Transfusão escrita por Policromo
Notas iniciais do capítulo
Enfim retornei ao meu ninho. Estava sentindo tanta saudade desse meu papo com as palavras! Mas infelizmente fiquei um tempo sem vê-las pois fiquei com um bloqueio criativo terrível e enlouquecedor. Inclusive, quando escrevi essa fic, ainda não me sentia 100% revigorada, mas a vontade de escrever saltou do meu peito de uma forma tão lancinante que não pude evitar.
Enfim, boa leitura!
Ensinaram-me a não
encarar os Outros.
Por tal motivo,
eu vivia de cabeça baixa.
Escondendo-me.
Engolindo minha raiva.
Certo dia, olhei para
um daqueles homens.
Foi tolice a minha, eu sei.
Mas algo nele atraiu-me.
Talvez sua postura
envergada,
vazia,
sofrida.
Mirei aqueles intensos
e oblíquos olhos celestes.
Gélidos e tempestuosos,
tal como uma noite
de tormenta.
Ele notou meu olhar
e reverberou palavras ásperas.
Não consegui falar,
estava com muito medo.
Eu tremia.
E ele ria,
debochado.
Mas seus olhos estavam vazios.
Ele chamou dois homens
que estavam a alguns passos atrás.
O medo escalou minha mente
e comecei a correr.
Tudo era
um borrão.
Eu corria
sem direção.
Gritos ecoavam
às minhas costas.
Minhas pernas doíam.
Era quase impossível respirar.
O som
dos meus
batimentos
estava
frenético.
Era assustador.
Terrível.
Atroz.
Caí.
Sem fôlego,
apenas esta
telei-me
no chão
como uma
casca vazia.
Começaram a bater em mim.
As pancadas vinham fortes
e mortais.
Ferozes e cruéis e desumanas.
O sangue escorria de minhas feridas
len
ta
men
te.
Sentia o punho dos Outros.
Pessoas passaram por mim,
tenho certeza.
Olhares se prendiam
ao meu corpo mórbido
Mas tudo era um borrão
que passava direto pela cena.
Nenhum séquito alado,
nenhuma luz,
nenhuma salvação.
Apenas eu
e a dor de meu coração.
Sem caminho,
sou apenas matéria.
Sou um estorvo.
Os Outros afastam-se de mim.
Não sei quanto tempo passa,
só sei que o calor açoita minha pele.
Sou um nada.
Sou aquele que sofre.
Sou apenas eu
e a dor de um coração
esmagado
arrasado
e transformado em pó.
Todos fazem questão
de dizer que não existo.
Que sou fruto de um aborto,
de um mal prorrogado.
Eu não deveria existir.
Não deveria viver.
Mas não quero acreditar nisso.
O que há de errado
em ser como sou?
Quero ser alguém.
Quero ser eu.
Quero ser livre.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
No final das contas, o que há de mais em ser você mesmo? Escrevi essa poesia como uma forma de desabafo sobre todas essas injustiças que estão acontecendo. Sentimo-nos tolhidos num meio que devia nos fazer sentir confortáveis. Não temos voz. As minorias não têm voz. Para os Outros, nem seres humanos somos. E é por isso que desde sempre existem as formas de luta que servem para punir essa desigualdade. Enquanto tivermos uns aos outros, jamais estaremos sozinhos. Queremos a liberdade de sermos quem realmente somos.