A Diferentona escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 11
Amizade Desfeita


Notas iniciais do capítulo

Olá diferentões e diferentonas! Dessa vez não demorei muito pra postar um novo capítulo. Espero que gostem!



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Em casa, horas mais tarde, acordo morrendo de sono para ir à escola. Gostaria de ficar dormindo, entretanto, seria suspeito demais eu não comparecer no dia após o desaparecimento de Virginia.

Chegando ao colégio, não sou mais o assunto da semana, e sim ela. As notícias se espalham rapidamente em cidades pequenas. Consegui o que eu queria da pior forma, porém se esqueceram de mim. Na primeira aula, os alunos, um por um, são chamados até a diretoria para responderem algumas perguntas em relação ao sumiço de McBitch. Em um momento, minha vez chega.

Penso que vou diretamente à sala do diretor, no entanto, fico esperando do lado de fora, sentada em uma poltrona, e em frente a mim está ele, o novato bad-boy da festa da Virginia, que não para de me encarar desde que pus os pés aqui. Esse garoto me fita com olhos tão penetrantes que eu torço para que outra parte do corpo dele também seja penetrante assim. Desvio o olhar. Abaixo a cabeça e foco nos meus sapatos, mas minhas pálpebras pesam. Estou exausta demais para lutar contra o sono. Minha visão vai escurecendo.

— Ei, coque frouxo! – Sou desperta por alguém me chamando. É o bad-boy. – Você ronca feito uma porca.

— Desculpa – digo. Espera, quem ele é para falar assim comigo? – Quer dizer, tô nem aí.

— Você parece bastante cansada. Quer uma coisinha pra ficar acordada?

— Café? Você não tem cara de que trabalha no Starbucks.

— Não mesmo. Eu vendo snappers. – Minha expressão é de quem não sabe do que ele está falando. – São umas bolinhas cor de rosa que te deixam ligadona. É só mastigar ou deixar desmanchar na boca. Melhores que ecstase. E aí, vai querer chupar minhas bolas?

Sim!

— Não, obrigada – respondo. – Não uso drogas. Pelo menos as que não conheço.

— Nunca é tarde para começar a usar.

— Não. Já bastam meus avós que são dois viciados.

— Então compre para eles se você não usa.

— Mesmo que eu quisesse, não tenho dinheiro.

— Não por isso. Tome um de graça para viciarem... digo, para provarem. – Ele tira algo do bolso da jaqueta e ergue o braço em minha direção com o punho fechado, e quando abre, vejo que é uma caneta. Dentro dela estão snappers. – Pega, vai. – Hesito, porém olho nos olhos dele e começo a fantasiar com ele me encarando desse jeito enquanto a gente transa violento. Imagino que a caneta é o pinto dele e a agarro com vontade, no entanto me decepciono já que ela é muito fina. Então volto à realidade. – Muito bem.

A porta da sala se abre e uma aluna sai de lá dentro. A figura do diretor e de um policial se aproxima da entrada.

— Mike Mastro – o diretor chama.

— Sou eu. – O novato se levanta. – Prazer em conhecê-la, coque frouxo.

— Não sei se posso dizer o mesmo. – Finjo indiferença.

Mike pisca para mim e sorri. Começo a babar e não é pela boca. Ele dá as costas, entra na sala e antes da porta se fechar, noto que há um desenho na parte de trás de sua jaqueta. É a cabeça de uma raposa. O que será que essa imagem significa?

* * *

Depois que saio da sala do diretor e tomo meu diazepam, vou para o refeitório, no horário do almoço, e sento-me sozinha em uma mesa. Com o celular em mãos, entro no Youtube e visito o canal da mãe de Virginia. Ela gravou um vídeo há algumas horas. Será que ela tem novas informações sobre as buscas da McBitch? Aperto o play e assisto.

— Oi, meninas e meninos também, tudo bom? — ela começa. Seus olhos estão vermelhos, visivelmente de tanto chorar, e a voz, anasalada por conta do nariz entupido e escorrendo. – O vídeo de hoje vai ser um tutorial de maquiagem para procurar minha filha desaparecida e possivelmente morta. Eu vou começar usando essa base que é a minha queridinha do momento. Ela esconde qualquer marca de expressão que entregue que você está triste por conta da depressão. Depressão está fora de moda. A doença da vez é o transtorno bipolar. – Avanço o vídeo. – Por enquanto, nenhum sinal dela, mas as autoridades continuam procurando. Falaram que não houve sinal de arrombamento em nossa casa e que, talvez, ela tenha partido por vontade própria. Mas acredito que ela foi levada pela seita satânica vestida de ETs que me sequestraram quando eu estava grávida e fizeram experiências comigo. Agora, devem estar repetindo tudo com ela. Devolvam meu bebê, seus desgraçados! – Pamela implora aos prantos. Os três minutos finais são apenas ela tentando se recompor.— E, por favor, se inscrevam no canal e me sigam nas redes sociais. Beijinhos.

Assim que a gravação se encerra, me sinto péssima por ela. A culpa vai tomando conta de mim cada vez mais.

— Dá para acreditar em toda essa repercussão? – Laquisha chega, de repente, junto de Bart. Os dois se sentam de frente para mim. – Ontem um homem negro levou um tiro de um policial porque ele foi confundido com um bandido, mas a cidade inteira só quer saber o que aconteceu com a branquelinha rica que evaporou.

— E aí, como foi lá na diretoria? – ele indaga. – Você disse que ontem à noite estava em casa com seus avós? Que fomos ver se você estava bem e acabamos dormindo lá?

— Sim – confirmo. – Foi como combinamos. Só que estou com medo de suspeitarem de mim.

— Ah, relaxa. – Ela tenta me acalmar. – Eles não têm como provar o que fizemos.

— Não enquanto não acharem o Livro do Arregaço – rebato. – Você está com ele. Tem que jogá-lo fora. Não há motivos para expor a Virginia já que ela morreu.

— Fique tranquila. Eu já me livrei dele.

— Ótimo – digo. – E, aproveitando que vocês estão aqui, preciso anunciar uma péssima notícia.

— Desembucha – Bart fala.

— Eu não vou mais ver vocês.

— Ai, meu Deus. – Ele leva a mão à boca, de olhos arregalados. – Você vai ficar cega?

— Não! Eu não posso mais ser amiga de vocês – explico.

— O quê?! – ambos exclamam ao mesmo tempo, incrédulos.

— Como assim? Por quê? – Laquisha questiona confusa.

— Porque eu não consigo olhar para vocês sem me lembrar do cadáver da McBitch sendo jogado numa vala – respondo. – E quanto mais eu fico nessa cidade, aos poucos, eu vou deixando de ser quem eu era.

— Uma otária? – Ela presume.

— Não! Uma pessoa melhor! Hoje mais cedo eu aceitei droga de um aluno.

— Achei que você ficaria mais legal se estivesse chapada, mas nada mudou – Bart comenta.

— É porque eu não estou chapada.

— Não dá pra você nos abandonar depois de tudo o que passamos – diz Laquisha. – Tem certeza que não usou nenhuma droga?

— Tenho. Olhe, eu sinto muito. Só que nós cometemos um crime.

— Por favor, não nos deixe – Ela me pede. – O que iremos dizer às crianças?

— Que crianças? – pergunto.

— Sei lá. Eu ouvi isso da minha mãe quando meu pai ameaçou ir embora. Pensei que funcionaria.

— Tchau, pessoal – me despeço, levantando.

— Eu vou rachar de tanto chorar. – Os olhos de Bart se enchem d'água e os meus também, no entanto, não quero demonstrar qualquer sinal de emoção. – Bicha, a senhora é destruidora de amizades mesmo, viu?

— Me desculpem. – Minha voz falha, quase não saindo. – Eu só quero voltar à minha vida normal. Se cuidem. – Saio correndo do refeitório dramaticamente enquanto uma música triste toca ao fundo.

Disparo em direção ao banheiro feminino para que ninguém me veja aos prantos. Chegando lá, me tranco na última cabine e sento no vaso sanitário com a tampa abaixada. Por fim, desabo em lágrimas até soluçar.

Subitamente, a porta do banheiro se abre num rangido. Engulo o choro.

— Ai, como você é burra! – Alguém de voz familiar entra. – Nisso que dá tentar tomar um copo de raspadinha sem usar as mãos!

— Foi um acidente – responde outra voz também conhecida. – Eu me distraí pensando na Virginia.

Mas é claro! São Greta e Karina, penso.

Subo na privada sem fazer barulho e fico na ponta dos pés para espiá-las por cima do cubículo em que me encontro.

— Toma. – Greta pega guardanapos da bolsa e entrega para Karina, que começa esfregá-los numa mancha em sua blusa, perto do decote. – Eu também estava pensando nela. O que será que aconteceu?

— Sabe a última festa que a Virginia deu? – Karina pergunta. Greta assente balançando a cabeça. – Eu tive uma das minhas peitonições, no quarto dela, já que sou seiosentiva. Até achei que a Emily, que estava comigo no momento, iria morrer porque ela ouve Lana Del Rey e essa gente sempre quer estar morta. Só que eu tenho quase certeza de que é Virginia quem faleceu.

— Que horror, Karina! Vira essa boca para lá!

— Eu sei que você pensou o mesmo.

— Mas você quem falou! De qualquer forma, se Virginia não está mais entre nós, vou orar, pedindo que ela não vá para o inferno. Nós três fizemos coisas muito ruins.

— Ruim de verdade é essa mancha que não quer sair. Já sei! – Karina tira a blusa, abre a torneira de uma das pias e esfrega a peça de roupa embaixo da água corrente.

— Ficou maluca? – Greta diz, tapando os olhos com a mão. – Você não pode ficar só de sutiã na escola e também não pode vestir uma blusa molhada! Depois pega um resfriado e não sabe porquê.

— Sabe o que eu não posso? Andar por aí suja! E por que você não está me olhando? São os meus peitos? Eles, por acaso, são feios?

— Não! – Greta descobre o rosto. – Eu os acho lindos, bem redondos e durinhos e...

— Já entendi. Não precisa se sentir intimidada ou com inveja porque eles são grandes e os seus não. E pra mostrar que sou boazinha, eu deixo você pegá-los pelo menos. – Greta arregala os olhos. – Anda logo! – Karina agarra o pulso dela, conduzindo a mão da amiga até seu seio esquerdo. – Aperta. – Ela obedece, agarrando com força. – Não é macio? – Greta assente. – Agora pode soltar. Tô ficando excitada.

— Não consigo! – ela diz desesperada. – Minha mão petrificou!

— O quê? E agora? O que vamos fazer?

— Eu vou puxar.

— Não! E se você arrancar meu sutiã junto?

— Tem uma ideia melhor?

— Já sei! Vamos cortar a sua mão.

— O quê?

Subitamente, escorrego da beira da privada e caio para trás, batendo a cabeça na parede e em seguida, aterrisso violentamente de bunda dentro do vaso, afundando com um estrondo. Sinto o furico se retrair ao entrar em contato com a água fria. Aos gemidos, me contorço, tentado me libertar sem sucesso.

— Quem está aí? – Greta pergunta.

— Ninguém. – Tampo o nariz com o polegar e o indicador, emitindo uma voz anasalada para as duas não me reconhecerem.

— Ufa, ainda bem! – Karina diz, aliviada.

— Escuta aqui, otária – Greta fala irritada em tom de ameaça. – Se você contar pra alguém o que ouviu aqui, eu vou descobrir quem é você e destruir a sua vidinha de merda, entendeu?

— Entendi – respondo.

— Ótimo! Fique na paz do senhor.


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Notas finais do capítulo

Se você gostou do capítulo (ou não), deixe seu comentário, pois é muito importante para mim e para a história continuar (isso mostra que tem gente lendo, então apresentem-se, leitores fantasmas).



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