Avatar: A Lenda de Kyoshi escrita por Lucas Hansen


Capítulo 13
XII - Omashu




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Os dias ficavam cada vez mais curtos. 

A estação invernal se aproximava com fervor, e a marcha para o sul não ajudava a esquentar as tardes.

Myoshi estava acostumada com dias quentes e suor no rosto durante toda sua vida, e um pouco de frio era tão brutal quanto qualquer duelo. Por sorte, estava muito ocupada com o treino de dobra de fogo. 

Lee se tornara um professor mais severo nos últimos dias. Seus golpes estavam mais quentes, e suas exigências maiores. Porém, os resultados valiam a pena. Sentia-se cada dia mais forte, e podia fazer sua fogueira pessoal durante o sereno da noite. 

Gostava da dobra de fogo. Não só era poderosa, mas sentia-se no ataque durante todo momento. Como se Myoshi fosse o predador, e o inimigo uma pequena e inofensiva presa. 

Confiante, desafiou Kyoshi para um duelo. 

― Sem dobra de fogo. ― Ela alertou. 

― Sem dobra de fogo eu não quero lutar. 

― Como Avatar, você não devia ser injusta. Dois elementos é mais do que um. 

― Como minha irmã, você sabe que luta bem melhor que eu. Vai logo, para de ser criança. 

― Então tá bem. 

Não demorou muito para Myoshi ficar estirada no chão e Kyoshi de pé, olhando-a de cima. 

― Ah, ― Disse, colocando a mão na cabeça. ― como você consegue? Eu jurava que ia te pegar naquela hora. ― Citou o momento que estava atacando de cima com seu fogo. 

― Mas esse foi seu erro. ― Falou, despreocupada. ― Achar que já tinha ganho. A luta só termina quando acaba, Myoshi. Não queira vencer antes do seu inimigo estiver no chão implorando por perdão. 

― Como se você fosse capaz de perdoar algum inimigo. 

― Você eu consigo. ― Kyoshi estendeu a mão. Agarrou-a e levantou. 

― Sério, ― Pediu no caminho de volta para o acampamento. ― posso saber dobrar terra, mas não domino como você. Se você quiser ser minha segunda professora... Estou cansando de só ter aulas de fogo. 

― Por favor, você recebeu o mesmo treinamento que eu. 

― Mas não me desenvolvi como você. 

― Ah, ― Reclamou. ― mais uma responsabilidade. 

― Falou a que não sente o peso de ser o Avatar. 

― Só vou te ensinar porque me preocupo com o mundo. ― Provocou. ― Não é só por você ser minha irmã. 

― O mundo tem tanta sorte de ter você, irmãzinha. ― Ironizou. 

As duas riram. 

E os dias nasciam e morriam. Logo, as semanas também passavam. E, por mais que caminhassem, pareciam nunca chegar na tão falada cidade. Myoshi começava a suspeitar se ela era real. 

Handu, apesar de demonstrar respeito pelo fato de Myoshi ser o Avatar, se tornara hostil desde o incidente na floresta com os alces-leões-dentes-de-sabre, e Myoshi não se esforçou para unir tal relação. Por ela, ele e todos os seus homens de Omashu poderiam queimar com sua dobra de fogo pelo que fizeram aos animais indefesos. 

Todos os homens de Omashu, menos Bonuk. Quanto mais conhecia o garoto, mais parecia se apegar a ele. 

Antes de se unir ao exército da Resistência de Omashu de forma compulsória, junto com todos os homens da sua vila, por ordem da Rainha Maru, Bonuk morava no extremo sul do Reino da Terra, ele contou. Em um pequeno vilarejo onde o vento bate gelado do sul, e o oceano embeleza onde quer que a vista alcance. 

Gostava de falar de seu pequeno vilarejo. Mas falava de todos os tipos de coisas, desde de piadas com general Handu, as quais ele estaria encrencado caso o homem as ouvisse, até assuntos mais sérios, como o que ocorreria caso Chin derrotasse Rainha Maru e a Resistência. 

― Não será bonito. ― Ele garantiu enquanto caminhavam. 

― Por quê?

― Ora, se Omashu cair, sobrará apenas Ba Sing Se dos grandes reinos para ele dominar. Chin ficará mais poderoso do que nunca. A rainha vai ser deposta, ou seja, morta. E todo o povo que Omashu domina será ou escravo ou guerreiro, dependendo da idade, se é mulher ou homem, esse tipo de coisa. 

― Ba Sing Se nunca vai cair. ― Afinal, vira a cidade impenetrável uma vez, e teve a certeza de que ninguém entraria na cidade caso o rei assim ordenasse. ― Nem Omashu, farei questão disso.

― Uma parte de mim espera que Omashu não caia, ― Ele disse, pesaroso. ― Mas outra, deseja ver a cidade queimando. 

― O que quer dizer? 

― Nada. ― E sorriu. ― Não vai demorar muito agora. Logo chegaremos na cidade. 

E Bonuk cumpriu sua promessa. Myoshi subia um cume íngreme, penando a cada pernada e suando um pouco mais com cada ar inspirado. Mas, ao chegar no pico, avistou a cidade abaixo. 

Era fantástico. 

Cercada por enormes vãos que caiam para um abismo, a cidade só podia ser acessada através de uma ponte longa e comprimida, o que limitaria o número de soldados lado a lado no caso de uma invasão à cidade. 

Os muros eram altos. As moradias, belas, com telhas curvadas e esverdeadas. Porém, o mais impressionante da cidade, não era nenhum desses fatores. 

Por todo local, via-se dutos, calhas e rampas, descendo do topo da cidade para sua base. Tamanha era a complexidade da estrutura, que Myoshi não soube dizer onde ela começava e nem quando terminava, apenas observava comida, armas de guerra, matéria prima, e todos os tipos de materiais descendo os longos dutos. 

― O que é isso? ― Perguntou, estupefata. 

― Ah, nada de mais. ― Respondeu Bonuk. ― Apenas a paranoia de Omashu para você. 

― Mas, o que são esses... 

― É o sistema de correios de Omashu. Rainha Maru inventou ela mesma. ― Disse, com desprezo. ― Agora tudo chega na cidade em questão de minutos. 

― Por que tanto ressentimento? Parece uma obra e tanto. 

― É, eu acho que admiraria também, se eu não soubesse o quanto custou para a classe mais baixa. 

Bicudo e Xudok pararam ao seu lado. No início, Bicudo conseguia levar com facilidade o animal em suas costas. Porém, Xudok cresceu de forma absurda desde que o adotara, assim como seu apetite. Já alcançava os joelhos de Myoshi, e caso pulasse, ultrapassava sua cintura. 

― Chegamos. ― Disse para os animais. ― Agora vocês vão poder descansar um pouco. 

Bicudo grunhiu, feliz com a perspectiva de descansar durante uns dias, enquanto Xudok apenas mostrou os dentes para cidade, como se tivesse medo dela. 

― Não se preocupe. ― Agachou ao seu lado. ― É aqui que derrotaremos Chin. 

Xudok a olhou por um longo momento, e por fim, encostou o rosto peludo no dela, acariciando-a. 

Muitos tinham medo de Xudok, mas não podia culpá-los por temê-lo. Myoshi, por outro lado, não temia animal algum, preferindo demonstrar um coração aberto com carinho do que um fechado com medo. 

Handu chegou com sua tropa no cume. Viu Myoshi com o alce-leão-dente-de-sabre, cuspiu, e virou-se para cumprimentar sua cidade. 

― Ó, minha cidade, minha rainha. Como eu senti saudades. 

Imaginava que o sentimento de Handu é o mesmo que Myoshi sentiria caso retornasse para a fazendo do seu pai intacta, vendo Kyoshi lavrar os campos e sua mãe na varanda, esperando-a para ensiná-la algum dever da casa. 

E com esse pensamento, não pôde deixar de imaginar a cidade em chamas, destruída e invadida por Chin e seu exército, pois, sua antiga casa e tantas outras foram destruídas pelo imperador. O que o impediria de destruir essas casas também? 

Para todas as respostas desse questionamento, apenas uma delas era crível: O Avatar. Apenas o Avatar poderia impedi-lo. 

Engoliu a saliva a seco. 

― Que cidade maravilhosa. ― Sua irmã disse, entusiasmada. ― Parece que finalmente chegamos no fim da jornada. Já estava exausta de ser nômade. 

― Não. ― Myoshi respondeu com frieza. ― Esse não é o fim. É apenas o começo. 


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