A Herdeira do Infinito escrita por Cabeça de Alga


Capítulo 24
Clarisse




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Depois de pegarmos os cavalos que Richard tinha pego para nós, partimos em direção ao Castelo dos Cronarianos, Kely tinha nos falado que demoraria cerca de um dia e meio até chegarmos lá, já que estávamos a cavalo e não tínhamos um enorme exército atrás da gente. O cavalo que estava comigo era branco e musculoso, o da Kely era marrom e o do Richard era um cavalo de guerra negro. Cavalgamos por cinco horas seguidas, passamos por vários tipos de arvores, tipos que eu nem sabia que poderia existir, uma delas foi a arvore do Maguita, uma pedra usada na criação de escudos. Quando chegamos perto de uma casa abandonada, nós paramos.

— Por que alguém abandonaria sua casa? – Disse Richard quando entramos na casa, que estava com seus móveis ainda – Quem a abandonou, a deixou com pressa.

— Ou talvez não tenham a abandonado – Disse Kely. Eu e Richard a olhamos intrigados.

— O que você quer dizer com isso? – Perguntamos nós dois juntos.

— Eu não quero dizer nada – Disse ela encarando uma porta de madeira – Aquilo talvez diga o que queremos – Apontou ela para a mesma porta – Posso sentir algo vivo ou que já viveu, duas pessoas, uma mulher e um homem, os dois tem no máximo 30 anos.

— Como pode saber tanto? – Perguntei intrigada.

— Isso vem junto com meus dons – Disse ela – Posso saber tudo de uma pessoa sem nem mesmo olhá-la, posso sentir, mesmo que esteja morto a dias ou meses.

— Isso é interessante – Disse Richard – Nunca ouvi nada igual a isso.

— Talvez por que era para mim estar morta – Disse ela.

Fomos para a porta, quando chegamos próxima a ela, sentimos um cheiro forte de podridão, o que indicava que estavam mortos a algum tempo. Richard abriu a porta com a ponta de sua espada, quando ele fez isso o cheiro piorou, meu estomago chegou embrulhar de tanto nojo. Era o cômodo onde deveriam dormir os moradores, dentro tinha uma mulher e um homem, do mesmo jeito que Kely tinha falado, tinham cerca de 25 anos cada um, todos os dois mortos a cortes de espadas. Deveriam estar assim a dias, seus corpos já estavam em decomposição pelo tempo. Foi Kely quem se aproximou dos corpos.

— O que você vai fazer? – Perguntei já me arrependendo, o cheiro daquela podridão entrou pelas minhas narinas, piorando ainda mais meu estomago.

— Talvez ainda possa ver o que eles passaram – Disse ela, parecia estar acostumada com aquela situação – Existe uma parte do cérebro, que fica vivo mesmo depois da morte de seu hospedeiro, essa parte fica inerte durante dias, podemos acessar ela se agirmos com rapidez. Antes nas guerras, meu clã era muito temido por isso, se encontrássemos corpos de Líderes ou qualquer outro nobre que soubesse algum segredo de alguém, poderíamos descobrir facilmente, mas podíamos fazer isso com no máximo dez dias depois da pessoa estar morta – Ela então foi para o corpo da mulher, ela estava nua e tinha roxos por todo seu corpo, pelo visto tinha sido estuprada antes de ser morta – Faz nove dias que ela está morta, conseguirei acessar sua parte inerte do cérebro, com um pouco de sorte nada se foi perdido ainda – Ela então colocou as mãos na cabeça da mulher morta e fechou os olhos, ela ficou daquela forma durante cinco minutos, estava começando a pensar que ela fosse demorar o mesmo tempo que tinha demorado comigo, mas do nada ela foi jogada para trás, batendo forte as costas na parede. Eu e Richard corremos até ela, que gemia encostada na parede.

— O que houve? – Perguntei alarmada, Não deveria estar tão preocupada com ela, nem a conhecia direito, como poderia confiar nela?

— A parte inerte de sua cabeça acabou de morrer – Disse ela se levantando – Fui expulsa de lá antes de conseguir ver quem os matou, mas sei por que os matou – Disse ela olhando para a mulher morta – Esses dois sequestraram e mataram uma filha de Montors, um antigo deus que é venerado por alguns nobres e camponeses ricos, de acordo com que ouvi a menina se chamava Sara, eles acreditavam ferozmente que ela era a própria filha desse deus com uma de suas adoradoras.

— Então ela era uma semideusa? – Perguntei – Mesmo que um semideus seja metade humano, eles são muito mais fortes que um humano comum, como eles conseguiram?

— Ela tinha apenas oito anos – Disse ela – Eles decidiram que se fosse realmente verdade ela poderia representar um perigo a todos, então decidiram acabar com ela. Pelo que sei dessa lenda, o deus Montors é aquele que criou Orium e Glondem, além de outro deuses menores, alguns são conhecidos e outros nem tantos, Montors pode ser o criador deles, mas nunca ninguém falou sobre ele, mas enfim isso não é importante. Precisamos voltar a estrada se quisermos chegar ao seu castelo a tempo.

Voltamos para onde tínhamos deixado os cavalos, montamos neles de novo e partimos, Richard e eu estávamos quietos desde que saímos do Campo dos Arcanjos. Não entendia o motivo, mas também não iria perguntar, se quiser conversar que venha ele mesmo, não irei correr atrás de ninguém.

Todo aquele assunto de Orium e Glondem tinham me feito lembrar de Belona, quando finalmente acho que posso confiar em alguém, essa pessoa me trai. Tentei mudar e confiar um pouco nos outros, mas isso nunca dará certo, ninguém merece confiança, nem mesmo meus pais. Pode ser estranho, mas as vezes me pego pensando o por que agora eles iriam voltar, tá que eles falaram daquele lance de me proteger de Victor e dos outros, mas fala sério, são meus pais, disse que tinha os perdoados, mas eu não perdoei e acho que nunca os perdoaria, não realmente. Agora o que está realmente batendo em minha cabeça é o motivo por Belona ter salvo meus pais da morte, se ela queria meus poderes por que não vir e pegar eles logo.

Na minha frente estavam Richard e Kely, tinha uma coisa que ainda me perturbava nela, como poderia saber tanto, morreu a milênios de anos atrás e ainda assim sabia tudo aquilo, isso estava realmente me intrigando e outra, mesmo que ela tenha escapado de Prometheus, como saberia onde estou, como saberia de meus poderes e de que já fui possuída por ele, como poderia saber tanto eu ainda não sabia, mas ai vem outra coisa que me intrigou, se ela está mentindo por que me ajudar?, por que me ajudar a acabar com Prometheus?. Teria que esperar para ver o que aconteceria, se ela estiver mentindo se arrependera amargamente de ter me ajudado a libertar meus dons, agora posso sentir o peso deles, posso sentir a capacidade que eles contem de acabar com qualquer um que esteja em meu caminho. Mas ainda sim tem aquela parte em mim que não consigo controlar e é essa parte que é a mais poderosa.

Eram incontáveis as arvores que passamos, eram tantos que comecei a ficar tonta ou talvez fosse a fome mesmo. Não comia a uns três dias, deveria ter comido algo naquele dia da reunião, mas como saberia que demoraria tanto tempo para ela me ajudar?

 

— Por favor podemos parar e comer algo? Estou morta de fome – Falei alto o suficiente para que todos a uns quinze quilômetros ouvisse.

— Não temos o que comer Vossa Alteza – Disse Richard sem nem mesmo me olhar, aquilo já estava me deixando nervosa, não tinha feito nada para ele me tratar assim, seco.

— Então quer dizer que teve capacidade de roubar três cavalos, mas não teve a inteligência de pegar comida? – Disse com ignorância, ele simplesmente abaixou a cabeça, o que me deixou com mais raiva ainda, ele não revidaria minhas respostas – Irei parar assim mesmo, se quiser pode continuar sozinho – Disse para ele, pois Kely já havia parado seu cavalo e estava descendo dele.

— Essa arvore tem uma fruta que é comestível – Disse ela indo em direção a uma arvore com suas folhas rosas e suas frutas amarelas, da cor do pôr do sol – Podemos comer ela e descansar um pouco, estamos atrasados de qualquer jeito mesmo – Com isso Richard desmontou de seu cavalo e pegou uma fruta, tudo sem nem mesmo me olhar.

— Então Kely, com quanto tempo chegamos lá? – Perguntei.

— Já viajamos cerca de dez horas, se partimos depois que comermos pararemos daqui a umas três horas, pois já estará anoitecendo, então chegaremos lá, provavelmente na tarde do dia de amanhã – Disse ela.

— Isso se mantermos um ritmo, se continuarmos parando assim, não chegaremos lá nunca – Disse Richard.

— Vá na frente se quiser Sor. – Disse Kely já visivelmente enjoada dele – Não fara muita falta – Richard a olhou e pela primeira vez depois de horas ele olhou para mim, aqueles olhos no fundo queriam dizer algo, mas esconda as palavras, depois disso ele se virou e foi até seu cavalo. Olhei para Kely, pensando que ela fosse dizer que era brincadeira e que ele poderia ficar, mas ela não disse nada, então eu fui atrás dele antes que montasse em seu cavalo.

—Richard – Disse antes que ele saísse, ele olhou para mim e isso parecia doer para ele – O que está acontecendo? – Perguntei.

— Como assim Vossa Alteza? estou apenas seguindo ordens – Sua voz era seca e até mesmo um pouco rude, mas seus olhos me diziam outra coisa.

— O que eu fiz de errado? Logo depois que saímos do Campo do Arcanjos, você começou – Disse – Me trata com arrogância e ignorância, então te pergunto novamente, o que está acontecendo? – Richard me olhou e suspirou.

— Eu não posso manter esperanças de ficar com você, pensava que poderíamos ficar juntos, mas eu sou apenas um Cavaleiro da Guarda e a senhora é uma rainha – Então era isso? Ele estava fazendo aquilo tudo por isso?

— Eu não me importo – Disse – O que me importa é que eu sinto algo por você e posso garantir que nunca senti isso por ninguém – Olhei para seu rosto, mas ele olhou para o outro lado.

— Você não entende.

— Você me ama? – Dessa vez ele me olhou bem nos olhos.

— O que?

— Perguntei se você me ama?

—É claro que sim, nunca senti algo parecido por nenhuma garota, já rejeitei vários casamentos por não gostar da moça.

— Então não a nada que nos impeça de ficar juntos, não me importo com a realeza, posso muito bem voltar para a terra e viver minha antiga vida pacata, nunca pedi isso e nunca quis isso, mas de uma coisa eu tenho certeza, é a de que eu quero você e que não abrirei mão disso, a menos que não goste de mim.

— Você não entende eu não sou qualificado para essa honra, não sou o homem certo.

— Então quer dizer que preciso fazer entrevistas com possíveis maridos? Não sou uma peça, que pode ser barganhada pelo mais rico e mais requintado – Disse me virando e deixando Richard para trás, fui até Kely, que estava sentada em um toco, comendo uma daquelas frutas – Dei-me uma dessas – Ela olhou para mim e então sorriu.

— Vá até aquela arvore ali e pegue uma para você – Disse ela apontando para a arvore, pisando fundo fui até ela e peguei duas frutas de uma vez. Sei que não deveria, mas olhei para Richard, ele ainda estava parado perto do cavalo. Tentei ignorar ele, o que falhou um pouco, fui para perto de Kely e me sentei ao seu lado – Para um recém casal vocês já estão brigando demais.

— Não somos e nunca seremos um casal – Kely riu – Dá para falarmos de outro assunto, esse não me agrada.

— Como Vossa Alteza desejar – Disse Kely meia zombeteira – O que deseja falar?

— Como seu clã surgiu?

— Ah isso, bem eu fui a primeira como já sabe – Ela então parou de falar, olhei para ela, que parecia meio constrangida.

— O que foi? Fala logo, como seu clã surgiu?

— Tá, mas se você rir eu juro que te mato – Já vi que seria difícil manter essa promessa, mas vamos lá, estava curiosa mesmo, então balancei a cabeça afirmativamente – Existia um antigo animal nesse planeta, ele se chamava Arcar Blood, traduzindo, sangue de Arcar, que era o sangue mais poderoso e precioso da época, existiam milhares deles, mas sua espécie começou a ser caçada e a extinção foi inevitável. Os caçadores vinham a mando de seus Lordes, eles queriam mais poder e para isso precisavam tomar o sangue dos Arcar. Quando sobraram apenas dois Arcar Blood, uma fêmea e um macho, eles começaram a última caçada, quem os achasse, seria o último a ser poderoso. Os Arcar se esconderam por anos, até mesmo décadas, até que em uma caverna de Ronrinal, eles foram encontrados, a fêmea estava grávida e o macho tentou protege-la de seus inimigos, naquele dia eram três deles, mas esses três tinham armas especialmente para captura-los. O Arcar macho avançou em dois deles, o terceiro conseguiu se esquivar e foi até a fêmea, que por estar grávida estava fraca, como de costume, as fêmeas davam toda a sua energia para colocar seus filhotes fortes para poderem viver bastante, então ela apenas olhou para ele, não podia fazer nada além disso. Enquanto o macho estava lutando ferozmente com os dois guardas ela foi atacada por esse terceiro guarda que desfilou um golpe em sua barriga, ela deu um rugido de dor, mas não por causa de seu corte e sim por causa de seu bebê, o Arcar macho ouviu esse grito e deixou os dois cavaleiros quase mortos de lado e correu para sua fêmea, mas quando chegou lá o homem estava tomando seu sangue e ela estava morta, ele pulou para cima do cavaleiro e o rasgou em dois. A Arcar fêmea já morta, ele então com sua unha cortou a barriga dela e retirou uma criança, para a sua surpresa, não era um outro Arcar e sim uma menininha, um pequeno ser humano com sangue de Arcar. Ele a pegou pela pele e a levou para outro local, mesmo sabendo que sua filha era um ser humano e não um animal. Durante anos essa criança viveu dentro de uma caverna sob os cuidados de seu pai, até que aos seus dez anos outros dez guardas os encontraram, mataram o Arcar macho e levaram a menina para o castelo de um Lorde, disseram a ele que o Arcar tinha sequestrado aquela criança, não sabendo eles que era a filha dos Arcar mortos por eles, ela ficou calada, sem falar nenhuma palavra a eles, estava esperando o momento certo para atacar, mas como tinha aprendido com seu pai, primeiro recolha informações sobre o seus inimigos e depois que tiver tudo ataque, então esperei, eles a adotaram como filhas deles, aquele Clã era o mais poderosos na época, se chamava Darkblo, eram os Reis e Rainhas. Quando completou dezoito anos, percebeu que aquele era o momento certo, já sabia o que iria fazer, iria acabar com eles e tomar tudo o que tinham, do mesmo jeito que tinham feito com ela, esperou até a Coroação do filho mais velho deles, quando essa data chegou ela atacou, mostrou a eles do que era capaz e matou a todos apenas com um olhar, entrou em suas cabeças e os matou por dentro, o exército tentou matar ela, mas não conseguiram ela era muito poderosa para eles, conseguiu com apenas um sorriso parar mais de vinte mil homens. Depois de ter assassinado todos, ela tomou o Clã para si e o renomeou para Hylstel e nenhum tentou saber o que tinha acontecido com os Darkblo, com isso o novo Clã Hylstel se tornou o Clã da realeza – Disse ela por fim.

— E essa menina era você?

— Isso é meio obvio né – Disse ela – Quer saber de mais alguma coisa Vossa Alteza?

— Como morreu?

— Esse detalhe eu não me lembro, parece que foi tirado de mim – E novamente não conseguiria saber da verdade, se Belona estava falando a verdade ou se realmente estaria mentindo.

— Seu clã deveria se chamar Arcar e não Hylstel.

— É eu sei, mas fazer o que né! Se colocasse Arcar outros clãs desconfiariam, ainda mais sabendo que eu poderia controlar pessoas, animais e qualquer ser vivo, eles começariam a especular sobre isso e eu não queria aquilo naquele momento.

— Como era o nome de seus pais?

— Klaiche e Rountron. Quem sabe não recomeço meu clã? Talvez as ruínas de nosso antigo castelo ainda esteja de pé.

— Só você não tentar tomar o meu Clã e meu reinado que está tudo bem – Disse em tom brincalhão, mas com um tom de aviso também, não poderia abaixar a guarda, talvez foi por isso que ela voltou, para retomar aquilo que foi seu antigamente. Como ela mesmo disse, primeiro colhe informações e depois ataca.

— Apenas quero recomeçar uma nova vida, quero me casar de novo e começar de novo meu clã.

— Terá minha ajuda para isso – Disse – Prometo que quando isso acabar irei mandar buscarem seu castelo e quando o acharem irei mandar reconstruir ele para você – Ela me olhou, não sabia se era gratidão ou precaução em seus olhos. Tentei pensar menos o possível, já que ela podia entrar na cabeça dos outros – Sabe como seus inimigos conseguiam lutar contra você? Já que poderia apenas com um olhar acabar com eles.

— Eles criavam barreiras em sua mente, barreiras muito poderosas, assim impedias minha entrada – Disse ela, não sabia se ela tinha percebido o que estava fazendo, mas não estava nem ai, tinha que saber o máximo o possível – Mas não eram todos que tinham sucesso com suas barreiras, apenas aqueles que treinavam durante anos poderia fazer uma tramoia dessas, tinha aqueles que achavam que eram fortes o suficiente para criar uma barreira de prata contra mim – Barreira de prata, ok.

— Nossa, quando isso acontecia o que você fazia?

— Batalhava a moda antiga, sempre vencendo claro.

— Acho melhor irmos – Disse Richard se aproximando – A noite vem vindo e precisamos de algum lugar protegido.

— Ele tem razão, devemos ir – Disse Kely se levantando – Clarisse pegue uma sacola e reúna algumas frutas dessas, para que possamos comer algumas no caminho, sem precisarmos parar – Fiz o que ela pediu, peguei três sacolas de couro e coloquei cinco em cada uma entreguei uma a Kely, outra a Richard e a terceira eu fiquei para mim. Montamos em nossos cavalos e partimos mais uma vez.


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