Silver escrita por Isabelle


Capítulo 18
Capítulo 17 – Wade


Notas iniciais do capítulo

"Estou voltando para o 505
Se for um voo de 7 horas
Ou 45 minutos dirigindo
Em minha imaginação
Você está esperando deitada do seu lado da cama
Com as mãos entre as pernas"
— Arctic Monkeys



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Faltavam duas horas para o avião aterrissar, e eu estava ouvindo uma senhora me falar sobre o quanto eu a lembrava de seu filho. Bem, pelo menos eu achava que era sobre isso que ela estava falando, esse tinha sido o inicio da conversa, sobre o quanto meus cabelos eram da mesma tonalidade que os dele e até mesmo meu rosto trazia um toque do seu jeito de ser. O nome dela era Sofia, e ela falava com tanta convicção que cheguei a crer por um momento que eu era filho daquela mulher. Contudo, com o tempo a voz dela fora se tornando um sussurro, e eu apenas escutava um zunido na minha cabeça que havia se desligado do mundo. Fechei os olhos por alguns instantes e deixei a realidade bater bem em frente ao meu rosto. Em menos de duas horas eu estaria em casa. Mal podia crer. Em menos de duas horas estaria frente a frente com Alex. Estaria frente a frente com Charlie.

Charlie.

O nome dela já fazia com que meu peito subisse e descesse de uma forma descompassada e estranha. De uma forma que eu pensava que realmente deveria me controlar sobre. Contudo, eu não me importava mais, não mesmo. Não me preocupava com aqueles sentimentos brotando dentro de mim, pois conversar com meu pai fora a melhor coisa que eu poderia ter feito. Aquela viagem fora a melhor coisa que eu havia feito.

Após conversar com ele aquela noite, tivéssemos muitos outros debates sobre os mais diversos assuntos. Falamos sobre a política brasileira e canadense, discutimos sobre algumas bandas e no final da noite ele sempre alcançava meus ouvidos falando sobre meu passado, e que decisões eu faria para o futuro. Ele sabia que meu coração ainda estava se remendando lentamente, mas não se importava em trazer a tona coisa sobre Lorena, coisas que ele sabia que me incomodava. Porém, com os dias, quanto mais ela me vinha na memória mais eu percebia que devia a deixar lá. Eu queria Charlie. Charlie era futuro, Lorena um passado distante que você guardar dentro de si, mas sabe que não pode.

As memórias, mesmo que doessem, me fizeram mais fortes. Lorena não estava mais ali, não estava mais comigo, e isso que me dera uma confiança enorme para ir para casa. Porém, Alex e Charlie tinham se demonstrado um pouco estranhos todo o dia. As mensagens de Charlie haviam sido respondidas de forma sucinta, e mesmo que eu tivesse perguntado várias vezes, ela apenas afirmava estar tudo bem. Tentei falar com Alex mas ele falou que não era um segredo dele para me contar, e isso deixou uma pedra cair em cheio no meu estômago massacrando qualquer forma de vida que estivesse lá.

Eu não estava preocupado em relação a nós, mas sim preocupado com ela.

Charlie tinha sido uma das únicas meninas que tinha conseguido fazer aquilo com meu coração novamente. Aquelas batidas pesadas, e os sorrisos fáceis. Falar com ela era como ler um poema. Ela tinha seu próprio jeito formado em versos, que discorriam por sua vida como estrofes, você não deveria nem ousar em modificar sua métrica, porque ela já tinha regras de si. Ela era dona de si, sem ninguém precisar afirmar isso. E as vezes, no meio do caminho você acabava se esbarrando com suas rimas. Não era complicado estar com ela. Era mais como respirar.

Olhei para a senhora que continuava falando e sorri para ela, deixando as palavras entrarem em meus ouvidos calmamente, enquanto meus olhos focavam na janela pequena com a escuridão, até que finalmente meus devaneios me encobriram. Até onde tudo começou novamente. Até minhas memórias serem a única verdade entre nós.

Meu corpo estava parado em frente a um espelho que havia sido colocado no lugar errado enquanto eu observava a mim mesmo. Estava usando uma camiseta preta, ou azul-escuro, eu não estava sabendo diferenciar, e meu corpo todo doía. Meus cabelos estavam gritando por um corte, mas eu não estava nem ai, alias eu havia aprendido a gostar deles com aquelas mechas rebeldes, e mesmo que todos falassem, eu apenas dava de ombro.

Não estava nenhum pouco a fim de sair aquele dia. Para ser sincero, dizer isso era pouco para o desgosto que eu sentia em estar naquelas roupas, e pronto para sair por aquela porta. Entretanto, Alex tinha achado um jeito novo de me infernizar com o seu código de amigos, e eu simplesmente não sabia mais como negar seus pedidos sem escutar a suas palavras incessantes que você simplesmente não consegue ignorar. Era muito menos doloroso sair com Alex com as costas toda doendo, do que não sair e ter que escutar tudo o que ele conseguiria listar depois para jogar contra mim. Ele realmente tinha um dom nesta área.

Abri a porta do apartamento e vi que a porta em frente ao meu apartamento também estava aberta, não muito, mas somente uma fresta que desse visão para que meu olhasse tateasse uma garota falando ao telefone com alguém de costas para mim. Não consegui definir suas feições e nem iria porque minha cabeça estava muito concentrada em não matar Alex quando o visse.

Segui para o elevador com minha cabeça zunindo tão alto que por alguns segundos cogitei realmente em voltar para o apartamento, mas decidi não fazê-lo, não sei porque, tudo estava contra mim aquela noite, mesmo assim, uma força dentro de mim afirmava que eu deveria sair. Deveria dar uma chance pros meus novos amigos, por mais idiotas que eles fossem.

Respirei profundamente, e tentei me concentrar no silêncio enquanto o elevador subia do térreo até ali.

O elevador parou e eu deslizei para a dentro com a cabeça menos pesada. Meus dedos tatearam o painel e apertaram o térreo, prontos para descer.

— Pode segurar o elevador para mim? — Uma voz feminina rompeu, e veio correndo até onde eu estava.

Ela passou por mim voando com seus cabelos preteados, ou cinzas, eu não sabia muito bem de qual cor eles era, só sabia que eram muito bonitos. Ela era muito bonita, contudo ficar em sua presença me deixou nervoso. Era somente como uma brisa gelada, ela te dá um leve desconforto, mas quando você se acostuma nem ao menos se lembra da sua presença.

O elevador fez um barulho ao parar no T e ela deslizou dele lentamente sem ligar com o que tivesse a frente. Ela parecia estar atrasada para se encontrar com alguém. Percebia-se isso claramente quando ela cruzou com Alex e esbarrou em seus ombros. Ele deu uma conferida extremamente indiscreta na garota, e eu tive que empurrar sua cabeça quando ele estava prestes a assobiar.

— Não faz isso cara, por favor, tenha um pingo de dignidade. — Revirei os olhos. — Além de respeito.

Ele passou as mãos por cima dos meus ombros.

— Essa noite vai ser a melhor noite de todas, nós vamos beber, conhecer meninas novas, ficar loucos e tudo vai mudar. — Ele deu uma risada e eu forcei um sorriso.

Sabia que aquilo não era verdade, e sabia que provavelmente Alex ficaria tão bêbado que começaria a falar porcarias e eu acabaria por ter que levá-lo para casa. Mal podia esperar para chegarmos logo no bar, para quanto antes Alex enchesse a cara, mais rápido voltaríamos. Eu não pensava que beberia tanto naquela noite que um estranho teria que me carregar.

— Espero não acabar casado com você no fim da noite.

— O que? — Um tom de insulto pleno deixou seus lábios. — Qualquer um seria sortudo em se casar comigo.

— Claro que sim, cara, contando que não seja eu. — Dei um tapinha no seu ombro, e deslizei para dentro do seu carro.

Todos já estavam no bar quando chegamos. Eles haviam pedindo uma torre de chope, e eu apenas tentei me enturmar prestando atenção nos assuntos que eles falavam. Assuntos que me faziam piscar várias vezes para manter meus olhos abertos e não deixar o sono me invadir. Eram coisas aleatórias, sobre algum campeonato de futebol que estava tendo na época e como eu não tinha nenhum contato com futebol, eu apenas respondia as perguntas que eles me faziam sobre alguns times que eu tinha um conhecimento quase que mínimo, coisas que eu já tinha ouvido meu pai sussurrar. Eles continuaram falando, enquanto as horas deslizavam rapidamente, e minha cabeça rodava.

— Tudo bem, Wade, essa rodada é sua.

Já estavam todos bêbados com umas meninas sentadas a nossa mesa rindo que nem uns idiotas achando que estavam dizendo coisas impressionantes, mas que na verdade, saiam mais como grunhidos. Eu mal havia bebido, não tinha a menor disposição aquela noite, e nem pretendia. Principalmente se fosse para acabar como todos eles.

Me levantei e segui até o balcão onde pedi por algumas cervejas, olhando por cima do ombro para ter certeza que nenhum deles iria fazer algo estupido. Meus olhos deixaram o grupo contente, e planaram nos cartazes ao fundo sobre bebidas, cachorros perdidos e apartamentos para alugar ou vender, até que eu vi um que parecia com um anuncio de jornal. Estava desbotado e meio amassado, sua tintura que antes era branca agora era marrom e de repente, eu tinha bebido toda a cerveja que o barman havia me entregado. Simples assim. Em menos de alguns minutos, eu já estava tão bêbado como todos os outros a minha volta.

Eu gritei e ri com todos como se conhecesse-os a vida toda. Falamos sobre futebol, sobre mulheres, e outras coisas que eu nem ao menos sabia que conhecia. Alex e eu cantamos algumas músicas ridícula e rimos mais ainda sobre isso. Eu realmente pensava que a noite estava divertida. É claro que ela estava, eu estava ali com meus amigos, com várias meninas a minha volta, como é que a noite simplesmente não poderia estar divertida?

Uma das meninas que estava na mesa começou a conversar comigo e as palavras iam deixando meus lábios com a maior naturalidade possível. Como se eles tivessem sido feitos para falar com ela. Os olhos dela eram azuis, essa era a única coisa que eu poderia afirmar com certeza pois suas outras feições eram como um borrão para mim.

Eu gargalhei alto com alguma coisa que ela disse, e avisei para todos que iria para o banheiro, como se aquilo precisasse ser uma grande novidade. Todos eles riram e ficaram repetindo que eu iria ao banheiro, e eu apenas gargalhei junto. O único problema é que eu não fazia a menor ideia de onde era o banheiro.

Acabei saindo do bar e indo para em um beco com vários carros estacionados, poderia ser o estacionamento, mas eu estava bêbado, não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Abri a calça e um cara simplesmente começou a implicar porque eu estava mijando. Meu cérebro simplesmente parou de funcionar neste momento, sem perceber, fechei o ziper com ódio, e deixei minha mão encontrar seu rosto em um soco que o deixou meio zono, mas não zonzo a ponto de não revidar. A sua mão veio em cheio com o meu rosto e eu tive que me afastar dele, contudo, tudo girava muito rápido, precisava me apoiar em alguma coisa rápido.

Escutei um grito de alguém, mas a minha percepção já era a mesma coisa que nada. A voz desta pessoa parecia estar gritando comigo e afirmando coisas aleatórias, mas eu não tinha a menor ideia do que elas diziam. Eu não podia escutar nada. Nem mesmo pude lutar quando os braços de alguém envolveram os meus e me levaram até um carro. A pessoa estava falando alguma coisa em uma voz dura e sólida, mas eu não conseguia captar nada. Como se alguém tivesse feito eu esquecer meu idioma natal, e as palavras que desciam da boca do estranho de olhos azuis não fizessem o menor sentido. Eu poderia estar sendo levado para morrer, mas eu não me importava porque eu não entendia o que está acontecendo. Tudo estava tão rápido. Meu estômago estava girando, e minhas entranhas pareciam querer sair pela minha boca.

O carro parou em algum lugar e assim que a porta se abriu eu vomitei bem aos pés do cara que havia me levado até ali. Minha cabeça só conseguia pensar que eu estava prestes a levar outro soco, quando o estranho apenas envolveu meus braços novamente e me levou para dentro do prédio com o piso estranho. Minha cabeça rodava muito, eu estava prestes a vomitar novamente, quando um cesto de lixo fora depositado bem em frente a minha boca.

O estranho me deixou sentado em um dos bancos e se distanciou para ir até o balcão. Vi que ele apontava para mim, e eu quis gritar, mas eu não conseguia. Como se houvesse uma pedra na minha garganta impedindo minha voz de sair.

A pessoa novamente me arrastou pelo chão estranho, mas agora ela tinha ajuda de outro estranho, os dois me colocaram do elevador, e eu conseguia senti-lo subindo levemente. Meus olhos passaram pelo lugar mais eu não conseguia captar a presença de ninguém, os rostos eram como dois borrões. Eles conversavam entre si, e mais do que tudo quis saber sobre o que eles falavam, mas não conseguia entender nada. Simplesmente nada.

Os dois começaram a me arrastar novamente por um corredor branco, e me sentaram no chão até abrirem a porta. Meu corpo fora redirecionado novamente para dentro de um quarto onde me largaram no sofá até a cabeça pender. Deitei no sofá e senti de súbito uma dor nos pulmões, minha garganta estava seca, e minha cabeça doia.

— Lorena? — Eu gritei. — É você?

— Me desculpe, cara. — A voz do cara de olhos azuis rompeu. — Mas não sabemos quem é Lorena. — Ele abriu a porta. — Fique bem. — E saiu.

Levantei do sofá rapidamente e minha cabeça começou a girar novamente. Meu corpo fora dançando até a porta, e eu mal conseguia segurar a maçaneta. A porta se abriu de uma vez, e eu fui impulsionado para frente dando de cara na porta do apartamento da frente. Aquilo realmente iria doer pela manhã. Meu corpo inteiro ficou mole e eu simplesmente escorreguei até o chão onde eu vi a noite deslizar por entre meus olhos, minha cabeça pendeu de um lado na porta, e a única coisa que eu conseguia me focar era o teto. Isso é claro até as mãos de alguém encontrarem meu corpo, e eu precisar debater.

Minha lembranças depois disso eram extremamente limitadas. Eu me lembrava do cheiro doce que me envolveu, de algumas palavras e de sentenças sem sentido deslizando pela minha boca, quando de repente uma dor profunda me invadiu. Uma dor tão grande que poderiam ter feito meus olhos lacrimejarem, mas por algum motivo, eles não o fizeram. Fiquei olhando para nada até sentir a escuridão me encobrir com seu manto frio e gelado sem saber que me apaixonaria pela dona daquelas proezas.

☯☯☯

O avião pousou e eu pisquei os olhos rapidamente esquecendo o breve devaneio que eu acabara de ter. Ajudei a senhora do meu lado a se levantar e ela me entregou alguns doces após me dar um beijo no rosto e sair. Segui-a pelo lado de fora, até o aeroporto, onde vi seu filho a esperando. Ele realmente tinha os cabelos como os meus, mas não eramos parecido, não mesmo. Mesmo assim, acenei para ela uma última vez, e fui até a esteira pegar minha bagagem.

Olhei envolta e não encontrei nem Charlie, nem Alex me esperando entre as pessoas espalhadas que estavam ali esperando parentes ou amigos proximos. Conseguia ver as pessoas se abraçando e senti realmente falta dos meus amigos ali. Meus olhos deslizaram entre todos para ter total certeza e eu tinha fé que nenhum nós dois estavam ali. Meu coração pesou, e meu estômago se tornou um bloco de gelo. Talvez eles só estivessem atrasados, talvez…

Não tive nem tempo de deixar a bolsa no chão, antes de ser golpeado por Charlie envolta de mim. Ela deslizou os braços por entre meus pescoços e eu peguei suas pernas deixando que elas envolvessem meus quadris. Seu rosto deitou no espaço entre meu pescoço e meu ombro, e ela estava rindo, ou chorando, eu não soube diferenciar muito bem, e nem mesmo queria. Só queria deixar que seu cheiro invadisse meus pulmões e abraçasse meu coração. Desejava trazer seu rosto e colocá-lo entre minhas mãos beijando cada centímetro dele. Fechei os olhos e passei a mão levemente pelas suas costas. Não falamos nada. Apenas ficamos ali. Daquele jeito, com todas as pessoas nos observando, sem nem ao menos nos preocuparmos.

Abri os olhos e vi que Alex nos observava com um sorriso no rosto. Aquele sorriso. Eu reconhecia aquele sorriso muito bem. Era o sorriso acusatório dele, e eu nem ao menos me importei. Nem pensei em palavras afiadas para respondê-lo, eu não queria. Não mesmo.

— É bom te ver também, cara. — Alex disse.

Charlie soltou uma risada e me soltou, os cabelos todos bagunçados em um coque, os olhos verdes brilhando, as maças do rosto totalmente rosadas. Seus pés voltaram para o chão e eu pude observá-la com clareza. Ela não estava usando nada além de um cardigã verde que estava todo abotoado, uma blusa azul escura que escapava pelas bordas do cardigã, e uma calça jeans grudada que deixavam a bota engoli-la nas canelas.

— E ai? — Perguntou casualmente puxando minha mala. — Canadá?

— Não acho que tenha nada pra contar que você não saiba, trocamos mensagens o dia inteiro.

— Mas eu não sei, quero que se lembre que eu não sou neurótico por você que precisa trocar mensagens o dia inteiro, eu não sei de todos os detalhes de sua viagem. — Alex parecia magoado, mas sabia que ele não estava.

— O que está falando? — Perguntei, pegando a mão de Charlie e envolvendo na minha. — Me mandou mais mensagens que a Charlie.

Ele olhou para mim insultado.

— Wade — imitei sua voz. — Acha que eu devo levar sonhos ou pão de queijo para Charlie? Não quero deixá-la sozinha depois do que aconteceu, me importo com ela.

Charlie olhou de mim para Alex e soltou um sorriso carinhoso para ele, que nem ao menos comentou nada sobre nossas mãos estarem juntas naquela casualidade. Era quase como se ambos tivessem trocados segredos enqanto eu não estava ali, e compartilhado sentimentos. Eu realmente quis rir da situação, mas não achava o momento próprio para tal ayto.

— Mas e vocês?

— Alex está apaixonado pela minha melhor amiga. — Charlie soltou.

Alex apenas fulminou-a com um olhar.

— O que? — O som da sua voz aumentou, insultado. — Não estou apaixonado pela sua melhor amiga, pare de dizer isso, criatura irracional.

— Vocês trocaram mensagens o dia inteiro ontem.

— Você e o Wade trocaram mensagens o dia inteiro por 5 dias, quem está apaixonado por quem aqui? — A voz deveria ter soado de um jeito irônico, mas ela apenas fez com que Charlie e eu ficássemos em silencio fitando o nada.

Alex não pareceu arrependido de ter dito as palavras.

Entramos no carro, e eu fui dirigindo. Foi realmente bom dirigir novamente, já que minha mãe não me deixava pegar no volante enquanto estava lá. Eu apenas bufava e deixava com que ela me levasse para todos os cantos que ela quisesse, afinal, não havia muito que eu pudesse fazer. Sabia que demoraria até a próxima vez que nós fossemos nos ver de novo, era muito mais fácil sucumbir a todas suas vontades, do que lutar contra elas.

Deixei Alex na frente de seu prédio, e Charlie mudou-se para seu lugar assim que ele desceu do carro. Ela escorregou pelo banco como sempre fazia e colocou os pés no painel, ficava impressionado em quão pequena ela era para conseguir fazer aquilo. Seus dedos deslizaram até o rádio, e ela aumentou o som deixando que VCR do The XX percorrer por nós dois. Não ousamos falar mais, era como se quando fizéssemos novamente seria para falar o que tanto estava entalado em nossas gargantas.

Ela soltou um suspiro forte quando estacionei o carro, e ambos tivemos que descer. Desta vez, ela pegou minha mochila e eu peguei a mala. Agradeci brevemente por isso, e ela apenas me retribuiu com um sorriso vacilante.

O elevador parecia dez vezes maior do que era quando eu fiquei em uma ponta e Charlie na outra. Meu peito subia e descia levemente e eu tentava achar as palavras certas para dizer, mas nada parecia apropriado para a ocasião. Novamente estava sendo um adolescente de 17 anos sem palavras o suficiente para me expressar. Meu Deus, como meu coração batia rápido. Como tudo parecia que tinha desabado dentro de mim impedindo que minha voz tivesse algum som.

A porta do elevador se abriu, e Charlie saiu antes de mim com o peito tão inchado quanto o meu. Segui-a pelo corredor, e ela estava de cabeça baixa fitando as lajotas encardidas do chão esbranquiçado. Paramos em frente dos nossos apartamentos e eu abri minha porta colocando a mala e a mochila que Charlie segurava em um canto. Aquela noite parecia nunca acabar, e eu precisava de algumas horas a mais para conseguir criar a coragem que tanto me faltava. Precisava falar tudo aquilo para ela.

Não iria aguentar.




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Notas finais do capítulo

adoro vcxxxx ♥



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