A Esperança se concretiza escrita por Alice C S


Capítulo 5
Capítulo 5 - Equivalente ao 32


Notas iniciais do capítulo

Então, vocês pediram, aqui está! XD
Fiz esse capítulo especialmente para vocês, pensando no que me disseram ao longo da fic. Espero que não destoe muito dos outros, já que eu escrevi em outra época e considerando que tem um bom tempo que eu li A Esperança pela ultima vez... Enfim, aproveitem a leitura!



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Peeta e Helen estão preparando os lanches para nosso piquenique em família. Família... Essa palavra ainda soa tão nova para mim: adquiriu um sentido totalmente diferente.

Os dois são ótimos em cozinhar, arrumar a casa, cuidar das crianças: têm um instinto maternal. Eu e Gale somos mais do tipo de conquistar a comida que estão preparando e conseguir as condições para criar nossos filhos. Acho que a vida nos fez assim. Uns, protetores. Outros, mantedores. Precisamos uns dos outros para nos completar.

Quebro o silêncio - uma das coisas boas conosco é que conseguimos ficar muito tempo juntos sem a necessidade de dizer nada, sem ficarmos desconfortáveis - entre mim e Gale:

—Nunca imaginei que teríamos uma vida assim, nem nada sequer próximo disso.

Gale levanta uma sobrancelha, curioso: “É mesmo?”

—Sim. Por que, você imaginava um futuro assim?

—Não tão diferente.

Pela minha expressão, ele percebe que quero uma respostar mais elaborada. Ah, meu querido Gale. Como senti falta do meu amigo, que entende o que quero dizer só de me olhar, que me entende sem que eu precise dizer nada.

—É claro, eu nunca imaginei Peeta ou Helen. Mas sempre pensei em nós como uma família e sabia que no futuro não seria diferente. Muitas coisas imprevisíveis poderiam acontecer, como foi de fato, mas sempre soube que continuaríamos juntos, nos ajudando.

Penso a respeito.

—Então você nunca duvidou – não sei se afirmo ou pergunto, mas ele permanece quieto – Bem, não posso dizer o mesmo. Nos últimos tempos, achei que tinha te perdido. Pensei que seria pra sempre – resolvo dizer tudo que guardei e ainda me atormenta – Você... me abandonou, quando eu mais precisei!

Calmo como sempre, depois de esperar um pouco para ter certeza de que terminei, Gale responde:

—Por mais que você tenha mudado, Catnip, nisso continua a mesma: você sempre teve dificuldade de entender os sentimentos das outras pessoas. Esses tempos, os mais difíceis para você, também foram terríveis para mim. Você com suas razões, eu com as minhas, elas simplesmente...

Ele parece ter perdido o ponto ao qual queria chegar:

—Enfim. Eu precisava de um tempo para me recompor, para melhorar e para recomeçar. E acho que você também, porque poderia ter vindo atrás de mim tanto quanto eu. Amigos não deixam sua amizade se abater por afastamento físico ou temporal. Isso foi bom para nós dois: veja como estamos melhores agora! E eu não acredito que tenhamos perdido nada por isso.

É verdade. Nossa relação talvez nunca tenha estado mais forte: agora alcançamos o objetivo da nossa existência, um objetivo comum. Cuidamos das nossas famílias e não há mais ninguém em nosso caminho. Nenhuma ameaça de uma Capital opressora. Nenhum medo esmagador da proximidade do dia da Colheita ou pacificadores que ameacem nossos meios de conseguir comida. Finalmente, alcançamos o que sempre sonhamos. E muito mais, até.

—Estou feliz de ter você de volta. E todos eles. E de finalmente termos conseguido.

Não preciso dizer tudo que nós conseguimos. Gale sabe:

—Não tanto quanto eu.

Ele sorri para mim e eu não tenho dúvidas: tenho meu amigo e posso contar com ele; como sempre foi, mesmo quando duvidei – e assim continuará.

***

A grama brilha, tanta vida gerada pelos nutrientes das cinzas de tanta morte. Nos assentamos à sombra da única arvore nos arredores, no alto de uma colina, com vista para um belo vale, perfeito para brincar. A brisa é agradável, o céu está lindo, indiferente a tudo que já se desenrolou sob ele, intacto em meio à tanta destruição. Qualquer um que olhe essa cena pensaria que somos apenas uma jovem família feliz, construindo sua vida. Mas não tenho essa ilusão. Eu não sou o céu. Não fiquei inteira em meio à tudo isso: estou partida.

Nossas crianças também são alheias: saboreiam felizes alimentos que no passado nos custaram chicotadas, pelos quais arriscaríamos nossas vidas para não passar fome. Nossos filhos jamais passarão fome, nunca conhecerão tamanho infortúnio. Apesar de todos os pesares, conseguimos garantir esse futuro a eles.

—Cadê os netinhos mais lindos do mundo?

As crianças correm até minha mãe, animadas. Quando recebemos o pedido dela, relutei em permitir que as conhecesse. Foi Peeta quem insistiu.

Ela é uma ótima avó. “Ironia do destino”, poderiam dizer – não eu: não acredito em destino. Acredito em arrependimento, tentativa de mudança e, na ausência de possibilidade de reparo às antigas ações, em agir diferente nas próximas oportunidades. Ainda tenho – e provavelmente continuarei – resistências quanto a permitir que assuma o papel de mãe; ela nunca o fez e não acredito que agora esteja pronta para tanto. Mas a concedi essa chance. Até agora, não tenho razões para me arrepender. Aos poucos, vou abrindo mais espaço em nossas vidas para ela. Não é fácil, minhas barreiras continuam aqui, a visão que tive dela toda a minha vida continua. Agora, essa se sobrepõe a uma nova.

Ela está brincando com eles. Correm, animados. Eles nos chamam para ir também e Prim corre sem pensar duas vezes. Helen e Peeta também vão. Procuro o olhar de Gale.

—Não se preocupe demais com o que já passou. Precisamos focar no futuro, agora.

Concordo com a cabeça enquanto olho para o horizonte, o sol já caminhando rumo a ele.

—Todos nós mudamos. Ela merece uma chance também.

Percebo que todos nós tivemos, de fato, várias chances. Mesmo quando não merecíamos, não mudamos e não fizemos diferente. Por que não ela? O passado já me causou dor demais. Realmente preciso desapegar dele e reaprender a confiar nas pessoas.

— Corrida até lá embaixo!

Gale sorri e se levanta rápido. Nós dois sabemos que ele sempre foi mais rápido do que eu. Mas hoje eu acredito que todos podem mudar: não desisto, e corro. O vento joga meus cabelos para trás e me sinto bem. Corro com todas as minhas forças, não mais para salvar minha vida, não fugindo ou para conseguir qualquer coisa. Corro, porque posso e quero. Hoje, sou livre para correr. Juntos, conquistamos essa liberdade, de fazer o que queremos; para nós todos, e para os que virão. As coisas mudam, as pessoas mudam, sempre podem mudar. Agora, mais do que nunca.

Chego antes de Gale.


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Notas finais do capítulo

É isso, podem preparar suas lágrimas e corações: o último vem aí! Posso estar enganada, mas acho que eu fiz um final à altura... Espero que estejam gostando.
Muito obrigada por todo o apoio que venho recebendo!
Beijinhos



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