Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 9
08; o Prófugo


Notas iniciais do capítulo

Saindo do forno.
Não pense que me esqueci do nosso guarda predileto!



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08; o Prófugo.

Dito Grasso. 19/02/0165

Uma menina atravessava a rua quando um fragmento passou na sua frente, centímetros de seu rosto, caindo no chão e quebrando ao meio com um estralo. Então mais pedaços caíram sobre sua cabeça e dos outros ao redor.

Olhou para o chão assustada e então, rapidamente, para cima. Quando o fez, mais telhas caíram e ela recuou aos berros quando viu a sombra passando de um telhado para outro. Logo toda a rua estava olhando para cima e mais sombras pulavam de um telhado ao outro.

*****

Nos telhados um homem corria, pulava de uma casa para outra com uma habilidade invejável, apoiou o pé na parede da chaminé e pulou para seu topo, de lá tomou impulso para atravessar o vão maior entre construções. Passando da chaminé para a outra construção viu, lá em baixo, cabeças olhando para cima.

Então caiu do outro lado, as telhas deslizaram sobre seus pés patinando em busca de equilíbrio enquanto deslizava para baixo. Ele podia ser o melhor atirador vivo, mas não era o melhor para corridas e fugas, ainda mais com seu joelho curado, mas ainda dolorido.

— Merda! — Tanoos havia se segurado em uma das ripas de madeira para sustentação das telhas como única forma de não cair lá em baixo, deu um impulso com os pés, se levantando e derrubando mais telhas, deu as costas ao povo e aos perseguidores, que agora estavam mais próximo ainda, voltou a correr.

Em seguida mais quatro guardas pularam de uma casa para a outra assim como Tanoos havia feito, mas um deles teve dificuldades em executar a tarefa e dependeu da ajuda de seus companheiros, o que comprou a Tanoos algum curto tempo.

Tanoos continuou correndo pelos telhados sem olhar para trás, fugindo da escolha que havia feito, e da mentira que tinha encontrado.

Então havia chegado em uma construção com um andar a mais, ele não parou de correr, seu treinamento lhe preparava para tais eventualidades, com passos mais rápidos e mais cuidadosos ele bateu os pés contra a parede lisa e subiu como um gato escalando uma árvore, as duas mãos seguraram a borda, ele fez força para subir, percebendo que a parede ainda estava sem reboco do outro lado, e que, na verdade, era um andar ainda em construção.

— Atirem! — Do outro lado os guardas sacaram as armas e se preparam para abater o alvo, devido a distância crescente entre eles, tal escolha era a única escolha.

Tanoos deu mais um impulso com os braços quando sentiu o impacto do disparo da arma não letal no seu tornozelo, a corrente elétrica se dissipou pelo seu pé até o meio da canela tornando-a inútil e rígida como uma bengala. Os nervos, veias, músculos, tudo estremeceu, sem contar a dor lancinante como uma guilhotina lhe decepando a perna.

Após terminar de escalar a parede, pisou com o pé bom no chão, quando percebeu que o chão em si não era um chão, mas então já tinha dado o outro passo com o pé paralisado. Chão, Tanoos, tijolos, madeiras… Tudo afundou. Inclinou o corpo para frente, os braços bateram contra a borda da parede, contra o “chão” que parecia feito de gesso fino coberto por uma lona esticada. Tanoos afundou engolido por aquela enorme lona, sentiu-se sem ar em um instante de desespero quando a lona se enrolou em seu corpo e a luz sumiu. O calor encheu seu peito como se em chamas, era pavor.

Toda a estrutura do chão pareceu se desfazer como se fossem placas encaixadas e ele caiu no breu da construção abaixo, atravessou uma placa de vidro, um tipo de cúpula ou algo assim deveria estar sendo construída, ele não soube dizer, foi engolido pelo som do vidro e gesso e madeira se quebrando enquanto o corpo em queda livre se preparava pelo pior, mas dois segundos não permitem grande preparo. Então bateu contra o chão, de lado, sentindo o ombro levar toda a pancada.

Sem tempo para berros ou lamentos, Tanoos rolou se desvencilhando da lona, lançou um olhar para cima enquanto a poeira baixava, rolou sobre a lona até o chão aonde estava o vidro estilhaçado.

Recolheu do chão três cacos de vidro com pontas afiadas. Percebeu que, além de paralisado, agora ele tinha quebrado o pé esquerdo que felizmente não doía tanto devido a paralisia que interrompia o sistema nervoso.

Sabia de onde o ataque viria, e sabia a posição do sol naquela hora, era só olhar para onde a sombra se formava no topo do buraco que ele mesmo havia feito com a queda. Se virou de costas, e com os pedaços de vidro nas mãos ele aguardou as sombras dos seus oponentes se projetarem na parede inversa a que estava, assim saberia quando eles se aproximavam e quando atacar. Então lançou os cacos de vidro para cima contando com a sorte que os alvos fossem continuar a avançar na ação mais estúpida possível, e que os cacos lhes cortassem as gargantas, ou ao menos os acertassem. Mas a verdade é que foi um tiro cego, não tinha alvo para mirar, apenas sombras indiciando que os alvos surgiriam ou não naquele local.

As sombras dos inimigos na parede inversa deram lugar, na parede onde Tanoos estava, às cabeças destes, que vinham verificar o ocorrido se pendurando pela parede que Tanoos havia escalado e no buraco, onde Tanoos havia despencado na esperança de encontrarem apenas o corpo dele. Tiveram a mais desagradável das surpresas.

Os cacos voando para cima, jogados com a perícia do melhor atirador de Estado Cinque, acertaram os alvos. O primeiro guarda teve o pulso cortado e derrubou a arma, o segundo foi acertado no ombro e caiu para trás segurando sua arma e o terceiro teve o pescoço perfurado (tal como planejado) e despencou para dentro da abertura.

— Henlook! — O quarto guarda berrou na beirada quando o corpo de um deles acertou o chão com uma pancada seca sem ter lonas, andaimes de madeira ou vidro para aparar o tombo.

Tão rápido o corpo bateu no chão, morto, Tanoos pegou suas armas, girou o revólver nos dedos e colocou o dedo no gatilho apontando para cima, para o quarto guarda, que ainda estava ali.

— Não seja… — O guarda entortou a cabeça procurando o que dizer, parecia assustado, não tinha armas na mão, sabia que contra Tanoos Henlook só não possuí chances. — Ridículo. Vamos pegá-lo cedo ou tarde!

Então que seja tarde.

O guarda se pendurou pela beirada, um olhar de dúvida varreu a face dele e de Tanoos. O que você vai fazer? Tanoos se perguntou, então ele pulou de lá, as pernas baterão contra o chão e ele sentiu os ossos quebrarem ou trincarem. Tanoos ouviu o som destes e recuou fazendo uma careta de espanto.

Gritou pegando a própria arma, então Tanoos mirou para ele novamente pronto para atirar, mas o guarda atirou em si mesmo na coxa da sua perna, três vezes seguidas em alturas diferentes berrando.

— O quê? — Tanoos enrugou a testa sem entender, o guarda que não devia ter mais de vinte anos puxou o comunicador da orelha, jogou no chão e deu com o fundo da arma neste, que estourou.

— Stan pediu que não te seguisse… — Ele disse contraindo o rosto em espasmos de dor com as pernas quebradas. — Eu só estou obedecendo ao que ele pediu.

— Mas… Ele morreu. — Tanoos apontou para o ouro guarda cujo caco de vidro havia lhe cortado a garganta e então despencado ali ao lado deles.

— Desculpa, mas agora vou ter que te acusar de três mortes, disparos a um oficial, e fuga, era só para ter fugido, senhor, esse era o plano, íamos deixar que fugisse eventualmente. — Os guardas não eram Strike Sete, mas sua fama lhe dava tamanha reputação que até mesmo estes homens estavam dispostos a dobrar as regras para não lhe prender.

Tanoos olhou para o guarda, não acreditando que tinha fugido de verdade em vão, matado inocentes, matado seus compatriotas sem nenhuma razão aparente.

— Eu… está bem! — Disse quando o guarda jogou o revólver de munição não letal.

— Toma, vai ter que ficar com ele, você me rendeu imobilizando minha perna, fugiu, quebrou o fone… — Ele disse sério como se tivesse planejado aquilo desde sempre, mas Tanoos sabia que era improviso, era para ter sido tudo bem mais simples que aquilo. — E de agora em diante vai ser conhecido como O Prófugo.

— Pró…

— Um fugitivo, já foi usado antigamente, não é um fugitivo qualquer. É alguém que fez ou faz coisas consideradas erradas, mas com um motivo, um motivo que não é necessariamente ruim. Um prófugo.

Tanoos se levantou, olhou para o pé, acreditava que podia andar já, pegou a arma do guarda tal como ele disse e olhou ao redor. Os outros dois continuavam lá em cima, olhando do buraco no teto.

— Desculpa! — Tanoos olhou para ele então saiu andando mancando, mas andando, rumo à saída do prédio.

Um prófugo. Droga preciso achar um lugar… rápido. Pensou enquanto deixava o prédio que deveria se tornar uma galeria de exibições. Pelos fundos, encontrou uma escadaria escrito em baixo “tuneis de manutenção do SEDEC; Sistema de Drenagem do Estado Cinque”.

Olhou para trás, estava sozinho uma vez mais. Precisava correr, pois sabia; encontrará homens ainda leais ao Strike Sete, mas nem todos eram. Eventualmente Dama Diamante o encontraria, e então mandaria outros guardas, e estes não teriam pena dele.


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