

— Mãe, já é o quinto terremoto que você causa essa semana! – Virginia reclama furiosa. – Você só me faz passar vergonha! Sai daqui!

— Tá bom, não está mais aqui quem abriu um buraco no chão com a bunda. – Pamela se retira do quarto, no entanto, retorna e se agacha, pegando do tapete algo parecido com um biscoito oreo. – Esqueci meu mamilo. Ele vive descolando do meu peito. – Em seguida, vai embora, fechando a porta.

— Agora que a idiota da minha mãe caiu fora, podemos começar a festa do pijama jogando “verdade ou desafio”.

— Eu nunca joguei “verdade ou desafio” – confesso.

— De que planeta você veio? – ela questiona.

— Planeta terra?

— Ok, vamos jogar imediatamente.

 Virginia vai ao andar debaixo e alguns minutos mais tarde, volta com uma garrafa de vodka na mão. Nos sentamos no chão e Greta explica como o jogo funciona.

— Eu começo – McBitch diz. Ela gira a garrafa, que após segundos rodando, para e aponta para Karina. – Verdade ou desafio?

— Desafio – ela responde.

— Desafio você a enfiar o punho inteiro na boca.

— Isso é fácil demais. Já enfiei até uma bola de boliche.

— Então eu te desafio a beijar a Greta. Na boca. De língua.

— Desafio aceito – diz Karina.

— De jeito nenhum! – Greta protesta.

— Ah, me poupe! A gente sabe que você é uma lésbica enrustida e não tira os olhos dos peitos da Karina.

 Greta fica boquiaberta, sem nenhuma resposta para o que Virginia acabou de falar.

— Isso é verdade? – Karina pergunta à Greta, que fica corada.

— Mas é claro que é! – McBitch responde antes que Greta possa dizer alguma coisa. – Só que você é burra demais para perceber. Agora, se beijem, piranhas!

 Greta se inclina para Karina e encosta os lábios nos dela. As duas ficam longos segundos ali, trocando caricias enquanto se beijam. Sinto o cheiro do couro.

— Já chega – Virginia as interrompe. – Já tá parecendo um pornô.

— E-eu não sou lésbica – Greta gagueja sem um pingo de certeza na voz.

— E eu sou virgem de todos os orifícios – McBitch fala ironicamente.

— Eu apenas segui as regras do jogo – ela tenta convencer a si mesma. – Apenas isso.  – E muda de assunto. – Minha vez. – Quando Greta gira a garrafa, ela para apontando para mim. – Verdade ou desafio?

— Verdade – digo sentindo um frio na barriga.

 No momento em que ela se prepara para me indagar, meu celular toca. Retiro-o do bolso e vejo quem está me ligando. Número desconhecido.

— Vocês podem me dar licença? – pergunto às oxigenadas, levantando. – Devem ser meus avós.

— Tudo bem, só não demore – avisa Virginia.

 Assim que saio do quarto e fecho a porta, atendo a ligação.

— Alô?

E aí, traidora? — diz a pessoa do outro lado da linha. Reconheço sua voz de imediato.

— Laquisha?

E eu, Judas! — fala Bart. — Laquisha pôs no viva-voz para eu participar da briga.

— Espera, como vocês descobriram meu número?

A gente roubou seus dados na secretaria da escola — Laquisha responde –, porque é isso que amigos fazem.

— E psicopatas! – acrescento.

É, nós somos isso também — ele diz.

Ficamos preocupados por você não ter aparecido na audição – ela conta –, aí fomos até a casa dos seus avós e eles disseram onde você estava.

NO COVIL DA MCBITCH! Você é burra desse jeito ou assistiu algum tutorial no YouTube?

Eu estava indo para o auditório, mas as oxigenadas apareceram do nada e me obrigaram a fazer parte da festa do pijama delas. Tudo aconteceu tão rápido e agora eu estou com uma calcinha fio dental, que compraram para mim, enterrada no rego, e acho que hoje à noite vou beijar uma garota.

— E como você não convidou a gente?

Bart!— Laquisha o repreende.

Quer dizer — ele se corrige —, como você pôde nos trocar por uma festa do pijama sapatônica?

— Me desculpem! – digo. – Mas será que eu não posso ser amiga delas e de vocês?

Claro que não! — ela responde. – Porque para elas, você não é amiga. E agora, você também não é para nós. Vou desligar. Não porque eu quero, mas porque meus créditos estão acabando. Eu poderia ficar o resto do dia te xingando, sua falsa!

Close errado, ferrugem — Bart fala.– Divirta-se no ninho de cobras.— E encerra a ligação.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram (ou não), comentem, por favor. Isso me motiva bastante a continuar escrevendo e me ajuda a melhorar cada vez mais.



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