Stronger feeling escrita por Iza


Capítulo 28
Capitulo 28


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem com vocês?
Quero agradecer a Isabella pela recomendação, que me deixou super super feliz ( sim, quando eu vi a notificação sai dando pulinhos.) e a Jessica Dixon e Uma leitora pelos cometários.
Espero que gostem, boa leitura.



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POV Daryl

 Acordo xingando a mim mesmo por minha imprudência.  O sol começa a nascer a leste e a claridade aos poucos começa a adentrar a floresta. Apesar da raiva por ter me permitido adormecer quando eu claramente precisava ter ficado acordado protegendo minha mulher, me permito abaixar o olhar para a cascata loira em meu peito. Novamente sou pego desprevenido pelo quanto parece um anjo quando está adormecida.

Sei que a luz vai acorda-la a qualquer momento, e aproveito o raro momento de quietude, pois sendo sincero, nem mesmo dormindo ela fica muito quieta. Geralmente rola a noite toda, sempre me puxando ou empurrando de maneira que fica grudada em mim, mas na posição que quiser. Nem mesmo isso me incomoda, e na noite anterior experimentei a curiosa falta desses movimentos inconscientes.

  Deixo meus ouvidos atentos para algum movimento de walkes, mas aparentemente está tudo tranquilo. Alguns minutos mais tarde a respiração de minha loira muda e ela acorda, erguendo os olhos verdes para mim e então sorrindo.

—Eu tinha que ter certeza que você estava aqui- diz se apoiando em meu peito e erguendo o rosto para me encarar. Sorrio e afasto seus cabelos para logo depois beija-la.

O momento tranquilo acaba rapidamente com alguns grunhidos se aproximando, e a partir desse momento voltamos para a realidade de um apocalipse. Prometo a mim mesmo que não vou colocar nós dois em risco dessa maneira novamente.

Ela me conta do combinado com Glenn, então começamos  a nos mover em direção ao norte. Me sinto culpado por ela ter tido que escolher entre me encontrar e seguir em frente com o melhor amigo, ao mesmo tempo em que meu peito se aquece por saber que ela escolheu me encontrar.

Em espaço aberto, sem um teto seguro, passamos cada vez menos tempo juntos, e não só eu, mas ela também, começamos a ficar frustrados. Começamos a procurar maneiras de nos proteger e então estamos em uma espécie de acampamento sem fim. Com a loira por perto o peso da perda diminui, e me sinto confortável em meu habitat natural, como a mesmo adora dizer constantemente.

(...)

—Ei, caçador- ela me para com um movimento suave e aponta com a cabeça um carro a distancia.

Bem sabemos que ele não vai andar, mas não custa nada tentar. Entro no carro e tento a partida enquanto ela fica de guarda. Depois de umas três tentativas frustradas, me levanto e juntos começamos a juntar o que podemos aproveitar para um novo acampamento.

Uma horda se aproxima, e sem tempo para correr puxo-a para o porta malas. O espaço é mínimo e as pernas dela ficam prensadas em meu corpo.  O aperto e o contato me lembram o quanto eu preciso de seu toque, o quanto eu quero, e tenho que me controlar para não demonstrar isso.  Não que ela controle. Me provoca porque quer e tudo o que faço é rosnar baixo.

—Estamos presos aqui mesmo- sussurra em meu ouvido com uma voz divertida- Vou me divertir.

Quando a horda finalmente some, saímos do carro. Ambos alongamos o corpo e depois nos dirigimos de volta a floresta.  

Deixo uma Natasha emburrada arrumando o acampamento e vou caçar. Sei muito bem que ela queria trocar de lugar e me deixar arrumando o acampamento mas não lhe dou chance dessa vez.  

Tudo o que consigo encontrar é uma cobra, mas tudo bem. Volto para o acampamento, limpo a cobra e faço uma fogueira.

O clima ultimamente pesa com rapidez, e sei que esse é um daqueles momentos. Ela está inquieta, e sei que em maior parte é porque não encontramos ninguém, e ela odeia isso.

—Andei pensando, e acho que podemos procurar pistas de mais alguém além do Glenn.- diz entre uma mordida e outra.

—Não.- digo simplesmente, me recuso a criar falsas esperanças e me frustrar de novo.

—Ah, Daryl, você sabe que temos chances.- diz se levantando e vindo para perto de mim.

—Temos chances coisa nenhuma. A prisão caiu, todo mundo foi cercado e atacado. Já foi sorte demais eu te encontrar, não vou sair por ai em uma busca ridícula- digo me exaltando  e ela franze a testa para mim.

—Então planeja passar o resto de seus dias sentado no meio do mato comendo cobra?- pergunta apertando os olhos para mim. Nem preciso conhece-la o tanto que conheço para saber que ela começa a se irritar- Ah, você nem sequer acredita que vamos encontrar o Glenn.

—Não- admito por fim- E sim, me parece um ótimo plano só ficar aqui.

—Sei bem o que está fazendo, Dixon.- rosna na minha cara- tentando se fechar para mim, mas tarde demais.

Ela se afasta e massageia as têmporas.

—Me irritou tanto que agora preciso de uma bebida.

—E vai conseguir uma no shopping?- pergunto debochado. Ela rola os olhos.

—Não, vou vasculhar um clube abandonado que vimos a pouco tempo mesmo.- resmunga e salta o nosso precário sistema de alarme.

—Está sendo ridícula.

—Você vem ou não?-pergunta parada do outro lado da linha.

—Não.- respondo firme. Ela me encara profundamente e arqueia a sobrancelha.

—Então fique sozinho ai curtindo essa cobra- e se vira saindo de meu campo de visão.

Espero que ela volte por um tempo, mas pelo amor de Deus, é Natasha Wayland, quando ela põe algo na cabeça ninguém tira.  Inferno.

Xingo alto varias vezes, chuto terra para apagar a fogueira e vou atrás da maluca. Irritado demais me limito a ficar próximo a ela, sem abrir espaço para conversa.

Entramos no clube de mauricinhos, que só serve para me lembrar de onde eu vim e do quanto somos diferentes. Caminhamos por entre corpos em roupas finas, e acabo pegando uma mochila de couro que tem alguma grana dentro. Não que isso seja útil atualmente.

Perco ela de vista novamente, mas ando tranquilamente entre as prateleiras cheias de coisas caras e dos corpos caídos, os ouvidos atentos. Ouço barulhos suspeitos e acelero os passos nessa direção, para encontrar ela quebrando uma garrafa de vinho na cabeça de um walker.

—Mas que saco- rosna para o morto- Era a ultima.

Seguro uma risada e a puxo pelo braço para terminarmos de explorar o lugar. O bar está uma bela bosta, e o que não está quebrado está vazio.  A expressão dela deixa bem claro a frustração.

Ela encontra um negocio de pêssego e só consigo rolar os olhos.

—É boa?- me pergunta se sentando em um banco e abrindo o lacre.

—É horrível e só está lacrada por isso- responde me encostando na parede e a encarando- nunca bebeu?

—Esse negócio aqui? Não.  Nunca me chamou atenção o suficiente para eu gastar meu dinheiro com essa porcaria- ela fecha os olhos por um instante- Como eu queria uma tequila .

Sorrio de lado ao observar sua expressão sonhadora, e  caminho até ela. Se minha mulher quer beber, então ela vai beber de verdade. Não irrito alguém para tomar uma porcaria dessa. Arranco a garrafa de suas mãos e ela rosna comigo.

—Mas que diabos?- pergunta e eu simplesmente me viro jogando a garrafa contra a parede- Era a ultima maldita bebida, Daryl Dixon.

—Foda-se- digo dando de ombros. Seus olhar passa a pegar fogo de raiva e sorrio descaradamente- Se quer beber, vou te levar para beber de verdade.

—Você sabia de um lugar para beber e não me disse antes? Estupido.

—Chata.

O caminho para o chalé é tranquilo. Sei que ela vai se perguntar sobre essa porra de lugar e porque não viemos para cá antes, mas simplesmente vou entrando. Ela ao meu lado, atenta e com as saís em punho.  Nenhum walker.

Vou até a dispensa e pego a água ardente.

—Como soube desse lugar?- pergunta pegando um dos potes  e me olhando com a sobrancelha arqueada.

—Lembra aquela vez que sai com a Michonne para reconhecimento de terreno? Viemos ao norte, e encontramos esse lugar. Não passamos daqui.

Ela abre um dos potes e cheira.

—Uau, isso é o que? Álcool puro?

—Algo próximo disso- respondo pegando um copo e servindo para ela- É agua ardente.

Depois de pensar por um instante, ela vira. Sua careta me diverte tanto que eu quase caio na gargalhada.

—Porra, isso queima- diz meio que tossindo.

—É dai que vem o nome: Agua ardente. Vamos lá, você é loira, mas o nome é bem obvio.- digo brincando.

—Idiota- ela dá um tapinha em meu ombro e depois serve água ardente em outro copo e estende para mim. Nego com a cabeça- Não vai beber?

—Não. Alguém tem que ficar sóbrio.

—Bobagem.

Inicialmente eu resisto, decidido a não ser irresponsável de novo, mas as lembranças que esse chalé ridículo me provoca me faz sentir pesado e inferior. Acabo bebendo.

—Vamos fazer um jogo- diz se sentando no chão de frente a uma mesinha que eu conseguia imaginar meu pai colocando os pés e garrafas vazias.

—Que jogo?- pergunto ainda com a mente perdida em lembranças ruins e cheias de merda.

— O pessoal da faculdade sempre fazia. Eu digo alguma coisa e se você já fez você bebe, e o mesmo vale ao contrario.

Dou de ombros e aceito.

—Eu nunca usei uma besta- olho para ela com uma expressão que diz “Sério?” e ela me sorri divertida. Viro o copo.

— Eu nunca usei saís- digo só de troco, e ela vira o copo com os olhos apertados em minha direção.

—Eu nunca tive um irmão- rolo os olhos e ela ri. Viro o copo.

—Você meio que mentiu, que eu bem sei que o coreano maldito é quase seu irmão-digo apertando os olhos em sua direção.- Eu nunca participei de um concurso de dança.

—Anem  Daryl- ela meio que rosna e então vira- Como você sabia?

—Você tem cara de quem participa dessas coisas.- digo dando de ombros.

—Eu nunca fumei.- diz me encarando. Eu viro.- e ainda bem que você parou com essa porcaria.

—Eu nunca fui em um karaokê.

—Te odeio- diz e então vira.

—Nunca fui para a prisão.- Nenhum dos dois bebe. Ficamos em silencio um encarando o outro enquanto eu entendo a imagem que ela tem sobre mim.

—É essa a imagem que tem de mim?- pergunto e sei que meu tom de voz está subindo um pouco. Me levanto irado e saio de perto dela.

—Ei eu não quis dizer isso- diz se aproximando de mim de novo.

—Quis sim. Acha que eu sou um maldito marginal e está basicamente certa sobre isso- o peso das lembranças me força cada vez mais para baixo. Meu pai. Esse lugar. Surras. Abuso. Merle. Drogas. – Sabe qual é a maldita verdade? Eu não mereço você.  Sou um maldito traste e está certa sobre isso. Sou um maldito covarde, um inútil.

—Não é assim Daryl...

Ouço barulhos secos do lado de fora e olho pela janela. Um walker. Saio pela porta com minha besta e ouço seus passos apressados atrás de mim. Me viro para ela no ultimo instante e entrego a besta.

—Você disse que nunca usou uma besta, aqui está sua chance. Vamos lá.- digo e sei que pareço um louco.- Atire Natasha.

A agarro por trás e a faço segurar a besta. Ela rosna comigo. Uma flecha é disparada mas não acerta o walker. Outra também vai parar na parede. Ela perde a paciência e se desvencilha de mim, para logo depois lançar uma faca de caça.

Com o walker acabado tudo o que escuto é sua respiração. O peso aumenta mais e mais. A morte de Hershel, o sumiço de todos, a queda da prisão. As condições que agora minha mulher tem que viver, o desconforto e medo constante.

Fico aos arquejos de costas para ela, olhando o nada. Espero que ela grite comigo por ter sido um imbecil, mas me surpreendo por seus braços me cercando enquanto ela me abraça por trás.

—Está tudo bem, Daryl- ela sussurra com a cabeça apoiada contra minhas costas- Tudo bem sentir medo.

—Morreram- digo por fim, minha voz sai apertada e não sei o que fazer.- Morreram todos e eu não fiz nada. Acabaram com nosso lar. Acabaram com tudo. Cortaram a cabeça de Hershel e eu não fiz nada, só assisti.

—Você ainda me tem. E não sabemos se todos morreram. Pare de ter medo da esperança.

Fecho os olhos por um instante, sentindo algumas lagrimas silenciosas vazando. Sinto ela me rodear e então me abraçar de novo. Aperto ela em meus braços e abaixo o rosto em direção a seus cabelos. Seu cheiro familiar me acalma, e admito para mim mesmo que sinto medo. Medo de ter esperança e perder tudo de novo. Medo de abrir espeço e perde-la novamente. Medo de voltar a ser o que eu era antes.

—Eu também tenho medo, Daryl- confessa em um sussurro contra meu peito- Você me ajuda a supera-los. Assim como todas as coisas boas que me aconteceram.

Penso no fato de que não aconteceram, coisas boas comigo. E então penso no fato de que aconteceram sim, depois do apocalipse.

É hora de parar de esconder atrás do medo. É hora de procurar o resto de nós.

(...)

POV Natasha

Já escureceu. Estamos os dois sentados na varanda desse chalé que está caindo aos pedaços, um de frente para o outro. Ele está mais calmo, mas suas palavras ainda pesam sobre mim. Sua dor e seu medo também. Meu próprio medo. Ignoro tudo isso.

—Me desculpe- ele finalmente diz, e parece envergonhado- pelo descontrole e tudo mais.

—Tudo bem- digo encarando-o – Você precisava colocar isso para fora, ficar guardando sufoca. E você é um péssimo bêbado.

Ele torce os lábios pensativo.

—Não sei como não guardar.- confessa e depois desvia o olhar.- Não vou beber mais.

—Que bom- respondo  e encosto a cabeça no pilar.- Sabe, eu não estava realmente precisando beber, mas sim de um objetivo. Acho que podemos procurar um objetivo melhor agora.

—Já tenho um.- ele diz sério. Olho para ele questionadora.- Vamos encontrar os outros.

—Que bom- digo por fim. Fecho os olhos por um momento, mas os abro em seguida, sentindo sua tensão. - Qual é o problema?

—Esse lugar.- é tudo o que ele diz e isso me irrita. Acho que ele percebe porque logo em seguida continua- Me lembra muito onde eu morava quando era criança, e de como eu era antes.

—E como você era antes?-pergunto ansiosa por saber um pouco mais desse tormento que vejo em seus olhos agora, e do mistério que vejo desde que o conheci.

—Ruim. Eu não me importava com ninguém. Inferno, eu não me importava nem comigo mesmo, Natasha. Vivia entre um bico e outro, e bebia até cair.  Essa casa me lembra meu e seus cigarros, suas bebidas e, bem, algumas surras. – ele desvia o olhar constrangido.- Sei que já reparou em minhas costas antes.

—É claro que reparei- digo aguentando seu olhar.- Nunca perguntei antes porque já sabia que era um assunto delicado.

—Esse lugar representa tudo de ruim em mim.

—Acontece, Daryl, que você não é mais essa pessoa.- digo me arrastando até que nossos rostos estão realmente próximos- Me apaixonei pelo cara que conheci, todo fechado e caladão, que mesmo bruto ainda se preocupa com as pessoas. Que luta pelos seus e protege. Você não é mais aquele bêbado inútil, e te digo isso com toda a certeza do mundo porque eu não me apaixonaria por você se fosse. Eu posso aceitar que já foi, mas me recuso a deixar você pensar que só foi isso. Eu conheço você, esse novo e maravilhoso você, e sei que mesmo seu eu antigo tinha algo bom, mas só não tinha forças para lidar com isso. Amo você Daryl, e preciso que se lembre quem você é agora. Só quem você é agora importa.

Ele me olha com tanta intensidade que sinto como se ele pudesse ver minha alma. Com um puxão estamos trocando um beijo apaixonado e intenso. Cheio de sentimentos, de uma maneira diferente das outras.

—Amo você também- ele diz com tanta convicção que meu coração acelera. - Que tal você me lembrar quem eu sou nos dias que eu esquecer?

—Prefiro que você não se esqueça. Nunca.

—Vou fazer o meu melhor- ele diz com bastante certeza e  sei que fala sério.

Olho ao redor, o lugar realmente não é dos melhores. Encaro fixamente a bebida que até alguns instantes atrás eu estava bebericando e tenho uma ideia.

—Vamos queimar seu passado.- digo voltando a encara-lo que me olha surpreso.

—Eu adoraria.

—Estou falando sério. Tudo de ruim, todo aquele Daryl que você não gosta, é representado por essa casa, né?- pergunto, ele concorda com a cabeça.- Vamos queimar esse lugar e junto com ele o passado.

—É por isso que me apaixonei por você- ele diz tão tranquilamente que me faz rir. – Vamos precisar de mais bebida.

Nos levantamos juntos e pegamos todas as caixas infinitas de bebidas começando a espalhar por todos os lados, quebrando um pote e outro só pelo prazer de estar acabando com o lugar.

Do lado de fora ele pega um maço de dinheiro que eu nem sabia que estava com ele e acende com o isqueiro.

—Quer fazer as honras?-pergunta me oferecendo as chamas.

—Com prazer.- digo e pego o maço logo em seguida jogando na trilha de bebida.

Assistimos juntos o fogo se alastrar, e logo a casa é uma grande fogueira. Viro para o lado e encaro Daryl, que me encara de volta por um momento. Logo em seguida ele olha para as chamas e aponta o dedo do meio. Solto um sorriso e sigo seu exemplo.


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Notas finais do capítulo

E então?



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