Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen


Capítulo 2
I - A Realidade do Mundo




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Despertou com o cantar do porco-galo. O sonho que teve de madrugada foi no mínimo perturbador. 

Sua mãe logo retirou-a da cama, apesar de sua preguiça, enquanto Kyoshi deixara a cama há tempo. Apesar da elevação do sol, as nuvens esbranquiçadas e a neblina cobriam uma boa porção da paisagem, causando uma sensação ótima entre o calor e o frio. 

Com o passar do inverno, chegara a época de plantações. Seu pai provavelmente chamou Kyoshi bem cedo para ela ajudar a arar e terra com sua dobra. 

Por outro lado, Myoshi preferia ajudar a sua mãe cozinhando, vendendo e alimentando seus animais. Principalmente o último, já que era extremamente apegada aos bichos da fazenda. Bicudo, seu cavalo-avestruz, era o que mais amava. Ao menos, esse nunca seria vendido ou sacrificado. 

— Vamos logo Myoshi! — Sukishi, sua mãe, apressou-a. — As sementes não vão se comprar sozinhas! 

A fazenda de seu pai crescia a cada colheita, e o alimento durante o inverno fora tanto que ele lucrou muito vendendo-o por um preço absurdo para os mais famintos. Agora, utilizaríamos todo esse ouro para plantar e enriquecer ainda mais no próximo inverno. 

Subiram na carroça liderada por Bicudo e Pernas-curtas, e Myoshi enxergou a distância Kyoshi e Xudok, seu pai. Mesmo mais jovem e inexperiente, Kyoshi movia mais terra do que o próprio pai, que ensinou-a em um passado distante. 

Myoshi não lembrava dessas aulas com carinho. Independente de aprender a dobrar terra ou não, seu pai sempre fora muito rígido em relação a dominação. 

Kyoshi, sempre elogiada por seu pai, era um prodígio, enquanto Myoshi tinha dificuldades no começo. Porém, com o tempo, aperfeiçoou-se tão bem quanto qualquer dobrador de terra, mas nunca tão talentosamente quanto a sua irmã gêmea. Por sorte, fizera dezesseis ano passado, e seu pai lhe deu a opção de não treinar mais. 

Agora, Myoshi poderia dedicar-se a uma vida calma e feliz, sem dobra para machucá-la. Desejava apenas plantar e conviver com sua família e seus animais. 

— O que você quer fazer para o seu décimo oitavo dia de seu nome? — Sua mãe perguntou durante o curto caminho até o vilarejo. 

— Não sei — Respondeu-a. — Acho que vou viajar pelo Reino da Terra por alguns anos. Há tanto que quero ver. 

— É mesmo? Como o que? 

— Ba Sing Se, sem dúvida. Duvido que os muros sejam tão altos quanto falam. A Caverna de Omashu... Não acredito em nenhuma maldição. Mas, acima de todos, quero ver o Templo do Ar do Norte. 

— Por que minha filha? 

— A ideia de liberdade me agrada... E eu gostaria de conversar e aprender com os Nômades do Ar. 

— Só espero que você não deixe eu ou seu pai para sempre. 

— Isso nunca. — Sorriu para a mãe. 

— Sabe — Sukishi continuou. — Deveria levar a sua irmã com você. Ela te protegeria de qualquer perigo. 

— Não preciso de ninguém para me proteger, mãe. 

— Mas o mundo é perigoso. É sempre bom poder contar com alguém para te apoiar... Seja a sua irmã ou algum amigo. 

Amigo. Essa é uma palavra com significado desconhecido para Myoshi. Crescendo em sua fazenda, longe de tudo, a única pessoa que podia brincar era a sua irmã. Além disso, Kyoshi era mais brutal do que o necessário em alguns casos. Desde o último treino comandado por seu pai, ano passado, Myoshi e sua irmã gêmea não se falam direito. Afinal, deixou a prática de dobra de terra sangrando. 

— O único amigo que eu preciso é o Bicudo, não é mesmo? — O cavalo-avestruz relinchou agudamente enquanto carregava a carroça. — Viu só? 

— Apenas pense no que eu te disse. — Ela afirmou. — Você ainda não pode saber, mas sua irmã é muito importante para você. Todos os parentes são. 

— Tanto faz. 

Já começavam a ganhar certa fama no vilarejo ao norte. Nos últimos três outonos seu pai vendera mantimentos em grande quantidade para o povo, e muitos até mesmo já se interessavam pelo solo fértil que Xudok controla, e qual de suas filhas herdaria essas terras. 

Metros antes da entrada da vila, um rosto nada familiar apareceu.  

— Senhora Sukishi. — O homem de barba longa e escura cumprimentou-a. — Como é bom vê-la. Passaram o inverno bem, eu imagino? 

— Sim, senhor... — Sua mãe hesitou. 

— Daeko. Estão procurando por mais sementes, não é mesmo? — Ele não esperou uma resposta. — Tenho muitas, e por um bom preço. Você e sua... irmã podem me seguir até a minha embarcação. 

— Eu sou a filha dela. — Myoshi corrigiu, irritada. Aparentava ser tão velha assim? 

— Desculpe, minha senhora! Erro meu. 

— Meu senhor, eu te conheço? 

— Não — Ele afirmou. — Mas eu conheço vocês. Venham. Meu barco está apenas algumas léguas a oeste daqui... 

— Nós compramos cinco sementes de mandioca-cebola por três moedas de ouro aqui. — Myoshi retrucou. — E dez sementes de cenoura-tomate por cinco moedas. Se não fizer por um preço menor, não perca o seu tempo conosco. 

— Cinco sementes de mandioca-cebola e dez de cenoura-tomate apenas por cinco moedas, que tal? — Sukishi se impressionou. 

— Dessa forma essa será a maior colheita de seu pai. — Ela disse. Myoshi ainda não havia se convencido. 

— Por que quer se livrar dessas sementes? E por que você estaria com elas em seu barco? 

— Você faz muitas perguntas para uma jovem... Pensei que fosse tão ingênua como sua mãe. 

— Olha como fala da minha mãe, seu maldito! 

— Acredito que a sua última preocupação devia ser como eu falo. — O barbudo assobiou. 

Em um piscar de olhos, uma dezena de homens apareceram por entre as vegetações de moitas e árvores. O sol estava escaldante, e a névoa da manhã já sumira havia alguns minutos. 

Alguns seguravam espadas, outros, machados. Dois possuíam um arco, enquanto o que se chamou de Daeko encontrava-se descalço. Ele bateu o pé na estrada e estremeceu o chão. 

— Belas mulheres. Já que não quiseram me dar o ouro por bem, terei de pegá-lo por mal. 

Sua mãe não dobrava terra e não sabia se defender. De repente, Myoshi se viu carregando um enorme fardo, e a necessidade de proteger sua mãe fez o seu sangue correr mais quente. 

Saltou da carroça, e ao pousar, estremeceu o solo tanto quanto o ladrão. Algumas flechas voaram em sua direção. Fechou os punhos e os movimentou para o alto a fim de fazer uma barreira para proteger a sua mãe e as montarias temporariamente. 

Os homens com espadas e machados avançaram para atacá-la, mas escapou com certa facilidade, e utilizando os seus pés, arremessou um deles metros de lonjura com uma viga de terra. 

Aparentemente, os treinos árduos e entediantes serviram de algo afinal. 

Mais um desferiu o machado. Contudo recuou no último momento, virando o seu corpo para executar um contra-ataque, que foi bem recebido pelo inimigo. 

Enterrou outro ladrão, deixando apenas o pescoço e a cabeça de fora, enquanto Bicudo atordoou o maior dos homens ao atingi-lo na cabeça com a extremidade de seu bico. 

Apenas os arqueiros e o próprio Daeko sobraram. O barbudo derrubou a proteção que fizera com sua dobra, e imediatamente começou a duelar com Myoshi. 

Ele lançou meia-dúzia de rochas chutando o ar, todos desviados por Myoshi com precisão. Manteve sua postura firme e preparou sua perna para atacá-lo. 

Entretanto algo não planejado a impossibilitou de realizar o golpe. Uma flecha atravessou suas vestes e sua panturrilha direita. Uma dor imensa se seguiu, e depois, seus gritos. 

— Myoshi, você está bem? — Sua mãe questionou. Apenas conseguia resmungar e gemer no momento. 

— Fuja logo... Pegue a carroça e fuja! 

— Não, você não vai a lugar nenhum. 

Em um movimento fechado com os braços e as pernas, Daeko contornou a carroça e os animais com dobra de terra. 

— Vocês são bonitas demais para apenas roubá-las. — Ele continuou. — Acho que levaremos vocês para passar um tempo em nosso covil. O que acham? 

A tortura que sua perna direita sofria fez Myoshi apenas xingá-lo, enquanto sua mãe pedia por misericórdia. 

— Não gostei de você. — Daeko afirmou. — Fala demais para o meu gosto. Que tal calarmos a sua boca? 

Ele apertou o punho e o levantou, erguendo uma rocha mediana. Daeko posicionou-a no topo da cabeça de Myoshi.  

— Fique quieta, ou você só acordará em nosso esconderijo. 

Não resistiu. 

— Vá se foder, seu filha da puta. 

— Você que pediu... — Ele disse, desapontado. 

Mas antes dele derrubar a pedra, Myoshi avistou fogo dançando e exalando pelo ar. Daeko sendo atingido por essas chamas foi a última visão que teve antes de seu crânio sofrer um impacto.  


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