Capítulo Único    

Era pouco mais de 22:00hrs quando Ciel foi para a cama, logo após um longo banho quente e uma xícara de leite com mel. O garoto estivera cansado, devido ao dia estressante e deveras traumatizante que tivera hoje, solucionou mais um caso de crianças desaparecidas, porém este tivera uma grande carga emocional, os acontecimentos do dia passavam em sua mente lentamente como se quisesse lembrar o fatídico dia de sua quase-morte, o sujeito até fizera questão de recriar o cenário e para o seu horror. Respirou fundo. Decidiu que iria esquecer de tudo pelo menos por hoje, estava fisicamente, emocional e psicologicamente exausto.  

Por fim retornou a realidade enquanto Sebastian abotoava os últimos botões de seu blusão, o em seguida deixou o garoto sentado e foi cuidar de outros afazeres. Ciel fazia questão de olhar minimamente para cada detalhe do impecável trabalho que Sebastian fazia, a maneira como ele dobrava perfeitamente suas roupas, de como manuseava delicadamente as louças. Nem parecia um demônio.  

[...] 

Quando retornou, trouxe com ele um castiçal e novas roupas de cama.    

Sebastian arrumava a cama de Ciel enquanto o mesmo olhava para ele com um olhar inseguro, a verdade é que ele sabia que precisava falar aquilo, porém tinha uma imagem a zelar, não podia agir como um mero garotinho medroso.   
   O mordomo havia notado o olhar do pequeno conde sobre si, então, intrigado resolveu perguntar: 
 

— Há algo que queira me dizer, bocchan?  -  falou com um mínimo sorriso estampado em seus lábios. Ciel desviou o olhar do demônio,  um pouco corado. -Vamos, estou aqui para atender a todos os seus pedidos!- Sebastian pressionou adorando ver o tom rubro que o rosto do garoto estava tomando. 
 

—S-sebastian...e-eu.. - Ele gaguejava erroneamente, e pensou se aquilo estaria soando ridículo demais pra si... Mas é claro que estava! Ciel Phantomhive era um garoto firme, e jamais gaguejaria diante de um mero servo. Franziu as sobrancelhas e olhou confiante para o Mordomo, que por pouco não soltou um riso. 

  "Quem diria bocchan... Mas afinal, ele é só uma criança mimada". Pensou,  ao menos poderia rir em seu pensamento.  
—Eu quero que fique aqui enquanto eu durmo! -o Garoto disse com sua voz oscilando, mas ainda prezando manter o tom firme. Sebastian sorriu, e em seguida ajoelhou-se diante do garoto. 
—Yes, my lord!  - disse calmamente enquanto retornava para a postura anterior.  
      O garoto deitou na cama enquanto o mordomo o cobria com um cobertor pesado e quentinho.  Sebastian sentou ao seu lado e apagou o castiçal que tinha em mãos e o depositou no pequeno criado mudo ao lado da cama de Ciel.  
    O quarto adquiriu uma iluminação fraca,  que era sustentada por uma vela que emitia uma chama fraca num ponto estratégico do quarto e pela pálida luz da lua cheia.

[...] 
              Ciel revirou-se na cama por alguns minutos, estava com dificuldades de pegar no sono, e tudo devido as cenas traumatizantes que vivenciou na casa de Kelvin, um maluco obcecado por ele, que fizera questão de recriar a cena do evento mais traumático da vida do pequeno conde por puro prazer, não iria nunca mais esquecer das crianças morrendo para alegrar a bel satisfação do maníaco. Nunca se vira tão perdido e em choque numa situação antes, mas aquela ele realmente temeu. Mas lá estava Sebastiam, disposto a defendê-lo de quem tentasse tocar em um fio de cabelo seu. 

 Ele conseguiu livrar-se de todos naquele dia. Mesmo que tenha incendiado a casa enquanto as crianças ainda estavam lá,  Ciel havia cumprido com êxito a missão que fora dada pela rainha, afinal, elas já tinham suas almas perdidas na escuridão, e já não tinham mais chances de serem salvas, então ele só deu um fim ao sofrimento delas. Diferente dele, elas mereciam o céu. 
 

Revirou-se bruscamente mais uma vez, chamando a atenção do mordomo, o corpo do garoto estava soado, sua pele estava fria e ele tremia, sentia medo.  
 

—S-sebastian...-chamou num fio de voz o mordomo. 
 

—Sim, jovem mestre? 
 

—Fique comigo... aqui, me garanta que mesmo se eu estiver dormindo você ficará ao meu lado até o amanhecer... Apenas por esta noite— ele dizia tais palavras sentindo seu rosto esquentar um pouco. Mas que fracote. 
  

Sebastian ficou surpreso, pois seu mestre nunca havia feito-lhe um pedido como este. Quando Ciel geralmente pedia para que ficasse só até o mesmo cair no sono. Ele soltou um pequeno riso. 
 

—Como quiser jovem mestre! - ele disse se levantando da cama. Tirou seu fraque, em seguida o colete cinza que usava por baixo,  o cinto da calça e por fim os sapatos. E os colocou perfeitamente dobrados ao lado do castiçal.  
 

—O-o que você está fazendo? - Ciel olhou confuso e totalmente corado para o mordomo que se despia parcialmente. 
 

—Estou apenas acatando suas ordens, bocchan!  - ele disse com um quê de inocência em sua voz,  como se aquela ideia insana fosse totalmente normal diante de um mestre. E deitou ao lado do garoto. 

—Droga Sebastian, o que significa isso!? - Ciel esbravejou, o tom de sua voz  soava totalmente constrangido.   
 

—Eu sei que era isso o que você queria desde o princípio! - sorriu acomodando-se melhor na cama que era mil vezes melhor e mais confortável do que a sua. Chegou mais perto do garoto o puxando para seus braços, o abraçado gentilmente.  
 

—Ei,  não chegue tão perto! -Ciel esbravejou enquanto tentava se desvencilhar inutilmente dos braços do mordomo. 
 

—Feche os olhos bocchan,  já está mais do que na hora do senhor estar dormindo! - provocou. 
 

—Me solte!  -Ciel protestava. 
 

—Prometo que não irei contar para Lady Elizabeth que você dormiu com um homem, oh bocchan,  sua reputação está indo por água á baixo, cada vez mais! -ele brincou. 
 

—Argh!  Cale-se! - Ciel disse constrangido.  -Além do mais é só por hoje! - Sentiu o sono bater a sua porta e inconscientemente aninhou-se mais ao lado do servo, fechando gradativamente seus olhos bicolores, sendo facilmente vencido pelo sono. O mordomo sorriu. Quando o menino adormeceu por fim, Sebastian sussurrou 
 

—Bocchan... eu estarei ao seu lado até o fim... Não tema!- Afastou as madeixas acinzentadas do rosto do menino e depositou um beijo em sua testa. Seria cauteloso até o fim do contrato, então estaria disposto a zelar de todos os modos pela doce alma do menino.