Era da Opressão escrita por P B Souza


Capítulo 16
Parte 02; Perdendo o Controle


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo, começando a nova fase da história! Espero que gostem :)



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01; Dona do Mundo

Fortaleza de Saint-Michel. 24/02/0165

 

O monte Saint-Michel, assim como muitas construções do mundo antigo, foi criado em devoção a fé do homem em uma entidade maior, a um Deus. O monte era composto por uma ilhota montanhosa com pouco mais de cem metro de altura na boca de um rio no norte da Antiga França, cercada por uma vila construída da base ao cume, com o cume ostentando uma bela abadia cuja construção só fora encerrada mais de seiscentos anos atrás, e desde então tornara-se pondo histórico, turístico, até o fim do mundo conhecido, aonde o abandono quase custou-lhe a lembrança, até ser reencontrada pelas equipes de batedores do Fundador.

Depois da guerra que dizimou a humanidade e o terremoto que redesenhou a própria terra, tendo sido responsável pelas águas deixarem Veneza e inundarem a Croácia, ali, o então lamaçal na boca do Rio Couasnon, tornou-se uma área inundada, fazendo o monte ser de fato uma ilhota perdida no meio da água, distante da costa apenas o bastante para se ver continente desolado e inabitado.

Assim, flutuando na água, havia ainda boias sustentando uma pequena estrutura militar adjacente do Monte Saint-Michel.

Assim, Saint-Michel foi a segunda base militar a ser fundada, apenas perdendo para a Capital, em Moscovo, e eventualmente tornou-se a principal base militar, já que a Capital perdia em um critério; população. Saint-Michel não possuía civis, era uma zona completamente militar, isolada de qualquer assentamento ou colônia, diferente da Capital, que tornou-se o centro da vida na nova era.

Saint-Michel era acessível apenas por ar ou por água, assim diminuindo qualquer risco de ataque selvagem, havia munição antiaérea e minas por toda a água ao redor da ilhota. O lugar era uma fortaleza, nem um pouco agradável para se visitar, muito menos para morar.

E ainda assim, ali estava ela.

— Quero um relato sobre a Guerra de Origem.

— Primeira era?

— Segunda. — O tutor respondera.

O professor de Rhaina Tenard era um homem entrando na velhice, os cabelos grisalhos faziam jus a um rosto magricelo e cadavérico. Eles estavam sozinhos no quarto dela, um dos vários quartos na abadia.

— O começo oficial da segunda Era foi apenas em junho no dia nove, antes disso houve a guerra das Eras, como foi chamada por ser a única guerra que perdurou por duas Eras diferentes. — Rhaina começou, sem olhar para nada, apenas citando o que aprendera já em Stato Cinque, o professor estava ainda testando seus conhecimentos para julgar o que ela iria aprender ali. — Não podemos falar sobre o surgimento da segunda Era sem pôr o final da primeira Era na história. Por volta da quarta ou quinta década do segundo milênio da primeira Era a guerra custou à vida de mais de seis bilhões e meio de pessoas nos primeiros anos, primeiro os países que entraram em guerra um contra o outro fizeram seus aliados, não por preferência e sim por terra, proximidade, então a aliança americana unificou todo o continente americano em um, os asiáticos aceitaram a China como pátria mãe, a Rússia foi destruída no processo de aceitação e este foi o primeiro território a ser considerado deserto, a federação Chinesa queria as terras da Rússia por questão de espaço então tomarão Oceania sem dificuldade uma vez que a Rússia estava destruída e a reconstrução seria muito cara, a Europa e África se uniram quando os países fracos da África assumiram a necessidade de um aliado para a Confederação Europeia, mas isso foi no meio da guerra, em seguida a África do meio para baixo foi bombardeada com mísseis de alto impacto que consumiram a própria terra, a destruição foi tamanha que parcelas significativas de terra sumiram o que teve sério impacto no movimento das placas tectônicas em boa parte do mundo, terremotos e tsunamis destruíram muitos países. Esse foi o segundo marco da guerra do final da primeira Era.

— Primeiro Marco; a queda da Rússia por negar aliança com a Federação Chinesa. Segundo Marco; destruição do sul da África com misseis de alto impacto lançados do espaço, isso ocorreu por quê?

O professor tomava nota conforme Rhaina explicava as coisas. Era uma avaliação preparatória mais do que era uma aula de fato.

— Encontraram campos de gás que poderiam durar séculos alimentando o armamentismo europeu na guerra. A Aliança Americana e a Federação Chinesa concordaram que esse poder não poderia cair nas mãos da Confederação Europeia, então em um projeto conjunto eles bombardearam o sul da África, destruindo as reservas de gás naturais e acabando com a fonte de renda europeia no processo.

— Continue de onde parou, o terceiro marco agora.

— Bem… — Rhaina então pareceu pensar um pouco, como se tivesse esquecido, mas depressa voltou a falar. — Depois dos terremotos causados pela alteração no planeta, a lua criou uma nova… Sei lá, uma nova rotina. O resultado foi uma paralisia na guerra por quase cinco anos enquanto aprendíamos a viver com esse novo sistema, horas e estações, tudo mudou. O ar, temperatura, clima, desastres. A terra saiu do eixo original. Esse foi o terceiro marco considerado por um influente inglês que significava que Deus havia abandonado os homens, independente de qual Deus, todos haviam abandonado os seres humanos e agora estávamos por nós mesmos, vale lembrar que esse influente inglês ganhou grande notoriedade pelos seus discursos disseminando o fim da fé. Três marcos, fim da Rússia, destruição do sul da África, a ira de Deus ao abandonar todos seus filhos.

— Quarto marco?

— Depois que a fé foi desfeita a aliança americana tremeu, todos os crentes em Deus ficaram com medo, a confederação europeia reviveu o politeísmo para não ter o povo amedrontado como na América, a Federação chinesa porém continuou com o ateísmo dominante, eles colocaram um fim nesse marco com a infestação bioquímica em massa na América causada por uma bomba bioquímica, que os americanos julgaram ser irá divina.

— E essa arma bioquímica foi considerada profana e seu uso proibido depois da guerra por que?

— Porque o vírus destruía partes do cérebro, deixando a vítima em estado… primordial.

— Violentos e irracionais, funcionando por instintos. — O professor retorquiu. — O vírus transformava as pessoas no que a mídia chamou longamente de zumbis.

— Sim, e então toma a américa foi destruída, a começar pelos Estado Unidos, terminando com a queda do Brasil, a Argentina teve o último assentamento humano que se tem notícia, mas ainda é acreditado que todo o continente está inabitável, o vírus não atravessa o oceano, então a infecção foi contida ali.

— E isso foi?

— O final do quarto marco.

— O quinto?

— A flagelação atômica. — Rhaina achava esse o mais interessante. — Foi uma sequência de furacões que mudaram as correntes do vento, a confederação europeia atacou com um lençol de bombas aproveitando a mudança natural, para jogar a nuvem radioativa para toda a Ásia e seus poucos aliados. Ficaram ainda cidades sobreviventes, mas a Federação Chinesa nunca se recuperou, deixando assim de ser um problema para a confederação europeia. Todos os continentes estavam agora desolados, exceto a Europa.

— Sexto e penúltimo Marco?

— O homem que criou a teoria que Deus abandonara os homens, conseguiu seguidores o bastante para criar um tipo de força secreta. Ele se exilou na Rússia, nos escombros da outrora potência, o país completamente destruído não ofertava risco algum, pois era apenas destruição da guerra antiga, sem vírus ou radiação. Mas na Rússia havia uma arma experimental, criada e nunca utilizada, que ele encontrou em seu exílio; muitos dizem que ele nunca se exilou, mas sim foi para lá em busca desta arma.

— E a arma fazia o quê?

— Ele a trouxe para a Europa, como um refugiado, e a ativou, a arma era codificada para aniquilar sequências de DNA especificas, destruindo a vida humana em um segundo, como mágica. Ele dizimou toda a Europa, em um raio de cinco mil quilômetros, apagando a existência de milhares de pessoas, incluindo a dele.

Rhaina pensou naquele momento da história, não foi guerra ou sofrimento, em um momento famílias jantavam juntas, no outro as mesas estavam vazias, com roupas caídas nas cadeiras. Talvez em uma guerra tão sangrenta esse tenha sido o único ato de clemencia.

— E chegamos ao final da primeira Era. — O professor parecia contente. — O Sétimo e último marco?

— Da Rússia, o filho daquele homem que ninguém sabe o nome saiu de seu esconderijo, guiado por um grupo leal de seguidores, o agora homem se declarou Fundador, e deu início a uma nova Era.

— Exatamente minha jovem, e é isso que você deve entender, sua história está sendo feita desde do começo de uma guerra de outra Era. O governo do Fundador está no seu centésimo sexagésimo quinto ano. O seu pai é mais um Fundador, assim como você, primeira filha dele, será uma Fundadora um dia.

— Eu sei. — Ela respondeu sem se animar com a ideia.

Então a porta do quarto se abriu.

— Rhaina? — A menina olhou para trás, ela mantinha a coluna reta, a postura alinhada. Na porta o homem com postura igualmente impecável olhava para a garota com uma expressão quase paternal, mas os olhos dele eram como os de Cataryn, frios e profundos.

— Pai.

A menina se levantou e olhou o homem por completo. O professor também se levantou e se curvou.

— Ó, Fundador. — Exclamou.

O fundador olhou para a filha, se aproximou e ela o abraçou na altura da cintura, o Fundador colocou a mão na cabeça da garota, que olhava para ele com admiração, eles pouco se viam, Rhaina sentia-se sozinha.

— Veio para ficarmos juntos desta vez?

— Não posso ficar mais que um dia. — Ele respondeu para a criança, desvencilhou-a do abraço e completou; — nos vemos no jantar. Continue sua aula.

O fundador saiu do quarto e fechou a porta atrás de si. Rhaina estava feliz por ver seu pai, mas ele não estava ali por ela. Saint-Michel era uma base administrativa, nada mais. Rhaina estava ali por segurança, não por ele, e ele estava ali para gerir as colônias, não por ela. A única diferença é que a garota não sabia disso, não ainda.


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