Alguns meses depois, resolvi viver. Superar o que já passou. Tentar seguir em frente. Não muito depois de eu tomar essa decisão, o telefone toca. Isso já aconteceu várias vezes, mas agora sinto algo novo: uma sensação indescritível, única, apenas a clareza de que atender é necessário. Não questiono, não tento entender, não penso a respeito. Corro para atendê-lo.

Sobre a voz que ouvi, não sei dizer quase nada: masculina ou feminina, conhecido ou não, idade. Só sei que parece estar dando uma ordem, não um pedido, quando diz: “olhe quem está na porta”.

Apesar de consciência do que faço, não sinto que sou eu quem está controlando a mim mesma. Aquela sensação estranha de novo e simplesmente corro para atender a porta, mesmo sem ninguém ter batido, apesar de saber que pode não ser uma boa ideia, ainda que ninguém tenha vindo me ver por muito tempo.

Na frente da minha casa, sorrindo, de pé à porta, sem carregar nada, há uma pessoa. Alguém que eu não esperava rever jamais.

É Primrose Everdeen.