A Diferentona escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 3
As Oxigenadas - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, diferentões e diferentonas! Desculpe pela demora para postar o capítulo novo, mas não está sendo fácil conciliar a faculdade com essa vida de escritor. Além disso, esse capítulo estava ficando maior do que eu esperava e parecia não ter fim. Então, para a história não ficar um ano em hiatus, decidi dividi-lo. De qualquer forma, boa leitura!



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— Cabelos ruivos presos num coque frouxo, vestes da avó... você deve ser uma diferentona – McBitch fala, me analisando da cabeça aos pés no instante em que me aproximo. – Sente-se. – Então, eu sento em uma cadeira de frente para as oxigenadas. Meu coração martela furiosamente contra o peito. – Me chamo Virginia. Essas duas vadias que andam comigo são minhas cópias. A do meu lado direito é a Greta, e do meu lado esquerdo é a Karina. Qual é o seu nome mesmo?

 Algo bloqueando minha garganta impede que qualquer palavra saia. Presumo que seja nervosismo. Deus, elas possuem uma beleza tão intimidadora que não consigo olhá-las nos olhos por muito tempo. Se eu fizer isso, juro que viro lésbica. Droga! Acho que gosto de meninas agora.

— E-emily – gaguejo, a voz quase falhando.

— Tenho quase certeza de que nunca te vi antes – diz ela.

— É que eu sou aluna nova. Cheguei em Clichésville anteontem.

— E por que se mudou para cá?

— Depois que meus pais faleceram num acidente de carro e entrei em depressão, tentando me matar de diversas maneiras possíveis, tive que morar com meus avós que vivem aqui.

— Nossa, você tem depressão?! – pergunta Karina, incrédula. – Acho essa doença tão poética!

— Karina, você não pode achar poético pessoas com depressão – Greta a repreende. – Devemos ter pena dessa gente que não tem motivos para viver suas vidinhas miseráveis. Ainda mais quem é órfão como a coitada Emily. – Em seguida, ela se inclina para mim como se fosse contar um segredo. – Meu pai é pastor, e se você quiser, ele pode te curar disso por quinhentos dólares.

 Sem saber o que dizer, apenas forço um sorriso.

— Queria ter sua sorte de perder os pais de uma vez só – Virgínia comenta. – Os meus são insuportáveis. Sem falar que, se os dois batessem as botas, eu ficaria com toda a herança por ser filha única. Sabe, eles são muito ricos.

 - Infelizmente os meus pais eram pobres – digo.

— Quer dizer que sua família morreu para nada? Ainda bem que eu não sou você – ela fala com um olhar de pena. – Mas, mudando de assunto, quantos anos vocês tem?

— Dezessete – respondo.

— Tá falando sério? Porque você tem cara de que já devia estar se formando na faculdade.

— É! – Greta concorda. – Lembra até uma daquelas atrizes de vinte e cinco anos interpretando uma adolescente em filmes para jovens. Quem elas pensam que enganam?

— Como assim elas não eram adolescentes? – indaga Karina, pasma.

 Após mais alguns minutos de interrogações, as oxigenadas finalmente me liberam para voltar à mesa do Clube Glitter.

— O que a safada da McBitch queria com você? – Laquisha questiona ao me avistar me aproximando.

— Nada demais – falo puxando uma cadeira para sentar. – Ela só queria me conhecer.

— Não – diz Bart. – Se Virginia quer conhecer alguém, significa que há um plano diabólico sendo bolado para essa pessoa.

— Sério? Pois não pareceu. Até que ela foi simpática comigo.

— Mas é assim que aquela vaca de aplique e salto-alto age! – Laquisha explica, batendo com força na mesa, dominada pela raiva. – Por trás de seu rostinho angelical existe um ser satânico que adora ver o sofrimento alheio. – Ela cerra os olhos, encarando as oxigenadas ao longe.

— E como vocês sabem disso? – pergunto.

— Porque ano passado Virginia armou para que eu fosse indicado à Spring Prom Queen (Rainha do Baile de Primavera) e ganhasse – ele conta. – Eu nem imaginava que era uma pegadinha, afinal, eu já nasci uma Queen.

— Uma Drag Queen – ela o corrige.

— Tanto faz – Bart fala e em seguida, prossegue: – Enfim... no momento em que fui coroado, jogaram um balde com cola e purpurina em cima de mim. Todo mundo riu da minha cara e eu fiquei uma semana parecendo a Tinker Bell peidando pó brilhante.

— E quando eu era aluna nova, cortaram minhas tranças enquanto eu dormia na aula de história – diz Laquisha. – Eu sabia que ela era a mente por trás da brincadeira, portanto, fui tirar satisfação. No final, acabei tentando esfaquear a biscate e sendo suspensa por alguns dias. Depois que voltei para a escola, McBitch tornou minha vida um inferno.

— Eu sinto muito por vocês – lamento. – Mas vocês têm provas de que realmente foi ela?

— Claro que não! – ele diz. – Virginia é esperta demais e nunca faz o trabalho sujo com as próprias mãos. Ela é rica, então paga muito bem seus lacaios para fazerem isso e levarem a culpa.

— De qualquer forma, fique longe dessa garota – ela avisa.

***

 Assim que tenho a última aula do dia, saio da classe de inglês e ando pelos corredores do colégio até meu armário. Parando diante dele, abro a porta metálica e guardo uns livros didáticos e revistas de nudez masculina lá dentro. No instante em que o fecho, levo um susto ao dar de cara com as oxigenadas, que estavam do outro lado da portinhola. Juro que há cinco segundos, elas não jaziam ali perto de mim e nem ao redor. Essas três são tão chamativas que seria impossível não notá-las.

— Como vocês chegaram aqui, de repente, sem sequer fazer barulho? – indago.

— Teletransporte – Virginia responde num tom monótono, não contendo um pingo sarcasmo.  – Mas que bom que te encontramos.

— Vocês estavam me procurando? – pergunto desconfiada.

— Claro – ela diz. – Olha, não somos de fazer isso, mas nós andamos conversando após o almoço e decidimos te convidar para nossa festa do pijama na minha casa, hoje à noite.

— Além disso – fala Greta –, meu pai disse que devemos fazer caridade pelo menos uma vez no ano para não queimarmos no fogo do inferno. E como não queremos ir para lá e ficarmos bronzeadas demais, essa será a nossa caridade do ano. O que nos diz?

 Eu gostaria de recusar o convite e falar que tenho uma audição para o Clube Glitter daqui a pouco, no entanto, não consigo. Algo, novamente, bloqueia minha garganta.

 “De qualquer forma, fique longe dessa garota.”

  A voz de Laquisha me alertando mais cedo, na hora do almoço, ecoa em minha mente.

“Se você andar com a McBitch, eu esfrego sua cara no asfalto até esfarelar.”

 Espera, ela nunca me falou isso.

“Porque eu estou falando agora, na sua cabeça, branquela burra!”

 Ah, entendi. Então, reúno forças para dispensá-las.

— Sim! Eu adoraria ir à festa do pijama de vocês – respondo, porém, não é o que eu planejei dizer. É como se eu perdesse o controle da minha boca e ela ganhasse vontade própria, mas sei que isso é obra das oxigenadas. Parece que elas têm o poder de persuadir apenas com o olhar.

— Ótimo, vamos lá! – Greta agarra meu pulso e dá um puxão, fazendo com que eu caminhe com elas. Não faço questão de resistir e me desvencilhar porque sei que eu não conseguiria.

 Quando me dou conta, estamos no estacionamento, entrando no caríssimo carro vermelho de Virginia (ela sentando no banco do motorista, Greta no do carona, e Karina e eu no detrás). Ao dar a partida, vamos para o shopping. Lá, entramos numa loja de roupas de grife.

— Eu te compro um pijama – Virginia fala quando conto que não tenho um para a festa e nem condições de comprar algum naquele lugar. Logo, descubro que o tipo de pijama que elas usam (e que dão de presente para mim) se resume a uma simples blusinha que mostra a barriga e uma calcinha.

 Enquanto as oxigenadas provam dezenas de roupas, aproveito e ligo para meus avós.

Alô?!— Meu avô atende ofegante. Do outro lado da linha, ouço gemidos de vovó e rangidos da cama batendo contra a parede.

— Alô, vovô?

Emily? O que foi? Desembucha! Estou ocupado, agora, no meio de uma transa!

— Enfia tudo, seu ordinário! — Escuto minha avó dizer ao fundo da ligação.

— Bom, como eu não queria deixar o senhor e a vovó preocupados, pensei em avisá-los que passarei a noite fora, na casa de Virginia McBitch.

Foi por isso que telefonou?— ele pergunta descrente. — Da próxima vez, só ligue para cá quando for realmente necessário, por exemplo: “levei um tiro” ou “matei alguém e preciso me livrar do corpo” ou “esconda todas as drogas que tiver aí”, entendeu?

— Entendi, vovô.

Ah! E estamos muito bem sem você aqui. Se quiser, não precisa voltar para casa, querida. Pergunte para os pais da sua colega se eles não gostariam de te adotar.

— NÃO PARE ATÉ VOCÊ ABRIR UM TERCEIRO BURACO EM MIM! — Vovó grita tão alto que afasto o fone do celular do ouvido.

— Pode deixar, vovô. Desculpe atrapalhá-los e obrigada pela atenção. – Encerro a ligação rapidamente, um tanto traumatizada.

  No momento seguinte, Karina afasta a cortina do provador e sai do cubículo, revelando uma nova peça em seu corpo.

— Você acha que eu estou muito vadia com esse vestido? – ela me indaga.

— Não – respondo.

— Droga, então não vou levar esse. – E volta para dentro da cabine, puxando a cortina.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram (ou não), deixem um comentário. Isso me motiva bastante a continuar escrevendo. Até mais!