POV Natasha.

Acordo com beijos no pescoço. Sorrio sem abrir os olhos e me viro abraçando Daryl. Casa, estou em casa. Ele encontra meus lábios e retribuo instantaneamente. Abro os olhos lentamente para me perder nos azuis dele. Como eu amo esse homem...

Levantamos juntos, e seguimos para a casa de Rick. Melaine está ali também. Discutimos mais algumas coisas e logo estamos na estrada. Daryl, eu Mel e Jesus ficamos no carro da frente, Glenn, Rick e Tyresee vão no outro.

Seguimos em silencio por um bom tempo, mas Mel não sabe muito como é ficar calada e logo fala sem parar. Divirto-me com as caretas de Jesus, que não aguenta mais que ela fale, ao mesmo tempo que noto certo encanto por parte do mesmo.

A viagem é menor do que eu esperava e logo estamos em frente a muros. O lugar é grande e protegido. Espertos.

Jesus desce do carro e conversa com um dos guardas. Esperamos por um tempo, e finalmente entramos. Algumas pessoas ficam atentas a nós e nos acompanham até o que parece ter sido um teatro.

—Acho que esqueci de mencionar- murmura Jesus parando todos nós com um movimento frenético- O cara gosta de ser rei.

Ninguém tem tempo de raciocinar o que isso quer dizer antes que tenhamos que entrar. Daryl se aproxima e segura minha mão, o que de uma forma engraçada me dá certa força.

Acho que eu esperava encontrar de tudo, de tudo mesmo, mas não um tigre. Paro onde de andar bruscamente, visivelmente chocada enquanto a fera rugi em alto e bom som. A reação dos outros é mais ou menos parecida e em questão de segundos todos estão com uma arma e mãos.

 Jesus pede que nos acalmemos e se dirige ao cara sentado como Sua majestade. Não consigo evitar um rolar de olhos.

—Bem vindos ao Reino, eu sou o Rei Ezequiel e estou disposto a ouvi-los- não posso negar que o cara tem presença, mas também não posso mentir e dizer que minha atenção fica nele, quando na verdade ela fica no tal tigre.

 Fico surpresa ao descobrir que Morgan está aqui, e em determinado momento descobrimos que Carol está em uma casa próxima. Fico preocupada, sei que ela estava meio perturbada antes e não sei que está em surto...Nunca se sabe o que está acontecendo com o outro.

A conversa continua, mas me mantenho calada. Por diversos motivos, incluindo o fato de que acho esse negocio de rei uma babaquice. Além disso eu sinto um não se aproximando. O cara tem uma comunidade de peso e um acordo com os salvadores, então acho que não está disposto a arriscar. Entendo que não esteja.

—Você está muito calada- acusa Daryl com um olhar preocupado. Sorrio de leve e balanço a cabeça em negativo.

—Só estou guardando algumas coisas. Se eu for falar alguma coisa, não acho que o rei vá gostar muito – digo fazendo sinal de aspas com os dedos ao dizer a palavra “rei”.

Ele ri de canto e beija minha testa.

Parece uma eternidade o pequeno passeio pela comunidade, e só me serve para ver o quão evoluídos eles são.  Depois de um tempo, o qual o rei pediu para pensar, finalmente recebemos nossa resposta. Mel fica razoavelmente indignada e Jesus a acalma com palavras baixas e puxa-a para longe do rei.

Rick aceita a resposta melhor do que eu poderia imaginar.

—Você parece ter algo a dizer-diz o tal Ezekiel e eu arqueio uma sobrancelha.

—Mesmo?-pergunto com certo deboche e ele concorda, sério e centrado.

—Contaram sua incrível historia sobre ter sido prisioneira do Negan, mas você não se pronunciou em nenhum momento.

—Nem tenho porque faze-lo- resmungo e ele parece surpreso- Eles disseram o que interessava: fui pega e fugi. Negan é um bosta e se acha dono do mundo, inclusive do seu maravilhoso Reino. E enquanto você fica aqui brincando de castelo ele está sugando diversas comunidades, inclusive a sua e quando você menos esperar vai estar perdendo tudo para ele. Mais e mais, é isso o que ele quer e vai sempre querer. Espero que esteja pronto para lhe dar tudo o que tem.

Não espero uma resposta, simplesmente viro as costas e sigo em direção a saída. Ninguém diz nada, mas vejo em Mel um olhar de aprovação, assim como um razoavelmente chocado estampado nos olhos de Jesus. Sinto Daryl me seguindo de perto.

(...)

Eu queria ter ido ver Carol, mas acabamos por decidir ir até Hilltop, enquanto Rick e os outros voltavam para Alexandria. O peso da guerra chegava a todos nós, então tínhamos que nos organizar.

—Eu soube que você era meio surtada no momento em que te vi pela primeira vez, loirinha, mas jogar as verdades na cara do Ezekiel daquele jeito foi loucura- diz Jesus do banco de trás. Noto que Daryl aperta o volante com força e sorrio diante do pequeno gesto de ciúme contido.

—Já eu achei genial- resmunga Mel- O cara precisava de um choque de realidade e a Nat deu um para ele. De um jeito engraçado ela sempre sabe o que as pessoas precisam para ser convencidas. Foi assim com o meu irmão, e pode não parecer mas acabou de ser com o outro cara também.

Sorrio de lado, pensando no fato de que na verdade eu nunca faço ideia de nada, só sigo meus instintos mesmo.

—Falando em líderes, vocês acham mesmo que Gregory vai aceitar alguma coisa?-pergunta Daryl sem desviar os olhos da estrada. Balanço a cabeça em negativa.

—Não.- respondo com sinceridade.

—Acho que posso convence-lo.

—Acho que pode assumir seu lugar de líder e parar de frescura- resmungo e ele me olha atordoado- Você sabe que eu estou certa e que Gregory é um merda.

Paul dá de ombros, mas sei que ficou pensativo.

(...)

POV Jesus.

Eu adoraria dizer que Natasha está errada a respeito do Gregory, mas estaria mentindo e muito.  Ele não vai ter o mínimo interesse em entrar em uma guerra, principalmente sendo o covarde que é. Vou tentar convence-lo, mas caso isso não seja uma opção talvez eu tenha que assumir certas responsabilidades.

Olho para fora, a paisagem deprimente que é o mundo agora, e deixo meus pensamentos viajarem. A guerra está em nossa porta e não temos tempo. Droga, não temos tempo nenhum. E para completar a grande bagunça que existe nessa merda, essa tal Melaine me aparece. Totalmente feliz, risonha e previsível. Encantadora e irritante.  Quero esgana-la e quero protege-la, tudo ao mesmo tempo. Xingo baixo. Droga de vida, droga de apocalipse, droga de Negan.

(...)

POV Natasha.

Como o esperado e o previsível, a resposta de Gregory é não. Mas só a dele. O resto do povo quer lutar, quer se ver livre da tirania e do abuso. É algo intenso de se ver, as pessoas lutando por si mesmo e por quem amam, lutando pela liberdade e pela vida.

O velho fica puto da vida e Daryl fica preocupado com a possibilidade de ele fazer algo que nos denuncie ao Negan. Eu não acho que o covarde tenha capacidade para isso, mas é bom tomar cuidado.

Jesus arruma um lugar para passarmos a noite e fica-se combinado que  voltaríamos para casa no outro dia, já com uma parte armada de Hilltop por precaução. Não sabemos os planos dos Salvadores, se vão atacar ou quando, então estamos nos preparando da melhor forma possível. Ficamos atentos ao rádio que eu trouxa comigo.

(...)

—Senti tanto a sua falta- digo a Daryl quando finalmente estamos sozinhos- Falta do seu cheiro, do seu corpo, de você.

Ele se afasta um pouco de mim e me encara fixamente com aqueles olhos azuis intensos. Fico sem ar e me pergunto como pode ser possível amar tanto alguém. Ergo-me na ponta dos pés e o beijo, e sou prontamente retribuída. As coisas ficam mais intensas e as roupas vão ficando pelo chão do trailer que arranjaram para nós dois.

—Amo você- ele diz entre beijos no meu pescoço. Amoleço em seus braços- Odeio você. Tudo ao mesmo tempo.

—Odeia é? Por quê?

—Odeio por me fazer precisar tanto de você, por ser tão desmiolada e se colocar em perigo dessa maneira. Odeio por ser tão malditamente dona do próprio nariz e por fazer oq eu dá na telha. Odeio por quase me matar do coração uma vez atrás da outra.

Sorrio, cada vez mais desfocada tanto por suas palavras ( que são surpreendentes se levarmos em consideração que Daryl Dixon não costuma usar frases tão longas) quanto pelos beijos deliciosos que ele distribui pela pele do meu pescoço e clavícula.

Existe carinho, mas é muito mais saudade e necessidade que qualquer outra coisa. É amor também. Arranho suas costas e me perco em seu corpo, na mesma proporção que ele o faz comigo.