Stronger feeling escrita por Iza


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olá, estou de volta com mais um capítulo para vocês. Fiquei muito feliz por ter ganhado uma leitora nova, Dark Angel, que comentou em todos os capítulos. E claro, também fiquei para lá de contente com os outros comentarios.Obrigada Lika Trevas,
lescheibel, Dark Lady, e Padawan pela atenção. Aos outros que comentavam antes mas pararam: o que aconteceu? Poxa, eu adoro comentários.
Bem, sem mas, aproveitem o cap. Espero que gostem, esse me deixou um pouco insegura.
Como sempre, aos fantasminhas um olá especial.
Esse capítulo ficou grande, sim eu sei, mas prometo que não vai se repetir. Desculpem.



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POV Natasha                                        

Observo de longe Glenn e Maggie conversando baixinho e sorrio.  Fico feliz que tenham finalmente se resolvido.  Estamos todos mais abatidos, cansados. O inverno chegou e o grupo está sobrevivendo de minhas caças e as de Daryl.

—Está nas viagens em Tasha- brinca T-Dog e eu me limito a sorrir.

—As vezes acontece.- confesso dando de ombros- faz parte da natureza humana pensar constantemente.

—E faz parte da natureza humana ser bonita pensando?- pergunta brincando e eu sorrio.

—Obrigada- agradeço o elogio, desconcertada e ele ri.

—Está com vergonha- aponta sorrindo e dou de ombros.

—Pronta loira? – pergunta Daryl aparecendo ao meu lado. Está com a expressão mal humorada de sempre,  o maldito colete de asas e aqueles olhos azuis que me puxam.

—Sempre, caipira.- respondo sorrindo divertida. Ele balança a cabeça em negação, mas não diz nada. – Até mais T.

—Tome cuidado, Tasha.- diz enquanto me acena

—Claro, eu sempre tomo- respondo sorrindo

Faço um sinal para Glenn, que me acena de volta.  Essa casa é a mais protegida que encontramos nos últimos tempos. A gravidez de Lori já está visível, com uns 4 meses, e estou preocupada que esteja comendo pouco. Estamos todos, na verdade.

Sigo Daryl em silencio, com cuidado para não fazer barulho desnecessário. Ultimamente ele é obrigado a me aguentar mais do que de costume, já que sou a única que também sabe caçar. Algumas das barreiras caíram e nos aproximamos, mas ele ainda se mantém distante de todos o máximo que consegue. Não admite, mas se importa bastante.

Dessa vez nos afastamos do grupo um pouco mais, pois o lugar não é muito propenso a caça. Fazemos o trajeto em silencio, como de costume. Ele olha para mim de tempos em tempos, como se quisesse ter certeza que estou aqui ainda. Gosto disso. Gosto muito.

Encontro um esquilo magro, e o acerto com uma  das facas de arremesso. Ele me olha com as sobrancelhas erguidas e olhar desafiador. Devolvo a expressão e volto a procurar por alvos. Ele encontra um coelho, e o atinge. Olho para ele segurando uma careta. Penso comigo mesma que não vamos fazer algum tipo de competição idiota de quem caça melhor. Não funciona muito bem.

Os bichos são poucos, e qualquer alvo que apareça é atingido rapidamente de forma acirrada entre mim e ele. Vejo a diversão e irritação dançar nos olhos azuis que eu tanto gosto e não seguro o sorriso diante disso. O lugar me surpreende e conseguimos caçar mais que o esperado, apesar do animais serem magros. Ele me encara por um momento e sorri de volta.

—Vamos parar um pouco- digo por fim, sentindo sede e cansaço corporal.

—Já está cansada, loira? Fraquinha – diz com desdém, mas se senta ao meu lado no chão.

—Você não é o senhor fodão? Vá em frente, continue andando por ai – respondo depois de beber água.

—E deixar você sozinha aqui? Muito arriscado- diz enquanto a pega a garrafinha em minha mão e bebe uns goles. Olha para cima e franze a testa, o que me faz seguir seu olhar – Vai chover.

Sou obrigada a concordar. É bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque assim o pessoal pode armazenar um pouco de água, ruim porque já está tarde e claramente  não chegaremos ao abrigo a tempo. Ele se levanta e olha para mim esperando que eu faça o mesmo.

—Vai levantar hoje ou só amanhã? – pergunta mal humorado e sorrio

—Só amanhã.- respondo só para irrita-lo e ele bufa – Se você me puxar levanto hoje.

Levanto meus dois braços e espero que ele me puxe. Ele me olha incrédulo, mas como não movo nenhum musculo para me levantar sozinha ele coloca a besta nas costas e me puxa pelas mãos rudemente. Usa muito mais força do que eu esperava e meu corpo bate contra o dele, que arruma um pé de apoio e me firma colocando a mão em minha cintura. Rosna baixinho, e a merda está feita.

Nossos olhos se encontram e começo a perder  o controle como sempre acontece quando estamos tão próximos. Sinto sua respiração, e começo a levantar na ponta dos pés ao mesmo tempo em que ele se inclina. Não é intencional, mas tudo em Daryl Dixon me puxa e me prende, perco o controle de mim mesma  e só sei que quero sentir seus lábios. Maldito seja ele e seu rosto bonito, seus braços musculosos, colete de asas e charme. Maldito seja por se preocupar sem demonstrar. Maldito seja por ser quem é.

Penso que dessa vez pode dar certo, que dessa vez não tem Carl para me chamar, nem ninguém para interromper, mas como eu joguei chiclete na cruz, os zumbis se encarregam desse papel. Ouvimos os gemidos mórbidos ao longe nos afastamos. Ele xinga alguma coisa, e me sinto muito bem ao perceber que não sou a única frustrada na historia. Me puxa pelo braço na direção contraria aos gemidos, e infelizmente contraria ao lugar que o grupo está também.

—Inferno- rosna largando meu braço e atingindo os dois que aparecem em nosso caminho.  O ajudo a recuperar a flecha e passamos a correr.

—Precisamos de abrigo- aviso quando um raio corta o céu.

—Jura?- pergunta debochado e me limito a lhe dar um dedo do meio

Pela visão periférica vejo uma casinha dessas de meio de mato, mas antes que eu consiga verbalizar isso ele já o fez. Fala da casinha e viramos nessa direção. A chuva começa a cair torrencialmente e fica difícil de correr. Meu cabelo prega na minha cara, minha roupa pesa, sinto frio e meus pés começam a afundar na lama. Tento prestar atenção onde piso, mas fica difícil com toda a chuva. Vejo vagamente dois zumbis se aparecerem sobre Daryl, grito para que ele me escute e ele consegue lidar com eles.

Saco minhas saís e ponho fim em todos aqueles que se aproximam . Em algum momento uma de minhas Saís se prende no corpo da coisa e  quase tombo, Daryl mata o ultimo. Estamos próximos da casa agora.

—Eu entro e vejo como estão os cômodos. Me espera aqui fora. Cuidado- diz ele em um tom imperativo, como se eu obedecesse alguém, ou pior, que fosse deixar ele se arriscar sozinho.

—Como se eu não tomasse cuidado- digo irritada por ele querer mandar em mim e observo sua postura mudar minimamente.

Entro logo atrás dele, deixo que vá na frente com sua besta mortífera, e vou atrás analisando os cômodos com mais cuidado. Encontramos um zumbi com o qual ele lida facilmente, o segundo  cômodo está vazio e o terceiro também.

—Vai ter que servir até amanhã- diz se virando para mim.

—É melhor do que os lugares que normalmente encontramos- respondo dando de ombros e jogando minha caça em cima do balcão da cozinha. Ele segue meu movimento e se vira para a despensa.

Está trancada e ele não hesita em quebrar o cadeado. Assisto em silêncio ele empurrar a porta, tentando abri-la e tento não rir por saber que ele está empurrando para o lado errado.

—Mas que porcaria- bate mais uma vez na porta, frustrado.

—Caipira- chamo com a intenção de apontar a dobradiça da porta, mas ele me ignora como sempre.

—Essa porcaria não abre- diz irritado se virando para mim, depois de quebrar a maçaneta e caminhando em minha direção - Para estar trancada assim tem que ter algo lá dentro.

Paro de prestar atenção no que diz quando vejo um zumbi sair dispensa que ele estava esmurrando. Como a porta abre para o lado contrário e ele quebrou a maçaneta, tudo o que o zumbi precisou fazer foi se jogar contra a porta.

—Dixon- chamo preocupada, mas ele não me dá atenção nenhuma. Xingo irritada e puxo uma saí. Ele me olha confuso, o barulho da chuva mascarando os grunhidos da coisa.

—Ah, agora você  que essa agulha maldita vai abrir a porta? – diz indignado e com expressão  de quem se diverte com a ideia- Não seja boba. Digo, não mais que o comum.

Não deixa que eu fale, então vou até ele e o empurro para o lado. O zumbi já estava muito perto, além de ser alto o que me deixa em desvantagem pois só posso fazer movimento reto, de modo que não corra o risco de atingir Daryl, e para piorar tropeço em uma porcaria de tapete, o que faz com que minha saí na verdade entre em sua boca aberta ao invés do olho. Seu peso contra mim faz com que eu caia no chão, tropeçando nos meus próprios pés ainda enrolados no tapete. Uso a saí enfiada na boca da coisa para manter aqueles dentes longe de mim, mas os braços vêm em minha direção, me agarrando. Daryl acaba com a coisa enfiando sua faca de caça no crânio, e puxa o corpo para longe de mim. Me levanta sem fazer esforço e começa a analisar meus braços.

—Está arranhada? Machucada?- pergunta enquanto passa as mãos por meus braços. – INFERNO NATASHA.

—Estou bem, estou bem- digo me afastando um pouco.

—Não faça mais isso. Não se engalfinhe com um errante para evitar que eu me machuque. Está me entendendo?- me sacode e eu olho para ele confusa.

—É claro que vou fazer isso de novo. Me importo com você Daryl.- jogo a verdade, confusa com toda essa reação.- por que diabos está tão irritado?

—Por que diabos você não me escuta? Patricinha idiota, não entende que as coisas não giram em torno de você? Disse para ficar lá, e não ficou. Poderia só ter me avisado da porra do zumbi.- Ele meio que grita e rosna. Parece atordoado e me deixa confusa e irritada.

—Vá se catar, Daryl Dixon. Não estou entendendo nada. Vem querendo mandar em mim , e de repente começa a brigar  falando coisas sem sentido. EU NÃO FIZ NADA.- patricinha? Patricinha é demais para mim. Nada faz sentido, inferno.

—PARA DE GRITAR.- grita para mim

—VOCÊ ESTÁ GRITANDO.-  grito de volta, descontrolada. Alguma coisa chega a porta, arranhando. Puxo minha saí com toda a minha raiva, abro a porta e acabo com o zumbi. Desço a varanda, voltando para a chuva  e me preparo para acertar outro que está se aproximando quando uma flecha faz isso por mim.

 Viro-me para ele irritada, e ele desce para a chuva também.

—Vamos entrar- pede, aparentemente mais calmo

—Não. Vá se catar-  digo ainda irritada com todo aquele chilique.

—Natasha.- chama preocupado.

—Natasha é o caramba, você grita comigo como se eu fosse a culpada de tudo de ruim que acontece na sua vida, como se eu fosse o motivo das suas frustrações, fala coisas sem sentido e me chama de patricinha mimada. O que diabos você quer de mim, Dixon? Não, eu não vou ficar parada enquanto você está lá correndo perigo. Você não me assusta, nem me controla, aceite isso.

—É esse o problema. Você não se afasta.

—Quer que eu me afaste? É isso? Seja mais claro, cacete. Se minha companhia te irrita tanto porque não fala logo? Achei que não fosse assim.- Obviamente eu sou idiota o suficiente para imaginar que ele gosta da minha companhia. Inferno.

Ele balança a cabeça, como se ele mesmo estivesse confuso com toda essa explosão. Escorrego na lama quando me viro para ir para longe dele e ele me segura. Nossos corpos se aproximam novamente, levanto os olhos para encara-lo.

—Pro inferno com tudo isso- ele diz, e então seus lábios estão sobre os meus. Demoro meio segundo para corresponder.

O beijo não é calmo e suave, mas intenso e meio bruto, exatamente como Daryl. Ele me puxa pela cintura, de modo que nossos corpos se encaixem e levo meus braços para seu pescoço. Arranho seu pescoço e puxo de leve seu cabelo, sem pensar. A chuva cai sem parar, mas não sinto frio. Tudo o que sinto é Daryl Dixon e as sensações que provoca.

Nos separamos só quando falta oxigênio e ainda assim continuamos nos encarando. Sem pensar puxo-o pela nuca e nos beijamos novamente. É tão intenso quando o primeiro e me perco nisso. Uma de suas mãos desce e sobe em minhas costas e a outra segura firmemente minha nuca. Tremo com as sensações e ele se afasta um pouco de mim.

Fico piscando confusa, perdida naqueles olhos azuis por alguns segundos.

—Vamos entrar- ele diz, sua voz está ainda mais rouca do que de costume, e quero beija-lo novamente.- Está frio e você vai acabar resfriada

Talvez esteja não sei, não sinto. Meu corpo está quente, e a ultima coisa de que me lembro é de frio. A chuva continua a cair fortemente, estou encharcada e não ligo à mínima, mas me limito a concordar com a cabeça, temendo que minha voz falhe.

No caminho ele se afasta de mim, e penso que se arrependeu. Isso me atinge de um jeito que não deveria e fico irritada comigo mesma. Entramos na casa em silêncio, e ele começa a bloquear as entradas depois de colocar o zumbi para fora. Me dou conta de que ele vai fingir que nada aconteceu e acho que posso lidar com isso.

—Vou ver se tem algo na tal dispensa- digo sem realmente esperar uma resposta e me encaminho. Está munida  de algumas comidas enlatadas e refrigerante. Fico feliz pelo refrigerante, mas é uma pena que tenha que ser quente.

Os trovões e minha lanterna iluminam a casa, mas não gosto de gastar minha bateria, então procuro por velas na dispensa. Não acho nenhuma, mas ao ver umas lenhas me lembro da lareira da sala. Junto uns punhados e vou acendê-la. No meio da atividade Daryl assume e eu deixo que o faça. Esquentamos duas das latas ali mesmo, e pela primeira vez desde que o conheci ficamos em um silencio desconfortável.

Comemos em silencio,  e suspiro cansada.

—Vá dormir- diz naquele tom imperativo maldito que ele adora usar comigo. Parece cansado também.

—Estamos trabalhando juntos nas caças nos ultimo meses e você ainda não entendeu que não manda em mim?- pergunto me encostando no sofá e encarando-o. A roupa molhada faz com que eu trema de frio.

—É uma insolente mesmo- diz me encarando de volta. Seu rosto iluminado pelas chamas o deixa com um ar ainda mais misterioso e acabo tendo que desviar o olhar. Tremo de frio novamente sem conseguir me conter e espero que ele não perceba- Está com frio.

Xingo mentalmente e volto a encara-lo, sustentando seu olhar acusador.

—Não tenho outra roupa- digo com um dar de ombros- Estou esperando secar um pouco para depois eu ir dormir. Não quero molhar o cobertor.

—Ah, que bobagem- diz se levantando e indo em direção a mochila que  ultimamente carrega para guardar parte das caças e o que acharmos que pode ajudar Lori com sua gravidez, como remédios e vitaminas, e abre o bolso de fora tirando de lá uma camisa escura totalmente embolada e amassada, mas seca. Joga para mim e pego no ar – Vá dormir loira.

—Obrigada- digo sem saber ao certo como reagir. Ele optou por fingir que nada aconteceu então sigo seu exemplo.

Vou até o quarto da casa, tiro a roupa molhada e visto a camisa que me emprestou, que bate no meio de minha cocha. Aproveito que estou no quarto e procuro por mais alguma coisa para vestir. Encontro duas calças de moletom masculinas e uma camiseta masculina. Dou de ombros, melhor que nada. Visto uma das calças, junto vários cobertores e travesseiros e volto para a sala com uma montanha de coisas a minha frente.

—O que diabos?- ouço ele resmungar enquanto caminha até mim e pega a maior parte dos cobertores.

—Tem mais alguns no guarda roupas- digo enquanto arrumo as coisas no chão a uma distância segura da lareira mas onde pode-se aproveitar o calor-  se você achar que precisa.

—O que está fazendo aqui? Digo, na sala?- olho para e encontro ele segurando algumas cobertas e me encarando com a testa franzida- A proposito, bela calça.

—Sou linda até usando um saco de batatas- respondo jogando o cabelo molhado para trás de modo teatral. - o quarto é muito gelado, vou dormir aqui.

—Que maravilha.- diz irônico mas apenas ignoro

—Aqui, achei para você – jogo as roupas que encontrei- Nem pense que vou te dar sua camisa, as roupas daqui tem cheiro de guardado, vai ter que se virar com essa camiseta masculina feia.

—Eu poderia brigar pelo que é meu sabe, mas não estou com paciência- diz se voltando para o quarto com a expressão fechada.

Dou de ombros, e me deito na cama improvisada, me sentindo aquecida  e confortável.

—Por que não quis o sofá?- pergunta aparecendo vestido com aquela roupa feia. Para meu azar a camiseta fica aperta e deixa seus músculos a mostro.  Seguro um rosnado de frustração.

—Minhas costas iam doer por ter que me encolher- respondo voltando a me recostar no travesseiro. Observo ele se sentar próximo a janela reforçada e balanço a cabeça negativamente- Daryl?

—Que é?- nem se dá ao trabalho de me olhar.

—Vem dormir. Está tudo trancado e a chuva provavelmente deixa eles confusos, não tem necessidade de ficar de vigia- digo séria, e ele se vira lentamente para mim.

—Não quero arriscar.

—Larga de bobeira- me levanto e vou até ele. Ele foge de meu toque, mas pego sua mão a força. Ele me encara arqueando a sobrancelha e ignoro, o puxando pela mão- Pode espernear e rosnar, não me atinge. Vem dormir.

O puxo com força e ele me segue de cara feia. Se ele quisesse bastava puxar a mão para longe da minha com força, mas ele não o faz.

Nos deitamos cada um do lado do outro, mas sem nos tocar. Deito de lado e o encaro e ele faz o mesmo. Meus olhos se prendem aos dele e solto um suspiro cansado.

—Se eu acordar e você estiver acordado de tocaia naquela janela vou ficar muito irritada- digo quando sinto meus olhos pesarem.- e você não quer me ver irritada.

—Dorme loira.

—Dorme também- digo já de olhos fechados. Posso sentir que ele está sorrindo, então sorrio também, antes que a inconsciência me engula.

(...)

Como de costume, rolo meio consciente em meio ao meu sono para trocar o braço de apoio. Me acomodo melhor na nova posição e começo a adormecer quando sinto Daryl se mover. Inconsciente ele se vira para mim, embola nossas pernas e passa um dos braços pela minha cintura. Viro meu rosto vagarosamente para ele e o encontro de olhos fechados, visivelmente  no décimo sono. Sua respiração bate em meu pescoço e o sinto muito perto. A sensação é boa e faz com que qualquer vestígio de frio vá embora.  Me arrumo melhor em seus braços e volto a dormir.

(...)

Tento rolar e não consigo, algo me prende. Abro os olhos confusa e me dou conta de que o que me segura é nada mais nada menos que Daryl Dixon. Sorrio sem conseguir me conter, e como uma idiota fico me lembrando do beijo que ocorreu no dia anterior. Forço contra  ele, e tento sair de seus braços sem que ele acorde, imaginando sua cara se acordasse todo agarrado a mim desse jeito.  Meu plano falha e ele acorda quando o sol finalmente entra pelas frestas da janela, fixa os olhos nos meus e quase salta para o outro lado da sala.

—Bom dia, Dixon- digo tanto para quebrar o constrangimento dele quanto o meu.

Ele rosna qualquer coisa de volta e se levanta arrumando nossas coisas. Limito-me a fazer o mesmo, me divertindo com o constrangimento do caipira. Coloco minha roupa de volta, mas mantenho a camisa dele, não só por ser confortável, mas por ter o cheiro dele.

Ele franze a testa quando me vê ainda com a camisa e sorrio dando de ombros.

—Perdeu, agora essa camisa é minha.- digo divertida  e ele fecha a cara. Jogo minha blusa seca para que ele guarde na mochila

—Isso é roubo.- diz pegando a blusa no ar e guardando onde antes estava a camisa.

—Vai me denunciar para quem? – pergunto arqueando a sobrancelha enquanto pego minha parte da caça. Ele já encheu a mochila com as coisas da dispensa.

—Pro Rick. Dizer para ele que você é uma louca e tem que ficar sob supervisão de um responsável. De preferencia bem longe de confusões- diz irônico pegando uma espécie de bolsa de primeiros socorros que eu não tinha visto antes.

Suas palavras me lembram do dia anterior, quando insinua que quer distância de mim. Aperto os lábios com o pensamento e me limito a vestir meu suporte com as saís. Caminho até onde ele está sem encara-lo e pego a bolsa em suas mãos.

—Eu levo a bolsa, você a mochila- esclareço quando sinto seu olhar confuso em mim. Começo a me encaminhar para a porta quando ele me puxa pelo braço. Franzo a testa para ele- O que é?

—Ontem...- ele parece se engasgar com as próprias palavras e me obrigo a esperar pacientemente que ele se expresse.- não quero distância de você.

Por um momento fico surpresa com sua capacidade de entender o que penso, e gosto de saber o que realmente pensa. Suas palavras ainda me confundem, então digo o que acho sobre isso.

—Não foi o que disse ontem- respondo séria, e ele passa a mão pelo cabelo.

—Eu...- ele para novamente, tentando arrumar as palavras. – Isso é errado.

—Isso?

—Você, eu, isso. Você tem só 20 anos, inferno- diz e parece indignado- Eu me odeio constantemente por pensar em você como eu penso. Você tem idade para... não sei. É nova.

Oh. É esse o ponto então? Minha idade. Fico parada olhando ele, atordoada. Verdade seja dita eu nunca parei para pensar na idade que ele pode ter. Não me importa.

—Isso é ridículo – aviso o encarando seriamente. – Não me importa a idade Daryl. Vinte anos é idade suficiente para eu saber o que quero ou não, e ontem eu quis aquilo. Eu quero.

—Inferno- rosna e se afasta virando de costas.- É contra princípios. É jovem.

—Está sendo idiota. Quantos anos tem, Daryl?- pergunto parada onde estava, encarando suas costas e cruzando os braços impaciente.

—Trinta e dois. – diz entredentes, como se odiasse simplesmente pensar na diferença. É muito sim, mas já vi casais com essa diferença de idade. Não me importa, e o mundo acabou então é tudo muito desnecessário.

Caminho decidida até ele e para a sua frente, puxo seu rosto em direção ao meu e o encaro profundamente.

—Não é nenhum penhasco impossível de diferença. Tenho idade para o que, ser sua irmã mais nova? Bobeira. Você pode ficar ai, pensando em toda a diferença de idade o quando quiser, eu não vou fazer isso. Não sei o que sinto por você, Daryl, mas gosto de estar por perto- digo séria, então levanto na ponta dos pés e lhe dou um selinho. Relutante, ele passa o braço pela minha cintura e aprofunda o beijo. Tudo fica tão intenso quanto no dia anterior e por um momento me esqueço até meu próprio nome. Nos afastamos, e antes que ele corra de mim dou um beijo carinhoso em seu rosto.- Vai ter que me aguentar, Dixon.

—Assinei um contrato de ter que te aguentar quando lancei aquela flecha, to sabendo – diz sorrindo, com os braços ainda ao redor de mim.

—E sim, eu sei que não quer distancia de mim. Sou uma companhia maravilhosa, totalmente sociável e tudo mais. Seu oposto, lembra?-  digo divertida quando nos afastamos- foi seu dia de sorte me achar naquele mato.

—Não, foi o maior azar.

—Talvez.

 O caminho de volta é difícil e cansativo, mas ocorre sem problemas. Estão todos bem, e quando chego Glenn me agarra em um abraço aliviado.

—Sua louca- diz ainda me abraçando- Não se faz isso.

—Eu teria ligado, mas sabe como é, não funciona mais- respondo sorrindo quando nos afastamos. Maggie também me abraça e posso ver o mesmo alivio de Glenn nela. Fico feliz de saber que sou importante para eles, pois eles são para mim.

Eu, Daryl e Maggie, que está aprendendo, limpamos as caças em silêncio e fico emburrada ao me dar conta que ele ganhou.

—Bem, se eu tivesse uma besta para caçar, eu acertaria muito mais animais- digo e Maggie começa a rir.

—Você não aceita perder, hein? – diz lavando as mãos em uma bacia de agua coletada na chuva.- Fez um bom trabalho Tasha, larga de ser chata.

Dou de ombros e deixo que alguém trabalhe no preparo da carne. A verdade é que as caças vão dar para muito pouco. Sim, foi de longe melhor do que as outras caças, e não estou falando do beijo, mas os animais estão magros, e nós em grande quantidade.  Pego a vigia e Carl me faz companhia enquanto esperamos o almoço ou alguma refeição parecida com isso.

Vejo quatro zumbis se aproximando e me dou conta de que precisamos de um lugar melhor. Estão todos esgotados, e como Lori está gravida precisa descansar um pouco dessa loucura de ficar indo de casa em casa.  Os barulhos aqui ecoam e sei que pelo relevo os zumbis vão passar por perto constantemente, então nunca teremos paz. Além disso, podemos lidar com grupos de quatro como esse numa boa, mas ainda existem os com muito mais que isso.

Carl ameaça pegar a arma mas balanço a cabeça negativamente.

—Armas de fogo só em ultimo caso- digo séria, me levantando e sacando as saís.- espere aqui, dou conta deles facilmente.

Acabo com eles sem grandes incidentes e depois disso vamos comer. Não temos paz por muito tempo. Como o previsto, aquelas coisas aparecem constantemente, e esgotado, Rick pede que arrumemos nossas coisas para voltar a estrada.

Andamos quase o dia todo, e no fim da tarde visualizo pela visão periférica uma construção. Paro de seguir o grupo e arredo uns arbustos para então ver o que me chamou a atenção. É uma espécie de construção de acampamento, retangular e alto,  com janelas localizadas próximo ao teto e apenas  com uma porta larga. É grande e creio que guarde mantimentos. Me lembro de acampar com meu avô, e ele nunca curtiu esses acampamentos organizados por outras pessoas, mas me lembro de irmos em um uma vez. Essa é uma espécie de cede, onde o dono da área de camping se mantem, e geralmente eles tem grandes estoques de comida e coisas necessárias para acampar. Não vendiam essas coisas em um preço legal, mas isso não vem ao caso.

Faço sinal ao grupo e eles se animam. Não temos água por perto, mas o lugar é razoavelmente bom. Ao nos aproximar a animação diminui pois os grunhidos de dentro são bem audíveis.

—É uma pena- diz Rick- Parecia ser um lugar bom, mas pelo barulho podem ser muitos.

Paro para escutar com atenção.

—Na verdade não tem como saber. Os grunhidos estão razoavelmente abafados pela porta. O que está fazendo tanto barulho é eles se moverem contra algo de metal. Dependendo do piso desse lugar, grande parte do barulho pode ser eco.

—Não temos como saber.- diz, mas sei que ele está me analisando. Passo os olhos pela estrutura no geral e encontro um cano. Dá para eu escalar ele numa boa, graças as minhas aulas de ginastica olímpica e mais umas baboseiras que eu gostava de fazer.  Posso chegar até a janela alta.

— Eu posso chegar até a janela- digo  e ele me olha atento.- assim posso analisar a situação. Com a luz do dia vou ver perfeitamente.

—Como pretende chegar até a janela?- pergunta o Dixon cruzando os braços e me encarando.

Explico a ele calmamente enquanto me encaminho para o cano.

—É loucura, você pode cair- diz e me encara meio preocupado.

—É moleza para mim, caipira. – digo já me posicionando.- mas por via das duvidas me deseje sorte.

 Ele fecha a cara para mim e eu só consigo sorrir. Exatamente como eu me lembro, escalar exige muita força e concentração, e tenho certeza que no dia seguinte meus braços vão doer, mas subo assim mesmo. Faço com agilidade e espio pela janela.  Conto dez zumbis, e vejo que o motivo do barulho todo é dois que estão presos entre duas prateleiras de metal.  O piso não é exatamente o culpado pelo eco, mas sim a parte da parede onde a prateleira fica raspando e batendo sem parar.

Desço e conto a situação e entramos eu, Maggie, Daryl, Glenn e Rick para limpar. É rápido na formação que descobrimos a umas semanas atrás, ninguém corre riscos desnecessários.  O deposito se mostra razoavelmente cheio, com galões de água filtrada, barras de cereais, sacos de dormir, produtos de higiene e coisas uteis. Nos instalamos sem problemas.

Observo Daryl, como sempre, se afastar de todos colocando seu saco de dormir a distancia. Balanço a cabeça em negação e caminho até ele.

—Então é esse o plano?- Pergunto me sentando ao seu lado no saco de dormir.

—O que?- pergunta de volta com aquela voz rouca dos infernos.

—Sempre ficar a distância. Fez isso na fazenda também, e não adiantou muito- digo me encostando na parede. Ele me encara sério.

—Culpa sua, que ignora toda a minha falta de educação, mal humor e pedidos para me deixar em paz. – diz me encarando enquanto afia uma flecha.

—Nah, isso não é verdade. Não funciona porque você faz parte deles. Não admite, mas faz. É em você que o Rick confia para conversar sobre as decisões. Etc etc.- jogo na cara dele umas verdades, com a intenção de mostrar o que ele não consegue ver.

—Talvez- diz voltando sua atenção as flechas, e consigo ver um traço de sorriso em seu rosto. Vou para o posto de vigia satisfeita.

Não sei quantas horas se passam no meu turno, mas em determinado momento meus olhos estão pesando demais para eu aguentar, o silencio agonizante piora tudo. O próximo da lista é T-Dog, então procuro por ele enquanto luto para não fechar os olhos. Estamos esparramados em uma confusão de sacos de dormir, e demoro a encontra-lo.

Sinto uma movimentação de onde Daryl está dormindo. Ele se levanta e franze a testa para mim, daquele jeito que sempre.

—Ainda está acordada?

—Aparentemente- digo bocejando. Ele balança a cabeça e vem até mim.

—Vai dormir, loira.- Diz naquele tom quando para em frente a mim. O ignoro e me viro para os outros sacos de dormir procurando por T-Dog. – O que diabos está fazendo?

—Procurando pelo T- respondo sem me virar para ele. Encontro quem procuro no canto.- Já volto caipira.

Passo cuidadosamente pelos sacos de dormir, e acordo T-Dog suavemente. Ele demora uns minutos para se situar, mas pega a arma e vai para o ponto de vigia.

Volto para onde Daryl está e lhe lanço um sorriso antes de bocejar de novo.

—Vem, vamos dormir- diz me puxando pelo ombro. Olho para ele confusa.

—Meu saco de dormir está para lá- aponto o lado contrario ele balança a cabeça, me  senta em seu saco de dormir, e vai até o meu. Acho que é uma troca, então me deito e acomodo. Ele volta arrastando o meu.

—Eu disse que não quero distancia. - diz me encarando e colocando o meu saco de dormir ao lado do dele. Sorrio para ele, que com um dar de ombros deita no meu. Encaro-o até meus olhos fecharem totalmente. Acho que foi um passo imenso, e fico feliz por ele tentar a sua maneira.

—Quem é você e o que fez com Daryl Dixon?- pergunto com os olhos fixos nele- pelo que me lembro, você nem usava frases completas.

—Você me irrita tanto que preciso de mais de uma frase para me expressar.

—Bom.- Encaro-o até meus olhos fecharem totalmente.

Quando amanhece, estou sozinha. Sinto o olhar divertido de Glenn sobre mim, mas ignoro. Junto com os outros começo a vasculhar o ambiente. Separamos o que podemos usar, lanternas, comidas enlatadas,  produtos de higiene, alguns remédios básicos que acrescentamos a bolsa de primeiro socorros que encontramos, e coisas assim. Empilhamos e contamos, com a intenção de saber quanto tempo pode durar. Encontramos armas e facas na ala de caça. Não são muitas, mas é melhor que nada. Pego duas facas para mim, e deixo que dividam o resto. Temos provisões para um mês, mais ou menos, mas já é descanso o suficiente.

Encontro umas vitaminas no armário pessoal do dono do lugar e Hershel diz que pode ser muito bom para Lori. Ficamos todos aliviados com qualquer coisa que vá melhorar as coisas por ela. É uma pena que tenhamos passado a maior parte do inverno na estrada, de casa em casa.

—Eu reparei- acusa Glenn parando ao meu lado. Olho  para ele com minha melhor expressão inocente.

—Reparou o que, coreano?- seguro um sorriso que pode me condenar e me limito a erguer a sobrancelha.

—Você e o Dixon.- ele sorri divertido – O jogo virou, não é mesmo? Sei que tem alguma coisa, só quero saber o quanto é.

—Se eu soubesse te diria- confesso encostando em seu ombro. Ele faz carinho em meus cabelos e balança a cabeça.

—Vocês são diferentes, mas acho que pode dar certo.- diz pensativo, os olhos passando por todos do grupo.- Ele é todo fechado e sério, mas é uma pessoa boa. Acho que você descobriu isso antes dele mesmo. Antes de você aparecer ele era um ignorante e eu teria mantido ele bem longe de você .

— Como assim?- pergunto interessada.

—Ele e o irmão eram uns ignorantes que brigavam com todos no grupo- conta ainda fazendo carinho.- Daryl tinha um mal humor maior que o atual, eram meias frases, e a maioria de nós o aceitava porque garantia sobrevivência. Aos poucos ele foi mostrando o lado bom, e quando você chegou o processo só aumentou.

—As vezes acho que somos mais que um grupo- digo observando Maggie e Beth cantarolando enquanto T-Dog ri , Hershel e Carol conversando sobre primeiros socorros e Rick e Daryl afastados aparentemente  discutindo algo sério.

—Nós  já somos família- diz se referindo a mim e ele- e acho que os outros estão entrando nessa área.

Concordo com a cabeça e deixo o assunto fluir. Daryl me encara a distancia, e desvia os olhos rapidamente quando lhe lanço um sorriso. Em algum momento Beth, Maggie e T-Dog se aproximam, e deixo o assunto fluir.

Depois de um mês a caça volta a ser necessária, e confesso a mim mesma que adoro a oportunidade de passar um tempo só com Daryl.  Não voltamos a nos beijar, e ele toma cuidado para não ficar próximo demais, mas fora isso é tudo normal.  Como se fizesse parte de nós, as provocações rolam soltas, e me deixo envolver.

Infelizmente o lugar não dura muito mais. A água começa a faltar, e conforme os mantimentos chega ao fim fica difícil manter o lugar, mas Rick está disposto a continuar ali, por Lori principalmente, que está em uma fase avançada. As coisas vão por água a baixo, literalmente, quando uma tempestade arranca parte do telhado. O lugar só tem a porta como ponto de escoamento, e as coisas alagam. Sem opções, juntamos o que resta e é aproveitável e voltamos para a estrada.

(...)

Conseguimos carros para todos nós, e isso diminuiu a dureza da viagem,  mas verdade seja dita não sabemos para onde ir. Estamos sem rumo e nosso único objetivo é sobreviver. Dormimos nos carros e nos mantemos em estradas secundarias.

Como sempre, quando acordo Daryl já está longe. É sempre assim, quando estamos sozinhos ele se aproxima, e ultimamente dividimos o meu carro durante a noite já que ele não pode dormir na moto, mas quando amanhece e são muitos pares de olhos ele se afasta. Somos nada e tudo ao mesmo tempo. Ele tem medo, fica desconfortável, e aceito seu espaço.  

Espreguiço fora do carro e vou até a rodinha de conversa.

—Algum problema?- pergunto ao ver a aglomeração.

—Meu carro acabou a gasolina- conta Rick e sinto a preocupação em sua voz.- como está o seu?

—Tem mais que a metade.- paro por um momento pensando – precisamos encontrar um rumo, estamos gastando gasolina atoa.

—Sério gênia?- debocha o caipira e me limito a dar de ombros.

—Sim, seríssimo. - respondo no mesmo tom.

—Precisamos de água- avisa T, chegando e parando ao meu lado. Seguro um suspiro frustrado.

—Tem um rio aqui perto- conta Glenn- vi no mapa. Posso ir até lá.

—Ótimo, vou com você- digo pois estou louca para sair um pouco.

—Enquanto as mocinhas vão em busca de água eu vou caçar- diz Daryl e sorrio. Ele nunca perde uma chance de caçar. Observo ele se afastar e Rick segui-lo de perto.

Maggie  e T-Dog ficam para a proteção de Hershel, Lori e Beth enquanto eu e Glenn vamos em busca de água. O rio não está muito longe, fica na mesma direção que o caipira foi, mas não nos encontramos.

—Isso é tão frustrante- confesso de repente, enquanto Glenn enche as garrafas.

—Eu sei.- ele solta um suspiro- Parece que nunca vai parar. Quando começa a dar certo desanda.

—Pelo menos estamos juntos- digo me abaixando á margem do rio e lavando meu rosto e deixando que a água molhe um pouco meus cabelos- E você encontrou Maggie. Estou orgulhosa, encontrou uma mulher que vale a pena.

Ele ri e concorda com a cabeça. Quando voltamos  Rick e Daryl já estão de volta, então franzo a testa confusa. Primeiramente porque estão sem nenhuma caça e depois porque voltaram muito rápido.

—Algum problema? –pergunto colocando algumas garrafas de água em cima do capo de carr mais próximo.

—Acho que na verdade é solução, Natasha- diz Rick e olho para ele ainda mais confusa.

—Encontramos uma prisão bem próxima daqui, e acho que é um bom lugar para nos estabelecermos. - diz e eu começo a entender sua ideia. O que mantinha gente lá dentro pode manter os zumbis aqui fora. Bom.

Depois de transferirmos um pouco de gasolina para o carro de Rick seguimos Daryl até a tal prisão. Beth vem no carro comigo dessa vez, e gosto de sua presença. Tudo nela é esperança e em tempos como esse isso é raro.

—Você está bem?- me pergunta no meio de um assunto qualquer e fico confusa.

—Claro, porque a pergunta? Digo, de repente assim.

— Você e Daryl... Não sei como estão, só isso. Ele parece meio distante.

Solto uma gargalhada ao entender que ela está preocupada com a possibilidade de eu estar com o coração partido ou algo assim.

—Daryl fica distante na maior parte do tempo- digo com um dar de ombros.- Mas a pequena parte em que não fica tão fora de alcance praticamente vale a pena.

Ela sorri como se entendesse algo que eu ainda não entendi e muda de assunto.

Verdade seja dita, a tal prisão me surpreende. As cercas estão intactas , mas os pátios estão lotados de walkers  e sei que vai dar o maior trabalho limpar isso. Nos reunimos próximos a cerca e discutimos os planos. Conto mentalmente o máximo deles que consigo.

Decidimos por ter que fechar o portão de um dos pátios e ocupar o outro. Rick  vai arriscar a própria pele para fechar o portão, e sei que quer fazer ele mesmo porque assumiu a responsabilidade de nos manter vivos para si.

—Natasha e Daryl cobrem por aquela torre- diz entregando uma Ak para mim e outra para  Daryl. – Maggie e Glenn pegam pelo outro lado. O resto me da cobertura pelas cercas, do chão mesmo.

Observo Carol e T-Dog atraírem alguns walkers para a cerca enquanto me encaminho para a torre, sendo seguida de perto por Daryl. Abro a porta e ele acaba com o zumbi que estava la dentro com uma flecha. Subimos em silencio e nos posicionamos. Observo ele colocar a besta nas costas e posicionar a arma.

—É tão estranho ver você deixando a besta de lado- comento e começo a mirar.

—É tão estranho ver você deixando as espadinhas de lado- devolve.

—Saís- corrijo enquanto observo Rick finalmente entrar.  Miro com cuidado e cuido para que nenhum chega a uma distancia muito perigosa. Ele corre rapidamente em direção ao portão e abro caminho para ele.

Com um susto vejo Carol quase acertar um tiro em Rick, e ouço Daryl praguejar irritado. Ele usa toda sua mira de caçador e não erra um tiro se quer. Quando o portão finalmente é fechado deixo um suspiro de alivio sair, e abro caminho para que Rick chegue até a torre de dentro. A partir dai limpar é fácil, e no final só temos montes de corpos espalhados pelo chão. Lanço um sorriso vitorioso ao caipira e desço as escadas com pressa.

Infelizmente temos que limpar o pátio. A retirada dos corpos é sem duvida a pior parte, o cheiro horrível e pedaços caindo. Faço caretas constantemente e sinto a diversão de Daryl quanto a isso.

—Que frescura- diz quando faço mais uma careta.

—Frescura é dar chilique por quebrar a unha. Isso é nojo- respondo fazendo força para carregar o corpo com a ajuda dele.

—Dá no mesmo- responde balançando a cabeça.

—Tanto faz, se tem que ser feito, lá vamos nós.

Hershel está totalmente feliz, diz que o solo é bom e que dá para cultivar nele, além disso tem uma espécie de riacho bem a nossa porta. Estamos encantados com o espaço que temos ali, e andamos pelo espaço garantindo que as cercas estão bem fechadas, que não há falhas.  Daryl avisa que vai dar uma olhada na floresta e o acompanho.

Encontramos dois esquilos, descobrimos  que a mata é boa para caça e que o rio não fica muito longe. Ficamos em silencio, como em toda caçada. Distraída por um galho que ia bater em meu rosto paro de olhar para o chão e tropeço em uma raiz. Daryl e seus reflexos maravilhosos me impedem de cair no chão, me firmando pela cintura com um dos braços fortes.

—Que pegada em caçador- brinco divertida. Seus olhos escurecem e me dou conta que brinquei com fogo. Estamos muito próximos,  e eu não vou me afastar. Observo enquanto o auto controle dele vai se esvaindo conforme o encaro e desvio os olhos para seus lábios. Em um rompante ele se inclina para mim e toma meus lábios.

Sorrio entre o beijo, vitoriosa. Ele, que vem evitando encostar em mim o máximo que pode, e que sempre que estava quase me beijando se afastava perdeu o controle. Me puxa para mais perto, apertando minha cintura e arranho seu pescoço. Ele nos gira e me prensa contra uma arvore qualquer.

 Somos interrompidos por um zumbi qualquer que se aproxima, e ele se afasta de mim de uma vez. Mira com a besta e atinge o zumbia. Solto um sorriso, mas não comento nada sobre o beijo. Ele me encara intensamente e sinto meu rosto corar. Ele sorri com isso, o que só me faz ficar mais vermelha.

—Adoro quando fica assim- diz se aproximando de mim, para minha total surpresa. Não me abraça, como eu gostaria que fizesse, mas fica bem próximo.- Fica uma gracinha toda vermelhinha.

—Idiota- rosno e ele ri.

O caminho de volta a prisão é silencioso, mas dessa vez não é um silencio tenso como foi outras vezes. Preparamos os esquilos para a janta  e sentamos todos em volta da fogueira. Como de costume, comemos uma porção menor, voluntariamente, de modo que Lori se alimente melhor. Ela fica constrangida e tanta negar, mas digo que não é só por ela, mas pelo bebê.

Vejo pela visão periférica que Daryl ainda está em cima daquele do carro, observando. Aposto que o idiota ainda nem desceu para comer. Depois de trocar umas palavras com Maggie e Glenn vou até onde o caipira está. Só quando já estou na metade do caminho me dou conta que Carol está lá conversando com ele, enquanto ele come. Ela provavelmente levou algo para ele comer, sempre faz essas coisas com todos nós. Continuo meu caminho e sem querer acabo por ouvir a conversa dos dois. Observo que ele está fazendo massagem no ombro dela e isso faz com que eu pare com a testa franzida.

—Podemos transar se quiser-diz Carol do nada, com uma voz divertida, e ele se limita a rir balançando a cabeça. Não diz nem sim nem não.

—Melhor descermos- avisa e começa a descer do carro, se virando para ajuda-la a fazer o mesmo.

Com uma raiva que nunca imaginei sentir antes, ando de costas de volta para a fogueira. Sinto minhas mãos tremerem de ódio e aperto os lábios para evitar que um xingamento vaze por eles. O filho da mãe me beija agora a pouco na floresta e agora... ARGH. Um bufo escapa antes que eu consiga conter. Comigo tem toda a coisa de idade, mas com a Carol não existe nada que os impeça. M

Me sinto magoada e irada ao mesmo tempo. Quero chutar ou esmurrar alguma coisa, mas me limito a sentar ao lado de Glenn, cerrando os punhos. Ele me lança um olhar questionador, mas balanço a cabeça em negação. Ele entende que estou com raiva demais para dizer qualquer coisa e se limita a prestar atenção na musica de Beth e Maggie, as vezes me lançando um olhar preocupado.

Rick volta de sua ronda sem fim pela cerca. Sei que ele estava observando o prédio. Tambem fiz isso quando estava mais calma. A estrutura é boa e não aparenta ter cedido. Não tem nada quebrado, nem fissura nas paredes.

—Acho que podemos tomar a prisão- diz de pé, passando os olhos por todos nós. –Podemos limpar pouco a pouco. Começaremos amanhã pelo próximo pátio e veremos como estão as coisas lá dentro. Acho que podemos ter bastante recursos lá dentro, na enfermaria e cantina. Não parece ter sido esvaziado e talvez não tenham consumido muito antes de cair.

Concordo com a cabeça e vejo o resto concordar relutante.

—Eu, maggie, Glenn, Natasha e Daryl podemos limpar as coisas. Vamos em formação e com armas silenciosas para não atrair mais deles.

—Pode dar certo- digo por fim.- É só ter cuidado. Fechamos o portão do próximo pátio e teremos que lidar com poucos.

—Certo.

Daryl se move de modo que sente ao meu lado, mas me recuso a olha-lo O fato de estar perto só faz com que a raiva me suba ainda mais, o sangue fervendo. Aperto com mais força os lábios, mordendo até sair sangue.

—Está bem?- pergunta e   me viro para ele, os olhos semicerrados de ódio.

—Melhor impossível.- minha voz sai seca e sei que é a raiva.

—Natasha.

—que é?- sai como um rosnado. Só quero que ele se afaste.

—O que foi?- pergunta e quase acredito que esteja preocupado.

—Nada que seja da sua conta, Dixon- digo e me levando indo para um ponto afastado qualquer.

Preparo-me para dormir, mas a raiva não deixa. Rolo sem parar, os olhos fechados. Tento controlar a respiração e me acalmar, mas parece que falta algo. Me dou conta, ainda mais irada, que o que falta é o caipira idiota e seus olhos azuis.

Em algum momento o cansaço vence a raiva e entro na inconsciência.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram ? Odiaram? Por favor deixem suas opiniões, como bem sabem o teclado não morde.
Qualquer coisa me avisem, beijos até o próximo, adoro vocês.



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