Silver escrita por Isabelle


Capítulo 16
Capítulo 15 – Wade


Notas iniciais do capítulo

"Vamos, frágil amor, o que aconteceu aqui?
Amamente-se da esperança em peitos magros
Meu, meu, meu, meu, meu, meu
O pesar se acumulou tão devagar sobre a partida"
— Birdy



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Minhas mãos deslizaram lentamente pelas costas nuas dela, seu peito estava descompassado, seu coração batia rápido, seu corpo tremia levemente por conta de meus toques e meu mundo estava prestes a explodir. Não conseguia me sentir mais feliz do que neste momento. Suas curvas, seu corpo, sua pele estava colada em mim, a água quente caia nas minhas costas enquanto eu focava em sentir o cheiro de seu cabelo, as mãos dela grudadas em minhas costas. Subindo pela curva da minha espinha, alcançando minha nuca, deslizando por entre os meus cabelos. Sim, não era nenhum eufemismo ao dizer que meu mundo todo explodiria em qualquer momento.

Os lábios dela traçaram as curvas da minha clavícula, e foram subindo pela extensão do meu pescoço. Seus lábios entraram em contato com os meus. Um choque pesado no estômago, um frio se espalhando pela ponta dos meus dedos se condensando em choques ao encontrar a maciez de sua pele. Os cabelos molhados tinham cheiro de pêssego. Ela sempre tinha aquele cheiro leve de pêssego, não sabia como nunca havia notado. Talvez porque aquela era talvez a primeira vez que meu corpo estava tão frágil próximo ao dela. Já havíamos transado algumas vezes, mas não como aquela. Aquela tinha sido muito mais do que carnal, ela tinha sido intensa, como se precisássemos se fundir em um só, como se não entregássemos aquele amor ele nos incendiaria e nos mataria.

A mão dela deslizou pelo meu ombro, e ela se afastou lentamente meu corpo do seu, soltei um choramingo fraco com a garganta, e ela sorriu. Seus dedos encontraram minha bochecha lentamente, e eu foquei em seus olhos. Seus formidáveis olhos. Meu Deus, como eu a amava. Não pensava que poderia ser possível amar tanto uma pessoa como eu a amava. Meu corpo tremia a sua presença. Ela traçou novamente minha clavícula, mas desta vez com as mãos. O vapor do banheiro nos rodeava, contudo, não era isso que aquecia meu estômago, nem fazia meu corpo esquentar com seu toque. Suas mãos desceram até meu peito, e lentamente até meu abdômen. Meu corpo todo retesou. Um sorriso rápido estampou os lábios dela.

Olhos.

Olhos tão castanhos.

Tão profundos.

Lábios, seus lábios, seus lábios tão próximos, era como prender a respiração ficar longe de seus lábios. Não sei por quanto tempo mais conseguiria antes de prendê-la naquela parede, e tatear todo seu corpo com meus lábios. Eu estava queimando. Eu precisava dela. Tanto que demonstrei isso prendendo novamente aqueles lábios rosados nos meus. Minhas mãos seguraram sua cintura, e ela sufocou um gemido nos meus lábios. Suas mãos grudaram nas minhas costas querendo que eu chegasse mais perto. Como se fosse possível, nossos corpos já estavam tão próximos. O suor tão ameno. Minhas mãos tatearam seu corpo, deslizaram lentamente por ele, encontrando lugares que faziam com que o coração de Lorena, tanto quanto o meu parassem, e explodissem, se fundido em uma explosão vermelha de amor. De calor.

— Wade. — Ela sussurrou meu nome, meu corpo pegou fogo.

— Lô.

Meus lábios tinham tido um ano para se acostumar com aquele apelido. Era algo tão normal. Tinha sido tudo normal, tudo era tão simples com elas, as coisas simplesmente se encaixavam de uma forma tão perfeita. Queria ficar com seus braços me envolvendo para sempre. Nem conseguia acreditar que ela era minha. E já fazia um ano. Um ano. Um belo ano desde que tínhamos começado a namorar. Um ano desde que ela olhou nos meus olhos e sussurrou um eu te amo. Um ano que eu pensei que meu coração fosse parar de bater.

— Eu amo tanto você.

As batidas

de novo

de novo

e de novo

Cada vez mais rápidas, cada vez mais desesperadas, cada vez mais necessitadas.

— Vamos mesmo fazer isso? — Uma risada fraca flutuou de seus lábios, ela parecia incrédula ainda.

Minhas mãos tatearam seus lábios e depois ficaram brincando com seu osso da clavícula. Seu corpo estremecia ao meu corpo, mas ela parecia determinada em ver as palavras saírem de meus lábios. Como se ela realmente precisasse de uma confirmação. Como se ela estivesse sonhando, com medo de a qualquer momento acordar e perceber que tudo aquilo não passava da nossa mente.

— Sim, nós vamos.

Ela fechou os olhos abrindo um sorriso ao ouvir aquelas palavras.

Beijei seu olho direito lentamente.

— Você vai se mudar para meu apartamento.

Beijei seu olho esquerdo, seu peito subia e descia rapidamente.

— Vai alugar seu apartamento.

Eu beijei suas bochechas. Seu coração iria flutuar de seu peito.

— Vamos viver juntos.— Beijei seu pescoço. — Dormir juntos, acordar juntos, compartilhar coisas. — Subi até os seus ouvidos. — Vamos ficar juntos, Lô.

Para sempre.

Não ouso dizer isso.

Tenho muito medo do para sempre.

Tenho muito medo de me afastar dela. Muito muito muito.

— Meu coração. — O sorriso sumiu de seu rosto. — Tenho medo que ele vá parar de bater por mim, e começar a bater por você.

Eu a calei com meus lábios, suas mãos tatearam meu corpo e eu parei de respirar. Tudo apenas desapareceu, e meu corpo sofreu um alavanco. Um alavanco forte. Uma voz começou a falar sobre instruções, contudo, ela estava distante. Não conseguia pensar direito. Nada fazia sentido, tudo parecia meio mole. Até mesmo minhas penas. Elas doíam. Paradas por muito tempo. Gritavam para poder se movimentar, eu gritava para entender o que estava acontecendo comigo.

Olhei envolta e reconheci o avião. Estava dentro dele. Tudo tinha sido um sonho. Tudo era apenas uma mentira. Aquilo tinha acontecido. Anos e anos atrás. Era uma das lembranças dolorosas que foram entalhadas no meu coração que não sairia nunca dali.

Passei as mãos tensas pelo meu cabelo, minha coluna travou, e o avião pousou. Os passageiros foram saindo lentamente e eu me forcei a levantar. Peguei minha mochila e soltei a respiração pesada que rodeava meus pulmões. Eles pareciam cheio de água, difícil de respirar. Não me lembrava de essas memórias serem tão doloridas como elas eram.

Esfreguei as minhas mãos umas nas outras por conta do frio e segui o grupo até o dentro do aeroporto indo direto para a esteira pegar minha mala. Ela foi uma das primeiras que eu vi, o que era bem difícil, eu sempre a perdia, ou então a companhia aérea fazia isso por mim. Contudo, aparentemente naquele belo dia eu tinha tido sorte. Ou talvez não. Não sabia. Não conseguia pensar ao ver minha mãe sacudindo as mãos empolgadamente. Meu coração gelou. Tudo bem, ela poderia ser manipuladora, mas senti uma falta tão pesada dela, que fora como furar meus pulmões e sentir a água escorrer.

Seus braços me envolveram e eu sorri. Ela estava usando um casaco de frio com um pinguim estampado, seus olhos castanhos escuros focalizaram meus olhos, e ela sorriu. Olhar para ela, era quase tão claro como me olhar, em uma forma bem mais feminina.

— Senti tanta a sua falta.

— Também senti, mãe. — Ela colocou minha bolsa no seu ombro, eu puxei a mala.— Onde está meu pai?

— Em casa. — Ela limpou a garganta. — Vamos indo?

— Claro. — Eu sorri, ainda com meus pensamentos focalizados naquela memória. Senti um peso no estômago, como se tivesse engolido várias pedras, e elas além de deslizarem pelo meu estômago, ficarem presas na minha garganta.

☯☯☯

Abri a porta de “meu” quarto e escorreguei para dentro dele. Senti o cheiro de desinfetante alcançar meu nariz, e sorri pela familiaridade daquele gesto. Rodei meus olhos pelos pôsteres de bandas que eu nem escutava, a cama de solteiro ao meio do quarto com a colcha xadrez verde e azul, o banco perto da janela, a cortina parda. O guarda-roupa era embutido na parede de um marrom tão escuro que me deram uma pontada a pensar nos olhos dela.

Os olhos dela. Os olhos dela. Onde os olhos dela estariam agora?

Minha mãe estava falando sobre a vida ali, enquanto colocava minha mochila em cima da cama, e abria as cortinas deixando aquela brisa gelada invadir. Era quase meia noite, estava frio como o diabo lá fora, eu não sabia como ela conseguia abrir a janela acusando o abafamento do quarto. Ela contou também o quanto estava sendo bem mais fácil, o quanto meu pai tinha se adaptado, preferia, muito mais, morar ali e como eu deveria me mudar.

— Não para morar aqui, mas você pode arrumar um apartamento aqui nas proximidades, pode sei lá, recomeçar sabe? Com a cabeça longe de tudo que…

— Mãe, eu gosto de meu apartamento, gosto da minha vida e gosto muito do jeito que as coisas são no Brasil, infelizmente, acho que vou continuar lá por mais um tempo. — Disse, olhando para minhas mãos. — Mas vejo que está levando as coisas bem por aqui.

E ela começou a me contar. Sobre o emprego de meu pai, sobre sua loja, sobre o clima. E eu parei de escutar.

Meu celular vibrou no bolso da minha calça. Sorri ao ver o nome de Charlie na tela. Não que seu nome estivesse na tela, porque eu não a havia salvado como Charlie, mas sim, como amor. Meu coração pesou ao ver isso, ao perceber o quão fácil ela conseguia me tirar um sorriso, um sorriso que costumava ser de outra pessoa. Até mesmo a milhares quilômetros de distância. Aquilo era errado, ao mesmo tempo que era certo. Suspirei e fui até a agenda para poder trocar, colocando apenas Charlie, mas meu coração também pesou por isso. De uma forma tão dolorosa. Meu Deus, como poderia ter me deixado levar tão fácil por aquela menina.

“Já chegou?”

Duas palavras. Duas palavras para demonstrar que o quão ela se importava comigo. Duas palavras para destruir as barreiras do meu coração. Sorri pensando que graças a Deus, o horario daqui não tinha nenhuma diferença com o de lá. Seria extremamente mais facil para nos comunicarmos.

“Como é o Canadá? Tão lindo quanto eu imagino que ele seja?”

Respire, disse para mim mesmo, Apenas respire.

“Cheguei.

Como vão as coisas por aí?

Acho que sim, mas está muito frio.”

— Wade, estou falando com você. — Minha mãe estralou um dedo na minha cara. — Por que está sorrindo para o telefone?

— O que? — Guardei o telefone no bolso, ignorando a sua vibração.

— Conheceu alguém, não conheceu?

Lá estava, a esperança no coração espalhando sementes que não deveriam crescer e dar flores. Contudo, tinha duvida, que elas já eram mudas. Eu tinha certeza. Elas estavam a dois passos de florescer no meu coração. Não precisava muito para saber disso. Era só fechar os olhos e se lembrar dela quando eu mostrei a sala da verdade. O seu olhar nas paredes. O horror, o amor, os sentimentos tão fáceis de serem observados. Suas mãos na minha. Como eu queria ter enrolado minhas mãos na sua cintura e a beijado antes de entrar naquele avião. Queria ter deixado aqueles lábios devorarem os meus. Sabia que ela se sentia da mesma forma, isso me deixava com mais medo ainda.

Meu Deus

Eu ia enlouquecer.

— Não. — Respondi duro.

Sai do quarto, desci as escadas, sofá das salas, costas tensas, o peso das minhas pernas, e o celular vibrando. Fechei os olhos, coloquei a mão no bolso e trouxe o celular para minha mão. Liguei a tela. Vi somente a última mensagem que Charlie havia mandado.

“Estou morrendo”

Liguei a tela do celular, soltei um sorriso, lendo as outras mensagens.

Está frio? Meu Deus, aqui está um calor infernal, acho que quero fundir meu corpo ao ventilador. Estou morrendo, risos”

Ela realmente havia digitado risos. Não havia conseguido segurar uma risada. Apenas deixei ela sair de mim, não sendo uma das minhas melhores ideias já que minha mãe vinha descendo as escadas. Olhei para ela, e ela deu um sorriso de canto de lábio para mim. Me acusando, meu pai apareceu no mesmo momento, para me acusar com o mesmo olhar.

Não eramos tão parecidos quanto eu era com a minha mãe. Claro que tinha herdado algumas características dele, mas não tinha o seu cabelo loiro, nem mesmo aquele olhar doce no rosto. Pulei do sofá de imediato e o abracei. Minha mãe nos fitando, com tanto doce no olhar quanto ele.

— Então, filho, quem é a garota do telefone? — Meu velho deu boas risadas, enquanto eu revirei os olhos.

— Não adianta tentar negar, Wade. — Se aconchegou mais dentro do casaco felpudo. — Conseguimos ler o brilho nos seus olhos desde criança, você é um péssimo mentiroso.

— Olha. — Eu estiquei as costas, e enfiei o celular no bolso de novo. — Vou tomar um banho, e fingir que vocês não estão me tratando como um adolescente.

Revirei os olhos, e subi as escadas, deixando a tensão se dispersar a cada degrau que eu subia, para assim que pegasse a minha roupa e alcançasse a porta do banheiro, ser atingido por um soco no estômago. Meus olhos deixaram se levar pelo pequeno cubículo, e eu controlei minha respiração em suspiros pesados.

As memórias estavam cada vez mais vivas agora. Conseguia ver as curvas dela refletidas no espelho, a água quente batendo em ambos enquanto fazíamos juras sobre um futuro tão incerto. Queria apagar todas aquelas memórias de uma vez, mas elas pareciam persistentes em continuar me rodeando.

— O que acha de morarmos juntos quando voltarmos para o Brasil? — Eu entrei no quarto com nenhuma casualidade especial aquela manhã.

Minha mãe tinha ido trabalhar, meu pai também, estávamos só nos dois ali.

Ela estava deitada usando um suéter listrado, e uma calça moletom enquanto focava os olhos em um livro qualquer. O topo de seu cabelo estava escondido por uma toca também listrada, e seu nariz estava vermelho por conta do frio. Lorena nunca tinha sido uma pessoa que apreciava o frio como eu. Não que eu goste de calor, ela dizia para mim, mas frio demais não é bom também.

Ela tirou os olhos dos livros e os trouxe lentamente até mim, ponderando a ideia. Ela não tinha se assustado, nem feito um escarcéu, apenas fechou o livro e se sentou na cama, trazendo os joelhos para perto do corpo e abraçando suas coxas, me observando mais atentamente.

— Morarmos juntos? — Suas bochechas estavam vermelhas agora, mas não por conta do frio. — Tipo, vendermos nossos apartamentos e comprarmos um?

— Ou, você ir morar no meu e alugar o seu apartamento. — Caminhei ate ela, encostando minhas costas na parede fria.

— Por que ir morar no seu? — Uma de suas sobrancelhas se ergueu.

— Por quê…

Soltei um suspiro leve, e trouxe seu corpo para perto do meu. Deixando que ela se encaixasse no meio das minhas pernas, com sua nuca bem grudada na minha boca, onde eu pudesse fraquejar sussurro e vê-la se dissolvendo. O cheiro do seu cabelo era tão doce, se fechar os olhos ainda poderia senti-lo.

— Porque meu apartamento é maior — beijo de leve seu pescoço. — Além de que, seu apartamento é muito longe da faculdade, podemos nos encaixar bem melhor no meu, você pode terminar as aulas, bem ali pertinho e ainda ir trabalhar…

— Sim. — Ela me interrompeu brutalmente.— Mil vezes sim.

Seu corpo se virou, e ela dobrou as pernas em cima das minhas, deixando os olhos caírem sobre os meus. Não chegou a doer, apenas um leve desconforto que eu mal cheguei a perceber pois meu coração batia muito rápido.

— Sério?

Ela pegou minha mão e a levou até o seu peito, para que eu pudesse ver como seu coração batia rápido naquele momento. Um sorriso estampou meus lábios quando senti que seu coração batia no mesmo ritmo que o meu, e tracei os braços envolta de sua cintura a trazendo para mim, colando seus lábios nos meus, deixando o frio la fora ter inveja do calor que tínhamos ali dentro.

Segurei suas pernas e a levei diretamente para o cubículo que eu estava parado em frente. Deixei meu corpo brincar com o dela lentamente enquanto removia suas roupas, deixei que os gemidos escapados de seus lábios ser o único som a nossa volta. Beijei cada traço, cada curva, cada imensidão de seu corpo. Queria mergulhar nele, e saber que eu não iria me afogar, porque os nossos corações estavam realmente ligados.

Pisquei os olhos com força apagando qualquer vestígio de memória e me empurrei para dentro do banheiro. A água quente levou um tempo para ligar e assim que o fez, meu corpo inteiro a consumiu. Meu corpo todo sucumbia aquelas memórias, era como ser nocauteado no rosto cem vezes sem ao menos poder revidar. Como se a vida estivesse me batendo, e a única coisa que eu pudesse fazer era me encolher no chão para que doesse menos. Não doía.

Saí do banheiro vestindo um moletom que realmente espantasse o frio, e encontrei meu pai ainda sentado no sofá sozinho assistindo a algum filme. Passei a mão pelos cabelos, e dobrei os braços atrás da minha cabeça quando o fiz, fechando os olhos para absorver o cheiro que a casa tinha. Um cheiro de limpeza.

— Você está bem? — O sotaque do meu pai era muito mais evidente que o de minha mãe.

Ponderei muito antes de dizer aquelas palavras.

— Lorena não sai da minha cabeça. — Um frio percorreu desde minha traqueia até os meus pulmões.

— Oh, bem, eu já imaginava isso. — Sua voz soava suave. — Disse a sua mãe que tinha muitas memórias com ela aqui, e que todas voltariam a tona assim que entrasse nessa casa.

— Ela apenas disse que você devia superar. — Soltou uma risada pensando em minha mãe.

— Eu sei. — Já havia ouvido tantas vezes aquelas palavras que nem sabia mais como lidar com elas.

— Sabe, filho? — Ele se ajustou no sofá, em uma posição mais confortável. — Aquela menina foi uma importante parte de sua vida, nós sabemos disso, nunca diríamos o contrário, mas agora, consigo ver que você está superando ela.

Levantei o olhar para o dele. Aquelas palavras eram novidade para mim.

— Aceitou trocar de apartamento mesmo que isso o aborrecesse porque sabia que as memórias dela estavam espalhadas por toda a casa. O cheiro dela estava. — Coçou o queixo. — Agora arrumou outro emprego, começou a mover sua vida novamente, logo logo vai estar com outra garota.

Travei o maxilar sobre essa outra afirmação.

— Já fui jovem como você uma vez, Wade, e mesmo que não fosse por celular que flertávamos as garotas, consigo reconhecer um sorriso como o que você deu para o celular.

Eu acompanhei ele em uma risada.

Fechei meus olhos por alguns minutos a mais e tentei limpar minha mente de memórias, mas elas pareciam querer voltar com toda a intensidade, rindo de mim por achar que eu conseguiria me livrar delas.

— Também vou sentir sua falta. — Ela disse, e eu foquei meu olhar antes de me virar para entrar no portão de embarque. Meu coração palpitava muito, e sentia minhas mãos suando imensamente.

Parei na porta rapidamente, e me virei para última vez olhar para ela. Os cabelos pratas, os olhos tão verdes, as bochechas rosadas. Foquei no meu lado racional para conseguir embarcar sem voltar para grudar aquela boca na minha. Meu corpo todo pedia por Charlie, queria estar com ela a todo o momento. Queria traçar seu corpo com meus lábios, e queria ficar juntos dela.

— Mesmo que não queira nos contar quem é ainda, nos vamos te dar todo o suporte do mundo. Esperamos que você saiba disso. — Disse, em meio a uma tosse.

Levantou do sofá e limpou os lábios.

— Agora, se você me da licença, vou dormir antes que sua mãe se zangue comigo. — Ele afagou meus cabelos antes de subir, e eu soltei os pesos do ombro, me forçando a levantar também.

— Também vou. — Coloquei a mão em seu ombro

Subimos juntos até chegar ao topo da escada.

— Boa Noite, Wade. — Sua voz soou firme

— Boa Noite, pai.

— Ei, Wade. — Ele se virou para mim. — Não se esqueça que a nova pessoa que você vai amar, não tem nada a ver com a anterior. Não tenha medo, meu filho.

E assim, ele finalizou sua noite, entrando no quarto.

As palavras ainda estavam grudadas em mim quando eu me joguei na cama, e peguei meu celular. As mensagens de Charlie ainda estavam bem claras ali, com mais algumas outras, sem serem respondidas.

Meu Deus, vou morrer com esse calor. Vou dormir no seu apartamento e ligar o ar, já deixo avisado, não consigo dormir no meu sozinha, principalmente por conta do calor”

Sorri ao ler aquelas palavras, e fiquei imaginando Charlie sozinha na minha cama. Seu corpo encolhido num canto da cama, seus olhos abertos analisando meu lado vazio. Senti um aperto por não poder estar lá com ela. Não sabia se ela havia dormido, mas, mesmo assim, achei justo respondê-la.

Não acredito que uma moça crescida como você não consegue dormir no próprio quarto, Charlote, mas tudo bem, espero que goste do espaço extra na cama, pois logo estou voltando para ocupá-lo. Vou pegar um avião sábado, e provavelmente chego ai domingo de madrugada.

Sobre o frio: Sim, aqui está um frio insuportável, já sinto falta do Brasil. Meu Deus, não acredito que disse que sinto falta do calor. Nunca.

Boa Noite, Charlie.

Queria que estivesse aqui”

Coloquei o celular no criado-mudo, e abracei o travesseiro, deixando os sonhos me perseguirem enquanto a escuridão me levava lentamente.




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